O Retorno Dos Reaças...



Pra quem lamenta não viver nos tempos de Joseph McCarthy ou Tristão de Athayde ou para aqueles que já se emocionaram lendo literatura panfletária, eis agora uma oportunidade para poder reviver esses “saudosos tempos”. Acompanhando alguns blogs e colunas de jornalistas conhecidos, tenho observando essa tendência antiga, mas nunca esquecida de reportar os fatos. Refiro-me aqui ao jornalismo reacionário, insensato e passional, aquele onde as opiniões valem mais que os fatos e as ideologias valem mais do que alguma moral –se é que em algum momento se possa discutir moral sem arriscar o início de um debate incandescido por insinuações e farpas de todos os lados…

Essa tendência de polemizar e radicalizar idéias é de fato bastante peculiar. Quem aliás nunca protagonizou cena em que alegou ou quis alegar que “ou estão conosco ou estão contra nós”? É natural e até tentador para qualquer ego reconhecer que em determinados momentos possa estar mais correto que alguém ou mais correto do que a maioria –como alguns fazem no êxtase da egolatria –, e tudo isso se torna ainda mais tentador se de quebra aparecer a oportunidade de fazer um pouco de troça de quem pensa de forma diferente. Já me apreço a dizer que alguma ironia é sempre salutar e necessária para estimular as idéias, e não sou portanto nenhum totalitário avesso ao bom ou mau humor, o que vejo entretanto em blogs como o do Reinaldo Azevedo, é que essa ironia exagerada não me parece ter justificativas ou necessidades práticas aparentes além é claro de criar confusão e dar mais oportunidade para discursos verborrágicos, como o próprio gosta de repetir aos seus ditos opositores. É possível portanto notar a chacota pela chacota, sem nenhum objetivo prático de opinião ou observação além de simplesmente querer vender mais revista, ou mais espaço publicitário se preferirem.

Não digo isso também para defender as esquerdas que o caro “Rei” tanto maldiz nas suas colunas, já que esse mesmo comportamento esquisito se repete no outro lado da moeda com a mesma intensidade e verborragia. Como já reclamei por aqui antes, já faz tempo que é tão difícil criticar alguém da base do atual governo sem ser considerado exageradamente conservador, alienado ou fascista, quanto é elogiar alguém desta mesma base sem ser chamado de petralha, golpista ou infantil. Em alguns desses casos se houver um tumulto suficiente para ocultar a face dos inquisidores, no fundo até poderá se ouvir um ou outro mais empolgados dando morras aos “malditos comunistas”, ou aos “burgueses golpistas” dependendo do bar que você frequenta, ao mesmo estilo dos anos dourados do simpático McCarthy.

Mas devo admitir com certa timidez que as coisas são hoje como sempre foram, não há nenhuma novidade nas afirmações que fiz a pouco e alguns leitores já devem até ter repetido isso pra si enquanto liam as primeiras linhas do texto. E se no entanto tentei fazer um paralelo dos tempos do fervoroso Tristão de Athayde com os dias atuais, é mais para contextualizar algumas acontecimentos do que pra repetir essa ladainha já tão conhecida. Pois ontem um fato me animou, apesar de não ter relação tão direta aqui com o Brasil, a corrida eleitoral americana conseguiu me surpreender, e no bom sentido.

Nas últimas semanas foram feitas diversas insinuações e acusações de que o candidato Obama era anti-americano por manter relações com o reverendo Wright, cujas declarações e críticas ao estilo de vida americano e a guerra, eram repetidas sem parar nos principais jornais americanos, destaque como sempre para a Fox News e o O’Reilley Factor, que conseguiram agitar ainda mais a discussão seguindo o bom estilo republicano linha dura, que parecia ter finalmente todas as justificativas para criticar o suposto liberalismo excessivo de Obama usando alguns silogismos bem simplórios, e eficientes em rede nacional. Seguindo esta mesma lógica parecia fácil questionar a integridade de alguém por suas companhias e amizades, olhando por uma ótica mais conservadora isso até podia ser cristão, pois está no “Diga-me com quem andas….” das sagradas escrituras. Mas então eis que contrariando a maioria dos analistas, o candidato Obama surpreende e se decide responder ao invés de ignorar ou negar o pequeno escândalo, como bem fez o também candidato republicano John MacCain em seu suposto affair com aquela bela lobista.

Obama se trancou em casa durante dois dias e escreveu um discurso de resposta dos mais belos que já vi, tendo conseguido emocionar democratas e republicanos sem distinção, e assim desviar a atenção para sua plataforma e para uma questão fundamental que é necessidade de união entre todas as partes para um bem maior, o que pode parecer piegas mas é uma necessidade clara a qualquer povo com grande diversidade cultural. E se mencionei também que o próprio Obama escreveu o texto sozinho não foi gratuitamente, pois a última vez que um discurso de grande importância foi escrito por um presidente ou presidenciável americano sem a ajuda de escritores profissionais data de outubro de 1969, quando Richard Nixon, sinistramente reforçou a necessidade da guerra do Vietnã no famoso “Great Silent Majority”, conforme levantado pelo liberal Daily Kos.

Uma coisa é certa nisso tudo, ganhando ou não as eleições americanas, o Obama teria meu voto garantido, por entre outras qualidades ser ao meu ver um dos primeiros candidatos de peso que eu percebo pregando moderação ao invés de um radicalismo de esquerda ou de direita. Quem dera houvesse um desses por aqui pra concorrer em 2010…


Autor: Conselheiro Acácio


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