O enoturismo como veículo turístico e sua atual importância para o Vale dos Vinhedos e Bento Gonçalves



CAMPASSÍ, Maiko Roberto.

O enoturismo como veículo turístico e sua atual importância para o Vale dos Vinhedos e Bento Gonçalves – RS. 2009 17 f. Trabalho de conclusão do curso de turismo com ênfase em hotelaria. Faculdade de Apucarana (FAP) Apuc/PR. RESUMO No turismo, nota-se várias possibilidades de entrada no mercado por meio dos nichos; simples fato este de que os seres humanos são diferentes e atentam para produtos diferenciados para consumir de acordo com seus anseios e vontades. O enoturismo é uma prática inovadora, o vinho, produto maior responsável pelo surgimento do segmento turístico, ao ser descoberto em seu meio natural, é compreendido não como uma bebida qualquer, mas sim um produto tradicional, cheio de história, de arte e vida. Visitar vinícolas e observar como se dá o processo de fabricação dos vinhos (desde o plantio dos vinhedos até o líquido seguir engarrafado para as adegas de maturação), poder degustar os diferentes tipos de vinhos produzidos numa determinada região com valores anexos ao da gastronomia e costumes regionalizados, desfrutar os aspectos culturais da região, é contribuir assim com a expansão da atividade no país e fomentar através do segmento, o interesse no brasileiro em consumir um bom produto.
Palavras-Chave: Enoturismo, prática inovadora, vinho, cultura.

CAMPASSÍ, Maiko Roberto.
Il turismo del vino come veicolo turistico e la sua importanza attuale della Valle dei vigneti e Bento Gonçalves - RS. 2009 17 f. Trabalho de conclusão do curso de turismo com ênfase em hotelaria. Faculdade de Apucarana (FAP) Apuc/PR. SINTESI Nel settore del turismo, non vi è più spazio per l'ingresso sul mercato per mezzo di nicchie, questo semplice fatto che gli esseri umani sono diversi e richiamare l'attenzione su prodotti differenziati per consumare secondo la loro volontà e desideri. Il turismo del vino è una pratica innovativa, il vino, prodotto più responsabile per la nascita del settore turistico, da scoprire in natura, è inteso non come una bevanda qualsiasi, ma un prodotto tradizionale, ricco di storia, arte e vita. Visita cantine e osservare come è il processo di produzione del vino (in quanto l'impianto di vigneti fino a quando il liquido quindi imbottigliato per le cantine della maturità), è possibile degustare i diversi vini prodotti in una regione con i valori collegati alla cucina e costumi regionalizzati, apprezzare gli aspetti culturali della regione, contribuendo in tal modo l'espansione delle attività nel paese e promuovere attraverso i segmenti l'interesse a brasiliano nel consumo di un buon prodotto.
Parole Chiave: turismo del vino, prassi innovative, vino, cultura.

INTRODUÇÃO

1.1 Motivações Iniciais, Problemática e Objetivos de Pesquisa

Enquanto fenômeno do deslocamento consolidado na sociedade atual, o turismo vem adquirindo importância e criando novos desafios em termos econômicos, sociais, políticos e culturais, atingindo proporções nunca vistas nas viagens de outros tempos da humanidade, bem como significados diferentes. A atividade turística ganha novas formas, objetivando atingir um numero cada vez maior de consumidores. Eis que surge o sujeito "turista", individuo que viaja por motivos diversos, e assim, motivado pelo mesmo sentimento, e necessidade de se conhecer melhor esse fenômeno denominado enoturismo, que surge os ensejos que levaram a escolha do tema neste trabalho bem como a paixão sobre o tema vinhos e gastronomia.

Segundo os antigos, o Vinho, aproximou Deuses e homens criando uma relação de cumplicidade, harmonia e integração. Com essa riqueza cultural e universal o vinho ultrapassa a simples idéia de uma atração turística para se tornar inúmeras atrações numa só, numa só visita,as paixões suscitadas pela magia do vinho unem-se anecessidade humana do outro lugar, do novo, dando origem a uma nova segmentação turística, "o enoturismo".

Nessa direção, o assunto central que dirigi o presente trabalho é a seguinte:

Quais são os fatores, e suas amplitudes na contribuição para o sucesso e fortalecimento do enoturismo como segmentação turística no Vale dos Vinhedos e região a qual pertence?

Em linhas gerais, os objetivos do estudo compreenderam em verificar a origem e crescimento do enoturismo no meio turístico, levantando os valores e realidade do mercado atual, satisfação de produtores e beneficiados.

De forma mais especifica, analisar as atuais condições da segmentação, tendo como referência o Vale dos Vinhedos e Bento Gonçalves na Serra Gaúcha, tendo esta como mais importante região para a realização da atividade no Brasil.

Demonstrar seu valor social, cultural e econômico comercial para a subsistência do trade turístico local através de dados documentais bibliográficos eestatísticas apresentadas pela Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (APROVALE), associados e Secretaria de turismo de Bento Gonçalves (SEMTUR), assim como perfil do enoturista, suas motivações e delineamento dos produtos através dos atrativos turísticos locais.

1.2 Metodologia Aplicada

A pesquisa enfoca o processo de desenvolvimento do enoturismo no contexto mercadológico para o trade turístico, Vale dos Vinhedos e região, avaliando a relação e correspondência desse processo com o referencial teórico estudado, dentro de uma concepção sistêmica e complexa do turismo.

Para o perfeito processo de desenvolvimento do tema proposto, buscou-se uma pesquisa de cunho qualitativo, servindo-se da metodologia descritiva, pois mediante uma avaliação preliminar, dado os objetivos propostos pelo pesquisador,

A pesquisa desenvolvida também foi fundamentada no método exploratório bibliográfico e documental, apesar do pouco material já publicado relacionado à temática, por se tratar de um segmento ainda emergente. Todavia foram observados

trabalhos de mestrado e dissertações de alunos da Universidade de Caxias do Sul (UCS) se tornando de grande valia para o desenvolvimento do estudo, figurando entre eles Facalde (2001), Fávero (2006), Zanini (2007), Valduga (2007) Frigeri (2009) entre outros autores de renome no cenário turístico, assim também como endereços eletrônicos com publicações direcionadas ao setor por especialistas da área, pois tais análises serviram de suporte para complementação das informações, constituindo assim a coleta dos dados:

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas (GIL 1991, p.48).

Em relação ao local escolhido, o Vale dos Vinhedos não foi sugerido por acaso, essa região, localizada na parte sul do estado, é composta por três municípios da Serra Gaúcha: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul que juntas somam 82 km² de extensão, e representam mais de 60% de toda a produção vinícola do país. Ao participar de várias avaliações de sommeliers [conhecedores e críticos de vinho] nacionais e internacionais, e concursos em todo o mundo, as vinícolas do Vale dos Vinhedos têm recebido inúmeros prêmios, demonstrando assim, entre outros fatores, o forte apelo local para visitação enoturística.

Devido a limitações econômicas, inviabilidade de tempo e distância, não foi possível um estudo em profundidade do objeto com entrevistas face a face, alavancando um possível estudo de caso.

Como resultado esperado, no decorrer e conclusão da pesquisa, buscou-se a orientação e descrição dos processos de desenvolvimento do fenômeno denominado enoturismo, buscando-se um maior conhecimento dos fatores que interferem e influenciam o segmento na região escolhida.

2 TURISMO E TENDÊNCIAS DE MERCADO

2.1 Segmentações de Mercado

No mundo atual, o sucesso do turismo consiste em oferecer experiências diferenciadas, em compreender que não existe o turista, mas que existem turistas, no plural, que cada vez mais exigem passeios sob medida para seus gostos, nível intelectual e situação pessoal. Implica também em entender que, salvo exceções, os novos turistas, chamados também de turistas pós-modernos, exigem infra-estrutura e conforto de acordo com os atuais padrões de civilização.

Tal conjuntura faz que as belezas naturais não sejam suficientes para garantir a demanda tão esperada para o tão esperado enriquecimento por meio do turismo que permita elevar o nível de desenvolvimento humano de todos os cidadãos dos países receptores.

Ainda abordando o panorama atual da segmentação em turismo, (ANSARAH 2005 apud NETTO e ANSARAH, 2009), descreve que atualmente, existe um processo contínuo de segmentação da demanda turística que determina a aparição de grupos [nichos] de usuários de serviços turísticos, reunidos de acordo com suas características, preferências, nacionalidades, nível cultural, gosto e na experiência pelo viajar, adquirindo a chamada cultura de viagem.

Sobre o assunto, outro autor menciona:

Percebemos que, por trás de cada pessoa, há uma série de demandas próprias e diferentes das de seu familiar ou amigo mais próximo. É a heterogeneidade do mercado, que sempre nos abre a porta á possibilidade de novas oportunidades de negócio. Por outro lado, essas demandas individuais nos levam a uma possível heterogeneidade de respostas, o que dificulta a padronização e, em conseqüência, a prodtividade da oferta. Em outras palavras, a heterogeneidade nos leva á 'roupa sob medida', mas a economia industrial nos leva á massificação, ao prêt-á-porter mais ou menos amplo em sua numeração. (CHIAS 2007 apud NETTO e ANSARAH, 2009 p. 20).

Guilherme Paulus, atual presidente do Conselho de Administração do Grupo(CVC)menciona em sua coluna na publicação deNetto e Ansarah (2009) a inegável contribuição que o turismo proporciona, e seu enorme potencial de crescer, para a economia nacional respalda-se, em grande parte, na diversidade de destinos a na capacidade de atender os diversos perfis de públicos.

Somados a esses atributos o crescente profissionalismo do setor e as melhorias na infra-estruturafísica ampliam, ano a ano, a participação do segmento como gerador de riquezas e de empregos, confirmando o conceito de 'roda da fortuna', que o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia utilizava para se referir ao turismo nacional.

O empresário explica que nos últimos anos temos acompanhado com atenção um processo de segmentação ainda mais apurado, a escolha recai não apenas nas características do destino escolhido, mas em particularidades muito especificas de grupos de turistas, unidos em torno de temas de interesse comum.

Um exemplo de referência dessa tendência é o chamado enoturismo, que atrai um número cada vez maior de pessoas que têm em comum, além do desejo de viajar, a estima pelo vinho. Os roteiros, nesse caso, incluem visitas a vinícolas e a regiões produtoras, oferecendo ao turista conhecimento histórico, informação sobre o processo de produção, oportunidades de degustação dos produtos na origem e a inigualável sensação de prazer que a viagem turística oferece.

2.2 Conceitos de enoturismo e enoturista

Oenoturismo, também conhecido como turismo do vinho, tem se destacado dentre as novas modalidades turísticas consolidadas nas ultimas décadas, além de movimentar a economia de muitos países, o turismo e o vinho, isolados ou associados, carregam grande significado simbólico e, nesse sentido, apresentam muitas características comuns. O vinho e o turismo podem representar na sociedade contemporânea a busca pelo prazer, o desejo de evadir-se, de compartilhar.

A definição de (HALL et al 2004) apud Zanini (2007, p.39) para o enoturismo pode ser chamada de conceito clássico do fenômeno, sendo considerada em grande parte dos artigos consultados sobre o tema.

Para esses autores, o enoturismo pode ser definido como: visitação de vinhas, vinícolas, festivais do vinho ou mostras de uvas em que a principal motivação dos turistas está relacionada á degustação de vinhos e aos atributos de uma região vitivinícola.

Para Valduga (2007), a paisagem trabalhada para o cultivo da videira, as pequenas vilas de moradores, os prédios das vinícolas criam em todas as partes do mundo uma atmosfera particular que atrai todos os tipos de visitantes, não apenas os interessados em provar vinho.

Tais autores,descrevem que o termo enoturismo é resultado da união de eno e turismo, sendo que enos deriva do grego oînos e significa vinho. A literatura sobre enoturismo é praticamente inexistente, a pouco interesse no assunto por parte de pesquisadores e universidades, e só recentemente tem aparecido alguns estudos sobre o tema, com ênfase no setor vinícola.

O site ecolink (2009), descreve que o enoturismo "é um segmento da atividade turística que se fundamenta na viagem motivada pela apreciação do sabor e aroma dos vinhos e das tradições e tipicidades das localidades que produzem esta bebida". Subentende-se que o enoturismo pode ser definido como deslocamento de pessoas, cuja motivação está pautada no mundo da uva e do vinho.

O vinho e as pessoas que o produzem são os agentes motivacionais do enoturismo, visto que cada safra de uvas é diferente e não se podem ter vinhos iguais, pois ele possui as características de seu terroir, [expressão francesa que denota a tipicidade das características locais de um produto, bem como do manejo empregado na sua produção, do ponto de vista da ciência que estuda a vinha, a definição do termo terroir é bastante complexa, requer diversos estudos e analises dos produtos e da tipicidade do solo, clima, pluviosidade, além do manejo].

No entanto, para complementar e colaborar com os conceitos citados, poder-se-ia definir o enoturismo como um segmento do fenômeno turístico, que pressupõe deslocamento de pessoas, motivadas pelas propriedades organolépticas [sabores, cores e aromas], e por todo contexto da degustação e elaboração de vinhos, bem como a apreciação das tradições, de cultura, gastronomia, das paisagens e tipicidades das regiões produtoras de uvas e vinhos. É um fenômeno dotado de subjetividade, em que aprincipal substancia que o configura de fato é o encontro com quem produz uvas e vinhos.

3 O VINHO: FONTE DE MOTIVAÇÕES PARA A SEGMENTAÇÃO.

3.1 A vitivinicultura no Brasil

Atualmente,a agroindústria do vinho nacional, centrada no Rio Grande do Sul, assumiu historicamente a liderança de produção e abastecimento da demanda do mercado interno brasileiro (tab. 01-02). Mas recentemente, em especial a partir da década de 1970, começaram a ocorrer investimentos com a implantação e/ou modernização das vinícolas (setor industrial), motivados por um mercado interno com potencial para produtos de melhor qualidade (vinhos finos) e de maior preço.

Nesse período, verificou-se um intenso processo de implantação e/ou modernização tecnológica das vinícolas;

Tabela 01 - Produção de Uvas no Brasil, em toneladas

Estado\Ano

2006

2007

2008

Bahia

155.783

170.326

162.977

Pernambuco

89.738

120.654

101.787

Minas Gerais

12.318

11.995

13.711

São Paulo

195.357

193.023

184.930

Paraná

95.357

99.180

101.500

Santa Catarina

47.787

54.554

58.330

Rio Grande do Sul

623.847

705.228

776.027

Brasil

1.220.187

1.354.960

1.399.262

Fonte: Mello (2008) UVIBRA e IBRAVIN – Embrapa Uva e Vinho.

 

Tabela 02 - Área plantada de videiras no Brasil, em hectares

Estado\Ano

2006

2007

2008

Pernambuco

6.471

7.137

7.083

Bahia

3.150

4.096

4.405

Minas Gerais

930

878

906

São Paulo

18.772

11.039

9.750

Paraná

5.657

5.700

5.800

Santa Catarina

4.986

4.915

4.836

Rio Grande do Sul

47.584

48.428

49.816

Brasil

87.550

84.220

82.596

Fonte: Mello (2008) UVIBRA e IBRAVIN – Embrapa Uva e Vinho.

Protas (2007) expõe que a viticultura tropical brasileira foi efetivamente desenvolvida a partir da década de 1960, com o plantio de vinhedos comerciais de uva de mesa na região do Vale do Rio São Francisco, no nordeste semi-árido brasileiro. Nos anos de 1970, surgiu o pólo vitícola do norte do estado do Paraná e, a década de 1980, desenvolveram-se nas regiões do noroeste do estado de São Paulo e de Pirapora, no Nordeste de Minas Gerais, todas voltadas á produção de uvas para consumo in natura.

Alguns aspectos característicos e marcantes da vitivinicultura brasileira são a diversidade e a complexidade. Na verdade, existem diversas regiões onde ocorre a vitivinicultura no país, cada uma com sua realidade climática, fundiária, tecnológica, humana e mercadológica. Entretanto, para qualquer uma delas, o cenário que se esboça neste inicio de século XXI é o de competição acirrada, tanto no mercado externo quanto no interno, exigindo grande esforço de organização e política setorial.

4 FATORES DETERMINANTES NO DESENVOLVIMENTO DO ENOTURISMO

4.1 Realidades do mercado turístico atual em Bento Gonçalves e região

Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho e principal núcleo urbano do Vale dos Vinhedos, apresenta indicadores econômicos que destoam bastante de outros Municípios brasileiros de mesmo porte no sentido de qualidade de vida e desenvolvimento.

Frigeri (2009), ressalta que, toda essa região, incluindo o nordeste gaúcho, face aos resultados acima apontados levam a aproximá-la dos países de Primeiro mundo.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), exemplo disso é que de da cada um dos 43 bebês que nascem por dia têm uma expectativa de vida de 74 anos.

O resultado nesse indicador situa a região ainda bem distante do topo, ocupado pelo Japão, onde a esperança de vida ultrapassa de 81 anos, mas coloca-a a frente da Polônia, Hungria e de outras 134 nações.

Outro indicador para aferir as condições de vida da população, a mortalidade infantil, colocaria o nordeste gaúcho na quadragésima nona posição global. A marca de 13 mortes de crianças com até 12 anos de idade para cada mil nascimentos assegura a posição. Bento Gonçalves é um dos mais importantes roteiros turísticos da Serra Gaúcha além de figurar entre as 10 maiores economias do Rio Grande do Sul.

Além de Capital Brasileira da Uva e do Vinho é o maior e mais expressivo pólo moveleiro do Estado. O setor moveleiro de Bento Gonçalves representa 8% da produção nacional de móveis e 40% da produção estadual. A vitivinicultura também tem espaço garantido neste contexto. O setor representa a terceira maior economia do município.

O autor explana que, sendo roteiro garantido para o turismo de negócios, Bento Gonçalves sedia hoje as maiores feiras do país e da América Latina no segmento industrial e comercial. A cidade também é sede de festas e feiras alusivas à uva e ao vinho, como a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), a maior e mais antiga festa comunitária do município. O setor industrial reúne empresas em vários ramos entre os quais se destacam as vinícolas em número de 46, o de móveis com 332 empresas e o de metalúrgicas, que reúne 303 firmas.

A indústria representa 78,92% da economia local. Como já salientado no presente tópico, no conjunto da produção industrial, o setor vinícola representa apenas 12,99%, sendo o moveleiro o mais importante.

Contudo, o setor vinícola é o mais expressivo, por se tratar de uma marca na identidade local e por se constituir num atrativo turístico. Os costumes e tradições dos imigrantes italianos, chegados ao Brasil em 1875, estão enraizados nas pessoas e, até mesmo, na paisagem do Vale dos Vinhedos. A construção de capelas e capitéis, a devoção aos santos, o dialeto vêneto [região da Itália] e principalmente, o cultivo da videira e a produção do vinho são marcas da imigração italiana.

4.2Os roteiros do enoturismo no Vale dos Vinhedos

Nos arquivos de Frigeri (2009) o autor descreve que, sendo Distrito de Bento Gonçalves, o Vale dos Vinhedos, a 120 quilômetros de Porto Alegre, é hoje referência na fabricação de vinhos. Criado em 1990 como um circuito turístico, é o resultado de um conjunto de fatores do legado transmitido pelos italianos, sendo considerado o principal destino do enoturismo do país. Desde a época da imigração, os produtores trouxeram mudas de videira e implementaram um novo costume: a vinicultura (produção de uvas), que, ao longo dos anos, se transformou na vitivinicultura (produção de vinhos).

Na área total de 81.123 quilômetros quadrados, o espaço ocupado por vinhedos corresponde a 26%. Atualmente, o Vale reúne 31 vinícolas associadas à Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e 39associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, artesanatos, queijarias e outros. Importante salientar que, na década de 1960, foi fundado, em Bento Gonçalves, o Colégio de Vitivinicultura e Enologia, atual Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-BG) formando os primeiros técnicos enólogos [especialistas em vinhos], esses passaram a atuar em empresas vinícolas da região.

A Serra Gaúcha se destacou como terroir propício, envolvendo combinação perfeita entre clima, topografia, geologia e luz solar favorável. A região fabricou cerca de 300 milhões de litros de vinho até o final do ano de 2007.

Pode-se conhecer e degustar em cada uma das 31 vinícolas, além de ouvir, por enólogo qualificado, explicações de todo o processo que envolve a produção do vinho e o seu consumo.

A tabela a seguir, com dados de 2001 a 2008, revela a intensificação das atividades turísticas na região ligadas à produção do vinho, como se pode observar pelo expressivo crescimento dessa indústria no mesmo espaço de tempo:

Tabela 10 – turistas em números no Vale dos Vinhedos

2001 - Total:

2002 - Total:

2003 - Total:

2004 - Total:

2005 - Total:

2006 - Total:

2007 - Total:

2008 - Total:

45.000 Turistas

60.000 Turistas

82.000 Turistas

102.000 Turistas

115.737 Turistas

105.617 Turistas

120.962 Turistas

153.779 Turistas

Fonte: Aprovale (2009).

De janeiro a março de 2008, a região recebeu 43.579 visitantes. No mesmo período do ano anterior, foram 24.098 pessoas. O aumento registrado, portanto, é de 80%, superando a expectativa, que era de 150 mil visitantes. Segundo aAprovale (2009), o aumento estaria associado a fatores como maior divulgação e valorização do vinho brasileiro, procura por cursos rápidos de degustação de vinhos e maior e melhor estrutura de atendimento ao visitante. Entre outros desdobramentos que merecem menção especial pode-se mencionar a construção de um hotel voltado para o vinho, na frente das instalações da vinícola Miolo.

A Casa Valduga completou a construção de sua quarta pousada, que fica dentro do território da empresa, e começa a construir a quinta. A Salton investe na criação de um parque da uva e vinho. Esses são alguns exemplos de como as vinícolas do Vale, para além de visitas e degustações, investem em novos empreendimentos, objetivando aumentar o fluxo da demanda turística e para que os visitantes permaneçam por mais tempo na região.

Ao fazer uma visita a essas vinícolas, o visitante é iniciado no universo do vinho, aprende nome de castas de uvas, como o vinho é feito e como deve ser degustado. Assim vai se educando e aprimorando a sua cultura de vinho, o que aumenta o consumo da bebida de qualidade e gera mais vontade de visitar o local onde ela é feita.

Conclusão

O turismo demonstra ser um grande meio de divulgação da cultura, do trabalho e da história de um povo, assim como o próprio vinho que carrega em si, pelas virtudes que lhe são atribuídas por um consenso cultural, uma conotação de socialização. Pois a princípio, não é uma bebida que se bebe sozinho, e dificilmente alguém abre uma garrafa simplesmente por abrir ou para tomá-la só.

O enoturismo suplanta o consumo de um produto turístico, proporcionando a experiência de sentir o sabor de um vinho servido pelas mãos de quem o produz, e sendo este, produto maior responsável pelo surgimento do segmento turístico, ao ser descoberto em seu meio natural, é compreendido não como uma bebida qualquer, mas sim um produto tradicional, cheio de história, de arte e vida.

Através do cruzamento dos dados descritos no desenvolver deste trabalho, pode-se constatar que a vitivinicultura produz a paisagem, o produto e os atrativos que alimentam essa forma de turismo, de tal forma que entre os atrativos que mais encantam a todos que passam pelo Vale dos Vinhedos encontra-se, seguramente, a

paisagem e a gente que a constrói com seu trabalho.

As características histórico-culturais do vale, aliadas a especialização produtiva e a hospitalidade, favorecem o desenvolvimento do enoturismo, fato este demonstrado pela evolução na demanda de produtos e serviços locais, pode-se afirmar assim, que o enoturismo é consequência desses processos.

O segmento se mostra muito importante para as empresas do vale, e vital para sustentação de algumas, pois o percentual do enoturismo em números se mostra muito significativo, fato percebido no crescimento do numero de visitantes anuais e no desenvolvimento hoteleiro da região, entre outros.

Na busca pelo até então desconhecido, diversos fatores são importantes para o enoturismo no vale: vinícolas conhecidas, indicação de procedência, a hospitalidade, paisagens, atendimento, cultura, infra-estrutura, os hotéis e pousadas, gastronomia local, pois a qualidade e o enoturismo, são processos que andam juntos e se influenciam mutuamente, especialmente após a criação da associação (APROVALE) e a conquista da IPVV.

Em resumo, somando-se aos valores já citados, os fatores e suas amplitudes estão correlacionados a preservação de toda autenticidade da região através da divulgação do seu artesanato, do patrimônio paisagístico, arquitetônico, museológico e da gastronomia ao qual o consumo do vinho esta intimamente inserido. Um estudo é sempre parcial, e este, por sua vez, não teve a pretensão de esgotar o tema, apenas contribuir com a ciência do turismo para o entendimento das complexas mudanças territoriais de uma região brasileira.

REFERÊNCIAS

FRIGERI, Alexandre Fonseca.Os italianos, vinho e turismo: o Vale dos Vinhedos na Serra Gaúcha (RS). 2009. 79 p. Programa de pós-graduação em história, política e bens culturais; mestrado profissional em bens culturais e projetos sociais: Fundação Getúlio Vargas – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC, Rio de Janeiro

GIL, Antonio Carlos, 1946 – Como elaborar projetos de pesquisa – 3ª ed.

São Paulo: Atlas, 1991.

MELLO, Maria Ribeiro. Disponível em: <http://www.ibravin.com.br.html>. Embrapa Uva e Vinho (2008). Acesso em: 14 jul. 2009.

MÜLLER, Marystela, Normas e padrões para teses, dissertações e monografias.

Mary Stela Muller, Julce Mary Cornelsen – 7ª ed. Atual. – Londrina: Eduel, 2007, 155 p.

NETTO, Alexandre Panosso.; ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Segmentação de mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas – Barueri, SP: Manole, 2009.

PROTAS, José Fernando da Silva. EMBRAPA. A vitivinicultura brasileira: realidade e perspectivas. Disponível em: <http://www.cnpuv.embrapa.br.html> Acesso em: 28 set. 2009.

VALDUGA, Vander. O processo de desenvolvimento do enoturismo no Vale dos Vinhedos (RS). 2007. 151 p. Programa de pós-graduação em turismo – mestrado em turismo; Universidade de Caxias do Sul – RS.

ZANINI, Talise Valduga, Enoturismo no Brasil – um estudo comparativo entre as regiões vinícolas do vale dos vinhedos (RS) e do Vale do São Francisco (BA/PE). 2007. 130 p. dissertação (mestrado em turismo) Universidade de Caxias do Sul – RS.

<http://www.ecolink.it/articoli/default.asp.html>. Acesso em: 08 set. 2009. Autor indisponível.

<http://www.valedosvinhedos.com.br.html>. Aprovale. Acessos em: 08/09 set. 2009.


Autor: maiko campassi


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