DESCORTINANDO A EXPRESSÃO CORPORAL E PERCEPÇÕES CORPORAIS COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS



DESCORTINANDO A EXPRESSÃO CORPORAL E PERCEPÇÕES CORPORAIS COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EM DEFICIENCIA VISUAL






Sandra Regina Mane
Graduada em Pedagogia pela Universidade Salesiana de Americana - UNISAL ? SP,
Especialista em Educação Especial pela Pontifícia Universidade Católica de CampinasPUCC em Campinas.
E Especialista em Tradutora e Intérprete em Língua Brasileira de Sinais
e-mail: [email protected]



Resumo: Este estudo de caso apresentado investiga a oportunidade de inclusão, de pessoas portadoras de deficiência visual na expressão corporal e percepções corporais na dança de salão. Fundamenta-se na necessidade de favorecer e dar oportunidade à pessoa com deficiência visual de encontrar alegria e harmonia de vida, diminuindo os traumas da deficiência e ansiedade da exclusão social. Essa pesquisa foi concluída, com duas pessoas cegas congênitas, uma moça que chamarei de sujeito A e um senhor que chamarei de sujeito B.

Palavra chave: cegueira; estudo de caso, percepções corporais.

Abstract: This case study investigates the opportunity of inclusion of people with visual impairments in body language and body perceptions in ballroom dancing. Based on the need to encourage and give opportunity for the visually impaired person to find joy and harmony of life, decreasing the trauma of disability and anxiety of social exclusion. This research was completed with two congenital blind people, a woman I'll call the subject A and a man that I will call B.

Keywords: blindness; case study, body perceptions.





Introdução

Vivemos num mundo de descobertas, de surpresas, num mundo dinâmico, onde o homem procura diversas formas de integração, que se apresenta com um eterno convite à criação. A criatividade é algo inseparável do homem, que se revela num campo artístico, em suas experiências e momentos de vida. A arte é uma experiência que está presente em todas as pessoas, refletida através de manifestações. Nela percebe-se a exteriorização visível do corpo de sentimentos e emoções, ao que o cerca.
Hoje em dia, a Expressão Corporal e a dança estão presentes em vários lugares, com vários ritmos e formas, variando entre a utilização de corpo inteiro em movimentos livres e abertos, e aquelas em que os movimentos são limitados em determinadas partes do corpo, portanto, acredito que a expressão corporal e a dança é deixar unir a arte de representar com a arte de deixar o seu corpo criar o próprio movimento.
A pesquisa desenvolvida buscar compreender o significado de alguns resultados obtidos através de estudos de caso desenvolvido, que pretende buscar a compreensão do significado da expressão corporal e das percepções corporais como estratégia de ensino para portadores de necessidades especiais com deficiência visual.
Este projeto fundamenta-se na necessidade de favorecer e dar oportunidade aos deficientes de encontrarem alegria e harmonia de vida, diminuindo os traumas da deficiência e ansiedade da exclusão da sociedade.
A expressão corporal através da dança é utilizada por meio de desenvolvimento dos movimentos naturais que são: o espaço, o tempo, o ritmo e a dinâmica, em harmonia, possibilitando a flexibilidade gestual, a comunicação e expressão e compreendendo o movimento humano com capacidade expressiva.
Para Laban (1978) ? o movimento é considerado um processo ligado ao pensamento, ao sentimento, a toda uma estrutura inferior e não apenas a ações externas, vinculadas à estrutura social.
Para Silva, (1993) acredita que a educação é um processo de crescimento, portanto a educação através da dança é conceitualizada como um processo criativo. A análise do processo de ensino/aprendizagem na dança pode levar-nos a um caminho em que a arte esteja a serviço da educação, assim como do crescimento da pessoa/aluno como um todo, ao contrário de estar somente objetivando o desenvolvimento de habilidades técnica. Dessa forma pode-se pensar também que a facilitadora que está narrando os passos de dança ou de expressão corporal para uma pessoa cega pode ser considerado também um educador de ensino/aprendizagem. Pois é também, além do tateamento pelo corpo, é através do narrador que o educando vai aprender a desenvolver toda a técnica da expressão corporal através dos estímulos verbais.
Quando Benjamin (1994 ? p. 197) fala em seu texto sobre as considerações da obra de Nikolai Leskov que "... a arte é de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente...". Acredito que a pessoa cega só consegue perceber o contexto através da audiodescrição dos conteúdos a ser transmitidos ou de imagens através da figura do narrador. Benjamin (1994 ? p.. 200) afirma que "Para obter essa sugestão, é necessário primeiro saber narrar a história (sem contar que um homem só é receptivo a um conselho na medida em que verbaliza a sua situação.)"
Quando pensamos num corpo dançante, pensamos num corpo íntegro, que estabelece um contato físico, como podemos observar na dança de salão, onde tem a participação constante de dois corpos em harmonia.

Método

O trabalho desenvolvido é de campo, com duas pessoas cegas congênitas profundas, de sexo oposto e com idades diferentes, e adotando alguns referenciais, do método exploratório investigativo, através de encontros, além de contar com o apoio de algumas referências bibliográficas.

Definições:

Portadores de cegueira total

Acuidade visual inferior a 0,05 (referência tabela de Snellen), em ambos os olhos, após a máxima correção óptica possível. Campo visual inferior a 20º.
Ausência total de visão até a perda da projeção de luz. O processo de aprendizagem se dará através da integração dos sentidos: tátil ? cinestésico ? auditivo ? olfativo ? gustativo, utilizando o Sistema Braille como meio principal de leitura e escrita.

Portadores de visão subnormal parcial (baixa visão)

Acuidade visual de 0,05 à 0,3, em ambos os olhos, com a melhor correção óptica possível. O processo educativo se desenvolverá por meios visuais ainda que seja necessária a utilização de recursos específicos. Estou citando apenas a existência deste item, porque neste artigo, não trabalharei com a visão subnormal ou parcial.

Participantes:

Descrição dos sujeitos do estudo de caso

Sujeito A: moça de 24 anos, cega congênita, até aquele momento era participante do grupo de dança da PUCC de Campinas, com a Profa. Mari Gândara. e que tinha noções de dança de salão. Trata-se de uma pessoa bem independente em suas atividades diárias, como por exemplo, lavar louça, fazer comida, limpar a casa, trabalha em telecomunicações em Campinas e é casada.

Sujeito B: senhor de 50 anos, cego congênito, participava pela primeira vez de um trabalho de desenvolvimento com dança de salão. É fisioterapeuta aposentado da Unicamp e também tinha um trabalho relacionado á dança com o Jazz, e teatro, e não tinha noções de dança de salão anteriormente. Tem muita resistência muscular, tem claramente noção espacial.
Apresentava movimentos estereotipados de balançar as mãos e o corpo, pelo motivo de trabalhar como fisioterapeuta ao longo de vários anos. Andava sempre com o auxílio de bengala, e quando estava em algum lugar familiar, ou amparado pelos colegas dispensava o auxílio de bengalas, usando apenas o tateamento ou auxílio de responsáveis.


Procedimento

O procedimento usado pelo grupo era através dos seis pontos espalhados pelo corpo (ombros, crista ilíaca e joelhos) para desenvolver atividades relacionadas à composição coreográfica corporal, através do ritmo, utilizando vários instrumentos musicais, tais como chocalho, côco para marcar o ritmo.
Nos dois casos também foram realizados o ensino/aprendizado da dança, foi desenvolvido exercícios, com bases técnicas de dança, e passos de dança de salão. a percepção foi feita através do tateamento pelo corpo e dos estímulos verbais.
Cada encontro era construído em torno dos impasses que os sujeitos experimentavam na construção conforme o avanço de conscientização dos ritmos de cada um. Era proposta uma estratégia a cada impasse relatado pelos sujeitos.. Algumas vezes tais estratégias eram redimensionadas pelos alunos.


Resultados e Discussão

Os resultados foram discutidos em parceria com os sujeitos. Na análise dos resultados consideram-se pertinentes alguns eixos: as transformações do corpo por advento da expressão corporal, as limitações provenientes da deficiência visual Segundo Tavares (2003): "O reconhecimento e aceitação de nossas limitações corporais ganham aqui o significado de diferenciação e amadurecimento.

Caso 1: O sujeito A tinha noção do espaço físico, onde ela realizou suas atividades corporais. Eu não precisei relatar a percepção do espaço, por se tratar de lugar familiar pela moça.

Caso 2: O sujeito B. Não tinha noção do espaço físico o qual foi oferecido para a realização de suas atividades corporais. Neste caso, precisei relatar todo o espaço físico para que ele pudesse se localizar e perceber o espaço melhor.

A noção corporal por meio do tateamento do corpo e dos estímulos verbais, contribuíram para a percepção do movimento da dança, da expressão corporal e memorização dos passos.

Com estes elementos do movimento, o grupo adquiriu domínio, equilíbrio, força e coordenação geral, através de técnicas apropriadas à sua condição física sobre os movimentos.


Considerações finais

Estes resultados indicam a necessidade de retomar o tema do corpo como suporte. A dança é dividida em bailarinos que já conhecem e vivem a dança em suas vidas, e aqueles que ainda não encontraram oportunidade de descortinar a dança em suas vidas, o que existe dentro de si o desejo de se expressar corporalmente.
Acredito que a dança é uma tomada de consciência para seu ser e para seus próprios sentimentos. É a partir do aluno que descobre o potencial de conhecimento para ocorrer o processo de aprendizagem dos exercícios técnicos dos alunos, parte do momento em que ele se permite descobrir a sua aprendizagem. Neste caso o professor tem a função de facilitador do processo ensino-aprendizagem para os cegos.
Penso que as pessoas com necessidades sensoriais dançam com sentimento, encontrando alegria e harmonia de vida, junto com a emoção, a intimidade, que acabam facilitando seu aprendizado, diminuindo os traumas da deficiência e ansiedade da exclusão da sociedade.
Portanto, conclui-se que, como indicado por Masini (1994), a educação da pessoa com deficiência visual deve ser guiada pelos referenciais que o deficiente visual possui do mundo.




Referências


BRUNO, Marilda Moraes Garcia O desenvolvimento integral do Portador de Deficiência Visual: da Intervenção precoce à Integração Escolar. 2000?

CÂNDARA, Mari A Expressão Corporal do Deficiente Visual ? Coreografando o Cotidiano. Brasília: MEC, 1994.
Deficiência Visual: Reflexão sobre Prática Pedgagógica ? São Paulo: Laramara, 1997.

LABAN, R. V. Domínio do Movimento, 3ª. Ed., 1978.

MASINI, E. O perceber e o relacionar-se do deficiente visual. Brasília. Coordenadoria Nacional para a integração da pessoa portadora de deficiência. 1994.

MORAES, M. "Modos de Intervir com jovens deficientes visuais; dois estudos de caso. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRABEE). Volume II, número 2, julho/Dezembro 2007, 211-322, 2007.

SILVA, Eusébio Lobo da Método de Ensino integral da Dança: um Estudo de Desenvolvimento dos Exercícios Técnicos Centrado no Aluno, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1993 (dissertação de Doutorado).

TAVARES, M. C. G. C. F. . Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. 147p

BENJAMIM, W., Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e historia da cultura. In_______O Narrador Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. 5. ed.. 1994.

Autor: Sandra Regina Mane


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