De volta à vida: um livro-reportagem sobre a luta de quem ajuda a salvar crianças da morte na Pastoral da Criança



ELEUTÉRIO, Paulo Henrique dos Santos. De volta à vida: um livro-reportagem sobre a luta de quem ajuda a salvar crianças da morte na Pastoral da Criança. 2009. 81 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) ? Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2009.
RESUMO
Para atender os anseios da sociedade o texto jornalístico evolui desde que surgiu em grande escala a partir do século XV. A forma interpretativa de escrever ainda se aprimora e dá origem a um texto mais próximo do real. Essa busca pela precisão e imersão do leitor no fato se caracteriza como uma corrente batizada de novo jornalismo. Gay Talese e Tom Wolfe são autores precursores do new jornalism que surge nos Estados Unidos nos anos 1960 e chega ao Brasil como jornalismo literário. Essa vertente visa utilizar os elementos da literatura na reconstrução da notícia, contextualizar o assunto para o leitor e resgatar os ideais de cidadania que envolvem o processo da comunicação. Essa forma de escrever ganha cada dia mais espaços em jornais, revistas e, sobretudo, angaria leitores que se identificam com a qualidade do texto. Uma das vertentes do jornalismo literário é o livro-reportagem que extrapola os limites do factual e une a profundidade que o assunto merece com a qualidade e leveza da redação. Para executar as etapas de produção de um livro-reportagem foi escolhido como tema a Pastoral da Criança que há 26 anos realiza um trabalho de diminuir as vítimas de mortalidade e desnutrição infantil. O movimento tem como base milhares de voluntariados, que através de metodologia simples e barata, alcançam números impressionantes. Este trabalho foi dividido em duas partes: os conceitos teóricos e discussões desde jornalismo até a vertente literária e a parte prática que é a produção do livro: "De volta à vida - a luta de quem ajuda a salvar crianças da morte na Pastoral da Criança."







Palavras-chave: jornalismo ? jornalismo literário ? new jornalism ? livro-reportagem ? Pastoral da Criança.
ELEUTÉRIO, Paulo Henrique dos Santos. Come back to life: a book report on the fight of those who aid to save children from death, through Child?s Pastoral. 2009. 81 p. Graduation work (Course of Social Communication - Journalism) ? Centre of Right and Technological Sciences, Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2009.

ABSTRACT
In order to answer the society demands the journalistic text has evolved since it emerged in large scale starting in century XV. The interpretation form to write has still been improved and it gives an origin to a text closer to the real one. This search for the precision and immersion of the reader in the fact it characterizes as a baptism chain called new journalism. Gay Talese and Tom Wolfe are precursory authors of the new jornalism that it appears in the United States in the 60?s and arrives in Brazil as literary journalism. This concept uses the elements of literature in the news reconstruction, to get a picture of subject for the reader and to rescue the citizenship ideals that involve the process of communication. This way of writing gains each day more spaces in periodicals, magazines, especially it gathers readers who identify themselves with the quality of the text. One of the branches of literary journalism is the book-news article that surpasses the limits of the factual fact and joins in depth what the subject requires with the quality and the slightness of the writing. To execute the stages of book-news production it was chosen as subject "Child?s Pastoral" who is for 26 years working to lower the victims of mortality and infantile malnutrition. The movement has thousands of volunteers that through simple and cheap methodology, reach impressive n umbers. This project was divided in two parts: the theoretical concepts and discussion from journalism until the literary source and the practical part which is the production of the book: "Come back to life - the fight of those who aid to save children from death, through Child?s Pastoral."







Key-words: jornalism ? literary jornalism ? new jornalism ? book report ? Child?s Pastoral.
SUMÁRIO
1 O ROMPIMENTO 12

2 O JORNALISMO E A RECONSTRUÇÃO DO COTIDIANO 14
2.1 DOS BARDOS VIAJANTES À MULTIMIDIALIDADE 19
2.2 A TARDIA IMPRENSA BRASILEIRA 23
2.3 JORNALISMO TAMBÉM É CIDADANIA 26
2.4 A EVOLUÇÃO DO TEXTO JORNALÍSTICO 30

3 UM NOVO JEITO DE FAZER JORNALISMO 36
3.1 DA LITERATURA À REALIDADE 37
3.2 DOIS TEXTOS E UMA MESMA MENSAGEM 43
3.2.1 Brincando com as palavras 44
3.2.2 O estilo manual de redação 47
3.2.3 Trocando em miúdos 49

4 A UNIÃO SINGULAR DO LIVRO E DA REPORTAGEM 51
4.1 A REALIDADE DA PRODUÇÃO DE LIVROS 57

5 PASTORAL DA CRIANÇA 60
5.1 ELVIRA DUARTE DE MORAES 64

6 O PRODUTO 67
6.1 OBJETIVOS 67
6.2 JUSTIFICATIVA 68
6.3 METODOLOGIA 70
6.4 DE VOLTA À VIDA 72
6.5 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES 74

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77

REFERÊNCIAS 79

1 O ROMPIMENTO
"Se é verdade nunca saberemos, depois que o coração filtra uma lembrança, ela perde a credibilidade". Bartelli Junior e Freitas (2006, p. 137) expressam perfeitamente o que o jornalismo nunca pode perder: a credibilidade. Porque sem essa competência, não há confiança, não há relação que se sustente. O receptor precisa ter o mínimo de segurança de que aquela informação transmitida é sustentada na busca pela realidade.
O jornalismo, desde seu surgimento na Europa ocidental no século XV busca se basear na verdade. Os mecanismos de transmissão da informação avançaram muito daquele ano para cá. Entretanto, a luta pela confiabilidade continua e nunca deve perder espaço, porque ela é lapidada no dia-a-dia da profissão. A cada notícia transmitida, a cada linha escrita, cada voz ecoada, a história está sendo registrada. Milhões e milhões de pessoas em todo o mundo são construídas e destruídas através de milhares de formas de comunicação que formam um ambiente interligado, que vai desde a maior agência de comunicação do mundo até uma roda de amigos. Pouco a pouco os atores sociais dessa reprodução da realidade vão se constituindo.
Nesse meio, existem aqueles que são especializados em transmitir a informação: os jornalistas. Graduam-se, estudam, incorporam técnicas para contar o que aconteceu. Parece simples, mas não é. Num mundo interligado por valores morais, relações capitalistas, entre outros fatores, ser isento não é tarefa fácil. Além do jornalista, existem diversos meios que interferem na credibilidade da informação. Neste sentido, a reconstrução do cotidiano pode sofrer alguns contrastes, dependendo do olhar daquele que reproduz a história.
A proposta desta monografia é convidar o leitor a mergulhar numa maneira diferente de contar o que aconteceu, de romper com o jornalismo tradicional inventado na Europa e copiado no Brasil. Muito mais do que informar pensando num padrão de redação, aqui, o que se quer é mostrar que é possível manter a credibilidade e, ao mesmo tempo, promover cidadania. Muito mais do que se apegar ao novo jornalismo, é preciso resgatar o bom jornalismo, aquele pautado pela busca da precisão dos fatos, a fim de garantir a informação exata para o receptor final.
O jornalista precisa incorporar que aquilo que escreve, por mais normal que seja vai ter algum impacto na vida de alguém, negativo ou positivo. É comum na correria das redações perder esse conceito de ser a voz da população diante de tantos problemas que afligem a sociedade. Perde-se a noção da importância de cada um num contexto maior. Alimentar esse sentimento de representatividade é fundamental para galgar dia após dia, muito mais do que o salário no final do mês, mas o desejo de dever cumprido. Por mais que seja um simples arroz com feijão diário nas redações, com matérias às vezes sem tanto destaque, ainda é preciso fazer valer a pena.
Ao entrar num mundo onde a emoção da literatura é incorporada nos textos jornalísticos, o tempero fica ainda melhor. A busca pela verdade continua, mas a forma de contar é que muda, evolui, aprimora. Sendo assim, jornalismo literário ganha cada vez mais adeptos, dispostos a viajar na realidade urbana. Realidade que é construída diariamente na sociedade e que é registrada pelos olhares atentos dos que participam ativamente desse processo. Evolução que por muitas vezes extrapola os limites da redação, dando origem ao livro-reportagem: a união perfeita de dois elementos: o livro e o jornalismo.
A função aparente de informar e orientar em profundidade sobre ocorrências sociais, episódios factuais, acontecimentos duradouros, situações, idéias e figuras humanas, de modo que ofereça ao leitor um quadro da contemporaneidade capaz de situá-lo diante de suas múltiplas realidades, de lhe mostrar o sentido, o significado do mundo contemporâneo. (LIMA, 2004, p. 39)
Em um país de contrastes como o Brasil, abordar uma organização social que atende um nicho da sociedade parece comum. Porém, ao adentrar num grupo, percebe-se a sua grandiosidade quase sempre desconhecida. Com a Pastoral da Criança é assim. Do lado de fora existe um grupo de mulheres que trata a desnutrição infantil. Do lado de dentro existem histórias de vida de crianças que viram a morte de perto, de famílias sem ter o que comer, de mulheres que não têm dinheiro para ajudar, mas que contribuem com seu tempo e a sua forma, para resgatar mais uma vida inocente.
A história de um tijolo desse castelo chamado Pastoral da Criança será contada a partir de agora em duas partes: o material teórico sobre a evolução do jornalismo com referencial bibliográfico e o livro-reportagem, uma vertente do novo jornalismo.

2 O JORNALISMO E A RECONSTRUÇÃO DO COTIDIANO
"Ninguém morou na dor que era o seu mal, a dor da gente não sai no jornal". A canção Notícia de Jornal de Luis Reis e Haroldo Barbosa, eternizada na voz de Chico Buarque em 1975, não traduz o que é jornalismo, entretanto, faz uma interpretação particular valiosa. A mulata Joana de tal, personagem da melodia, que nem sobrenome tinha, como diz a música "errou na dose, errou no amor" e teve um fim duvidoso, ou melhor, a pobre não teve nem fim. Conforme a letra, "aí a notícia carece de exatidão".
Bom ou mal, tendencioso ou isento, de direita ou de esquerda, o fato é que o jornalismo faz a diferença no dia-a-dia da humanidade. E não só na contemporaneidade, pois segundo Sousa (2000, p. 127) "os meios jornalísticos, ao tornarem a sociedade tendencialmente mais conhecida e reconhecível por ela própria, contribuíram, desde que apareceram, para a ocorrência de modificações sociais profundas". É claro que é necessária diariamente a busca por uma produção jornalística melhor, em todos os aspectos que impactam no seu meio, mas é inegável, que desde o seu surgimento, a sociedade nunca mais foi a mesma.
Credita-se ao alemão Johann Gutenberg , o surgimento da imprensa no século XV. A contribuição deu-se no aperfeiçoamento da impressão e tipografia . O que antes ara escrito à mão foi adaptado para a produção em série de tipos móveis, ou letras, o que tornou a reprodução de textos mais veloz. A partir daí, com a facilidade na multiplicação dos conteúdos, os primeiros sinais de comunicação em massa junto à população começaram a aparecer. Melo (2003, p. 19) escreve que as primeiras "manifestações de jornalismo ? as relações, os avisos, as gazetas, que circularam escassamente no século XV e ampliam-se no século XVI ? atendem à necessidade social de informação dos habitantes das cidades, súditos e governantes". Na época, ainda não havia periodicidade como hoje nos jornais diários ou revistas semanais. Havia contribuições esporádicas de acordo com a necessidade do grupo social.
Entretanto, é fato que o interesse pela comunicação, não surge apenas no século XV com o advento da tipografia. Ela apenas se alicerça neste período, devido aos avanços tecnológicos que acompanham a evolução da humanidade.
É fato que o homem sempre teve vontade, interesse e aptidão para saber o que se passa. Informar e informar-se constituíram o requisito básico da sociabilidade. Mas a complexidade adquirida pela organização social, o agigantamento populacional e a redução dos obstáculos geográficos aguçaram a curiosidade a curiosidade humana. (MELO, 2003, p. 19)
O autor ainda destaca que com o tempo a informação tornou-se muito mais que uma necessidade social, tornou-se um objeto de poder. Melo (2003, p. 19) defende que a "intensificação e o refinamento das relações de troca, que ocorrem no bojo das transações capitalistas, as possibilidades de atuar e de influir na vida da sociedade, que se afiguram a eclosão das revoluções burguesas, tornam a informação um bem social, um indicador econômico, um instrumento político". Ou seja, com o tempo foi-se verificando de forma empírica o poder da comunicação, sobretudo da informação jornalística, como meio de propagar ideologia e conceitos, arrebatando a população que absorvia os conteúdos.
Conforme Lima (2004, p. 11) a diferença entre o jornalismo e outras atividades na sociedade é a tarefa de informar e orientar "mantendo um vínculo de contato periódico com a audiência, que é dispersa geográfica e socialmente, tratando de temas que dizem respeito aos mais variados campos do saber humano".
Contudo, Rossi (2000, p. 7) sustenta que esse processo passa pela busca do público:
Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquistas das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens. (ROSSI, 2000, p. 7)
Essa batalha por mentes e corações começa pela responsabilidade, justamente pelo poder que exerce de informar e orientar a sociedade, pois como destaca Sousa (2000, p. 128), de alguma forma "os meios de comunicação moldam o nosso horizonte de conhecimento sobre um determinado número de realidades". Destaca-se que essa realidade a que se refere o autor é uma discussão interessante, pois como saber o que deve ser noticiado ou não? Qual é o filtro dos acontecimentos sociais para que apenas alguns sejam escolhidos para compor a estrutura do veículo de comunicação jornalística?
Sousa (2000, p. 49) conclui que uma enorme parcela dos acontecimentos não vira notícia na imprensa "porque grande parte deles não são promovidos ou representam situações perspectivadas como "normais" numa sociedade", logo, "há notícias potenciais que acabam por participar na construção social da realidade e que outras não". Sendo assim, o jornalista ou o veículo de comunicação deve fazer esse filtro e apresentar à sociedade, o que, segundo critérios subjetivos, for mais importante.
Por mais que os acontecimentos sociais representem uma parcela da população e virem notícias nos veículos, o fato é que muitas vezes não há espaço para tudo. Neste caso, necessariamente o acontecimento vai ficar de fora. Sousa (2000, p. 128) explica que "os meios selecionam a informação, de acordo com uma grelha interpretativa que valoriza determinados acontecimentos em detrimento de outros". É por isso que nos veículos jornalísticos algumas informações saem e outras não. Por exemplo, é muito comum os jornais darem maior cobertura para a política do que para a ciência, entre outros casos.
Ora, se as notícias são socialmente relevantes, o jornalismo não o poderia deixar de o ser, pois, em certa medida, a actividade jornalística contribui, por exemplo, para a existência pública de grande parte das notícias, para a construção de significações sobre acontecimentos e ideias e para o agendamento de temas na lista de preocupações do público. (SOUSA, 2000, p. 207).
Entender como as notícias chegam ao jornal pode ser uma pista para compreender porque é dado mais atenção a um assunto, em detrimento de outro. Na estrutura dos veículos de comunicação existem os pauteiros , que são os profissionais que selecionam o que vai virar matéria. Na linguagem jornalística, eles são uma espécie de gatekeeper ou porteiro em português. É ele quem determina se a notícia entra ou não. Esse profissional é o primeiro a chegar nas redações e sabe o que está acontecendo em determinada região de cobertura do veículo. É ele quem liga para os diversos setores da sociedade civil para angariar informações e, também, recebe muitos materiais de assessorias de imprensa e outras fontes. A partir daí, ele seleciona as informações e vai distribuindo para as equipes de reportagem.
Uma espécie de fio condutor que delimita o que será noticiado é o que Rossi (2000, p. 16) chama de pauta que, também, de mero instrumento de informação para as chefias, ela "acabou se transformando, com o tempo em uma espécie de Bíblia, ocasionando distorções e limitações ao trabalho jornalístico". O que se observa é o que não é pautado não vira notícia, abrangendo apenas uma parcela da sociedade. É fato que cada veículo tem a sua maneira de angariar os assuntos. O rádio e a televisão têm uma aproximação grande com o público que liga nas redações para reclamar de alguma situação do seu clico social e isso acaba virando notícia. Nos jornais isso também acontece. Os leitores escrevem nos espaços destinados, ora reclamando, ora opinando sobre algum assunto. Contudo, nem de longe essas formas de angariar informação concorrem com os releases das diversas assessorias de imprensa que, muitas vezes, mandam os materiais prontos. O jornalista só tem o trabalho de publicar.
É verdade que a pauta também é composta de informações enviadas às redações pelos repórteres incumbidos da cobertura de setores específicos (Palácio do Governo, Prefeituras, Parlamentos, Polícia, etc.) e pelos press-releases enviados por distintas organizações às redações. Mas aí ele acaba sendo necessariamente parcial: os setores cobertos regularmente pela imprensa são, quase exclusivamente, organismos oficiais, organismo do aparelho do Estado ? e não organismos da comunidade em si. (ROSSI, 2000, p. 16-17)
Neste sentido, o interesse de um grupo social que não dispõe de uma assessoria de imprensa fica aquém da facilidade de cobertura de alguns setores da sociedade. Destaca-se que a função do assessor de imprensa é legítima e não se questiona. O que se quer fazer refletir é sua função dentro da redação jornalística. Rossi (2000, p. 17) conclui que "há, portanto, um cone de sombra sobre toda uma área de atividade, diretamente ligada ao interesse da comunidade, que raramente ganha espaço na pauta e, por extensão, no próprio jornal, revista ou TV".
Outro fator que facilita a reprodução de materiais de assessoria de imprensa, em detrimento dos pequenos grupos é a realidade do enxugamento das redações, que afeta o trabalho do jornalista contemporâneo. Por diversos fatores sócio-econômicos, que não só atingem os veículos de comunicação, mas todos aqueles que participam do modo de produção capitalista, as empresas reduzem o quadro de funcionários para poder competir e gerar mais lucro. O jornalismo segue as tendências de mercado. O que tem feito com que o trabalho de assessores seja utilizados pelos veículos. Mas isso, sem dúvida, é alicerçado pela confiança e credibilidade de ambas as partes.
Além da pauta, inúmeros fatores interferem para que a notícia chegue ao receptor final. Sousa (2000, p. 18) enumera o fator, pessoal, no qual as notícias dependem dos seus atores; o social, fruto do veículo que a constrói; o ideológico, as informações são vinculadas aos interesses de cada grupo; o cultural, as notícias são produzidas por um sistema; o meio físico e tecnológico, as informações são dependentes do processo tecnológico do veículo e, por fim, o histórico, em que as notícias dependem do fator distanciamento do tempo.
O fio da ligação entre o emissor e o receptor é o conjunto dos fatos que estão acontecendo. O ponto de tensão entre ambos está na diferença entre o que a coletividade gostaria de conhecer e o que a instituição jornalística quer fazer saber. A permanência da relação social está na íntima dependência do equilíbrio que se estabelece entre os interesses da instituição e as expectativas da coletividade. O que pressupõe velocidade, credibilidade e abrangência. (MELO, 2003, p. 17)
A relação entre o jornalista e o público que consome o produto deve ser a mais ética possível, pautada sempre pela busca da verdade. Afinal, o verdadeiro compromisso é com o leitor e não com o chefe da redação ou o dono do veículo. Sousa (2000, p. 117) coloca em xeque ao questionar se o "os jornalistas possuem sempre uma esfera de liberdade de decisão que passa pela sua consciência individual, ou, talvez mais precisamente, saber-se se os jornalistas são, até certo ponto, autônomos, e, se o são, até que ponto é que o são verdadeiramente".
O jornalismo de hoje em dia não é o mesmo de algum tempo atrás. O receptor passivo que assistia as informações sem questionar, sem argumentar, mudou. Ele se transformou no colaborador ativo, que reivindica se não concordou com alguma questão. A prova disso são os inúmeros comentários de notícias nos veículos jornalísticos online. Ficou mais acessível e fácil questionar o repórter sobre determinado assunto e até debater com ele e outros leitores pontos de vistas diferentes. Para Sousa (2000, p. 117) como os "meios multimédia, os computadores em rede, a televisão por cabo e satélite ou os jornais electrónicos, entre outros, e uma nova tendência parece desenhar-se com o aparecimento destes novos media: a interactividade".
Essa mudança é fruto de uma nova perspectiva da humanidade. Sousa (2000, p. 117) acredita que tem acontecido esse fenômeno devido às "mudanças nos estilos de vida, nos valores, nas crenças, nas ideologias e nas expectativas dos seres humanos que vivem nas sociedades pós-industriais da actualidade". Ou seja, a produção jornalística que também participa e promove junto com a sociedade a transformação social, ganha os benefícios do avanço da tecnologia. Neste caso, a serviço da informação da própria sociedade.
2.1 DOS BARDOS VIAJANTES À MULTIMIDIALIDADE
O jornalismo tradicional que se conhece hoje em todo o mundo democrático, que angaria, filtra e divulga a informação, como cita Melo (2003, p. 11) "é um fenômeno universal, mas suas raízes são européias". E não foi à toa que naquele continente esse processo de comunicação foi iniciado, afinal, ele surgiu "historicamente na esteira dos acontecimentos que preparam e tornam realidade a transformação das sociedades européias" Melo (2003, p. 11). A partir do momento que a sociedade começa a dar sinais de grande transformação, onde o indivíduo deixa de ser isolado e passa a viver em comunidade, o jornalismo estabelece sua função de informar. Essa interação social firma-se como um processo sem retorno, perpetuado nos estudos de McLuhan sobre Aldeia Global.
Contudo, muito antes de existir a tipografia no século XV, o papel de jornalista era atribuído a outros profissionais que comercializavam de cidade em cidade e transmitiam as informações através da comunicação oral. Kunczik (2002, p. 22) lembra que na Europa central "os predecessores dos jornalistas atuais eram os bardos viajantes, que reportavam e comentavam os acontecimentos do dia nas feiras, mercados e cortes aristocráticas, assim como os mensageiros e escrivãos públicos". Não havia ainda a comunicação de massa, o que existia era transmissão informal de pessoa para pessoa. Contudo, tempos depois com a modernização da escrita, esse processo foi evoluindo. "Os editores de livros, administradores de correios, negociantes, diplomatas e outras pessoas com fácil acesso à informação foram os precursores em tempo parcial dos jornalistas" Kunczik (2002, p. 22).
A própria imprensa, que viabilizou tecnologicamente o jornalismo, também surgiu como resultado de crescentes exigências sócio-culturais que se manifestam na nascente engrenagem burocrática, nas operações mercantis e financeiras que movimentam as cidades, na circulação mais rápida das idéias e dos inventos que tornaram a reprodução do conhecimento um fator político significativo. (MELO, 2003, p. 19)
As primeiras publicações, já com o avanço do processo de tipografia, se sujeitavam a informar sobre a realidade de cada grupo social. Melo (2003, p. 20) escreve que os textos ainda não tinham o caráter jornalístico e se prendiam, sobretudo, nos fatos atuais. Afinal, ainda naquele período, era preciso tomar os devidos cuidados com o que era publicado, pois a Europa estava longe de ser terra de ninguém. "A ausência de periodicidade das publicações impressas que circulam na Europa antes do século XVII não é uma contingência meramente tecnológica, mas um fenômeno tipicamente político" Melo (2003, p. 21). Segundo ele havia "censura prévia em toda a Europa e nos séculos XV e XVI, exercida pelos Estados nacionais ou compartilhada pela Igreja nas nações católicas". Estas instituições de poder faziam uma espécie de pressão e intimidavam quem publicava os informativos. Justamente por essa situação, alguns se arriscavam na divulgação clandestina dos fatos.
Mesmo com o avanço na publicação das informações que passou da escrita para a tipografia, a forma antiga ainda tinha espaço. Kunczik (2002, p. 22-23) escreve que "não foram retirados imediatamente do mercado os jornais manuscritos, com a chegada da impressão com tipos móveis. Na realidade, os jornais manuscritos podiam driblar melhor a censura e oferecer informação exclusiva, rápida e confidencial". Sendo assim, a estratégia em não se modernizar era aceitável, uma vez também que o público que o consumia não queria deixar de adquirir o material.
Logo depois que Gutemberg inventou a máquina de imprimir com tipos móveis, institucionalizaram-se as medidas de censura, especialmente devido à publicação de folhetos anticleriais ou de outros materiais críticos. Em 1482, a Igreja católica emitiu os primeiros editais de censura, em Wurzburg e na Basiléia. (KUNCZIK, 2002, p. 24)
Com o passar dos anos e a diminuição do poder de censura de nichos organizados da sociedade, a atividade jornalística vai aos poucos assumindo seu papel de divulgar informações e defendendo opiniões. Contudo, Melo (2003, p. 23) ressalta que enquanto "a liberdade de imprensa beneficiava a todos, as diferentes correntes de pensamento ou os distintos grupos sociais se confrontavam através das páginas dos jornais que editavam". Já para Kunczik (2002, p. 30), "não se deve esquecer que a batalha pela liberdade de expressar uma opinião não foi a luta pela liberdade de imprensa dos jornalistas, mas sim pelo direito do homem comum de falar o que pensa". Sendo assim, os grupos sociais através da identificação da ideologia do informativo iam se formando e articulando suas idéias, tudo predominantemente marcado por linguagem opinativa.
Nesta época, a atividade jornalística já começava a tomar seu espaço na sociedade. Conforme Godechot (1964 apud MELO, 2003, p. 23) o fazer jornalismo, com a impressão dos veículos naquela época não exigia muito investimento financeiro. Para o autor, era necessário ter uma imprensa manual, tipos móveis, tinta e papel, além de conseguir a comercialização de mil exemplares, que já pagava o investimento. Essa facilidade no processo informativo, se por um lado tornou a divulgação dos acontecimentos mais democrática, por outro mexeu com os grandes detentores de poder, que, irritados com essa prática, pois muitas vezes entravam em choque com o pensamento imposto na época, procurariam maciçamente diminuir os materiais impressos.
A instituição de taxas, impostos, controles fiscais atacava o flanco da sobrevivência econômica. A decretação de limites à liberdade de imprensa dava conta do cerceamento político, estabelecendo o mecanismo da censura a posteriori, ou seja, a punição dos excessos cometidos, nos termos da legislação vigente. (MELO, 2003, p. 23)
Fica claro que desde o surgimento do jornalismo, há uma natureza política intrínseca no seu processo social, como destaca o autor. No entanto, "o autêntico jornalismo ? processos regulares, contínuos e livres de informação sobre a atualidade e de opinião sobre a conjuntura ? só emerge com a ascensão da burguesia ao poder e a abolição da censura prévia", Melo (2003, p. 22).
Já no século XVI, as manchetes que vendiam os informativos eram utilizadas de forma estratégica. "Os assuntos ?maravilhosos? e ?assustadores? atraíam maior interesse, e os editores enfatizavam que eram ?verdadeiras raridades?", Kunczik (2002, p. 22). Ainda nesta época, já se começava a descobrir como atrair o leitor. A partir de então, um fator preponderante para a manutenção dos veículos de comunicação aparece: a publicidade começa a se destacar nos jornais. Então, cita Kunczik (2002, p. 23), que a "medida que progredia a divisão do trabalho e os mercados cresciam mais e mais, tornou-se necessário anunciar os produtos publicamente". Além do dinheiro adquirido na venda dos informativos, agora a renda da publicidade começa a crescer.
Então, surgem os primeiros jornais, agora já com regularidade. Conforme Kunczik (2002, p. 23) os precursores surgiram na Alemanha em 1609: Aviso, em Wolfenbuttel e Relation, em Estrasburgo.
Pouco depois apareceram jornais na Holanda (1618), França (1620), Inglaterra (1620) e Itália (1636). O primeiro jornal publicado diariamente foi o Einkommende Zeitung, de Leipzig (1650). Estima-se que as tiragens dos jornais do século XVII eram de cem a duzentos exemplares, ainda que o Frankfurter Journal já tivesse uma circulação de 1500 exemplares em 1680. (KUNCZIK, 2002, p. 23)
Apesar de o jornalismo já ser um exercício consolidado nesta época, é apenas no século XIX que ele passa a ser uma "profissão de tempo integral, onde se podia sobreviver economicamente na Europa e nos EUA" Kunczik (2002, p. 23). Agora o jornalismo em si passa por grandes transformações em toda história da humanidade. Entretanto, não perde quatro características, como enumera Kunczik (2002, p. 23): "1. publicidade; 2. atualidade (ou seja, informações que se relacionam com o presente e o influencia); 3. universalidade (sem excluir nenhum tema); 4. periodicidade (distribuição regular)".
Contudo, desde a Segunda Guerra Mundial, como cita Sousa (2000, p. 116), o jornalismo tem evoluído por influência de duas tendências: a competição e a "concentração pró-monopolista e oligopólica dos media (agora até poderíamos dizer de todo o sector da comunicação telecomunicações, media, multimédia, informática, etc.), justificada pelos patrões da comunicação social como condição imprescindível para a sobrevivência". A competição dentro do universo jornalístico segue a tendência do mercado capitalista. Afinal, o jornal, como qualquer outra empresa, precisa gerar lucro para se manter em evidência.
Mais recentemente, um outro fenómeno ocorreu - a internacionalização dos grupos económicos que dominam a paisagem mediática - o que acentuou, a nosso ver, o pendor transnacional, transcultural e transorganizacional de certas imagens e ideologias, bem como de vários processos associados aos jornalistas e ao jornalismo. Tal fenómeno terá contribuído para uma aproximação global das formas discursivas jornalísticas (SOUSA 2000, p. 116)
Depois de alguns séculos de contribuição para promover o conhecimento da sociedade dentro dela mesma, o jornalismo não cessa de se modificar conforme as tendências da humanidade. O que antes era manuscrito, depois passou a ser em tipos, agora já é digital. Sousa (2000, p. 207) define que "o jornalismo é, de facto, socialmente relevante, apesar das mudanças de paradigmas, da diluição de fronteiras entre as actividades comunicacionais e das vicissitudes do exercício profissional".
2.2 A TARDIA IMPRENSA BRASILEIRA
A imprensa quando começa dar seus primeiros sinais de existência no Brasil, assim como em outros países, copia o modelo europeu. Desembarcou em terras brasileiras a partir do momento em que a Família Real portuguesa assim o fez, em 1808. Já chegou pronta conforme o modelo lusitano e causando imensa novidade. Afinal, antes de a Coroa pisar na então colônia, eram proibidos a circulação e fabricação de tipos impressos. Mas também, não havia como imprimir letras, já que não se tinha máquina para isso. De um lado, a população que já se manifestava, através de diversos movimentos; de outro, a imprensa retardatária tentava ordenar o Brasil. Conforme Sodré (1999, p. 28) o atraso da "imprensa no Brasil, aliás, em última análise, tinha apenas uma explicação: ausência do capitalismo, ausência da burguesia. Só nos países em que o capitalismo se desenvolveu, a imprensa se desenvolveu".
A Família Real se fixa no Brasil já com a tecnologia de impressão e funda a Imprensa Régia no Rio de Janeiro, comandada por Dom João VI. Segundo Moroni e Ruas (2003, p. 20) a estratégia de não permitir impressão por aqui se deve pelo interesse de "manter a colônia atada ao seu domínio, nas trevas e na ignorância. Manter a imprensa fora da vida colonial era característica própria da dominação: a ideologia dominante deve manter o povo sem um mecanismo social de expressão de idéias e divulgação dos fatos, como é o caso do jornal". Proibia para não criar uma estrutura que se volte contra os dominadores. Afinal, os primeiros veículos de comunicação na Europa tinham característica de criticar os modelos autoritários do Estado e da Igreja. Nessa perspectiva, a Coroa não queria que ocorresse a mesma coisa no Brasil.
Contudo, diferentemente dos primeiros tipos impressos no velho continente, com característica de reivindicação popular dos grupos oprimidos, a imprensa já chega ao Brasil na elite, sob comando da Família Real. O que na prática não se podia esperar que a Coroa divulgasse informações negativas sobre ela mesma, ou fazer algum tipo de manifestação com interesses escusos. Os conteúdos dos primeiros exemplares da imprensa era a divulgação dos atos da realeza.
Em 10 de setembro de 1808 saía o número inicial do primeiro jornal brasileiro, A Gazeta do Rio de Janeiro, dirigida por Frei Tibúrcio José da Rocha, órgão oficial da administração portuguesa. O jornal tinha quatro páginas e só publicava atos oficiais, notícias sobre o estado de saúde dos príncipes europeus e informações sobre a Família Real. Não falava em liberdade política, nem fazia críticas ao sistema colonial. (MORONI e RUAS 2003, p. 21)
Os assuntos eram cuidadosamente selecionados, não podiam ser impresso textos que iam contra a Igreja e ao Governo. Ainda conforme os autores, muito do que era publicado era extraído da Gazeta de Lisboa e de jornais ingleses. Além disso, todas as informações eram cuidadosamente lidas previamente pelos condes de Linhares e Galveias, pertencentes à Junta Censora da Coroa. "As notícias ignoravam um Brasil já marcado pelas revoltas dos movimentos populares, que questionavam as relações coloniais, o país escravocrata e monocultor" Moroni e Ruas (2003, p. 21).
Apesar do esforço em divulgar as notícias de interesse da Coroa, a Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal impresso no Brasil, mas não foi o primeiro a circular por terras nacionais. Em 1º de junho de 1808, mesmo ano em que foi impresso o jornal da Família Real, surge o Correio Braziliense, impresso em Londres pelo exilado Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça. O Correio tornou-se o primeiro jornal do Brasil e, consecutivamente, seu autor, o primeiro jornalista brasileiro. De acordo Moroni e Ruas (2003, p. 21) o jornal era mensal "com 72 a 140 páginas, doutrinário, não tipo noticioso como era a Gazeta do Rio de Janeiro. Tinha seções de Política, Comércio, Arte, Literatura, Ciências e Miscelânea. Seus objetivos eram discutir questões que afetavam Brasil, Portugal e Inglaterra".
Por muitas razões, fáceis de referir e de demonstrar, a história da imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade capitalista. O controle dos meios de difusão de idéias e informações ? que se verifica ao longo do desenvolvimento da imprensa, como reflexo do desenvolvimento capitalista em que aquele está inserido ? é uma luta em que aparecem organizações e pessoas da mais diversa situação social, cultural e política, correspondendo a diferenças de interesses e aspirações. (SODRÉ 1999, p. 1)
Foi apenas coincidência o aparecimento da imprensa e do Brasil na mesma época, analisa Sodré (1999, p. 9). E ainda "só nisso aproximados, porque a arte de multiplicar os textos acompanhou de perto, e serviu, à ascensão burguesa, enquanto a nova era integrada no mundo conhecido, iniciava a sua existência com o escravismo". Enquanto na Europa o jornalismo era um artifício utilizado em prol do desenvolvimento do capitalismo pela burguesia, aqui no Brasil, ele perpetuava o regime de escravidão.
Conforme Moroni e Ruas (2003, p. 23) depois de muitos anos, as empresas de mídia surgiram no Brasil com características muito específicas, que marcaram seu desenvolvimento posterior. "A primeira dessas características é a tardia implementação da imprensa no país. Somente no século XIX é que surgem os primeiros jornais diários impressos". Os veículos de comunicação jornalísticos no Brasil, ainda imprimem nas suas estruturas o jeito americano ou europeu de se fazer jornalismo. Já que conforme Melo (2003, p. 17), aos poucos a imprensa vai amadurecendo no processo social "a partir das relações (periódica/oportuna) entre organizações formais (editoras/emissoras) e coletividades (públicos receptores), através de canais de difusão (jornal/revista/rádio/televisão/cinema) que asseguram a transmissão de informações (atuais) em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos)".
Apesar de inúmeras mudanças na produção jornalística desde 1808, Moroni e Ruas (2003, p. 23) destacam dois períodos importantes:
Na República Nova (1945 a 1964), caracterizada como um período democrático, as empresas jornalísticas passam a uma fase de conglomerado, incluindo jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão. (...) De 1964 a 1985 o Brasil passou pelo autoritarismo através da ditadura militar. A repressão e a censura atingiram duramente os meios de comunicação. (MORONI e RUAS 2003, p. 21)

Assim como nos quatro cantos do mundo em que o jornalismo se faz presente, a imprensa nacional tem sua maneira adaptada de pensar, angariar e difundir a notícia. Segundo Melo (2003, p. 18) cada processo "jornalístico tem suas próprias peculiaridades, variando de acordo com a estrutura sócio-cultural em que se localiza, com a disponibilidade de canais de difusão coletiva e com a natureza do ambiente político e econômico que rege a vida da coletividade". Cada nação tem o jornalismo amadurecido e estabilizado conforme sua democracia e os valores sociais exercidos e exigidos pela respectiva população.
2.3 JORNALISMO TAMBÉM É CIDADANIA
Informar, mas não apenas relatar. Noticiar com tamanha credibilidade que dê ao leitor mais do que a sensação de estar bem informado, mas a capacidade de estar bem formado. Jornalismo também é cidadania. Todos os dias milhões de pessoas em todo o mundo sabem o que está acontecendo ao seu redor, pelo simples fato de ler um jornal, assistir a televisão, ouvir o rádio ou até dar um clique na internet. Milhares de jornalistas, das mais diversas partes do globo interagem através do seu trabalho de captar informações e munir toda uma sociedade que já acorda esperando pelas notícias.
A função do veículo, ou no caso do jornalista, muito mais que divulgar a informação deve ser de contextualizar o leitor, muni-lo de todos os conhecimentos que envolvam o fato, para que o receptor, com informação completa, possa pensar no que aquilo afeta sua vida e a sociedade. É importante que o profissional estimule uma consciência crítica no público que consome aquele produto, em vez de dar uma notícia pronta, já pensada. Por isso, os profissionais de jornalismo, exercem um papel fundamental na sociedade de promover a cidadania.
Jornalistas cívicos dizem acreditar que sua missão é motivar as pessoas a pensar e agir, em vez de meramente atraí-las para assistir à apresentação dos fatos, sejam da mídia impressa, televisiva ou radiofônica. É uma re-significação de sua meta e sem medo de torná-la pública e consolidada. (FERNANDES, 2002, p. 103)
O jornalista deve se sentir indignado com alguns acontecimentos sociais e fazer do seu dia-a-dia um exercício de transformação dessa realidade. Justamente, porque antes mesmo desse profissional ser um jornalista, ele é um cidadão e, como tal, deve cumprir seus deveres e reivindicar seus diretos. Sendo assim, esse profissional não vai encarar o fato como mais um, mas deve dar devido valor e orientar a sociedade a fazer os questionamentos que lhe cabe.
A classificação de jornalismo cidadão ou cívico foi criada pelo norte-americano Davis Merrit, do The Wichita Eagle, nos anos 1980. O original jornalism civic iniciou suas primeiras experiências na editoria de política. Durante as eleições naquela época, viu-se que as opiniões estavam centradas muito nos candidatos e era preciso chegar mais perto do público. Por isso, começaram a fazer pesquisas de opinião entre os leitores para angariar as informações que os interessavam sobre o debate político. Tempos depois essa mesma metodologia foi espalhada para outras editorias e diversos veículos.
É evidente que o jornalista só porque pensa de uma forma sobre determinado caso, não vai querer que toda a sociedade pense com ele. Entretanto, munido de informações e apto para tal, ele pode exercer sua função de cidadão, aliado ao trabalho de jornalista. Segundo Fernandes (2002, p. 101) naquilo que "se convencionou chamar de jornalismo tradicional, o equilíbrio também é fator importante". O autor ainda destaca que regras demais nas redações, aliadas ao manual de recomendações , acabam engessando um bom profissional e "adversidades de toda espécie acabam por, em muitos casos, atrapalhar a intenção do jornalista".
Vieira (2002, p. 124) confirma as perspectivas citadas por Fernandes e acrescenta que os modelos atuais de produção jornalística impedem a formação de bons repórteres e boas equipes de reportagem. "O compromisso é, muito mais, com os horários de fechamento, os anunciantes, as lógicas patronais. O receptor, a informação, o compromisso social e o tesão pela prática profissional não são relevantes". Ainda conforme o autor, o jornalismo praticado no interior que potencializa as fontes que não são oficiais, em detrimento dos nomes já velhos conhecidos da imprensa, tem muito a ensinar para os grandes veículos das capitais.
Além dos problemas naturais da formação humanística dos cidadãos contemporâneos, o excessivo número de regras e a adoção de raciocínios de fechamento de edições a partir de fórmulas e condições pré dadas, fazem com que a criatividade e o feeling se transformem em mercadoria de segunda ou terceira mão. (VIEIRA, 2002, p. 124)
As redações tradicionais, seja dos grandes ou pequenos jornais, de algum tempo pra cá, se apropriaram de um equipamento valioso na comunicação com as fontes: o telefone. É com ele que muitos jornalistas abrem e fecham suas matérias, falam com seus entrevistados, confirmam informações, entre outras utilidades. Perde-se o contato com a notícia, com o fato, com o ambiente e fica na imprecisão do telefone. Poucos ainda utilizam o olho no olho. Mas isso não foi adotado pelo jornalista de uma hora para outra. Ele fez parte de um processo de mudança e de racionamento pelos custos da organização, porque é muito mais caro, para o profissional ter que sair da redação.
Vieira (2002, p. 126) questiona esse processo. Para ele "o contato com o real de quem está aspirando apreender o coletivo e toda a sua complexidade, se coloca para além da experiência restrita e restringida das lógicas coisificadoras". Sendo assim, "os profissionais que estão mais próximos dos fatos e de suas repercussões podem não só produzir trabalhos mais sintonizados com as demandas sociais, mas, também, promover um diálogo mais revelador e cidadão". Sem o contato com o ator social, que é a população, o profissional fica a mercê de critérios duvidosos na hora de se relatar o ocorrido. Ele não estava lá, apenas conversou com alguém que estava. Isso faz toda a diferença num texto.
Na busca por perpetuar a cidadania, através da aproximação com o leitor e de até criar mecanismos de lutas, o jornalismo cumpre a sua função social. Nos mais diversos veículos de comunicação jornalística, a participação do leitor já existe, através de espaços que são dedicados a eles, como as cartas dos leitores. Contudo, esse processo de cidadania através da notícia é diferente, porque motivar a consciência do receptor não se faz somente dando espaço para sua participação, mas como foi já foi citado, a batalha por mentes e corações envolve o cidadão na própria escolha da pauta ou no foco da reportagem. Vieira (2002, p. 126) ressalta que "ao negar, peremptoriamente, os gestos humanos, o jornalismo se fecha no seu conjunto de regras mecânicas e, cada vez mais, se afasta das possibilidades de diálogo ético, de debate técnico e de produção estética".
Humildade e coragem de quem aceita desafios. Isto é fundamental para quem estiver certo de que existem chances de humanizar ainda mais a nossa produção jornalística e minar os raciocínios técnicos e burocráticos. Se o jornalismo está optando por capturar o real como prova do triunfo da razão sobre a emoção (por exemplo), é patente, que este ato é contra o humanismo. (VIEIRA, 2002, p. 125)
A aproximação com o leitor tem como característica principal ouvir e interá-lo daquilo que é noticiado. Neste caso, é preciso fazer uma inversão das fontes, dos entrevistados. Não que a fonte oficial tenha que ser abolida do jornalismo, mas que seja feito um equilíbrio, para que o veículo não fique distante da realidade do cidadão. Amaral (2002, p. 31) defende que "as críticas às fontes eleitas pelos jornalistas são frequentes, mas sempre no sentido de reivindicarem a democratização, a pluralidade de vozes e o abandono do tom oficial". O que se quer, segundo ele, é que os jornalistas não se lembrem somente das fontes populares nas catástrofes, em protestos ou em acidentes que as envolva.
No jornalismo cotidiano, é comum que os problemas da cidade virem notícias nos veículos. E não faltam matérias sobre hospitais cheios, problemas com asfalto, ou a falta dele, acúmulo de lixo, entre outras diversas pautas. O que se defende, é que quando um profissional for fazer uma matéria nesse porte, ele não só enfoque a autoridade responsável, como também a população que é diretamente afetada. Entretanto, conforme as perspectivas de Amaral (2002, p. 32) a procura pelas fontes "passa pelo conceito da representatividade e credibilidade. As fontes oficiais, por representarem instituições de poder e exercerem também certo controle e responsabilidade, são as primeiras a serem procuradas pelos jornalistas".
Para Medina (2000, p. 36 apud AMARAL 2002, p. 31) a busca pela voz oficial tem raízes históricas ao destacar que o "autoritarismo institucional, nas ditaduras brasileiras, também reforçou a voz oficial, em detrimento das vozes anônimas, do debate nacional. Verificou-se a extrema centralização das fontes de informação em todos os temas (pautas) que diziam respeito diretamente a qualquer cidadão brasileiro (...)".
Ao entrar no mundo dos cidadãos, os jornais também evitam utilizar sempre a mesma pauta. Um leitor mais atento percebe que esse ou aquele assunto já foi abordado diversas vezes por determinado veículo. É o chamado pensamento único que engessa os jornais. O que parece é que os diversos jornais dizem a mesma coisa só que de forma diferente, já que cada um tem seu público específico e é independente editorialmente. É evidente que isso está atrelado ao agendamento da sociedade pela imprensa, também conhecido como Agenda-setting . Os meios de comunicação literalmente programam algumas matérias. No verão são sempre as mesmas reportagens de se proteger do sol, as atrações do litoral. Já no inverno, os desabrigados que passam frio tomam conta do noticiário, assim como as doenças causadas pela temperatura. O discurso sempre se repete.
É frequente que se incluam entre os problemas da imprensa "de referência" a rotina de eleger principalmente fontes oficiais, de subvalorizar a reportagem de rua e de pautar constantemente os mesmos temas. (...) Mesmo que eventualmente fontes distantes da esfera de poder coloquem novos temas na agenda, normalmente se destacam os mesmos grupos de poder. (AMARAL, 2002, p. 31-32)
É claro que quando se fala em jornalismo que cumpre sua função social de levar cidadania para as pessoas, não é só o jornalista que se envolve, mas a estrutura organizacional de cada empresa de comunicação. Veículos pequenos podem ter mais dificuldade em liberar um repórter para cobrir uma matéria na rua do que um grande, mas o que se espera é que o profissional não deixe de se apaixonar pelo que faz e lute diariamente com suas armas, no caso a comunicação, para promover um mundo mais justo e democrático.
2.4 A EVOLUÇÃO DO TEXTO JORNALÍSTICO
Acordar cedo, ligar o rádio, assistir a televisão ou ler o jornal seja impresso ou pela internet, é uma comodidade que deixa a sociedade informada dos principais acontecimentos da região, do país e do mundo. Entretanto, para que a informação chegue hoje com qualidade de entendimento para a população, foi preciso que a maneira de se transmitir a mensagem se modificasse e evoluísse conforme a humanidade também avançava. De acordo com Lima (2004, p. 16) os veículos de comunicação jornalística foram "com o tempo desenvolvendo uma maneira própria de expressar sua mensagem, se entendermos que o trabalho de universalizar o conhecimento exige, em princípio, uma forma peculiar de tradução das ocorrências para um público disperso e heterogêneo". A modificação foi gradual, seguindo as tendências sociais.
Em decorrência dessa necessidade, o jornalismo contemporâneo, caracterizado pela produção estandardizada, em larga escala, que começa a nascer no século XIX, a partir das primeiras cadeias de jornais e das agências de notícias formadas nos Estados Unidos e na Europa, encontra a fórmula básica de comunicar no elemento notícia. Esta se transforma, em termos sistêmicos, no catalizador do sistema jornalismo. (LIMA, 2004, p. 16)
Como ressalta o autor, o jornalismo depende essencialmente da notícia e ela "deve corresponder ao acontecimento real que seja de interesse a pelo menos um grupo importante entre os segmentos de receptores de uma dada mensagem jornalística" (Sousa 2000, p. 17). Nessa perspectiva, cada pessoa ou cada grupo social, tem interesses diferentes nas notícias. O trabalhador rural, por exemplo, pode ter a necessidade de informações ligadas ao agronegócio, como o clima, a cotação dos produtos, entre outros. Já um investidor em bolsas de valores tem interesses diferentes. Ele deve dar preferência para as notícias de economia, como análises do mercado financeiro no mundo em detrimento de outras informações. E conforme o processo foi avançando, os nichos de notícias foram se diversificando, ou na linguagem própria, se especializando.
Contudo, a essência básica da informação na comunicação jornalística é responder no texto a seis perguntas conhecidas como lide, que vem do lead em inglês, que significa conduzir: o que?, quem?, quando?, como?, onde? e por que? Com o tempo, essas questões que conduziam o leitor já eram respondidas no primeiro parágrafo de cada notícia. Esse processo foi batizado de pirâmide invertida, pois as principais informações ficam já no início do texto e o restante do conteúdo é distribuído durante os parágrafos seguintes. "A estrutura da mensagem jornalística nessa fórmula atende melhor à categoria jornalística que acabou conhecida como jornalismo informativo" (Lima 2004, p. 17).
Durante muito tempo essa categoria de jornalismo se solidificou e se manteve nos países onde a imprensa avançava. Melo (2003, p. 24) destaca que "sem dúvida o jornalismo informativo afigura-se como categoria hegemônica, no século XIX, quando a imprensa norte-americana acelera seu ritmo produtivo, assumindo feição industrial e convertendo a informação de atualidade em mercadoria". Entretanto, se conforme Lima (2004, p. 17), o papel é informar e orientar de maneira rápida, clara, precisa, exata, objetiva; por outro lado, "essa prática é muitas vezes criticada como superficial, incompleta". Já Rossi (2000, p. 25) defende que "da forma como o lead é encarado hoje, ele se transformou muito mais num resumo de toda matéria, como se o leitor estivesse interessado apenas no início de cada notícia e não no seu conjunto".
Essa esquematização conduziu a tal padronização da informação jornalística que ela parece rigorosamente a mesma, com pequenas variações de palavras, seja publicada na Folha de S. Paulo ou no Jornal do Brasil, por exemplo, embora, obviamente, cada uma dessas publicações se destine a públicos diferentes. (ROSSI, 2000, p. 26)
Por isso, conforme os textos jornalísticos se disseminam no mundo, tenta-se aprimorar a capacidade de transmitir a informação, sem a superficialidade criticada. Nesse contexto, como destaca Lima (2004, p. 18), visando "atender a necessidade de ampliar os fatos, de colocar para o receptor a compreensão de maior alcance, é que o jornalismo acabou por desenvolver a modalidade de mensagem jornalística batizada de reportagem". Essa revolução na escrita jornalística respondeu às críticas do jornalismo informativo e permitiu ao repórter uma liberdade textual que até então não se tinha.
É a ampliação do relato simples, raso, para uma dimensão contextual. Em especial, esse patamar de maior amplitude é alcançado quando se pratica a grande-reportagem, aquela que possibilita um mergulho de fôlego nos fatos e em seu contexto, oferecendo, a seu autor ou a seus autores, uma dose ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente impostos pela fórmula convencional do tratamento da notícia, como o lead (...). (LIMA, 2004, p. 18)
O texto jornalístico passa então por uma metamorfose na sua estrutura. Ele deixa de ser superficial e responder às perguntas do lide, para buscar um aprofundamento e contextualização. Com isso, outra revolução acontece. Os jornais agora dividem o espaço da informação jornalística com um gênero que surgiu a partir dos anos de 1920 da busca por melhorar a informação: o periódico semanal. Conforme Lima (2004, p. 18) cria-se "uma nova categoria de prática de informação jornalística, que tem seus primeiros passos definidos também nessa época: a revista semanal de informação geral e o jornalismo interpretativo".
Em meados de 1920, os jornais no mundo, sobretudo os norte-americanos, tinham dificuldade em ligar as informações e contextualizar o leitor. Isso fez com que muitos acontecimentos globais importantes, como a Primeira Guerra Mundial, fossem deixados de ser noticiados com a necessidade que mereciam. E segundo Lima (2004, p. 18) é a partir "dessa deficiência que o público passa a esperar um tratamento informativo de maior qualidade".
E exatamente vindo favorecer o atendimento a esta necessidade é que surge a revista Time , voltada ao relatos dos bastidores, para a busca de conexões entre os acontecimentos, de modo a oferecer uma compreensão aprofundada da realidade contemporânea. O modelo é tão bem sucedido que hoje são encontradas, em várias partes do mundo, publicações que têm como inspiração o caminho aberto pela Time: Der Spiegel na Alemanha, Cambio 16 na Espanha, L?Express na França, L?Europeo na Itália, Veja no Brasil. (LIMA, 2004, p. 19)
Com o passar dos anos, essa prática de reportagem e grande-reportagem se consolida em todo o mundo e, juntamente, se fortalece o jornalismo interpretativo. Essa vertente procura ajudar os leitores e receptores de modo geral a compreender o contexto, as causas e as consequências dos fatos. Sobretudo, vai fundamentar a leitura da realidade na elucidação dos aspectos que em princípio não estão muito claros, como complementa Lima (2004, p. 20).
A revista semanal tem essa característica até pelo grande diferencial na sua produção, que é o fator tempo. Ninguém vai folhear um periódico semanal para saber as notícias da última hora. Para isso existe a internet, com diversas fontes de noticiabilidade. Cada veículo de comunicação tem sua peculiaridade. O rádio, geralmente, é o primeiro a dar a informação até pelo seu caráter de imediatismo. A televisão nos seus telejornais também informa o receptor, mas de maneira rápida e sucinta, como no jornalismo informativo. Em alguns casos, é claro, existem programas ou reportagens que aprofundam o tema, mas em suma, a notícia na televisão é muito rápida.
Já no jornal impresso, a informação só vai chegar no dia seguinte. Como, em tese, há mais tempo para o repórter apurá-la, ela deveria trazer o diferencial, com informações mais detalhadas. Porém, na prática das redações, o jornalista não produz somente um texto, ele precisa concluir um material e já abarcar outro. Logo, a contextualização pode ficar comprometida. A internet, assim como rádio tem a característica de dar a informação de forma rápida e ir atualizando o conteúdo, pois seu mecanismo permite essa condição. Você tem o primeiro texto e algum tempo depois, há mais informações e também há base de dados que ligam os assuntos, assim a interação dos conteúdos é maior.
A revista impressa semanal assim como cada veículo citado é diferente. O processo de produção é mais detalhista. Uma reportagem pode ter várias fontes, com fotos, boxes, assuntos interligados, ou seja, o tema é melhor esmiuçado para o leitor. Ele pode ter um resgate histórico, perspectivas, pois como o tempo de produção é maior, a qualidade também deve ser melhor. O leitor, ao longo da semana, pode conhecer o assunto, através dos mais diversos veículos de comunicação e na revista ele tem a opção de ler um texto mais interpretativo com algo diferencial.
Lima (2004) enumera algumas características que envolvem o jornalismo interpretativo:
O contexto do fato nuclear ou da situação nuclear (...), para que se tenha uma visão clara de toda a rede de forças, naquele fenômeno focalizando, que lhe determina, impele, faz ser como é; os antecedentes, para resgatar no tempo as origens do problema, como veio crescendo até o eclodir do fato que se examina ou a maturação da situação que se aborda; o suporte especializado, mediante enquete, pesquisas de opinião pública ou entrevistas com especialistas e testemunhas do assunto em questão (...). (LIMA, 2004, p. 21)
E completa:
A projeção, visando inferir do presente e do passado os desdobramentos do caso, suas consequências possíveis, seu alcance futuro; o perfil, que é o lado da humanização da reportagem, já que o jornalismo se diferencia também por ser uma forma de comunicação que se volta para o homem, em última instância, como seu foco central e como tal visa emocionar, ao lado da elucidação racional, para transmitir um relato completo dos temas que aborda. (LIMA, 2004, p. 21)
A maneira como o jornalista escreve o texto e a profundidade do tema determinam se é reportagem ou não. Independente do estilo, o profissional deve registrar sempre pensando que aquilo que ele publica nas páginas pode mudar a vida das pessoas; que aquelas letras e palavras são capazes de alterar o sujeito da transformação social; que ao mesmo tempo é o objeto de interesse jornalístico e o seu consumidor final. Rossi (2000, p. 30-31) afirma que mais do que apresentar matérias com foco no personagem e textos de grande originalidade, a função de um jornal ou de qualquer publicação é "simplesmente apresentar bons textos, com muita informação e rigorosa exatidão".
Lima (2004, p. 24) acrescenta que o jornalismo no estilo reportagem "ganha esse status quando incorpora a narrativa elementos que possibilitam a compreensão verticalizada do tema no tempo e no espaço, ao estilo do melhor jornalismo interpretativo". Contudo, segundo o mesmo autor, quando analisado na imprensa norte-americana, onde esse estilo é aprofundado, chega-se a uma qualidade de redação compatível com a proposta de "leitura ampliada do real". Essa aproximação com o real, baseado no novo jornalismo, é o que será abordado no próximo capítulo.

3 UM NOVO JEITO DE FAZER JORNALISMO
A objetividade é a palavra que define o jornalismo no ápice do seu surgimento na Europa ocidental. Com textos diretos que apresentavam aos leitores o fato mais importante para o menos essencial, cujo esquema foi batizado posteriormente de pirâmide invertida, o jornalismo ganhava espaço na sociedade. Com o tempo, o lide das informações foi sendo criticado, por apresentar os fatos de uma maneira reduzida, como se os outros pontos da informação não fossem importantes. Mais a frente, chegou-se à conclusão de que era preciso inserir o receptor nos textos. Contudo, mais do que aparecer nas linhas do jornal, ele deveria participar do processo de formação do conteúdo. Por isso, conforme foi abordado no capítulo anterior, o texto jornalístico passa por uma metamorfose radical ao longo de séculos para se chegar ao que se tem hoje. Porém, ele não para por aí. A forma de contar o que aconteceu deve evoluir sempre, em conformidade com a sociedade.
Com tamanha evolução, chega-se a uma forma de escrever que mais do que informar o receptor do que aconteceu, ela o insere brilhantemente dentro do fato, como se o leitor estivesse lá, e pudesse ser testemunha. Basicamente, o jornalismo é isso: ser os olhos daqueles que não puderam ver. No entanto, no dia-a-dia da profissão, isso vai ficando desgastado e a lente do repórter pode ficar ofuscada demais. Não que ele vá informar erroneamente o leitor, mas a mágica de ser testemunha do fato, é engolida pela objetividade e pressa. Esses fatores impedem o jornalista de ir além, de contar de forma diferente, escrevendo mais no estilo do manual de redação e menos no seu próprio jeito. Como em outras áreas da sociedade existem aquelas pessoas que são marcadas por ultrapassar os limites da contemporaneidade, quebrar barreiras, criar ou recriar o novo, o jornalismo também não foge à regra: surge então, um novo jornalismo.
Essa nova etapa da produção jornalística não modifica as regras de escrita, não introduz o texto ideal. Até porque, um texto ideal é subjetivo. Esse novo jornalismo, ou como os americanos chamam de new jornalism, resgata o papel fundamental dos personagens, fontes, das pessoas, além de enaltecer a capacidade e a potencialidade de cada repórter. Por volta dos anos 1960, nos Estados Unidos, essa mudança na escrita é defendida por um grupo de profissionais. Entretanto, tem-se notado que muito antes, desde que o jornalismo é jornalismo, alguns autores já ressaltam o papel do personagem na história.
O que vai proporcionar o advento do Novo Jornalismo contemporâneo na década de 1960, nos Estados Unidos, é a insatisfação de muitos profissionais da imprensa com as regras de objetividade do texto jornalístico, expressadas na famosa figura do lead, uma prisão narrativa que recomenda começar a matéria respondendo às perguntas básicas do leitor. (PENA, 2006, p. 53)
Toda essa transformação na imprensa se dá quando os profissionais se veem impedidos de usufruir a capacidade da escrita individual. De tão engessados pelas técnicas, o talento de cada um acaba sendo esquecido pelo veículo. Com escrita mais individual e menos organizacional, alguns autores se destacam pela qualidade do texto. A partir daí, começam a surgir grandes reportagens numa mistura de jornalismo interpretativo, com as técnicas do novo jornalismo. Naquela época diversos autores se identificam com as mudanças e disseminam esse novo estilo de escrever. Conforme Lima, entre eles estão Gay Talese, Tom Wolfe, Norman Mailer e Truman Capote.
No Brasil, a nomenclatura de Novo Jornalismo não atinge a sociedade e também não se firma como um conceito. O que aqui ocorre para essa mudança é a estreita relação do jornalismo e da literatura originalmente. (GAION, 2008, p. 50)
Com uma escrita mais detalhista, exigindo mais tempo de produção, o novo jornalismo está muito longe de ser usado no dia-a-dia dos veículos tradicionais, com exceção para os cadernos especiais ou suplementos, cujo processo de produção difere do dia-a-dia das redações. Não há tempo, uma vez que os repórteres já correm para entregar as matérias do dia. Ele se enquadra melhor numa grande-reportagem de revista semanal, ou numa matéria especial de um veículo. Suas técnicas de apuração, de mergulho na notícia, não se limitam ao jornalismo impresso, mas podem ser utilizadas no radiojornalismo, na televisão e agora no jornalismo online.
No Brasil, o novo jornalismo de Tom Wolfe da década de 1960 chegou pouco depois, mas com outro nome. Por aqui, ele é mais conhecido como jornalismo literário, já que a aproximação do real busca na literatura seu alicerce.
3.1 DA LITERATURA À REALIDADE
Jornalismo literário, jornalismo diversional, novo jornalismo, new jornalism, entre outras diversas classificações, quer dizer apenas uma coisa: o texto evoluiu. De acordo com Pena (2006, p. 13) essa mudança "não se trata apenas de fugir das amarras da redação ou de exercitar a veia literária em um livro-reportagem. O conceito é muito mais amplo". Ela utiliza os recursos que a literatura fixou, para contar a realidade. Assim como ler uma obra, o leitor viaja com os personagens, ao ler uma reportagem, o receptor também se sente presente.
Significa potencializar os recursos do Jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto deve servir para algo mais do que embrulhar o peixe na feira. (PENA, 2006, p. 13)
O autor cita sete objetivos para exemplificar o jornalismo literário: potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar uma visão ampla da realidade, exercitar a cidadania, romper com as correntes do lead, evitar os definidores primários e, por último, garantir perenidade, ou seja, aprofundamento. Para Pena (2006, p. 17), a definição de gênero entre literatura e realidade vem desde a Grécia Antiga, há 3 mil anos proposto por Platão.
O jornalismo literário no Brasil é compreendido de diversas maneiras. Conforme Pena (2006, p. 21), alguns autores classificam de "um periódico da história do Jornalismo em que os escritores assumiram as funções de editores, articulistas, cronistas e autores de folhetins, mais especificamente no século XIX". É fato que a escrita de forma literária é mais um estilo individual, do que uma definição acadêmica. Por isso, diversos autores que escrevem brilhantemente neste estilo, não assumem a posição de jornalistas literários. Não que são contra essa nova forma de escrever, mas que são adeptos do fundamental bom jornalismo, que substitui e legitima qualquer outro. Gaion (2008, p. 16) confirma que "mesmo sem saberem, alguns jornalistas já se incluem nesse gênero. Assim como literatos já invadiram o jornalismo com obras reais ? exemplo de Euclides da Cunha, Machado de Assis e muitos outros".
Na busca de fugir do óbvio das redações contemporâneas, para experimentar o novo, de refletir a notícia, o fato, o foco, alguns profissionais acabam rompendo o jornalismo padrão de todo dia, da notícia fácil, rápida, sem profundidade, sem exercício de reflexão.
"Assim, defino o Jornalismo Literário como linguagem musical de transformação expressiva e informacional. Ao juntar os elementos presentes em dos gêneros diferentes, transformo-os permanentemente em seus domínios específicos, além de formar um terceiro gênero, que também segue pelo inevitável caminho da infinita metamorfose. Não se trata da dicotomia ficção ou verdade, mas sim de uma verossimilhança possível. (PENA, 2006, p. 21)
Assim como destaca o autor, na junção do gênero jornalismo e literatura, a diferenciação está justamente na forma de se transmitir a notícia. Ela não deixa de ser verdadeira, assim como o jornalismo pede, mas ultrapassa o limite do foco em si, tentando analisar e responder mais do que o lide (o que?, quem?, onde?, quando?, por que?, como?). Esse estilo não é novo, mas ainda aparece timidamente nos jornais diários.
O namoro entre a literatura vem de muito tempo. Conforme Lima (2004, p. 173) o "jornalismo impresso e a literatura aproximam-se, intersectam-se, afastam-se, em particular desde a etapa histórica em que a imprensa ganha sua feição moderna, industrial, a partir da última metade do século XIX", o que fez com que muitos escritores entrassem para o mundo do jornalismo para fazer um aprimoramento do talento literário, como Machado de Assis, Manuel Antonio de Almeida, José de Alencar, entre outros.
Na verdade, a literatura e a imprensa confundem-se até os primeiros anos do século XX. Muitos jornais abrem espaço para a arte literária, produzirem seus folhetins, publicam suplementos literários. É como se o veículo jornalístico se transformasse numa indústria periodizadora da literatura da época. Esse aspecto divulgador, oportunidade inovadora de chegar a coletividade, é fator que atrai os escritores e ao mesmo tempo inaugura o tradicional debate em torno do "vampirismo" que o exercício da profissão de jornalismo exerce sobre os ficcionistas. (LIMA, 2004, p. 174)
Já a partir da segunda metade do século XX, a influência da literatura no jornalismo começa a diminuir. De acordo com Pena (2006) na década de 1950 com as transformações gráficas essas mudanças ficam consolidadas. Ou seja, a objetividade substituiu as narrativas, que se tornaram apenas suplemento. Neste período começam a surgir os cadernos "Mais!", da Folha de S. Paulo e "Ideias", do Jornal do Brasil.
Um dos fatores que mais vão contra essa corrente literária é o tempo, uma vez que para se escrever uma matéria um pouco mais detalhada, o profissional precisa de um período maior, o que põe em xeque a viabilização da produção. Hoje em dia, as redações estão cada vez mais enxutas e os jornalistas precisam produzir muito mais. Sobretudo, para os veículos que lidam com informação em tempo real, como rádio e internet, quase não sobra tempo para uma matéria mais elaborada.
Para a atividade jornalística, a velocidade é cada vez mais importante. Segundo Arbex Júnior (2001. p. 88), a notícia "torna-se antiga no instante mesmo da sua divulgação (...) daí a importância que o furo, a prerrogativa de ter sido o primeiro veículo a informar, adquire para as empresas de comunicação". Tanta rapidez na apuração e na busca comercial pela informação, transforma o jornalismo não em uma arena de opiniões, mas num campo de batalha pela venda do produto.
Lima propõe diversos conceitos para designar a prática do jornalismo literário. São eles:
Jornalismo literário avançado: Abrange os conhecimentos da psicologia humanística, física quântica, Teoria Gaia e Teoria Geral de Sistemas. Seus instrumentos são as histórias de vida organizadas em torno da Jornada do Herói e o método Escrita Total.
Literatura da realidade: Também chamado de jornalismo literário, literatura de não-ficção ou literatura criativa de não ficção. É aplicado em práticas narrativas sobre temas reais, empregando reportagem sob um conceito espaço-temporal e de método mais amplo do que nos periódicos. Praticada por jornalistas, escritores, historiadores e cientistas sociais.
Livro-reportagem: Veículo impresso não-periódico que contém matéria produzida em formato de reportagem, grande-reportagem ou ensaio. É caracterizado pela liberdade de pauta, captação, texto e edição com que os autores podem trabalhar. Entre os tipos de livros-reportagem mais comuns estão a reportagem biográfica, o livro-reportagem-denúncia e o livro-reportagem-história.
Narrativas de transformação: Sua proposta é utilizar o jornalismo literário em processos narrativos visando contribuir para a transformação da sociedade através da ampliação da consciência das pessoas.
Ensaio pessoal: Emerge na literatura da realidade norte-americana. Mescla narrativa e reflexão dissertativa de tom pessoal, não acadêmico. O autor pode ser também personagem. O assunto abordado tem significado pessoal para o autor. Tanto a voz autoral quanto a imersão constituem qualidades desejáveis.
Novo jornalismo: Caracterizado pela introdução de novas técnicas narrativas, grande exposição pública e popularidade, reivindicação de qualidade equivalente à literatura. Essa técnica é abundantemente praticada em revistas de reportagem especializadas, publicações alternativas, livros-reportagem e até mesmo em veículos da grande imprensa.
Jornalismo gonzo: Classificação do novo jornalismo, criada e popularizada por Hunter S. Thompson através de sua produção para a revista "Rolling Stone" e livros-reportagem. "Consiste no envolvimento altamente pessoal e irreverente do repórter nos temas sobre os quais escreve, traduzido em forma narrativa excêntrica. Busca um modo de expressar a realidade muito apoiado na habilidade descritiva do autor" (LIMA).
Histórias de vida: Caracterizado como um recurso de representação da realidade centrado em vidas de pessoas individuais ou grupos sociais. Emerge do trabalho autobiográfico, de suporte de pesquisa ou de principal veio narrativo.
Escrita total: "Método de produção de textos criativos, criado por Edvaldo Pereira Lima, tendo como parâmetro básico a Teoria dos Hemisférios Cerebrais, cuja comprovação garantiu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1981 ao neuropsicólogo Roger Sperry. Utilizado como ferramenta de sensibilização, pauta, observação e texto em Jornalismo Literário Avançado" (LIMA).
Jornada do herói: "Estrutura de narrativa organizada numa combinação de estudos mitológicos de Joseph Campbell e da psicologia de Carl Gustav Jung, por Christopher Vogler, consultor de roteiros de cinema nos Estados Unidos. Utilizada por Spielberg e George Lucas" (LIMA). A classificação foi adaptada para realidade por Edvaldo Pereira Lima e testada no ensino de jornalismo por Monica Martinez em tese de doutorado na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP).
Após os vários conceitos citados para designar jornalismo literário, tanto o jornalismo quanto a literatura utilizam dessas prerrogativas para aperfeiçoar seus estilos. De acordo com Lima (2004 p. 174) num "primeiro momento, o jornalismo bebe da fonte da literatura. Num segundo momento, é esta que descobre, no jornalismo, fonte para reciclar sua prática (...)".
Apesar das diversas formas de se fazer referência a este estilo, que prioriza a linguagem mais aprofundada, num tom literal, diversas nomenclaturas vão sendo incorporadas. Melo (1982, p. 147 apud MELO, 2003, p. 33) nomeia jornalismo diversional, ao citar o literário. Para ele, esse estilo "engloba aqueles textos que, fincados no real, procuram dar uma aparência romanesca aos fatos e personagens captados pelo repórter. Entre os gêneros que integram o jornalismo diversional estão as histórias de interesse humano, as histórias coloridas, os depoimentos, etc".
A natureza diversional desse novo tipo de jornalismo está justamente no resgate das formas literárias de expressão que, em nome da objetividade, do distanciamento pessoal do jornalista, enfim da padronização da informação de atualidades dentro da indústria cultural, foram relegadas a segundo plano, quando não completamente abandonadas. (MELO, 2003, p. 34)
Para o autor, essa inovação nos textos recorre a padrões de expressão próximos dos contos, das novelas e de outros gêneros literários. Por isso, alguns profissionais são chamados de jornalistas-escritores. Eles sabem usar as palavras para conduzir o leitor à mais perfeita realidade. Gaion (2008, p. 17) ressalta que "no pensamento humano, as palavras alçam voo ao dar liberdade à interpretação. ?Nas entrelinhas?, podem ser compreendidas de maneira diversa porque caminham pelas experiências de cada leitor".
O primeiro autor que cita o Brasil através da literatura de realidade é Pero Vaz de Caminha , que desembarcou em terras nacionais juntamente com Pedro Álvares Cabral . Conforme Gaion (2008 p. 27) a "primeira produção narrativa que fez referência ao povo e às belezas naturais acabou se transformando em um gênero bastante difundido na Europa: as narrativas de viagem marítima ou literatura de viagem". Era uma mistura de jornalismo com literatura que servia para informar os fatos e acontecimentos à Corte Portuguesa. Contudo, a atividade de escrita no Brasil só foi se desenvolver a partir de 1808 com a chegada da Família Real, conforme foi abordado no capítulo anterior.
O jornalismo brasileiro, como de resto aconteceu em outros países, nasceu ligado à literatura e à política. O primeiro jornal brasileiro (...) já trazia esse caráter amplo de jornalismo como escrita doutrinária em bom estilo. (...) A literatura entrava nos jornais tanto como estilo auxiliar ou fundamento necessário para a retórica política quanto como uma atração para os leitores, por meio de matérias propriamente ficcionais ou quase-ficcionais. (COSSON, 2007 apud GAION, 2008, p. 30)
No mundo, a publicação que funcionou como divisor de águas foi a série de reportagens sobre Hiroshima em 1946, escritas por John Hersey, que marcaram as edições da revista The New Yorker. Uma das grandes obras brasileiras no estilo jornalismo literário, ou mais precisamente livro-reportagem, é Os Sertões, de Euclides da Cunha. Sua publicação revolucionou, pois mostrava um Nordeste que até então era desconhecido, marcando o ano de 1902. As revistas O Cruzeiro, em 1928, e Realidade, em 1966, perpetuaram as edições impressas com grandes reportagens que traziam literatura e realidade. Os repórteres transcreviam com detalhes cada personagem, conquistando o público que gostava do gênero.
Gaion (2008, p. 43) escreve que o jornalismo literário é uma vertente do jornalismo tradicional, com elementos da literatura pois "não se trata de uma apuração noticiosa com a rapidez e a objetividade corriqueira do jornalismo diário. Trata-se de uma produção que visa sim passar uma informação, mas uma informação reflexiva e aprofundada, com entrevistas, pesquisas e, principalmente, com uma linguagem mais leve". Ainda para a autora, os profissionais que escrevem para esse gênero, entram num mundo que, antes era acessado apenas pelos literatos. Além de despertar nos leitores sentimentos, até então, ocultos.
Para Pena (2006, p. 105) o conceito de jornalismo literário remete a uma "prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos da observação e redação originários da (ou inspirados pela) Literatura". Sendo assim, o jornalismo feito com paixão, independendo do estilo, continua sendo o velho e bom jornalismo.
3.2 DOIS TEXTOS E UMA MESMA MENSAGEM
Uma reportagem em estilo literário não é melhor que uma matéria padrão ou vice versa, se as duas estiverem respondendo às necessidades da produção. Como análise comparativa, a seguir há o exemplo de uma reportagem que foi escrita originalmente em estilo literário e depois modificada para um padrão de redação.
3.2.1 Brincando com as palavras
Festa junina incorpora novos elementos

Comemorada desde a idade média, a festa junina que chegou ao Brasil trazida pelos portugueses, vem mudando de cara de geração em geração. Alegre e divertida atrai inúmeros fiéis católicos ou não para lembrar os dias de santo Antônio, São João e São Pedro, mas há quem diga que a festa perdeu o brilho de antigamente.

A fogueira foi acesa, o sanfoneiro deu sinal de que estava ali, juntamente com o pau de sebo que imperava sobre os outros ornamentos da festa.

Opa! Volta. Não tem pau de sebo, nem fogueira e muito menos sanfoneiro. O piso de cimento substitui o chão de terra batida, mas as bandeirinhas continuam cruzando o céu. Elas são produzidas de jornais e revistas velhas, embarcando na onda da reutilização de materiais para diminuir os custos e causar menos impacto ambiental.

Roupas típicas da festa perecem estar fora de moda, quase ninguém usava, somente os dançarinos que alegravam a noite. A música que soava do rádio ligado a duas caixas de som, pouco abusava da trilha sonora que estava em escassez, porque sempre tocava a mesma. O evento era assim, uma mistura do velho com o novo, um casamento quase perfeito, se não fosse uma mudança que vem transformando as comemorações juninas.

Tradicionalmente católica, a festa junina foi trazida para o Brasil pelos portugueses e está nas comemorações da igreja, festejando os santos Antônio, João e Pedro, respectivamente nos dias 13, 24 e 29 de junho. A festa é comemorada nas mais diversas regiões do Brasil. No nordeste há uma característica especial de agradecimento às chuvas na região, uma vez que o local é afetado pela seca. No sul também é muito comemorada, seja nas ruas ou em paróquias. Chamada originariamente de festa joanina, homenagem a São João, teve seu nome alterado para festa junina e outros santos foram incorporados à comemoração.

A lua brilhava no céu e as crianças corriam por todo o local, o que deixava pai e mãe sempre atentos. As barracas de doces eram as mais disputadas, um pouco de paciência era necessário, uma vez que tudo o que se servia era gratuito.
Apenas um exemplo de uma das inúmeras festas juninas de Londrina. Uma noite festiva para um dos organizadores, Leandro Leal, que atraiu cerca de 300 pessoas na quadra em frente à igreja São Bonifácio, no jardim Cafezal, na região sul. Para ele, além de mostrar um pouco da cultura brasileira, a comemoração é uma forma de integrar os participantes da comunidade. "É muito bom quando você ajuda a organizar uma festa assim e depois ver as pessoas saírem contentes e felizes por passar uma noite tão agradável."

O quentão era sem álcool, servido em copinhos descartáveis, pipoca, amendoim, bolo de todos os tipos e tamanhos sustentavam quem aguardava ansioso para o início da quadrilha.

Bem à vontade e muito sorridente estava a secretária Luciana Lopes. Segundo ela as festas juninas servem para resgatar as raízes de sua infância, já que viveu até a juventude no sítio. "Antigamente havia até concurso do casal mais bonito, o vestido mais rodado, o caipira mais bem caracterizado. Hoje muita coisa mudou", lamentou. Ela disse que as festas antigamente eram muito mais alegres e que a tecnologia tirou o ar rural. "Naquela época a festa era na base da sanfona, violão e viola, de grupos caipiras. Hoje deixou de resgatar aquela coisa do rural, do sítio que é a nossa festa, de quem vem de lá."

A quadrilha chegou. Primeiro a das crianças que traziam cerca de 30 meninos e meninas e faziam brilhar os olhos orgulhosos dos pais. Rostos pintados, vestidos bem floridos e um sorriso em cada rosto. Mesmo sem muito entrosamento eles dançaram e fizeram bonito para a platéia que acompanhava nas palmas. Chegou a vez dos adultos, eles eram em número bem maior, faltava espaço pra tanta gente. A música seguia com os obstáculos narrados. Passou a chuva, a ponte quebrou, a cobra apareceu, teve até fofoca que atraiu as damas para o centro da roda.

Foram 15 minutos desde o início da quadrilha para que o baile tomasse conta da festa, a troca de casal era rápida. Ninguém queria ficar de fora. Dança que para a professora de história Rosilda Aparecida Carlos vê alterada da sua originalidade. Segundo ela, as roupas que se usa hoje não têm nada a ver com os trajes de antigamente. "O caipira era diferente. Festa junina era momento de grandes festas, então eles usavam as melhores roupas. Não tinha nada de calça remendada. Hoje mudaram tudo", afirmou. Ela ainda acrescentou que não havia ensaios como hoje em dia. "Ninguém ensaiava quadrilha não. Era tudo feito na hora e muito mais divertido", resumiu Rosilda.

A tradição na festa junina é algo preservado há mais de três gerações na família da professora de português Luciana Barizon. Ela disse que tudo começou na área rural com os avós e que depois passou o costume para os filhos na cidade. "Depois que meu avô morreu, tudo o que os filhos faziam no sítio eles continuam fazendo", comentou. Para ela, apesar de todo o tempo que passou, os ritos da festa ainda são mantidos. "Todo ano no dia de São João a família do meu pai reza o terço e levanta a bandeira do santo. Todo mundo come e dança. É bem legal", contou entusiasmada. Luciana disse que vê com pesar as festas juninas de hoje em dia que fogem muito da comemoração. "Em certas quadrilhas, a gente vê que eles acabam distorcendo, acabam colocando coisas que não são típicas da quadrilha. Acabam distorcendo essa cultura, essa tradição", concluiu.

Já para o padre e professor universitário Altair Manieri, as festas juninas podem ter mudado em relação à tradição, mas elas não perderam a origem religiosa. Segundo ele, é comum ainda no sítio as pessoas prepararem altar para os santos. "É uma festa de ação de graça, na zona rural relacionado com o final da colheita no meio do ano", afirmou. Segundo ele, os costumes mudaram porque houve uma inversão na sociedade. "As pessoas que moravam na zona rural, passaram a morar nas grandes cidades e acrescentaram elementos do meio urbano às festas", definiu Marineri.

Colaboração: texto produzido na disciplina Redação Jornalística III, sob a coordenação da professora Sônia Lenira.

Reportagem de Paulo Eleutério publicada em 19 de junho de 2007 no WebJornal Laboratório ComTexto da Unopar .
3.2.2 O estilo manual de redação
Festa junina incorpora novos elementos

Comemorada desde a idade média, a festa junina que chegou ao Brasil trazida pelos portugueses vem mudando de cara de geração em geração.

Tradicionalmente católica, a festa junina foi trazida para o Brasil pelos portugueses e está nas comemorações da igreja, festejando os santos Antônio, João e Pedro, respectivamente nos dias 13, 24 e 29 de junho. O evento que é comemorado nas mais diversas regiões do país, é alegre e divertido, mas há quem diga que a festa perdeu o brilho de antigamente pela mudança na comemoração.

De acordo com o padre e professor universitário Altair Manieri, as festas juninas podem ter mudado em relação à tradição, mas elas não perderam a origem religiosa. Segundo ele, é comum ainda no sítio as pessoas prepararem altar para os santos. "É uma festa de ação de graça, na zona rural relacionada com o final da colheita no meio do ano", afirmou.

Conforme ele, os costumes mudaram porque houve uma inversão na sociedade. "As pessoas que moravam na zona rural, passaram a morar nas grandes cidades e acrescentaram elementos do meio urbano às festas", definiu Marineri.

Para o estudante Leandro Leal, um dos organizadores de uma festa junina que atraiu cerca de 300 pessoas na quadra em frente à igreja São Bonifácio, no jardim Cafezal, na região sul, o evento serve para resgatar um pouco da cultura brasileira. "É muito bom quando você ajuda a organizar uma festa assim e depois ver as pessoas saírem contentes e felizes por passar uma noite tão agradável."

Segundo a professora de história Rosilda Aparecida Carlos, alguns elementos da festa, foram alterados da sua originalidade. A dança, segundo ela, com as roupas rasgadas, não tem nada a ver com os trajes de antigamente. "O caipira era diferente. Festa junina era momento de grandes festas, então eles usavam as melhores roupas. Não tinha nada de calça remendada. Hoje mudaram tudo", afirmou.

Já para a secretária Luciana Lopes, as festas juninas servem para resgatar as raízes de sua infância, já que viveu até a juventude no sítio. "Antigamente havia até concurso do casal mais bonito, o vestido mais rodado, o caipira mais bem caracterizado. Hoje muita coisa mudou", lamentou.

Ela disse que as festas antigamente eram muito mais alegres e que a tecnologia tirou o ar rural. "Naquela época a festa era na base da sanfona, violão e viola, de grupos caipiras. Hoje deixou de resgatar aquela coisa do rural, do sítio que é a nossa festa, de quem vem de lá."

A tradição na festa junina é algo preservado há mais de três gerações na família da professora de português Luciana Barizon. Segundo ela, tudo começou na área rural com os avós, que depois passou o costume para os filhos na cidade. "Depois que meu avô morreu, tudo o que os filhos faziam no sítio eles continuam fazendo", comentou.

Para ela, apesar de todo o tempo que passou, os ritos da festa ainda são mantidos. "Todo ano no dia de São João a família do meu pai reza o terço e levanta a bandeira do santo. Todo mundo come e dança. É bem legal", contou entusiasmada. Luciana disse que vê com pesar as festas juninas de hoje em dia que fogem muito da comemoração. "Em certas quadrilhas, a gente vê que eles acabam distorcendo, acabam colocando coisas que não são típicas da quadrilha. Acabam distorcendo essa cultura, essa tradição", concluiu.

Reportagem de Paulo Eleutério reeditada fora do estilo literário.
3.2.3 Trocando em miúdos
Ao analisar as duas reportagens escritas por este autor, a original no estilo de jornalismo literário e a reeditada para o padrão normal, obedecendo as regras do lide e da pirâmide invertida, é possível observar e comparar os estilos diferentes. O primeiro texto inicia brincando com as palavras e com a ornamentação da festa. Quando o leitor, já no primeiro parágrafo, está inserido no contexto, o autor recua e dá um choque de realidade, ao afirmar que hoje as festas juninas já perderam algumas tradições.
Do segundo ao quinto parágrafo, o autor faz com que o receptor se imagine numa festa típica. Nota-se que ainda não entrou nenhum personagem na cena. Isso é proposital. Na academia, pelo padrão de manuais, isso é chamado "nariz de cera", porque o autor, além de mergulhar o leitor no texto, quer chamar atenção para os detalhes, para aquilo que numa reportagem habitual poderia passar despercebido.
O primeiro personagem, um organizador da festa, só entra no sexto parágrafo. Se fossem obedecidos os critérios de pirâmide invertida, ele não entraria agora, porque o organizador não fala sobre o foco da reportagem, que é a alteração de elementos da festa junina. Seria dado destaque ao padre e a historiadora que têm bagagem e autoridade para falar sobre o assunto. Mas, como o jornalismo literário rompe com essas classificações, o autor opta pelos personagens da festa, para depois dar voz aos especialistas.
A reportagem continua com um misto de levar o leitor a se imaginar na festa e, por outro lado, ouvir mais personagens, histórias de vida de pessoas que se confundem e que têm muito a acrescentar.
Por outro lado, ao analisar o segundo texto, sem características literárias, é possível extrair que a informação foi transmitida, mas numa linguagem menos diversional e mais informativa. O primeiro parágrafo já deixa claro que a matéria fala sobre a festa junina que perdeu algumas tradições. O leitor não precisa seguir lendo para poder comprovar o que o texto vai falar. O primeiro entrevistado já entra no segundo parágrafo e é a autoridade da igreja, dando a versão do Clero sobre as mudanças na tradição.
Na sequência entram o organizador e a historiadora, em conformidade com a pirâmide invertida. Logo após, os outros personagens se mantiveram, apesar de não se fazerem tão necessários. A última entrevistada não precisaria estar ali, uma vez que aborda sobre a tradição junina na sua família e não no contexto da festa naquele momento. O autor poderia optar por deixar ou não a personagem, que o leitor não reclamaria de falta de informação.
A segunda reportagem é mais curta, de informação essencial, mas não deixa a desejar se for confrontado com a primeira. Nem é possível estabelecer qual reportagem é mais importante. Como foi sustentado nesse capítulo, cada texto tem a sua peculiaridade, o seu público alvo. Cada um tem o seu lugar, dentro da produção jornalística.
Nesta proposta de jornalismo literário, diversos autores acabam rompendo com o dia-a-dia da profissão ao produzir séries de grandes reportagens. Alguns escritores-jornalistas acabam avançando ainda mais e escrevem livros, classificados de livro-reportagem.






4 A UNIÃO SINGULAR DO LIVRO E DA REPORTAGEM
A história do jornalismo se confunde muito com o próprio surgimento dos livros. Assim como Johann Gutenberg foi o precursor da tipografia no mundo, dando início às atividades da imprensa, como essa mesma tecnologia, os livros se multiplicaram, tendo como primeiro exemplar impresso, a Bíblia , no século XV. De lá para cá, a humanidade tem aprovado esse veículo de comunicação, que está presente no seu dia-a-dia. Seja ilustrado ou simples, caro ou barato, o fato é que a prática da leitura, através dos milhões de exemplares de obras que existem no planeta, ajudam a sociedade a compreender um pouco mais sobre ela mesma.
Já a reportagem surgiu do próprio desenvolvimento da comunicação dentro da imprensa. Viu-se que as matérias precisavam ser melhores trabalhadas, no sentido de contemplar o leitor com maior número de informações, num processo mais aprofundado. Então, começaram a ser produzidas em revistas, em periódicos especializados, sempre de forma aprofundada, em relação às matérias cotidianas. Cria-se aí a grande-reportagem, que supria até então, alguns assuntos que a imprensa diária não dava conta. Com a disseminação rápida desses produtos, o mercado exigiu mais. Neste sentido, surge um modelo que une o formato do livro com a riqueza de uma reportagem: o livro-reportagem.
É um veículo no qual se pode reunir a maior massa de informação organizada e contextualizada sobre um assunto e representa, também, a mídia mais rica ? com a exceção possível do documentário audiovisual ? em possibilidades para a experimentação, uso da técnica jornalística, aprofundamento da abordagem e construção da narrativa. (BELO, 2006, p. 41)
Essa perfeita junção de, até então, duas formas de comunicação distintas agrada os leitores. De acordo com Lima (2004, p. 13), o livro-reportagem vem crescendo no Brasil, o que assegura um merecido espaço no cenário da produção cultural, apesar de que em países da América do Norte e Europa Ocidental esse tipo de literatura está mais amadurecido. "Mesmo no caso latino-americano, onde o mercado editorial não apresenta o mesmo nível de maturidade, é possível encontrar bons exemplos da grande-reportagem trabalhada e forma de livro" (Lima, 2004, p. 2).
Não se tem definida exatamente a data do surgimento do livro-reportagem. Uma vez que textos que não seguiam à risca a regra do jornalismo de pirâmide invertida , são conhecidos antes que esse conceito acadêmico fosse formulado. Conforme Belo (2006, p. 19) é possível estabelecer que "a reportagem em livro começou a ganhar força como um subgênero da literatura na Europa do século XIX".
Veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em graus de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos. Esse "grau de amplitude superior" pode ser entendido no sentido de maior ênfase de tratamento ao tema focalizado ? quando comparado ao jornal, à revista ou aos meios eletrônicos -, quer no aspecto extensivo, de horizontalização do relato, quer no aspecto intensivo, de aprofundamento, seja quanto a combinação desses dois fatores. (LIMA, 2004, p.26)
Ao destacar as reportagens em graus de amplitude superior, reforça-se que o objeto a ser abordado, não terá a superficialidade como existe hoje nos jornais diários, mas irá esmiuçar o tema, para que os conhecimentos sobre o mesmo sejam ampliados. Felipe (2008, p. 31), afirma que a imprensa diária "preza pela agilidade e factualidade , se esquecendo, eventualmente, das possíveis consequências de um fato, suas causas e circunstâncias". A contextualidade dos fatos existe hoje, mas no jornal diário está de uma forma simples e objetiva. Essa leitura do todo, é mais abrangente numa reportagem de revista semanal.
Lima (2004) apresenta três condições essenciais, quanto ao estilo de publicação de livro-reportagem:
1-Quanto ao conteúdo, o objeto de abordagem de que trata o livro-reportagem corresponde ao real, ao factual. A veracidade e a verossimilhança são fundamentais (...) 2-Quanto ao tratamento, compreendido a linguagem, a montagem e a edição do texto, o livro-reportagem apresenta-se eminentemente jornalístico. 3-Quanto a função, o livro-reportagem pode servir a distintas finalidades tópicas ao jornalismo, que se desdobram desde o objetivo fundamental de informar, orientar, explicar. (LIMA, 2004, p. 26)
O livro ainda pode optar por trabalhar com temas da atualidade que estão em pauta da mídia ou ainda temas novos. Conforme Lima (2004, p. 49), o livro-reportagem "também complementa o papel da imprensa cotidiana, no que se refere à universalidade. Isso se dá tanto porque o livro amplia o conhecimento sobre um tema já divulgado pela imprensa, quanto também porque penetra, por vezes, em temas pouco explorados pelos periódicos".
A grandeza do livro-reportagem é justamente poder fugir das amarras das redações, dos entraves ideológicos e mercadológicos e, sobretudo, ampliar a visão do leitor. Porque assim como no jornalismo tradicional, o profissional cumpre o papel de mostrar para o receptor, aquilo que ele não vê, ou seja, ser o olho de quem não pode enxergar.
O fim da II Guerra Mundial funcionou como um propulsor na produção de gêneros que misturavam jornalismo e literatura. Isso porque, segundo Belo (2006, p. 23) os veículos enviaram jornalistas para as batalhas colherem grandes histórias. "Dois brasileiros fizeram parte desse time e seguiram os passos da Força Expedicionária Brasileira na Europa: Rubem Braga, pelo Diário Carioca, e Joel Silveira, dos Diários Associados de Assis Chateaubriand ".
Diversos temas são alvos dos inúmeros exemplares de livro-reportagem em todo mundo. Não há um assunto específico que não possa ser abordado neste veículo de comunicação. Entretanto, é preciso que o tema não seja perecível. Para Belo (2006, p. 42) qualquer pauta que é trabalhada nos veículos de impressa, pode virar livro-reportagem, pois, a diferença da "pauta no livro é o tratamento, pois, fidelidade aos fatos e precisão são pré-requisitos para qualquer boa reportagem".
A concepção de um livro-reportagem requer informação capaz de superar as barreiras do imediato e do superficial, de modo a fazê-lo permanecer como objeto de interesse por muito e muito tempo. Pede também densidade, análise, conteúdo. Esses dois fatores estão quase sempre associados à extensão do texto à capacidade do autor de construí-lo. (BELO, 2006, p. 42)
Lima (2004, p. 51) destaca que o livro-reportagem é um gênero tão abrangente, que há diversas possibilidades de classificação. Por isso, ele propõe 13 tipos abordagens diferentes, de acordo com a natureza da obra:
Livro-reportagem-perfil: Essa classificação destaca o lado humano de um cidadão, seja ele público ou anônimo. O personagem deve ter uma história que legitime e represente um determinado grupo social, uma vez que ele será usado para retratar o tema em discussão no livro. Conforme o autor, uma das categorias dentro dessa classificação é o livro-reportagem-biografia, onde a vida de uma pessoa é esmiuçada do início ao fim. Comumente são destacados os fatos mais importantes, sem dar tanta ênfase no presente.
Livro-reportagem-depoimento: Relata algo que aconteceu e teve sua importância social, sobre o foco de uma testemunha. Essa pessoa pode escrever a obra ou pedir ajuda a um jornalista. E ainda, o profissional executa o livro, de acordo com os depoimentos da fonte. Dependendo da testemunha ou testemunhas, o fato pode se modificar, por isso, essa classificação exige cuidado ao checar as informações e confrontar os acontecimentos.
Livro-reportagem-retrato: Esta modalidade se confunde muito com o perfil. Contudo, em vez de focar as pessoas, destaca um grupo social, algum segmento em questão, a fim de reproduzir o retrato desejado. Serve, sobretudo, para dirimir dúvidas sobre algum tema, explicar algum fato, para um grande público que não pode não ter conhecimento específico sobre esse ou aquele assunto.
Livro-reportagem-ciência: Sua principal característica é a divulgação científica. Pode ser em relação ao um tema específico ou geral, em pauta na sociedade, ou novo. Além disso, pode apresentar o assunto sob aspecto de discussão ou crítica.
Livro-reportagem-ambiente: Classificação vinculada à questão ambiental. Geralmente corresponde aos interesses dos ambientalistas ou pessoas que militam pela causa ecológica.
Livro-reportagem-história: O objetivo desse viés é reproduzir a história de um acontecimento social, num período previamente determinado. Seu conteúdo pode ser embasado em depoimentos de testemunhas, arquivos de documentação, entre outros. De acordo com o Lima (2004, p. 54) uma variante dessa modalidade é o livro-reportagem que trata da história de um assunto específico, como a empresarial, destacando os negócios de um grande grupo. Além disso, outra classificação é o livro-reportagem-epopeia que aborda momentos históricos de grande importância no contexto mundial.
Livro-reportagem-nova consciência: Sua proposta é abordar novas pautas que traduzem o cotidiano das pessoas, seja no viés cultural, religioso, econômico, ou qualquer outro, de envolvimento coletivo ou privado.
Livro-reportagem-instantâneo: Essa variante aborda um tema novo que está em discussão na sociedade, mas que já possui propostas firmes de embasamento. Esse termo instantâneo não deve ser confundido com a rapidez e a objetividade das redações, porque não seria trabalhado como um livro-reportagem, mas, um tema novo que abordado com qualidade e profundidade que remeta a uma produção singular. Outro nome que pode ser dado a essa classificação é livro-reportagem da história imediata.
Livro-reportagem-atualidade: Pode ser confundido com o livro-reportagem-instantâneo, mas tem o diferencial de selecionar os assuntos mais discutidos durante um período e que os desdobramentos ainda não são conhecidos. Assim o receptor, pode acompanhar todos os momentos que envolvem o fato, além de adiantar seu desfecho.
Livro-reportagem-antologia : Essa classificação faz uma seleção de grandes reportagens publicadas nos veículos de comunicação de uma região. Pode agrupar diversos temas diferentes, assim como vários enfoques de um assunto.
Livro-reportagem-denúncia: Sua prerrogativa é de investigar e denunciar os mais diversos tipos de crimes que são cometidos dentro e fora do poder público. Sua base é sustentada por provas documentais e testemunhais, enfocando temas que já são conhecidos da sociedade, ou ainda novas denúncias.
Livro-reportagem-ensaio: Essa variante apresenta um estilo em que o autor se destaca na obra. Seu estilo, opiniões, juízo de valor são evidenciados durante a escrita. Pode ser produzido em primeira pessoa, dando um foco narrativo frequente.
Livro-reportagem-viagem: Proposta que visa divulgar uma região específica em todo o seu contexto. Analisa suas crenças, história, entre diversos outros aspectos da realidade. Não revela simplesmente o lado turístico do local, mas abarca com pesquisas e entrevistas, aquilo que do ponto de vista do escritor é de interesse público.
As classificações de livro-reportagem citadas acima, não impedem que uma nova categoria seja criada, uma vez que conforme Lima (2004, p. 59) essa proposta "não pode ser considerada final, porque novas variedades podem surgir, em decorrência da flexibilidade e da criatividade peculiares ao livro-reportagem".
O livro-reportagem não faz parte da imprensa diária e não é periódico, porém, é parte importante da imprensa escrita, porque toma por base um assunto específico e o aprofunda, trazendo dimensões de compreensão para o leitor que seriam impossíveis de se imaginar em jornais diários, revistas semanais e até mensais. (FELIPE, 2008, p. 33)
O livro-reportagem, assim como o próprio jornalismo, deve se pautar pela verdade. Quando o receptor lê um texto publicado, ele acredita que realmente aquilo aconteceu e o profissional está contando a história sem alteração, ou sendo o mais fiel possível aos relatos ouvidos. A vertente literária do jornalismo, muitas vezes, é criticada por fantasiar demais e até preencher lacunas com fatos que nunca ocorreram. Belo (2006, p. 43) escreve que "nem toda não-ficção é jornalismo, mas todo jornalismo tem de ser, por princípio, não ficcional".
Um dos clássicos do livro-reportagem é a obra A Sangue Frio de Truman Capote. A obra, que foi definida com um "romance de não-ficção", não apresentava fatos totalmente verdadeiros, por consequência, o autor acabou sendo acusado de inventar falas, que foram descobertas mais tarde. Ele que já era um autor romancista de sucesso, acabou sendo absolvido pelo público. Belo (2006, p.44) defende que apesar de tudo, o livro "possui um caráter indiscutível de jornalismo. Foi concebido, desde o começo como uma reportagem. Tanto que saiu, primeiro, em uma revista". Contudo, Capote não foi o único a ter problema com a exatidão dos fatos.
Por isso, é preciso, ao elaborar um livro-reportagem, tomar os mesmos cuidados como checagem de informações, ouvir todas as versões da história, se embasar com documentos. Esses critérios devem ser seguidos à risca, como numa reportagem tradicional. E mais, no livro "o autor encontra condições de se expressar com clareza e profundidade, utilizando-se de todo o seu arcabouço de recursos profissionais, sem as limitações de tempo e espaço que caracterizam o trabalho das redações", Belo (2006, p. 48).
O valor essencial do livro-reportagem na sociedade moderna reside em sua capacidade de estender a função informativa e orientativa do jornalismo cotidiano. A imprensa regular deixa muitos vazios encobertos, que podem ser e são desvendados pela reportagem na forma de livro. Mais do que isso, o livro-reportagem contribui para que o leitor conquiste uma compreensão ampliada da contemporaneidade, na medida em que fica, muitas vezes, limitado aos fatos isolados do cotidiano que geram as notícias dos outros veículos jornalísticos. (LIMA, 1998, p. 17)
O mercado de livro-reportagem tem crescido no país, com destaque para as obras biográficas. Lima (2004, p. 13) assegura que os inúmeros títulos, com sua vasta temática, demonstram que o Brasil pode estar caminhando para uma maturidade editorial.
4.1 A REALIDADE DA PRODUÇÃO DE LIVROS
O livro-reportagem não é escrito da noite para o dia. O resultado é um trabalho árduo que pode levar de meses até anos, conforme a abordagem e assunto escolhido. O escritor, precisa fazer a fundamentação teórica checando diversas fontes, como jornais, revistas, artigos, documentos, entre outros. É necessário o confronto de dados e informações para assegurar ao leitor, um resultado mais fiel à realidade. Fora os gastos com entrevistas, viagens e tudo que envolve o processo, sobretudo o tempo.
Apesar de todo o investimento, é muito difícil viver apenas de literatura no Brasil. De acordo com Belo (2006, p. 64) sobre "o preço do livro, o autor recebe 8%, 10%, 12% ou em casos raros, 15% de direito autoral. Percentuais maiores só para autores absolutamente consagrados, verdadeiros best-sellers". Isso explica, porque grandes escritores, além da produção literária, contribuem para jornais, escrevem peças de teatro, novelas, contos, entre outros. A realidade é a mesma para autores que escrevem sobre ficção e não-ficção. A diferença é que quando se quer falar sobre a realidade, existe um trabalho profundo de pesquisa, que o leitor, às vezes, não se dá conta.
O que muitos jornalistas têm feito para ter mais liberdade de tempo em um livro-reportagem e, ao mesmo tempo se dedicar à imprensa habitual, é o trabalho de free-lancer . Mas, conforme Belo (2006, p. 65), com o mercado saturado, essa prática acaba sendo mais do que uma escolha, uma consequência. Neste caso, vai do profissional optar por escolher a área de produção de livro-reportagem, ou trabalho em redação, assessorias e diversas outras áreas.
A menos que tenha recursos para se manter enquanto realiza o projeto, o autor precisa aprender a conciliar as tarefas do livro com o dia-a-dia da redação que assegura seu sustento. Isso requer muita disciplina. Principalmente quando há prazos a cumprir. Até para zelar pelo seu bom nome no mercado de trabalho, o jornalista não pode malbaratar seus deveres em nenhum dos dois trabalhos. (BELO, 2006, p. 64)
Pela questão cultural, ainda levará muito tempo para que o livro-reportagem seja mais praticado no Brasil. Segundo Lima (2004, p. 13), existe um desconhecimento de sua dimensão ampla, "e tanto na área acadêmica quanto no circuito das redações persiste uma vaga noção de que o livro é um elemento secundário do jornalismo, um mero desdobramento das reportagens dos veículos tradicionais (...)". Não é novidade para ninguém, que o brasileiro faz pouco uso da leitura e, assim como qualquer obra, o livro-reportagem, precisa de público para consumi-lo.
Para incentivar a produção de livro-reportagem, algumas faculdades dão a opção para os alunos executarem a obra como trabalho de conclusão de curso. Essa prática, segundo Belo (2006, p. 68), feita sob boa orientação, "garante ao formando um preparo extraordinário quanto a alguns dos principais aspectos da prática profissional, como apuração, texto e edição".
No livro, a reportagem continua sendo reportagem, seguindo as mesmas fórmulas adotadas em outros veículos. As mudanças são meras adaptações ao meio. Mas com um ingrediente a mais: intensidade. Intensidade na apuração, para conectar o maior número de acontecimentos possíveis a fim de explicar com detalhes a história, e intensidade de edição, de modo a tornar o texto ao mesmo tempo informativo, denso, linear, correto, agradável e, sobretudo completo. (BELO, 2006, p. 70)
Esse desejo por experimentar várias possibilidades do jornalismo foi o propulsor fundamental na opção de executar as etapas de um livro-reportagem, como trabalho prático de conclusão do curso. A escolha se deu principalmente pela liberdade temática que foi sustentada neste capítulo. Diante de tantos temas e discussões que assolam a humanidade, o cunho social se sobressai. Contudo, ao olhar a realidade atual da sociedade em que os valores da pessoa são colocados em xeque, contemplar apenas uma parcela social, parece ineficaz e irrisório. Porém, ao ajudar o ser humano a compreender melhor o seu meio e a se conhecer dentro do todo já é um avanço.
Por isso, o tema escolhido para ser executado é a Pastoral da Criança, um Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O trabalho deste movimento, tanto no país, quanto no mundo, ajuda a salvar os pequenos da desnutrição e da mortalidade infantil. Esta é uma luta diária que reúne milhares de pessoas, ansiosas por contemplar mais uma recuperação e ver as crianças: "de volta à vida".





















5 PASTORAL DA CRIANÇA
Em maio de 1982 a Comissão Independente das Nações Unidas para Assuntos Sociais e Humanitários realizou uma reunião em Genebra (Suíça) para discutir a pobreza que assolava o mundo. Entre as 30 pessoas que participaram do encontro, estava o então cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Na oportunidade, o diretor-executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Grant, queria ajuda da Igreja Católica para diminuir os índices de mortalidade infantil no Brasil, já que era uma instituição presente em quase todo o território brasileiro.
Conforme Araújo (2000, p. 18) a intenção inicial era "trabalhar com comunidades que sofriam com a desnutrição e a discriminação social e econômica. Atenção especial deveria ser dada às gestantes e as crianças". Sendo assim, um nome foi sugerido, Zilda Arns Neumann, irmã de Dom Paulo, também muito ligada à igreja e que trabalhava como médica pediatra e sanitarista em Curitiba.
James Grant aceitou a sugestão e pediu para que o trabalho fosse iniciado por São Paulo, justamente pelo grande número de crianças e famílias em condições de pobreza e miséria. Contudo, Dom Paulo, acreditava que era melhor ser escolhido um município menor, já que o projeto seria piloto e, além do mais, tinha que ter a orientação de um bispo, já que se tratava de um trabalho pastoral.
De volta ao Brasil, Dom Paulo, sabia que o trabalho precisava ser executado por agentes das pastorais que formavam o corpo da igreja, por isso, conversou com Dom Geraldo Majella Agnelo, que pertencia ao Conselho Episcopal de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e também era arcebispo de Londrina. Dom Paulo, pediu para que Agnelo orientasse a nova experiência, que deveria ser na região da arquidiocese.
Em documento a própria Pastoral da Criança confirma:
Da ideia nascida de um encontro entre Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal Arcebispo de São Paulo, e James Grant, Diretor Executivo do UNICEF, em maio de 1982, implantado e desenvolvido pelo então Arcebispo de Londrina ? Dom Geraldo Magella Agnelo e Dra Zilda Arns Nelmann - Médica Pediatra e Sanitarista, a Pastoral da Criança, tal qual a semente lançada em terra boa, cresceu e frutificou. (PASTORAL DA CRIANÇA, 1992, p. 7)
Zilda Arns aceitou o convite feito por Dom Paulo e em 1983 esteve em Londrina para uma reunião sobre a experiência piloto. A princípio, foram definidos dois lugares para iniciar os trabalhos. A primeira sugestão era na região periférica de Londrina e a outra, no município de Florestópolis, que conforme Araújo (2000, p. 20) "na época, era o município com o maior índice de mortalidade infantil do Estado do Paraná. De cada mil crianças nascidas vivas, 127 morriam antes de completar um ano de idade. Tinha semana que havia enterro de criança todos os dias". Os dados numéricos que serão utilizados neste trabalho são da própria Pastoral da Criança e não serão considerados os números oficiais do poder público municipal, estadual ou federal.
Entretanto, durante a reunião com Zilda Arns, a freira italiana Eugênia Pietta, que trabalhava na paróquia São João Batista em Florestópolis interrompeu a conversa. Ela conhecia a realidade da região e sustentou que o local fosse escolhido, pois o número de crianças morrendo estava altíssimo. Segundo Zilda Arns, em entrevista, "os pais saiam de manhã para os canaviais e as crianças pequenas eram cuidadas pelos irmãozinhos, então morriam muitos", lembrou. O resultado foi que o município virou palco da primeira experiência da então sem nome, mas futura Pastoral da Criança.
Zilda Arns pediu que a irmã Eugênia primeiramente angariasse 20 voluntárias que conhecessem bem o município e soubessem a realidade das mortes das crianças. A própria precursora conta:
Então, ela trouxe essas pessoas para eu apresentar o projeto. Esse grupo aceitou, se entusiasmou. No dia seguinte dom Geraldo Majella Agnelo foi rezar missa em Florestópolis e me deu a palavra depois da comunhão pra eu expor. Todo mundo aprovou, eu pedi para que quem estivesse de acordo que levantasse, todo mundo levantou. Depois eu disse para a irmã Eugênia, mas não só os católicos, eu quero líderes também de outras religiões.
Com formação em medicina e especializada em pediatria, Zilda Arns tinha facilidade com o assunto e o primeiro curso foi montado. Segundo Araújo (2000, p. 20) a surpresa foi grande, uma fez que "já havia 76 inscritas, e no dia do curso apareceram mais de 100. A Dra. Zilda Arns elaborou as primeiras apostilas com materiais educativos da Secretaria de Saúde do Estado e do Ministério da Saúde".
Conforme se passavam os dias, mais e mais voluntárias foram sendo convocadas, já que o número de crianças que precisavam de atendimento era grande. De acordo com a Pastoral da Criança (1992), os agentes eram "alimentados pela reflexão crítica sobre a realidade social e pelos conhecimentos a respeito das ações básicas de saúde, nutrição, educação, dentro de uma pedagogia libertadora". Com o crescimento de crianças que a pastoral cuidava, viu-se a necessidade de construir uma estrutura para atender alguns casos extremos que chegavam. Por isso, segundo Araújo (2000), foi criado o Centro Nutricional em Florestópolis, pela irmã Eugênia Pietta, que também se tornou a primeira coordenadora do movimento.
Para executar o trabalho, mais do que a força de vontade de centenas de líderes que se subdividiam no começo, era preciso recurso financeiro. Por isso, no começo, como cita Araújo (2000) o "Unicef foi a principal fonte de financiamento nos três primeiros anos da Pastoral da Criança". Contudo, hoje a Pastoral conta com recursos do Ministério da Saúde e também da Associação Nacional de Amigos da Pastoral da Criança (ANAPAC), que desde 1993 oferece apoio técnico e econômico. O valor arrecadado e o total investido em cada criança mensalmente que é de R$ 1,71 (Pastoral da Criança), assim como o relatório de auditoria anual estão disponíveis no site da entidade: www.pastoraldacrianca.com.br.
A voluntária na Pastoral da Criança, também conhecido como líder, é a chave do movimento. Durante a permanência no grupo, ele executa várias funções, como citam Carvalho e Souza (2007):
Os líderes comunitários participam de cursos de capacitação e acompanham o desenvolvimento e a educação de crianças. Entre as principais tarefas estão: visitas domiciliares mensais às famílias acompanhadas, realização do dia da vigilância nutricional, promoção de reuniões e encontros com as famílias, estabelecimento da articulação com o sistema de saúde e com outras pastorais e movimentos da comunidade e registro das informações relativas ao desenvolvimento das crianças e das gestantes no Caderno do Líder. (CARVALHO e SOUZA, 2007, p. 5)
Além de a líder trabalhar em média 42 horas por mês, não há exatamente horários a cumprir, porque ele precisa estar à disposição da família atendida, sempre que precisar. De acordo com Neumann et al (1999), a Pastoral da Criança "considera como criança acompanhada aquela que, no mês, foi visitada pela líder comunitária ou participou de alguma atividade da Pastoral, tal como pesagem, reunião ou brinquedoteca". O voluntariado geralmente mora na comunidade em que atua, ou seja, conhece bem a realidade de cada família e isso facilita o processo. O gênero feminino no grupo é absoluto, 92% das voluntárias são mulheres.
Zilda Arns confirma que sem as líderes, a Pastoral da Criança já teria deixado de existir. "Eu creio que a Pastoral sem o trabalho das voluntárias em cinco anos teria acabado. Porque ninguém aguenta pagar. Já imaginou pagar 260 mil pessoas, de que jeito? Não tem dinheiro em primeiro lugar. Em segundo lugar, como é uma pastoral, ela trabalha no sábado, domingo, noite, dia, é o pastor à disposição daqueles que mais precisam".
E ainda completa:
É no voluntariado que a Pastoral gasta mais dinheiro, promovendo a democratização do conhecimento e da solidariedade. Então, ela realmente trabalha, porque sente que ela é mais gente, que está fazendo uma coisa que é recomendada por Deus. Pois está escrito sobre a caridade, a fraternidade. E com isso, ainda, ela faz melhor os seus trabalhos particulares em casa.
Com o sucesso da experiência piloto no norte do Paraná, já em 1984 foi cogitada a expansão do projeto para outros estados, sobretudo no Nordeste. Conforme Araújo (2000), inicialmente "foram escolhidas seis dioceses: Maceió-AL e Bacabal-MA, no Nosdeste; São Paulo-SP, no Sudeste; Porto Alegre-RS e Novo Hamburgo-RS e Tubarão-SC, no Sul do País. Os primeiros treinamentos de coordenadores diocesanas aconteceram em Londrina. Também houve estágio em Florestópolis". Com o sucesso também nessas regiões, logo o movimento se espalhou por todo Brasil, cobrindo todos os estados, chegando a mais de 4 mil municípios. Em 2007, segundo a Pastoral da Criança, foram acompanhadas 94.987 gestantes e 1.816.261 crianças pobres menores de seis anos de idade.
Um dos pilares do atendimento da entidade é a multimistura, uma espécie de complemento alimentar natural. Segundo Araújo (2000) ela serve para "aumentar os valores nutritivos dos alimentos (...) previne e cura a anemia causada pela desnutrição; promove o crescimento, dentro e fora do útero; aumenta a resistência a infecções; diminui as diarréias e doenças respiratórias; ajuda a manter a saúde." Ainda segundo ele, os ingredientes para o preparo do farelo mudam conforme a região e clima. Contudo, os mais comuns são "farelo de arroz ou de trigo; pó de folhas verde-escuras (mandioca, batata-doce, abóbora, quiabo, chuchu, etc.); pó de sementes (abóbora, melancia, gergelim, etc.); pó de casca de ovo".
A Pastoral ainda motiva nas líderes locais a participação nos conselhos municipais de direito e em programas de políticas públicas. Outros projetos ainda são executados pelas voluntárias, como destaca o movimento:
1.Educação de Jovens e Adultos ? alfabetização e mães e moradores das comunidades acompanhadas. 2.Brinquedos e Brincadeiras ? para aumentar o interesse pelo brincar e pelo lazer nas comunidades, favorecendo a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento e educação das crianças. (PASTORAL DA CRIANÇA)
E completa:
3.Controle Social das Políticas Públicas - junto aos conselhos municipais de saúde, conselhos dos direitos da criança e do adolescente, conselho de segurança alimentar, entre outros. 4.Capacitação para o trabalho ? projetos para promover a auto-sustentabilidade das famílias acompanhadas. 5.Rede de Comunicadores Populares em Rádio ? para divulgar ações da Pastoral da Criança em todo o país. (PASTORAL DA CRIANÇA)
Em 26 anos de movimento, ele atua hoje em 18 países, (Argentina, Bolívia, Brasil, Honduras, Colômbia, República Dominicana, Panamá, México, Guatemala, Paraguai, Venezuela, Uruguai, Angola, Guiné, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste e Filipinas) e já recebeu inúmeros prêmios como cita a Pastoral da Criança "UNICEF, UNESCO, OMS/ OPAS, Câmara Brasil-Espanha de Comércio, Sociedade Brasileira de Pediatria, Family Foundation, universidades, diversas instâncias de governo do Brasil e do exterior, entre outras. A Pastoral da Criança foi indicada pelo Governo Brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz em 2001, 2002, 2003 e 2005".
5.1 ELVIRA DUARTE DE MORAES
"Era um pessoal pobre demais, muito discriminado. Quando eu chegava para conversar, eles perguntavam se tinha que pagar e eu dizia que não. Comecei a trabalhar e adorei realizar essa atividade no meio da pobreza. Até hoje estou lá, na mesma vila." A afirmação é da voluntária da Pastoral da Criança Elvira Duarte de Morais, de 73 anos, que atua no grupo desde o momento em que chegou em Londrina, há 25 anos. Assim como ela, hoje existem aproximadamente 260 mil pessoas que atuam em todos os estados brasileiros, em mais de 42 mil comunidades pobres, e também em diversas regiões do exterior. Em todo o país são acompanhadas cerca de 2 milhões de gestantes e crianças de zero a seis anos, promovendo ações de educação e saúde entre as famílias atendidas.
Não obstante o fato de ser uma organização originalmente articulada no âmbito da Igreja Católica, a Pastoral é um organismo autônomo. A estrutura é composta por uma hierarquia de coordenações, que começa na Coordenação Comunitária, passando pelas Coordenações Paroquiais, Diocesanas, Estaduais e a Coordenação Nacional. A Coordenação Comunitária é, portanto, a menor unidade administrativa, constituída por uma equipe de líderes comunitários responsáveis pela implementação das ações. (CARVALHO e SOUZA, 2007, p.5)
Assim, como citam Carvalho e Souza (2007), a pastoral usa a própria estrutura da Igreja Católica para se organizar. Portanto, ela consegue chegar até a comunidade mais pobre, nas regiões de miséria, onde fixa sua principal base de atuação. Assim como em Londrina, não é comum existir o movimento na região central dos municípios.
Elvira Duarte de Moraes é pernambucana nascida em Panelas, interior do Estado. Na juventude morou no sítio com os pais e mais 10 irmãos até completar 20 anos, quando se casou com José Barbosa de Moraes. No Nordeste tiveram quatro filhos: Elza (18/09/1956); Maria Edineide (17/08/1957); Edileuza (27/08/1958) e Édina (31/08/1959).
Em busca de um futuro melhor no Sudeste do Brasil, a família se mudou para Assaí (PR), onde nasceram mais nove filhos: Maria (15/07/1961); Eduardo José (22/12/1962); Edineide (04/09/1963); Edinalva Aparecida (05/02/1964); Elizete Aparecida (11/02/1966); Maria de Fátima (02/03/1969); Antônia (07/06/1972); Edivaldo José (05/02/1975) e Maria Elicélia (26/02/1977).
Com 13 crianças, os Moraes com a ajuda de um parente se mudaram para Londrina, na procura por melhores condições de moradia e emprego. Sem dinheiro, foram morar numa favela da região oeste da cidade.
Quando a líder da Pastoral da Criança Elvira Duarte de Morais (...) chegou à favela Vila Rica, atual jardim Leste-Oeste, na região oeste de Londrina e começou a acompanhar as crianças e orientar as mães sobre os cuidados com os filhos, nem imaginava que estava iniciando um trabalho que duraria até hoje. O bairro foi um dos primeiros em Londrina a serem atendidos pela, então, recém-criada Pastoral da Criança. (ELEUTÉRIO, PAULO e FELIPE, DANILO, 2008)
Mesmo com 13 filhos para criar, Elvira cuidou de dois netos, cujos pais não tinham condições financeiras: Alex Barbosa Batista (06/03/1977) - filho de Édina - e José Ibrahim Barbosa de Moraes (10/05/83) - filho de Edinalva Aparecida. Mesmo com poucas condições, morando numa casa pequena, Elvira viu que podia fazer muito pelas crianças vítimas de desnutrição no bairro. Ela então começou a desenvolver um trabalho junto à Pastoral da Criança.
A nova líder visitava as famílias, levava sopa para as crianças no hospital, entre outras ações. Trabalho que levou cidadania ao bairro, pois unidos, os moradores conseguiram água, luz, asfalto e casas de alvenaria mais resistentes. Contudo, numa de suas visitas, Elvira ganhou mais uma filha: Gisele Valdenice da Silva (03/07/1986), cujos pais não tinham condições de criar a criança que sofria de desnutrição.
"Eu era muito doente, minha mãe [biológica] não cuidou. Aí, minha mãe Elvira foi em casa e viu a situação. Eu já tinha um ano e seis meses e não falava, não andava, não fazia nada. Ela chamou minha mãe e pediu para me levar para a recuperação", disse Gisele, que ficou quase um ano se recuperando no Centro de Recuperação da Pastoral da Criança em Florestópolis. (ELEUTÉRIO, PAULO e FELIPE, DANILO, 2008)
Hoje Gisele tem 23 anos e já é mãe. A menina que foi resgatada da morte através do trabalho da Pastoral da Criança gerou outra vida, que também é acompanhada pelo movimento. Gisele está casada, mas por falta de condições de comprar uma casa, ainda mora com a mãe. Elvira, depois de 25 anos, ainda continua seus trabalhos na Pastoral. Além de fazer visitas às famílias, ela participa da Celebração da Vida uma vez por mês no Santuário São Judas Tadeu, no jardim Maria Lúcia.













6 O PRODUTO
No intuito de aproximar cada vez mais o jornalismo do público que o consume, alguns profissionais optam por um estilo de texto mais detalhista, humano e reflexivo. A isso, autores como Lima (2004) e Pena (2006), denominam jornalismo literário. Essa prática se consolidou a partir de 1960, sobretudo nos Estados Unidos onde foi batizado de New Jornalism ou Novo Jornalismo. No Brasil, nota-se que o namoro entre o jornalismo e a literatura durou muito tempo e foi diminuindo a partir da segunda metade do século XX.
Uma das vertentes do jornalismo literário, é justamente o livro-reportagam que cumpre um importante papel de suprir as informações sobre determinado assunto, que a mídia em geral, não consegue dar conta e privilegia o factual. Por isso, foi escolhida a execução do livro-reportagem nas suas vertentes perfil e história para discorrer sobre a reconhecida e premiada Pastoral da Criança. Como o movimento tem como base de trabalho de milhares de voluntárias, foi escolhida uma personagem, que representa e legitima todas as outras, para nortear o livro. A história do grupo, será contada a partir da vida de uma líder que atua desde quando o grupo foi criado em Londrina.
A parte teórica abordou conceitos sobre jornalismo, jornalismo literário, livro-reportagem e Pastoral da Criança. Já a parte prática da obra, foi conduzida do início ao fim por uma voluntária, com inserções sobre a história do movimento, desde seu surgimento em Florestópolis, até sua expansão pelo mundo, hoje em 18 países.
6.1 OBJETIVOS
Entre os principais objetivos alcançados neste trabalho estão: executar as etapas de um livro-reportagem, a partir de uma personagem central voluntária da Pastoral da Criança; resgatar através do livro-reportagem, algumas histórias dos atendidos que não são noticiados na grande imprensa; contar, utilizando os conhecimentos em jornalismo literário, a história de 26 anos da Pastoral da Criança. Por fim, entender como esse movimento foi importante para as pessoas que participaram e famílias atendidas.
6.2 JUSTIFICATIVA
A execução de um livro-reportagem ainda na academia, sobretudo como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Comunicação Social ? Jornalismo, está associado, essencialmente, à relação ensino-aprendizagem. Após quatro anos de curso, nas quais inúmeras disciplinas foram ministradas, palestras, seminários, discussões acadêmicas, sobretudo, muito exercício de redação, é natural que cada graduando se identifique com uma área de atuação, seja ela, impressa, rádio, tevê, entre outras.
Neste caso, delimitar o objeto jornalismo, na sua vertente literária e exercitar os conhecimentos adquiridos na elaboração de um livro-reportagem, é um desafio acadêmico que envolve muito mais do que o jornalismo, mas, especialmente, a linguagem. O livro não substitui o jornalismo cotidiano tradicional, mas oferece um complemento de informações aprofundadas sobre determinado assunto, novo ou não.
Para Lima (2004, p. 1), ao executar um livro-reportagem, deve-se fugir das normas de redações dos veículos de comunicação que deixam os profissionais amarrados. Ainda para o autor, deve-se optar por uma linguagem rebuscada, viva e real:
Porque o livro reportagem é parte do mundo do jornalismo, mas possui sua própria autonomia, que exatamente lhe possibilita experimentações impraticáveis nas redações dos veículos periódicos. Por isso, penetra num território novo, podendo transcender o jornalismo - pelo menos na sua concepção mais conservadora -, gerar um novo campo, que os norte americanos já denominam literatura de realidade." (LIMA, 2004, p. XIV)
A busca por fugir do lide tradicional das redações jornalísticas diárias e optar pelo novo, torna-se mais influente a partir do final do século XX. Surge então, um movimento batizado de New Jornalism ou Novo Jornalismo. Fazer uma reflexão mais aprofundada de certos temas, inserir o leitor nos acontecimentos, identificar as causas e as consequências, motivar uma reflexão diferente e ampla para o leitor, são ideais que norteiam o jornalismo literário.
Modalidade de prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos de observação e redação originários da (ou inspirados pela) literatura. Traços básicos: imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos (inclusive metáforas), digressão e humanização. (LIMA)
O livro-reportagem executado tem como tema principal a Pastoral da Criança, um Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com 26 anos de atuação. Conforme a Pastoral da Criança (2008), seu objetivo é "o desenvolvimento integral das crianças e promover, em função delas, também suas famílias e comunidades, sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político".
A escolha do tema justifica-se pela realidade social que envolve o grupo. Conforme Carvalho e Souza (2007), "na condição de organização que congrega o maior número de voluntários em nível nacional, a Pastoral da Criança surgiu da compreensão científica de que a maior parte das doenças e mortes infantis, nos países do terceiro mundo, poderia ser facilmente evitada através de tecnologias simples e baratas".
O trabalho do grupo foi iniciado pela atual coordenadora mundial, pediatra e médica sanitarista, Zilda Arns Neumann, no ano de 1983, no município de Florestópolis, a 80 km de Londrina. O lugar foi escolhido por apresentar preocupantes índices de mortalidade infantil. Hoje 26 anos depois da sua fundação, a Pastoral atende em todo Brasil e em mais 17 países. A entidade já recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, com destaque para indicação do Governo Brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz.
Conforme a própria fundadora, os números impressionam:
Quando nós começamos, o maior desafio era a mortalidade altíssima em Florestópolis que era 127 por mil nascidos vivos. No Brasil, quando fomos para o Nordeste era uma mortalidade descabida de grande. Hoje estamos reduzindo a mortalidade infantil drasticamente no Brasil inteiro. Nas comunidades atendidas pela Pastoral da Criança o total de óbitos é de 11 por mil nascidos vivos. A media no país é de 20 por mil. Mas isso significa diminuir mais, porque a pastoral trabalha nas regiões de pobreza e miséria. Nestes locais, a mortalidade é pelo menos o dobro maior do que a média. Então se está em 20 por mil no Brasil, nas regiões de pobreza é muito maior.
O livro-reportagem, a partir das perspectivas citadas por Lima (2004) e Pena (2006), entre outros autores, mergulhou nesse tema, trazendo nas páginas as histórias das líderes voluntárias anônimas, tendo como personagem central apenas uma, assim como crianças atendidas, entre outras. Esta proposta surgiu do trabalho de assessoria de imprensa, desenvolvido em 2008 por um grupo de estudantes do projeto da Agência de Comunicação Integrada Unopar, sob a orientação da professora Sônia Lenira. Durante meses, foram produzidos releases, matérias, fotos, entrevistas, entre outras funções ligadas à assessoria para as Pastorais Sociais da Igreja Católica, incluindo a Pastoral da Criança.
6.3 METODOLOGIA
"O livro-reportagem é um veículo de comunicação jornalística bastante conhecido nos meios editoriais do mundo ocidental. Desempenha um papel específico, de prestar informação ampliada sobre os fatos, situações e ideias de relevância social, abarcando uma variedade temática expressiva", é o que sustenta Lima (2004, p. 1) sobre a importância do livro-reportagem. A partir destas perspectivas, foi contada a história de uma voluntária anônima da Pastoral da Criança, assim como registrada suas dificuldades, anseios, lembranças marcantes e fatos isolados que podem ajudar os leitores compreenderem o motivo que a levou entrar e permanecer no movimento.
A Pastoral da Criança, como já foi justificado, foi escolhida por sua grande comprovada e reconhecida internacionalmente contribuição para diminuição da mortalidade infantil no mundo. Contudo, como afirma a própria coordenadora Zilda Arns, o movimento não seria o mesmo sem o trabalho das bases. Por isso, a partir das classificações de livro-reportagem elaboradas por Lima (2004): livro-reportagem-perfil, livro-reportagem-depoimento, livro-reportagem-retrado, livro-reportagem-ciência, livro-reportagem-ambiente, livro-reportagem-história, livro-reportagem-nova consciência, livro-reportagem-instantâneo, livro-reportagem-atualidade, livro-reportagem-antologia, livro-reportagem-denúncia, livro-reportagem-ensaio, livro-reportagem-viagem, foram selecionadas duas vertentes que conduziram à obra: livro-reportagem-perfil e livro-reportagem-história.
Lima (2004, p. 51) classifica a primeira, livro-reportagem-perfil:
(...) trata-se de uma obra que procura evidenciar o lado humano de uma personalidade pública ou de uma personagem anônima que, por algum motivo torna-se de interesse. No primeiro caso, trata-se, em geral, de uma figura olimpiana. No segundo, a pessoa geralmente representa, por sua característica e circunstâncias de vida, um determinado grupo social, passando como que a personificar a realidade do grupo em questão. Uma variante dessa modalidade é o livro-reportagem-biografia, quando um jornalista, na qualidade de ghostwhiter ou não, centra suas baterias mais em torno da vida, do passado, da carreira da pessoa em foco, normalmente dando menos destaque ao presente. (LIMA, 2004, p. 51)
Como exemplifica o autor, os personagens que foram abordados durante o livro não são conhecidos do grande público, não têm seus nomes veiculados na imprensa de forma cotidiana. Contudo, representam uma classe de voluntárias anônimas, que são a base da Pastoral. Para acrescentar a obra, foi escolhida também a classificação livro-reportagem-história, pois segundo Lima (2004) ela "focaliza um tema do passado recente ou algo mais distante no tempo. O tema, porém, tem em geral algum elemento que o conecta com o presente, dessa forma, possibilitando um elo comum com o leitor atual" (Lima, 2004, p. 54).
Com a junção das duas classificações citadas, foi escolhida uma personagem que conduziu o livro, a partir de sua história de vida, legitimando a decisão. Ela não é mais importante do que qualquer outra voluntária da Pastoral da Criança, muito pelo contrário, sua história se confunde muito, com a lição de vida de outras personagens anônimas. A decisão de dar menos espaço para fontes oficiais, como no caso do movimento, a coordenadora e fundadora Zilda Arns; o mentor do projeto, o diretor-executivo do Unicef, James Grant; o arcebispo da cidade escolhida para o projeto piloto, dom Geraldo Majella Agnelo, entre outros, foi justamente em concordância com a proposta do jornalismo literário, de ouvir aquele sujeito da transformação social, que, muitas vezes, é esquecido da grande imprensa.
Caso fosse dado mais importância aos nomes conhecidos da imprensa, em detrimento das voluntárias anônimas, a obra perderia sua principal função de registrar histórias de pessoas comuns, do grupo que é o motor do movimento.
A voluntária Elvira Duarte de Morais, hoje com 73 anos, é uma das primeiras líderes da região de Londrina. A história de vida dela foi escolhida para conduzir o livro. O caso dessa personagem é interessante, porque ela não só atendeu as crianças da antiga favela Vila Rica, atual jardim Leste-Oeste, mas vendo que uma mãe não tinha condições de cuidar da filha, ela adotou a criança Gisele Valdelice da Silva, que hoje tem 23 anos. Além desse caso, outros personagens, sobretudo os atendidos, selecionadas apenas pelo critério de fazer parte do movimento, também fizeram parte do enredo.
A História de Elvira e Gisele conduziu todos os capítulos, numa linguagem literária, como pede um livro-reportagem. Além disso, outras personagens com inserções menores também fizeram parte da obra, que contou a história da Pastoral da Criança, desde seu início em Florestópolis, há 26 anos, passando pelos dias de hoje.
Lima (2004) reforça a importância do livro-reportagem:
O livro-reportagem cumpre um relevante papel, preenchendo vazios deixados pelo jornal, pela revista, pelas emissoras de rádio, pelos noticiários de televisão, até mesmo pela internet quando utilizada jornalisticamente nos mesmos moldes das normas vigentes na prática impressa convencional. Mais do que isso, avança para o aprofundamento do conhecimento do nosso tempo, eliminando, parcialmente que seja, o aspecto efêmero da mensagem da atualidade praticada pelos canais cotidianos da informação jornalística. (LIMA, 2004, p. 4)
Assim como ratifica o autor, a obra além de cumprir o papel de mostrar aquilo que no jornalismo tradicional não se vê, ela serviu como registro histórico de uma personagem, tanto quanto outras milhares espalhadas pelo mundo, que marcaram e mudaram com seu trabalho, a vida de muitas famílias. Neste caso, as que ficam aquém das condições básicas de sobrevivência, uma vez que o foco da Pastoral da Criança é trabalhar nas regiões de pobreza e de miséria, o que não faltam no mundo contemporâneo.
6.4 DE VOLTA À VIDA
De volta à vida: a luta de quem ajuda a salvar crianças da morte na Pastoral da Criança. O título do livro se justifica pelo resgate da criança da morte, ou seja, a criança volta à vida com as ações da Pastoral. Apesar de poder soar estranho no texto jornalístico, a literatura permite pela sua figura de linguagem a expressão "de volta à vida". Já o subtítulo refere-se ao voluntariado, base do movimento.
Os capítulos foram divididos por tema, conforme a trajetória da personagem na Pastoral da Criança:
1. O dom da vida
O primeiro capítulo conta como foram os momentos que antecederam o parto do filho da Gisele da Silva. Justifica-se, pois o principal tema é a criança. Além disso, cria-se toda uma expectativa para saber de quem é o filho que acabou de nascer. Contudo, a identidade só será revelada apenas nos últimos capítulos, durante a história de Elvira, em conformidade com a literatura.
2. O desafio de caminhar
Faz um retorno no tempo e contou a história da personagem Elvira antes da Pastoral da Criança. Como era sua vida em Pernambuco com seus pais e irmãos. Como foi a vida em Assaí (PR), assim como conseguiu criar os então 13 filhos biológicos. As dificuldades de quando foram morar numa favela em Londrina. Os namoros, o casamento, enfim, a vida em geral antes de ser líder no grupo.
3. Valer a pena
Conta o início da Pastoral em Florestópolis, assim como seus desafios e dificuldades, sobretudo, o primeiro contato da Pastoral da Criança com Elvira. A primeira impressão, como ela aceitou trabalhar no grupo, como era a comunidade onde ela morava, os amigos, a paróquia onde participava.
4. Os primeiros sinais de vida
Aborda a pastoral com foco no acompanhamento com as gestantes e as atividades de Elvira neste processo. Como eram feitas as visitas com as grávidas, como a família era cadastrada, a acolhida da comunidade, os desafios em ser mãe, entre outros enfoques.
5. O sorriso que não tem preço
Aborda sobre Elvira e a pastoral com foco no acompanhamento das crianças, o trabalho de porta em porta, as dificuldades, a realidade infantil no bairro, a violência, as drogas, entre outras histórias de atendimento.
6. A celebração da vida
Acompanha e relata o dia da vigilância nutricional ou celebração da vida no bairro. Como era a pesagem das crianças, o ganho ou a perda de peso, a expectativa dos pais, as brincadeiras no dia, os voluntários participantes, a família presente, entre outros.
7. O milagre que vem da multimistura
Conta o processo de preparação dos produtos que contemplam a multimistura, a alimentação enriquecida da Pastoral, a preferência a produtos naturais. Este capítulo trata dos produtos alimentícios e suas vitaminas.
8. A força para vencer
Verifica o trabalho de motivação feito através dos subsídios de autoestima aplicado pelas líderes do movimento. Relata como é feito o processo de elevar a autoconfiança nas mães e até nas famílias que são atendidas pela Pastoral.
9. Exercendo a cidadania
A Pastoral incentiva que seus líderes participem dos conselhos municipais, trabalhem para melhorar a comunidade em que vive. Neste sentido, esse capítulo aborda como Elvira batalhou para que a favela onde mora conseguisse asfalto, água e luz, ou seja, o saneamento básico, tanto que o nome do bairro hoje é jardim Leste-Oeste.
10. Coração de mãe
Relata a história de atendimento às crianças, sobretudo a adoção de Gisele. O crescimento da nova filha, até a reviravolta em sua vida, quando perdeu o marido e um filho que a ajudavam na Pastoral.
11. O amor que não se cansa
Conclui o nascimento do bebê de Gisele que foi iniciado no primeiro capítulo, assim como relatou como a família e a comunidade receberam a criança.
12. Na direção certa
De tempo em tempo as líderes fazem reunião de reflexão e de avaliação dos trabalhos. Este capítulo contempla essa importante parte dos trabalhos do movimento.
13. Sempre em frente
Aborda o que a Pastoral da Criança precisa melhorar, quais os pontos positivos, negativos, dificuldades, assim como uma avaliação geral do movimento por Elvira.
14. Antes que a noite termine
O que essa mulher de 73 anos tem a ensinar, o que ela pensa sobre a vida, o desafio da luta diária, enfim, tudo o que ela tem para acrescentar aos leitores é abordado no último capítulo.
15. A história não para
Elvira conta qual foi o destino de alguns personagens que foram citados por ela durante o livro.
No intervalo de cada capítulo do livro, há um breve depoimento de uma líder que participa do quadro de voluntários da Pastoral da Criança. A escolha foi aleatória, meramente por critério de participar do movimento, procurando contemplar Londrina e cidades vizinhas.
6.5 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES
Durante oito meses de elaboração da monografia e do livro-reportagem foram feitas dezenas de entrevistas, centenas de fotos, além de horas de conversa informal com as líderes da Pastoral da Criança, o que rendeu aproximadamente 45 horas de bate-papo gravado. Além disso, a monografia se estende por 81 páginas, enquanto o livro por 15 capítulos.
Para a condução do livro-reportagem, as entrevistas com Elvira Duarte se estenderam por meses. Como ela é a principal personagem da obra que conta suas histórias de vida, tudo tinha que ser calmamente contado, às vezes, até repetido, para ficar tudo muito claro nas mãos do repórter.
Nesta sequência, as entrevistas com Gisele foram mais fáceis, uma vez que analisando todo o livro, a participação dela é pequena, mas importante. Suas histórias de vida foram intercaladas com a bibliografia de apoio que a Pastoral da Criança utiliza. Destaca-se aqui o Guia do Líder, um instrumento científico de linguagem clara que ajuda as voluntárias e as famílias a cuidar melhor das crianças.
Apesar de não fazer parte da história de Elvira, mas da Pastoral, durante os capítulos foram inseridos depoimentos para ajudar os leitores a entenderem o que motiva as líderes a trabalharem voluntariamente no grupo: Cleusa Dalfito Berbert, Sonia Maria Rosalini, Maria Celina Manuel Ocava, Maria Aparecida Francisco Silva, João Pelizaro, Suely Sobral Correia, Sônia Aparecida de Nogueira, padre Valdomiro Rodrigues da Silva, Solaine Maria Trofino Sampaio, Diva Lúcia da Cruz, Dirce Belizari Oliveira, Clarice Siqueira dos Santos, Maria de Souza dos Santos, Marta Varela e Aparecida Martins Simões. Essas entrevistas foram feitas em encontros promovidos pela Pastoral da Criança.
Nas duas vezes que surgiu a oportunidade de entrevistar a fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, ela esteve em Londrina e a coordenação local do grupo agendou a conversa. Na única viagem feita à Florestópolis (PR), berço do movimento, tanto a carona, quando a alimentação e hospedagem numa casa de família ficaram por conta dos moradores do município.
Apesar do alerta dos autores utilizados na fundamentação teórica de que não é fácil escrever um livro-reportagem, um estudante de graduação querendo esse êxito nem sempre dá ouvidos. Depois do livro escrito, pode-se dizer que eles tinham razão: não é fácil. Porém, também não é o trabalho mais difícil do mundo. Mas é preciso ter muita paciência, organização, responsabilidades com prazos, determinação, foco e muito prazer em escrever. Talvez sem essas habilidades, o resultado seria outro.
Como aspectos negativos, destacam-se a decupagem da fita k7 ? bem que no futuro a tecnologia poderia dar uma mãozinha aos jornalistas -, o gasto de horas ao ficar checando nomes de personagens anônimos, a falta de materiais comprobatórios que ratifiquem o que a fonte diz, entre outros.
Já como aspectos positivos, é possível destacar a experiência in loco, ou seja, no local onde elas aconteceram, o contato de confiança que gera reciprocidade com a fonte, o ganho na melhora da produção de textos, fotos, edição, diagramação, entrevistas, a sensibilidade com as questões sociais, o resgate histórico de uma comunidade, a abertura de novos relacionamentos, entre outros.
No que tange a contribuição deste trabalho para a Pastoral da Criança, na área de novidade científica não evolui muito, uma vez que o propósito não era esse. Ainda durante a fundamentação teórica foi identificado que há muitos estudos que a Pastoral utiliza e muita bibliografia escrita por nomes já conhecidos. Porém, o objetivo deste trabalho foi dar voz aos anônimos, aos líderes que são as bases do grupo. Portanto, a contribuição se dá no sentido de ouvir o que essa ou aquela líder desconhecida pensa.
Em relação a colaboração para a comunidade jornalística, um livro-reportagem que destaca o trabalho de um grupo social que tem 260 mil voluntários somente no Brasil e que atende aproximadamente 2 milhões de gestantes e crianças, é importante para ampliar a visão e levantar o debate sobre alguns temas como a situação da infância do Brasil, o papel do voluntariado, a pobreza ainda presente na periferia, os desafios da família, entre outros.
Na academia, a contribuição se dá no sentido de discutir e investigar alguns temas que a mídia em geral não consegue dar conta; de privilegiar o social num mundo onde as desigualdades estão cada vez mais em evidência; de focar um tema e despir-se de preconceitos e estereótipos; sobretudo, fazer com que a academia não se feche e não se isole, mas que participe ativamente das transformações da sociedade.



7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca constante pela reprodução da realidade passa essencialmente pela ética que envolve o processo jornalístico. Talvez até mais do que a ética organizacional, os valores pessoais devem nortear qualquer produção de informação. De nada adianta o jornalismo evoluir, se ele não contribui com a sociedade no que diz respeito à moral, à cidadania, enfim, todos os pressupostos que devem nortear a humanidade.
E, como a ética da profissão não está desvinculada da ética do cidadão, o jornalista que requer seu direito, luta por uma causa, cumpre seus deveres, é, necessariamente, uma pessoa na sociedade que exerce a cidadania. No entanto, para se alcançar a justa medida é preciso muito suor. Assim como sem luta, não há vitória, sem a batalha diária pelo aperfeiçoamento, não há êxito, não há conquista.
O jornalismo literário que evolui do texto interpretativo integra essa busca pelo aperfeiçoamento da cidadania. Muito mais do que simplesmente informar, ele expande o papel da fonte, do acontecimento, do jornalista, do veículo, do leitor. O texto da imprensa, que completa 200 anos de Brasil e 500 anos de Europa, integra essa metamorfose que procura sempre estar alinhado às necessidades contemporâneas.
Depois de diversas discussões e contribuições sobre o jornalismo e cidadania, a evolução do texto informativo, a imprensa no país e, sobretudo, a inserção da literatura com a função de auxiliar à interpretação dos fatos, conclui-se que o velho e bom jornalismo está acima de qualquer forma diferente de escrever e transmitir com exatidão a mensagem. A opção pela linguagem literária amplia as possibilidades da escrita, porém, deve estar sempre associada aos ideais de isenção, independência, credibilidade e busca incessante de aproximação da realidade.
A linguagem literária pode e deve ser usada sempre com coerência e reflexão. Nem todas as pautas cabem no jornalismo literário e, muitas vezes, não há tempo hábil suficiente para produzi-las. Contudo, ampliar a realidade e buscar a contextualização dos fatos é fundamental em qualquer abordagem. É notável que muitos veículos de comunicação têm visto com simpatia ou, até mesmo, ampliado seu espaço para reportagens mais aprofundadas, muitas na linguagem proposta pelos precursores do jornalismo literário. Gaion (2008, p. 111) cita que em revistas como Brasileiros, Piauí e Época, os elementos narrativos de realidade já são usados, porém nos "jornais Gazeta do Povo, Zero Hora e Folha de São Paulo, também entram na lista de meios de comunicação abertos a essas produções, mesmo com algumas dificuldades ainda".
Ampliar o leque de possibilidades da escrita e chegar ao livro-reportagem é um desafio e tanto, conforme as dificuldades de produção e comercialização abordadas nos capítulos anteriores. Contudo, o ?feeling? do jornalista para essa categoria deve ser explorado ao máximo, em vez de ficar paralisado numa estrutura que não sabe aproveitá-lo. A riqueza desse profissional está na vocação em saber divulgar ao mundo histórias de pessoas que constroem diariamente a humanidade.
A escolha da Pastoral da Criança como objeto de estudo sobre o processo de execução do livro-reportagem não poderia ter sido melhor. O mergulho no mundo da literatura amparado pela realidade das crianças pobres em o todo planeta constrói uma história de luta que promove o bem. Em meio a uma vida tão cruel de crianças que são vítimas dos mais diversos tipos de violência, seja dentro de casa ou na rua, uma luz que acena uma possibilidade de mudança já deve ser amplamente comemorada.
O jornalismo e a Pastoral da Criança não vão mudar o mundo. Isso é fato. Contudo, eles, assim como os diversos setores da sociedade, podem modificar para melhor a sua realidade particular. A mudança começa dentro de casa ou no seu meio social. A do jornalista dentro do seu processo de trabalho e a Pastoral cumprindo a missão que lhe foi concebida e confiada.






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Autor: Paulo Eleutério


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