O homem e a comunicação



Se olharmos com atenção tudo que está ao nosso redor, espantar-nos-á ver até que ponto o homem procura seu bem pessoal em todas as coisas. Isso, dizia Aristóteles, é a fonte de existência de vida: viver em busca da felicidade. No entanto, os homens estão sempre buscando esse bem pessoal à custa de outros homens, nas palavras, nas obras, nos dons, nos serviços. Infelizmente, estão pensando cada vez mais em si, em sua alegria, utilidade, glória, serviços a receber... Sempre alguma vantagem pessoal.

A culpa, no entanto, não é completamente do homem. Parte dela é incentivo da “grande imprensa”, da publicidade e da tecnologia avançada, que leva todos a um individualismo extremo. Como se já não bastasse o governo neoliberal em que estamos, onde o indivíduo não arruma um emprego por não ter estudado quando criança, por exemplo (a culpa é do cidadão, portanto, não do governo que não promoveu sequer a educação básica), vem este tiro de misericórdia: de um lado, o que deveria ser a imprensa alternativa não o é (a tal da Revista Piauí, que é dita como imprensa alternativa, custa R$ 7,90 nas bancas. Uma família que recebe um salário mínimo tem condições de compra-la?); de outro, os meios de comunicação “imbecializam” àqueles que acreditam puramente na informação pura e rasa.

E não sou eu quem digo. Outros acadêmicos já afirmavam, como é o caso do conhecido Onésimo de Oliveira Cardoso: o sujeito é quem se deixa seduzir em troca do conforto que os Meios de Comunicação lhe oferece. De fato, somos sim, uma sociedade passiva. E desde bebês nós somos moldados a isso.

Quantas vezes, quando nenéns, nós não chorávamos e nossas mães rapidamente providenciavam uma chave ou qualquer outro simples objeto para nos enganar e, imediatamente, nós nos calávamos? Vamos crescendo dessa maneira... Em seguida completamos nossos dois anos de idade e, já no início do mês de janeiro, os nossos pais dizem: “Comporte-se, para que o coelhinho da páscoa venha e lhe traga muitos ovinhos de chocolate”. E assim acontece. Tentamos nos comportar o máximo que pudermos. E ganhamos. Dali alguns meses é a vez do papai-noel. Ajudamos nossos pais e as pessoas na rua com o que for possível, para que no fim do ano possamos conseguir o melhor presente, de causar inveja até em quem não é mais criança.

Mas o tempo passa depressa... Logo vamos para a escola ou, como os pais preferem chamar, para a escolinha. Lá, todos somos iguais aparentemente. Usamos aqueles uniformes horrendos, que além da questão da segurança, também tenta fazer com que todos pareçam iguais. Todavia, há um intenso clima de disputa. Quem nunca ouviu, ou mesmo cantou, aquela famosa “musiquinha”. “Olha, eu tenho, você não tem”... Enfim, quando chegamos a 8ª série, já mandamos nos nossos pais. Não queremos usar determinada roupa porque não está na moda. Queremos a que passa nos comerciais da televisão ou as que estão expostas nos enormes outdoors das grandes avenidas da cidade. Recebemos ligações de diversas escolas particulares de Informática, Inglês, Espanhol. Vamos até elas e ficamos felizes por receber cursos em que não vamos pagar a taxa de matrícula nem os custos com material... Pagamos “apenas” 12 parcelas de R$ 350,00 e ainda ganhamos um celular que tira foto e toca funk... Conluímos este curso e procuramos um emprego, para que possamos pagar a faculdade, pois estudamos numa escola pública e já colocaram na nossa cabeça que não podemos passar nos vestibulares. E assim continuamos, crentes de que estamos muito bem, porque temos um bom emprego e cursamos o ensino superior...

Com certeza você já deve ter passado (ou mesmo passa!) por alguma dessas situações. Mas, afinal, de quem a culpa deste comportamento? Quem é o principal responsável pela ausência de vagas nas universidades públicas? Além do governo, ela também é nossa responsabilidade. Ora, a Universidade Nove de Julho (Uninove) é o local que concentra vmais pessoas na América Latina entre 20h e 22h: cerca de 22.000 pessoas. Vamos imaginar se, apenas estes estudantes e os da Universidade Paulista (Unip) fizessem uma manifestação exigindo, ao menos, uma bolsa de estudos gratuitas nestas faculdades... Por que isso não acontece? Somos educados a sermos seres passivos!

Por que deixamos de assistir a programas como o Roda Viva, apresentado pela TV Cultura, para assistir a novela Dois Corações? Quantas vezes não deixamos de ver programas ou filmes que promovem uma visão crítica para ver novelas, Faustões, Gugus e Elianas? Aliás, você já notou que nas telenovelas os negros são sempre os empregados, os lixeiros, os limpadores de rua ou os que passam necessidade? E que o homossexual é o cabeleleiro vestido de rosa ou o que sofre preconceito?

Não se espante! A imprensa faz apenas uma projeção deste pensamento preconceituoso que nós adquirimos graças a ela. Há uma reciprocidade. Assim, está mais do que correto quem afirma que a imprensa jamais colocará assuntos de interesse social em xeque. Obviamente que ela vai expor aquilo que lhe interessa ou, em outras palavras, aquilo que garante o famoso IBOPE, como é o caso do Big Brother Brasil, que na última edição recebeu três milhões de votos, na decisão final.

Os Meios de Comunicação de Massa (MCM) provocam sim, um individualismo, e a tendência é que ele cresça ainda mais. As conversas de família ficaram de lado. O que vale é assistir os quadros "arquivo confidencial" e "de volta para minha terra". Aparentemente, parece que a culpa é apenas do conteúdo transmitido, mas, em verdade, em verdade te digo: somos sujeitos ativos e co-autores da nossa própria manipulação. Não dá nem para pensar o que aconteceria se um dia, ou melhor, uma noite, o Jornal Nacional noticiasse que não haveria venda de arroz por um mês... Quantas pessoas iriam comprar o alimento sem ao menos verificar o porque e se a informação realmente procede?

Nisto, assim cita a teoria dos receptores indiferenciados: “Com quanto mais credibilidade um emissor for percebido pelo seu receptor, menos manipulativa parecerá a mensagem, por mais que ela o seja”.

Quando nos deparamos com qualquer depoimento de alguém com “status social”, temos o costume de tomar aquilo como o correto, porque aquela fonte de informação tem a credibilidade. O que acontece é que nós não formamos nossa opinião, apenas reproduzimos.

Lembro perfeitamente de uma propaganda promovida pelo Governo Federal em incentivo a leitura, cuja ”garota propaganda” foi a Wanessa Camargo. Em entrevista exclusiva ao TV Fama, exibido na Band entre 18h e 19h, a cantora contou que “ficou tão feliz em incentivar as pessoas a ler que, inclusive, ela mesma leu um livro”. Será que não teria sido muito melhor colocar um dos grandes autores do país para realizar esse incentivo?

O lamentável é que não temos a mínima consciência de que o poder está nas nossas mãos (dos trabalhadores), pois representamos 70% da sociedade contra apenas 30% entre classe média e burguesia. E é só assim que vamos conseguir, um dia, ter a famosa “liberdade de expressão, ou de pensamento”. Nestes tempos (futuro!), os pais poderão dar tudo que os filhos pedem; e ainda por cima, terão casa para morar, comida para comer e, principalmente, coisas saudáveis para ver e ouvir.
Autor: Tiago Cosmo da Silva Dias


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