O processo saúde-doença e os cuidados com a saúde nas entidades filantrópicas



Resumo

Este artigo apresenta um estudo de caso realizado em creche pública que é administrada por entidades filantrópica e atende a população de baixa renda da periferia da cidade de São Paulo visando à higiene a nível social de limpeza.
Neste artigo serão abordados vários comentários de educadores da área, auxiliares de enfermagem, ou seja, pessoas que convivem com esse tema diariamente em seu cotidiano.

Introdução

“O objetivo deste artigo é amostrar o resultado de uma pesquisa realizado em entidades filantrópicas, nesse caso uma Creche, trazendo informações voltadas ao método de ensino e suas reações”. [...] (Maranhão, 1998).
Tendo em vista a Política Nacional de Educação Infantil aponta a necessidade de formação regular dos educadores infantis, considerando que 18,9 % dos professores de pré-escola são leigos e, em algumas regiões do país, superam um terço do corpo docente. Nas creches, o quadro é ainda mais grave, por terem sido inseridas apenas recentemente no âmbito da educação (MEC, 1994, 1996).
A formação de educadores infantis, além de prepará-los para o desenvolvimento do projeto pedagógico, demanda a inclusão de conteúdos relativos à promoção à saúde, tendo como finalidade aprimorar a qualidade dos serviços prestados às crianças, reduzindo o risco de adoecimento, o qual, segundo vários autores, são maiores nas crianças que freqüentam creches em relação àquelas que são cuidadas no contexto familiar (Barros, 1996; Solomon & Cordell, 1996).


Metodologia

Segundo Maranhão (2000), a pesquisa realizada no aspecto qualitativo, através de um estudo de caso em uma entidade filantrópica (Creche), na zona sul da periférica da cidade de São Paulo. O estudo focou o atendimento de crianças de 0 a 2 anos. Foram utilizadas técnicas de observação; análise de documentos e entrevistas. Estas foram efetuadas com dez educadores, diretor, pedagogo e auxiliar de enfermagem da creche. A observação foi feita entre os meses de agosto a dezembro de 1996, tendo sido registrada em diário de campo. As entrevistas seguiram roteiro semi-estruturado elaborado com base nos pressupostos e hipóteses, construídos tanto na definição do objeto de investigação, quanto nas observações.
A análise foi feita após a contextualização das entrevistas com base na descrição da creche, incluindo a organização do trabalho e a rotina de cuidados, compondo um quadro com os registros do diário de campo.
A creche atendia 180 crianças de segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas, cujas famílias tinham renda de até três salários mínimos. A equipe era composta por diretor, pedagogo, auxiliar de enfermagem, 16 educadores, quatro cozinheiras, um zelador e três auxiliares de limpeza. Embora a exigência quanto à formação para contratação dos educadores leigos fosse de primeiro grau completo, oito estavam concluindo o segundo grau e quatro tinham formação em magistério. Todas as educadoras eram mulheres, com idades que variavam entre 20 e 40 anos de idade.
Foram consideradas as condições básicas de operacionalização - prédio conforme as normas técnicas e equipe de acordo com recomendações do convênio municipal. O berçário - composto por duas salas, lactário, sala de banho e troca, copa para refeições e solário - foi planejado para atender 30 crianças de 0 a 18 meses, mas havia 39 crianças matriculadas, seguindo recomendações do convênio que prevê otimização das vagas em razão da variação na freqüência diária.

Resultados e discussão

Segundo Minayo (1996), o conhecimento a respeito do processo saúde-doença está associado às concepções que explicam o mundo, os costumes, os valores e as crenças da sociedade em que é gerado, refletindo o pensamento dominante em dado momento histórico. Esta concepção hegemônica pode coexistir com outras formas de explicar e lidar com o processo saúde-doença em cada contexto.
Segundo Barros (1996) e Piotto et al. (1996), os educadores desta creche atribuem o adoecimento das crianças a determinantes exteriores à instituição: variações climáticas, condições de vida e, principalmente, aos cuidados prestados pelos familiares. A atribuição causal da doença com ênfase nos fatores externos ou nos cuidados prestados pelas famílias pode ser analisada de acordo com o que se referem como resistência das equipes de creches em avaliarem o seu próprio trabalho e o serviço prestado aos usuários.
Maranhão (2000) realizou uma entrevista com uma das auxiliares de enfermagem que diz: [...] que nem estas crianças que têm problemas de saúde, eu acho que isso precisa mais de um acompanhamento psicológico e não assim[...] falta de carinho dos pais, falta de amor dos pais, por parte dos pais.
Maranhão (2000), realizou uma entrevista com uma das educadoras que diz:No começo eu achava que as crianças, que elas tinham[...] eu não sei se um problema de saúde, mas elas (as outras educadoras) falavam que criança de creche era daquele jeito mesmo, né, e eu pensava que isso era a alimentação[...] que eles não estavam acostumados[...].
Nossa, era horrível demais, diarréia direto, eu não sei se era contagiosa [...] às vezes quando você via 'tavam' todas as crianças com diarréia. Catapora, todas as crianças do berçário começaram a pegar catapora, uma por uma, né, assim, uma ia embora, a outra já voltava [...] e pneumonia, eu achei que muitas crianças pegaram pneumonia. Sempre tiveram casos, sempre, crianças sempre gripadas, mas tinha criança que eu achava que nunca teve gripe.


Os cuidados com a saúde e as regras de higiene: reinterpretando as informações

Segundo Minayo (1996), os cuidados com a saúde sejam, muitas vezes, compreendidos como cuidados com o corpo, há uma ordem de significações culturais mais abrangentes que recorta o olhar sobre o corpo e sua relação com a higiene e com a saúde, correspondendo às contradições de determinada visão de mundo e de uma organização social.
Maranhão (2000) realizou uma entrevista com uma das educadoras que diz: Nós fomos visitar uma creche, naquele mês de treinamento, e lá eu vi um jeito que a educadora dava banho, após esterilizar a banheira com cloro. Aqui a gente não ta usando. No início, a gente usava muito cloro, cada banho, passar cloro na banheira [...], eu uso a esponja sabe, a cada banho eu uso a esponja [...] No meu berçário não tem esses problemas de pele. Eu não sei, porque também, se não lavar a banheira fica aquele sebinho, ali, grudado na banheira, porque eles (as crianças) têm uma gordurinha, né, o suor deles, né, fica tudo ali.
Segundo Douglas (1966) os cuidados com a higiene são diretamente associados à promoção da saúde, podendo ou não ser valorizados segundo as concepções dos educadores e a forma como o trabalho com a criança está organizado. Nem sempre os educadores cumprem as normas prescritas, tanto por não estarem convencidos da importância das mesmas, quanto pelo que consideram sujos e limpos. A atribuição do significado ao que é sujo - portanto, impuro ou maléfico - ou ao que é limpo, ou puro - portanto, benéfico - é socialmente construído, revelando muito mais do que a microbiologia fundamenta as regras de assepsia.

Criança saudável é criança "limpa"?
Segundo Douglas, (1966, p.12), como se sabe, a sujeira é essencialmente desordem. Não há sujeira absoluta: ela existe aos olhos de quem a vê. Se evitarmos a sujeira não é por covardia, medo, nem receio ou temor divino. Tampouco nossas idéias sobre doença explicam a gama de nosso comportamento no limpar e no evitar a sujeira. A sujeira ofende a ordem. Eliminá-la não é um movimento negativo, mas um esforço positivo para organizar o ambiente.

Conclusão
De acordo com o resultado da pesquisa pode se dizer que em qualquer que for o projeto de formação de educação infantil na área da saúde, há também á necessidade de pessoas especializadas no assunto sempre tomando conta à dimensão histórica e cultural da região, pois cuidar de crianças, a nível filantrópico requer muito conhecimento, dedicação, paciência.
Dedicar – se nessas áreas trata-se de um grande desafio no qual adquiriu – se muitos conhecimentos antropológicos, de como devemos agir e o momento exato para obtermos o devido retorno esperado, em questão da higiene do individuo.

Créditos: Isaque Dejair da Silva - FACULDADES FACCAT

Rafael Martins Albuquerque - Prime Life
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Autor: Rafael Martins Albuquerque


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