O Que é Educação?



RESUMO

Este trabalho tem como objetivo buscar construir referenciais que evidenciem o que se entende por educação. Parte do pressuposto que ela abrange os processos formativos que se desenvolvem em todos os aspectos da vida. No entanto, é necessário destacar que é na escola que a educação se dá de forma sistemática e fundamentada nas principais teorias de aprendizagem. No Brasil é possível destacar a presença de quatro grandes tendências em teorias de aprendizagem: a Tradicional, a Renovada, a Tecnicista e aquelas marcadas, centralmente, por preocupações sociais e políticas, enfatizando aspectos sociais políticos e culturais. Também é importante realizar algumas considerações a respeito da atuação do professor no processo educativo, já que hoje cobra-se que este lide também com a tecnologia e a complexidade social, o que acaba por postular novas tarefas para a formação inicial deste profissional, bem como para a sua formação continuada.
Palavras Chave: Aprendizagem, Complexidade e Docência.

O que é Educação?

De acordo com a LDBEN[1] 9394/96, a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

GADOTTI (2004), destaca que a educação é a prática mais humana, considerando-se a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos homens, é a prática fundamental da espécie, distinguindo o modo de ser cultural dos homens do modo natural de existir dos demais seres vivos.

A prática da educação é muito anterior ao pensamento pedagógico. O pensamento pedagógico surge com a reflexão sobre a prática da educação, como necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de determinados fins e objetivos... a filosofia da educação está carregada de um certo otimismo crítico. Quer dizer: fazendo uma análise crítica, acredita que a educação tem um papel importante no próprio processo de humanização do homem e de transformação social, embora não preconize que, sozinha, a educação possa transformar a sociedade. (Gadotti, 2004; p17).

Para Morin (2003), a educação deve promover a inteligência geral apta a referir-se ao complexo, ao contexto, de modo multidimensional e dentro da concepção global, o conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade. A complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade.

PIMENTA (2002), afirma que a educação é um processo de humanização que ocorre na sociedade com a finalidade explícita de tornar os indivíduos participantes do processo civilizatório, responsáveis por leva-lo adiante. Enquanto prática social, é realizada por todas as instituições da sociedade. Enquanto processo sistemático e intencional ocorre em algumas, dentre as quais se destaca a escola.

A educação é um processo de humanização. Ou seja, é o processo pelo qual se possibilita que os seres humanos se insiram em uma sociedade historicamente construída e em construção. Sociedade que é rica em avanços civilizatórios e, em decorrência, apresenta imensos problemas de desigualdade social, econômica e cultural. De valores. De finalidades. A tarefa da educação é inserir as crianças e os jovens tanto no avanço civilizatório, para que deles desfrutem, como na problemática do mundo de hoje, por intermédio da reflexão, do conhecimento, da análise, da compreensão, da contextualização, do desenvolvimento de habilidades e de atitudes. Portanto, sua tarefa é garantir que se aprimorem do instrumental cientifico, técnico, tecnológico, de pensamento político, social e econômico, de desenvolvimento cultural, para que sejam capazes de pensar e de gestar soluções. Apropriar-se dessa riqueza da civilização e dos problemas que essa mesma civilização produziu. É tarefa da educação formar seres humanos capazes de criar e oferecer respostas aos desafios que diferentes contextos políticos e sociais produzem. A educação, enquanto reflexo, retrata e reproduz a sociedade; mas também projeta a sociedade que se quer. Por isso vincula-se profundamente ao processo civilizatório humano. (PIMENTA, 2002; p18).

Paradoxalmente, a sociedade civilizada, fruto e obra do trabalho humano, cujo elevado progresso tem evidenciado as riquezas que a condição humana pode desfrutar, revela-se também uma sociedade contraditória, desigual e, portanto complexa, pois grande parte da população mundial está à margem das conquistas e dos benefícios desse processo, muitos alunos não têm acesso aos avanços tecnológicos, dos quais a sociedade dispõe.

Os PCN[2] (1997), salientam que a prática escolar distingue-se de outras práticas educativas nas demais formas de convívio social, por constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e continuada durante um período contínuo e extenso de tempo e que a prática pedagógica é determinada a partir da compreensão dos papéis que se tem como modelos de professor e de aluno, de metodologias, da função da escola e dos conteúdos, os quais serão trabalhados durante todo o processo de ensino-aprendizagem.

Há várias formas de se conceber o fenômeno educativo. Por sua própria natureza, não é uma realidade acabada que se dá a conhecer de forma única e precisa e seus múltiplos aspectos. É um fenômeno humano, histórico e multidimensional...De acordo com determinada teoria/proposta ou abordagem do ensino-aprendizagem, privilegia-se um ou outro aspecto educacional. (MIZUKAMI, 1986; p 01).

Na tradição pedagógica brasileira, segundo os PCN, pode-se identificar a presença de quatro grandes tendências: a Tradicional, a Renovada, a Tecnicista e aquelas marcadas, centralmente, por preocupações sociais e políticas, enfatizando aspectos sociais políticos e culturais.

Na Pedagogia Tradicional, vê-se uma proposta de educação que, segundo MIZUKAMI (1986), é entendida como instrução, caracterizada como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da escola. No processo da educação, durante o período que o aluno freqüenta a escola, ele se confronta com modelos que lhe poderão ser úteis no decorrer de sua vida durante e pós-escola. Essa posição é defendida, por exemplo, por Dürkheim.

Esta tendência baseia-se na exposição oral, enfatizando a necessidade de exercícios repetidos para garantir a memorização dos conteúdos que correspondem aos conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações passadas como verdades acabadas. Ao professor cabe fiscalizar e aconselhar os alunos, corrigindo e ensinando a matéria, que será posteriormente cobrada por meio de avaliações, geralmente de caráter classificatório.

Já na Pedagogia Renovada, ligada ao movimento da Escola Nova, o centro da atividade escolar é o aluno, e o professor é visto como facilitador no processo de busca de conhecimento que deve partir do aluno. No Brasil, considerando-se a literatura mais difundida e estudada, têm-se dois enfoques predominantes: C. Rogers e A. Neill.

Nesta abordagem cabe ao professor organizar e coordenar as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características individuais dos alunos para desenvolver suas capacidades e habilidades intelectuais.

Essa tendência teve grande penetração no Brasil na década de 30, todavia a idéia de um ensino guiado pelos interesses dos alunos acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade de um trabalho planejado, perdendo-se de vista o que deveria ser ensinado e, portanto, aprendido.

Ao longo da década de 70 proliferou no país o que se chamou de Tecnicismo-Educacional, inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem, podendo considerar Skinner como um dos representantes da análise funcional do comportamento mais difundido no Brasil.

O conteúdo transmitido, de acordo com essa tendência, visava objetivos e habilidades que deveriam levar a competência, considerando o aluno como um recipiente de informações.

O que se valorizava nessa perspectiva era a tecnologia, com o professor passando a ser um mero especialista na aplicação de manuais, enquanto o aluno reduzia-se a um indivíduo que apenas reagia aos estímulos, de forma a corresponder às respostas esperadas pela escola.

Em meados dos anos 70 e início dos anos 80, firmou-se no meio educacional a presença de abordagens assumidas por educadores de orientação marxista[3].Uma das obras referentes a esse tipo de abordagem, que enfatiza aspectos sócio-político-culturais mais significativas no contexto brasileiro, é a de Paulo Freire com sua Pedagogia do Oprimido.

Nesta abordagem, a atividade escolar pauta-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre a realidade social imediata. Analisam-se os problemas, seus fatores determinantes e organiza-se uma forma de atuação para que se possa transformar a realidade social e política. Busca-se assegurar uma função social e política na escola, a fim de que as classes populares possam participar, de modo efetivo de lutas sociais.

Para que isto seja possível, faz-se necessário que o aluno domine os conhecimentos, habilidades e capacidades para interpretar suas experiências de vida, para assim defender seus interesses de classe.O professor age como um coordenador de atividades organizando e atuando conjuntamente com os alunos.

No final dos anos 70, pode-se dizer que havia, no Brasil, tendências didáticas que denotavam um viés mais psicológico, e outras cujo viés apresentava-se mais na linha sociológica e política.

A partir dos anos 80 surgiu um movimento que pretendia a integração entre essas tendências, buscando aprofundar a compreensão sobre os processos de desenvolvimento na construção do conhecimento pelo individuo desde a infância, caracterizado pelo enfoque centrado no caráter social do processo de ensino e aprendizagem, marcado pela influência da psicologia genética de Jean Piaget, o qual examinou detidamente o desenvolvimento da inteligência na criança em relação ao mundo que a cerca, distinguindo suas várias etapas.

Não existe um modelo pedagógico piagetiano. O que existe é uma teoria do conhecimento, de desenvolvimento humano que traz implicações para o ensino. Uma das implicações fundamentais é a de que a inteligência se constrói a partir da troca do organismo com o meio, por meio das ações do indivíduo. A ação do individuo, pois, é o centro do processo e o fator social ou educativo constitui uma condição de desenvolvimento. (MIZUKAMI, 1986; p 78).

De acordo com essa abordagem, a educação passa a ser considerada como um processo de socialização, a partir do entendimento de que implica a criação de condições que possibilitam a superação da coação dos adultos sobre o comportamento das crianças.O ponto fundamental desta concepção consiste na verificação dos processos e não nos produtos de aprendizagem.

Nessa perspectiva, tanto aluno quanto professor estão em contínuo processo de aprendizagem, visto que a educação escolar está fundamentada a partir do trabalho destes, professor e aluno, atores e autores num processo constante de trocas de saber. A atenção à diversidade, essencializando a singularidade, seria um princípio comprometido com o direito de todos os alunos a realizarem as aprendizagens fundamentais para seu desenvolvimento e socialização.

Considerações finais

De acordo com ALARCÃO (2003), é possível constatar que, atualmente, a revolução tecnológica, a globalização da economia e os fenômenos sociais delas decorrentes, trouxeram ao campo da educação novas provocações e inquietações. Assim, ser professor no contexto atual difere-se de tempos passados, pois diante da velocidade com que a informação se desloca, envelhece e morre, diante de um mundo em constante transformação, seu papel vem mudando.

Os PCN destacam que um dos objetivos da educação escolar, e em tempos atuais, é que os alunos aprendam a conviver em grupo de maneira cooperativa, deste modo tornam-se fundamentais as situações em que possam aprender a dialogar, a ouvir o outro e a auxiliá-lo, aproveitar críticas, explicar um ponto de vista e coordenar ações para obter sucesso em tarefas conjuntas.

Ser professor, hoje em dia implica uma compreensão do saber e da forma como ele foi construído, implica um domínio dos mecanismos de apropriação pelos alunos deste saber...não há atividade mais exaltante, de que contribuir para a formação dos seres humanos. (NÓVOA, 1991; p16).

A criação de um clima favorável a esse tipo de aprendizagem dependeria inclusive do compromisso do professor em aceitar as contribuições dos alunos, e em favorecer o respeito por parte do grupo, assegurando a participação de todos.

Para que possa acontecer uma aprendizagem significativa [4], é necessário que o aluno esteja motivado, que ele tome para si vontade deaprender, o que demanda que a prática didática garanta condições para que esta atitude se manifeste e prevaleça num contexto de aprendizagem.

O professor precisa atentar para fatos, como: seleção de materiais, disponibilidade para a aprendizagem, organização do tempo e do espaço, interação e cooperação, desenvolvimento da autonomia e especialmente para a diversidade inerente a grupos heterogêneos.

São incontáveis as situações de ensinar em que os professores se defrontam com dificuldades de aprendizagem decorrentes das situações complexas, caracterizadamente particulares, com exigências específicas de temporalidade e espacialização do sujeito da aprendizagem. (LIMA, 1999; p11).

Deste modo, é necessário destacar que os cursos e projetos de formação docente, tanto inicial como continuada, devem ter como intencionalidade contribuir para que o professor perceba que a educação deve contemplar os complexos processos de sociabilidade da existência humana.

A escola, através do trabalho específico que realiza, pode contribuir para desenvolver uma compreensão mais conservadora ou mais crítica da realidade.

Afinal, a educação é o processo de transformação do homem, é a atividade mediadora no seio da prática social global em que as transformações sociais ocorrem a partir das contradições geradas pelas relações sociais.

BIBLIOGRAFIA

ALARCÃO, Izabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.

BRANDÃO, Carlos Henrique. O Que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1981.

DELORS, Jacques. Educação: Um Tesouro a Descobrir. Relatório Para a UNESCO da Comissão Internacional Sobre Educação Para o Século XXI. SP: Cortez, Brasília, DF. MEC: UNESCO, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

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GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética da Educação: Um Estudo Introdutório.São Paulo: Cortez, 2001.

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MARX, Karl. Manuscritos Econômicos - Filosóficos e Outros Textos Escolhidos. São Paulo: Nova Cultural. 1987.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoleti. Ensino: As Abordagens do Processo. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1986.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. SP: Cortez. Brasília, DF, UNESCO, 2003.

NÓVOA, António (org.). Os Professores e a sua Formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

NÓVOA, António. Um tempo de ser professor. Palestra proferida no Museu João de Deus, 16/11/1987. Lisboa, 1991.

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PIMENTA, Selma Garrido, ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002.

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______________________. O Estágio na Formação de Professores: Unidade Teoria e Prática?São Paulo: Cortez, 2002.

SANTOS, Carlos Roberto dos. Educação Escolar Brasileira: Estrutura, Administração, Legislação. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003.


[1] Trata-se da Lei nº9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Esta lei aplica ao campo da educação os dispositivos constitucionais que organizam o sistema educacional do país.

[2] Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), foram publicados pelo Ministério da Educação com o objetivo de nortear a elaboração dos currículos escolares em todo país.

[3]De acordo com Karl Marx, a marca da sociedade capitalista é a divisão social acentuada do trabalho e a apropriação dos resultados do trabalho por outro que não é o trabalhador. A existência da propriedade privada dos meios de produção separa em classes sociais, distintas e opostas, os proprietários dos não-proprietários dos meios de produção, os burgueses e os operários. Os primeiros têm a propriedade dos meios de produção, os segundos, apenas a sua força de trabalho a ser vendida.

[4]Assume-se o termo aprendizagem significativa com base na perspectiva construtivista que segundo David Ausubelimplica, necessariamente, o trabalho simbólico de significar a parcela da realidade que se conhece.


Autor: ana cristina oliveira


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