O Atendimento e as Relações Publicitárias Insustentáveis



Relações Insustentáveis de Trabalho

Desgastes, rixas, rótulos…seria cômico se não fosse trágico.


Bem-vindo ao mundo publicitário das relações insustentáveis de trabalho. Ou deveria dizer insuportáveis?


A grande verdade é que as relações de trabalho na maioria das agências de publicidade são tão caricatas que beiram ao ridículo. A produção detesta a criação que detesta o atendimento, que não detesta ninguém, mas que é detestado por todos. É bem assim. E não adianta fingir que não é...

E nessa fogueira de vaidades, ficamos na maior parte do tempo como equilibristas de egos, ao invés de nos concentramos no que realmente importa: nosso trabalho.

Como comunicólogos, não sabemos nos comunicar.

Como especialistas nas ciências humanas, não sabemos trabalhar em equipe.

Vendemos a capacidade de penetrar na alma e nos anseios do consumidor. Mas somos incapazes de enxergar o que se passa dentro da cabeça de quem convive ao nosso lado.

E como a volatilidade na nossa área é grande, nos apoiamos nisso, para sustentar relações insustentáveis de trabalho. Afinal, daqui a um ano e meio, a maior parte dos nossos colegas, ou de nós, já estará pousando em uma nova colméia.

De um modo geral,

O atendimento é um boy de luxo;

A criação é arrogante e relapsa;

O planejamento nunca é prático;

A mídia nunca é clara;

O tráfego é mau-humorado e indisposto;

A produção é a personificação do "não";

...e os rótulos não param.

Se você está entrando na área agora...prepare-se para vestir a carapuça da profissão que escolheu. Porque independente da sua postura, é assim que você será visto e, portanto, tratado. E talvez um dia, cansado de lutar contra o título que te colocaram, enfim você irá ceder... E se tornará exatamente aquilo que todos já sabiam que você era: um clichê.

Eu, como atendimento, formada com honra ao mérito em publicidade, pós-graduada em marketing, com MBA em economia de empresas pela USP, já tive que agüentar as situações mais absurdas dentro do ambiente de trabalho.

Nunca vou esquecer do comentário de um criativo, que em meio a uma conversa sobre processos, soltou a pérola: "Para impedir o atendimento de vir aqui, é só colocar um mata-burro na entrada". O comentário foi dado por um menino que só fez uma faculdade na vida e nada mais, nunca mexeu numa planilha de Excel, é incapaz de operar uma HP, ou de fazer uma análise de rentabilidade de conta. Nem imagina os cálculos por trás da precificação de um trabalho, como funciona o mapeamento de processos ou implementação dos diferentes modelos de gestão e operações internas. Jamais teve que responder ou traças metas e nunca teve o peso de demitir alguém nas suas mãos. Resumindo: não tem a menor idéia do que um atendimento faz.

Não culpo ele.

Porque sei que todo pré-conceito é fruto da ignorância.

Não existe relação de trabalho que funcione sem respeito. Mas para haver respeito é fundamental antes que haja compreensão, entendimento.

Temos alimentado uma classe de trabalhadores que não entende o todo. Somos tão especialistas no que fazemos que não conseguimos enxergar um palmo além do nosso próprio nariz. E o pior, nem temos o interesse em conseguir.

Cada um, fechado em seu mundinho, entende apenas sobre o que faz.

O julgamento mais fácil é aquele que fazemos sobre o que não sabemos.

Se você discorda, faça um teste.

Aplique um questionário na sua agência com a seguinte pergunta: "O que o atendimento faz". Tirando as piadinhas que irão surgir, aposto com você, que mais de 90% dos entrevistados será capaz apenas de dizer: briefing, atender ao cliente e apresentar peças.

Como eu sei disso? Simples...essa é a única parte visível do nosso trabalho que chega até os outros. Mas nem de longe, é a mais importante.


Autor: Luiza Cunha


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