O LIXO E O LUXO RECLAMAM SEGURANÇA



O Brasil é mesmo um país de coincidências estranhas. Quanto à segurança pública, por exemplo, soam reclames tanto dos muito ricos quanto dos muito pobres. Vejam só! Os 2% dos jogadores de futebol brasileiros que ganham acima de R$ 700 (inseridos aí os Ronaldinho's, Roberto Carlos, Cafu, Romário, Robinho, Edmundo e companhia limitadíssima); os outros 98% ganham até R$ 700, segundo entidade oficial dos jogadores. Muitos do seleto grupo já sofreram assaltos ou tentativas de seqüestros de familiares. O mesmo acontece com a elite sertaneja de onde se pode destacar o ocorrido com a família Camargo que da origem muito pobre conheceu o outro extremo e hoje se divide entre o Brasil e EUA, após seqüestro de familiar. Os apresentadores de televisão também corroboram essa situação infeliz com experiências singulares como a de Silvio Santos que teve uma filha seqüestrada e mais recentemente o caso de Luciano Huck que, após levar um susto e ter o seu Rolex roubado em São Paulo, veiculou sua indignação numa carta através de um jornal de grande circulação nacional.

Pior do que os 98% dos jogadores de futebol é o revelado recentemente em reportagem televisiva que foi ao ar mais de uma vez mostrando dezenas de pessoas se engalfinhando num grande lixão no momento em que os caminhões do SLU – Serviço de Limpeza Urbana de Brasília descarregavam toneladas de lixo caseiro. Nesse contexto, a segurança adquire outros contornos como o risco de afogamento ou esmagamento de crianças no meio do lixo, o risco de contaminação por contato ou por ingestão. Essa realidade está no discurso politiqueiro do governo atual, também, a cargo dos órgãos do "assistencialismo social". Essa gente "trabalha" ali, segundo afirmam, à procura de coisas para reaproveitamento e revenda além de alimentos em situações precárias, os quais são preparados e deglutidos ali mesmo, uma visão do inferno. Uma autoridade local entrevistada justificou que "se faz de tudo para que as crianças fiquem longe mas trata-se de uma área muito grande e seria difícil manter fiscais ou agentes de seguranças permanentes naquele local".

Esse caos é resultante da CARIDADE FRATRICIDA CATÓLICA que vem desde cedo com o PADROADO (conluio do Clero com o Estado) o mais bem sucedido projeto de dominação de que se tem notícia, com a eloqüência das "obras de caridade, a roda dos expostos, as campanhas da fraternidade e outras mentiras" atuando dia após dia, ano após ano. Desta realidade implacável se denota de um lado a "quietude mórbida" (dos milhões do lixão), no meio transita a "tolerância mórbida" (da classe média) e do outro lado opera a "mobilidade mórbida" (dos milhares de bandidos da ralé). Esse é um sistema perverso, premeditado, calculado e vigiado de EXCLUSÃO em escala industrial para que se possa fazer INCLUSÃO em escala artesanal.

Tanto os que assaltam os Luciano'squanto os que perambulam pelos lixões são marginais e marginal não é só o bandido mas também aquele que foi banido está à margem da sociedade. É uma gente que nada obstante ter ciência do BEM e do MAL não tem plena consciência da sua condição de ser humano pois falta-lhe Educação. Certa feita o Papa João Paulo II escreveu "o analfabeto é um espírito subalimentado". Nisso ele tinha razão, em que pese o fato de a História da América Latina em nada ser grata à atuação católica como promotora da Educação. Ao contrário há registros notáveis acerca de caudilhos, déspotas e tiranos: "Será que nunca faremos senão confirmar / A incompetência da América católica / Que sempre precisará de ridículos tiranos?" (Caetano Veloso, em Podres Poderes).

Esse arranjo é estranho demais para quem tem sede de morar num país justo e ver seus filhos e netos crescendo e sorrindo com fé no seu potencial de trabalho e riqueza. Estranho para quem é convicto de que é um sonho possível diante de tamanho potencial (gente e natureza). Estranho para quem não quer ir à Europa, EUA, Canadá ou Austrália, por exemplo, para oxigenar o ânimo e higienizar a mente e voltar com "depressão pós-visita ao primeiro mundo" (como ocorre com a classe média) ao ver que em algum lugar há vontade, determinação e governabilidade. Hipócritas, tolos e conformistas! Não há pais com tanto sol e chuva, além das bacias hidrográficas e diversidade de fauna e flora como o Brasil. Portanto, não tem como compactuar com a mendicância de tanta gente de braços, pernas e cabeça perfeitos e com a conduta autofágica da classe média que se comprime em suas redomas e se enfronha nas suas atitudes de covardia e medo.

Num país de vergonha na cara SEGURANÇA PÚBLICA não é de rico nem de pobre é do cidadão. Direito do contribuinte, dever do Estado. No Brasil, é falácia dos politiqueiros e serve muito bem para criar estrutura para aninhar burocratas "bem aquilatados" como desembargadores, juízes coronéis e delegados.

Tudo isso é estranho – mesmo – para quem tem o direito de não assistir a esse circo dos horrores.


Autor: FRANCISCO DE LIMA GOMES


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