O Manejo E A Problemática Provocada Por Resíduos Sólidos Na Concepção De Pais E Alunos Da Escola Municipal Ricieri Berté No Município De Santa Cruz Do Xingu - MT



O manejo e a problemática provocada por resíduos sólidos na concepção de pais e alunos da Escola Municipal Ricieri Berté no Município de Santa Cruz do Xingu-MT.

Vinicius Batista da Silva 1

Universidade do Estado de Mato Grosso

Email:[email protected]

Graciela Morais Sales 2

Universidade do Estado de Mato Grosso

Ivone Lima de Almeida 3

Universidade do Estado de Mato Grosso

Daiane Goulart F. Barreto 4

Universidade do Estado de Mato Grosso

RESUMO

Neste trabalho, procuramos realizar um levantamento a respeito do manejo e a problemática provocada por resíduos sólidos na concepção de pais e alunos da Escola Municipal Ricieri Berté no Município de Santa Cruz do Xingu-MT, e objetiva despertar a atenção para os problemas de saúde e impactos ambientais negativos associados aos resíduos sólidos municipais, particularmente, em função da má gestão dos mesmos e de um modelo de desenvolvimento no qual o meio ambiente e a saúde pública são relegados a um plano secundário. Ao procurar ampliar a discussão sobre os resíduos sólidos o que se busca é a sua inserção, de forma mais significativa, propondo uma sensibilização sobre as causas e conseqüências enfatizando a realidade em que o município está inserido. Abordam-se os objetivos, fundamentos, princípios, instrumentos e importância de se implantar uma Política Municipal de gerenciamento de resíduos sólidos, que possibilite uma melhoria na qualidade ambiental e de vida da população, com propostas de integração dos segmentos e da sociedade, destacando a importância da participação social no planejamento e gestão e da Educação Ambiental como força motriz deste processo.

Palavras Chaves: manejo; resíduos sólidos; impactos ambientais; saúde pública; política pública; educação ambiental.

___________________________________________________________________

1: Vinicius Batista da silva, Graduando em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso 2: Graciela Morais Sales, Graduando em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso. 3: Ivone Lima de Almeida, Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso. 4: Daiane Goulart Figueredo Barreto, Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT.

INTRODUÇÃO

Entendemos que os problemas ambientais não serão resolvidos apenas com leis e regulamentos acompanhados de fiscais é necessário que haja sensibilização por parte de cada indivíduo isso não se faz com regulamentos, e sim com profundas mudanças culturais. É preciso criar a identificação de cada individuo, de cada família, com seu espaço de vida, com a estética de uma paisagem, com o prazer de uma rua ou de um rio limpo, com respeito, diálogo e solidariedade com o vizinho.

Desta forma, este trabalho, integrará a escola, os alunos, os pais dos alunos e a comunidade de abrangência, propondo uma análise da problemática ambiental provocada pelo lixo no sentido de que haja uma harmonia, tornado o aluno um multiplicador comunitário na divulgação das boas práticas da cidadania, e que o esforço acumulado entre a Escola e a família resulte em ações socialmente eficientes e políticas sérias, fortalecendo a solidariedade humana como o caminho mais curto e eficiente para mobilizar a sociedade para termos um ambiente limpo e saudável.

Portanto o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento da comunidade envolvida na pesquisa, considerando a prática, a concepção, o destino e os impactos negativos causados por resíduos sólidos à saúde da população e ao meio ambiente propondo a sensibilização de possíveis mudanças de hábitos e atitudes obtendo dados para posteriormente sensibilizar a comunidade sobre todos os elementos que constituem o meio ambiente e sua interdependência, enfatizando a ação do homem sobre a natureza, verificado a postura do órgão público e da escola frente à problemática do lixo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ÁREA DE ESTUDO

O Município de Santa Cruz do Xingu-MT, criado através da Lei N° 7.232 de 28 de Dezembro de 1.999, situa-se na região Nordeste do Estado de Mato Grosso, faz divisa com o Sul do Estado do Pará e os seguintes municípios: Vila Rica, Confresa, São José do Xingu e Peixoto de Azevedo, e distante de Cuiabá 1.221 km (um mil duzentos e vinte e um quilômetros), com extensão territorial de 571.440,93 hectares, a sede do município está localizada nas seguintes coordenadas 10° 09’16 S 52° 23’ 35” W. Altitude é de 280 (duzentos e oitenta) metros, tendo como principais atividades econômicas a pecuária com rebanho bovino de 150.000 (cento e cinqüenta) mil cabeças, a agricultura está em plena expansão já com o plantio de soja, arroz e milho. Seu clima é equatorial quente e úmido, precipitação anual de 2.000 mm, sua temperatura média anual de 24° C, com maior máxima de 42° C, e menor mínima de 4° C. Faz parte das grandes Bacias Amazônica e Tocantins.

Os principais rios presentes no município são: Liberdade ou Comandante Fontoura e Xingu (FERREIRA, 2001).

A vegetação de Santa Cruz do Xingu apresenta 65% cerrado, 30% mata e 5% campo. A população é de 2007 habitantes onde 56%, são na zona rural e 44% na zona urbana. (IBGE,2007).

A pesquisa foi desenvolvida com pais e alunos de 3ª e 4ª séries da escola municipal Ricieri Berté situada na zona urbana do município de Santa Cruz do Xingu-MT. Foram selecionados por amostragem, 37 alunos de 3ª e 4ª séries (turmas B) e respectivamente 25 pais. A pesquisa foi realizada no início do mês de abril. A técnica de coleta de dados deu-se através do levantamento qualitativo e quantitativo exploratório de cunho participativo, bibliográfico e analítico utilizando a aplicação de questionário semi-estruturado aberto, com a finalidade de obter a concepção dos entrevistados a respeito da idéia central do projeto.

Com base nos recursos humanos e materiais disponíveis, as atividades do projeto foram desenvolvidas por meio do Levantamento de pais e alunos das séries citadas, aplicação de questionário para pais e alunos que abordaram os objetivos do projeto, registro fotográfico, entrevista com representantes do legislativo, secretário de meio ambiente e coordenadora pedagógica da escola, visita ao local de depósito do lixo administrado pela prefeitura (lixão).

Impactos ambientais e danos à saúde provocados por resíduos sólidos

Em nenhuma outra fase do desenvolvimento humano, como a atual produziu-se tanto “lixo” e conseqüentemente prejudicou-se tanto a saúde da população humana e o próprio ambiente. Os problemas causados pelos resíduos envolvem questões sociais, econômicas, políticas, ambientais e de saúde.

Em recente levantamento a respeito da destinação final do lixo no Brasil, contratado pelo UNICEF, pôde-se constatar a precária situação existente, analisada do ponto de vista ambiental e sobretudo social. Avalia-se que 88% dos municípios não possuam Conselho de Meio Ambiente, principal instrumento de controle social da problemática ambiental. Ainda com relação a um órgão ambiental municipal, 34% tem um órgão específico, 25% outros órgãos respondem pela área ambiental e 41% afirmou que não tem nenhum órgão responsável pela gestão ambiental.

Com relação à existência de um órgão específico responsável pela execução da limpeza urbana, 70% respondeu negativamente e dos 30% existentes, 16% é nas capitais e 14% em outras cidades. Ainda hoje não é dada a devida importância às questões relativas ao saneamento ambiental, em especial a coleta e destinação adequada dos resíduos. Esta carência de infra-estrutura sanitária tem permitido recrudescer doenças até bem pouco tempo consideradas sobre controle como a cólera e a dengue, provocando inclusive nas grandes capitais vítimas fatais. Este, no entanto não tem sido o maior problema. O descarte aleatório dos resíduos em nascentes, córregos, margens de rios e estradas, tem provocado problemas ambientais graves causando a poluição das águas que muitas vezes são captadas para o consumo humano.

AZEVEDO, (1996). Evidencia a gravidade dos problemas ambientais pressupõe que as medidas para diminuir os impactos negativos no ambiente natural e na sociedade devam ser tão rápidas quanto foi o avanço de nossa ação predatória e diz ainda que a sociedade de consumo em que vivemos tem como hábito extrair da natureza a matéria-prima e depois de utilizada, descartá-la em lixões, caracterizando uma relação depredatória do seu hábitat. Assim, grande quantidade de produtos recicláveis, que poderiam ser reaproveitados, são inutilizados na sua forma de destino final. Isso implica em uma grande perda ambiental, devido ao potencial altamente poluidor e do mau gerenciamento dos resíduos gerados, comprometendo a qualidade do ar, solo e, principalmente, das águas superficiais e subterrâneas. A proposta da coleta seletiva do lixo escolar é uma ação educativa que visa investir numa mudança de mentalidade como um elo para trabalhar a transformação da consciência ambiental.

O lixo disposto de qualquer maneira e sem atender normas de controle sanitário acaba causando inúmeros problemas ambientais e de saúde pública, causa a contaminação das águas, subterrâneas e do solo. Também causam a poluição do ar devido à geração dos gases tóxicos, provoca a proliferação de ratos, baratas e outros insetos que podem ser transmissores de doenças graves como a raiva, a meningite, leptospirose e peste bubônica alem de produzir líquido chamado Chorume que escoa de locais de disposição final de lixo. É resultado da umidade presente nos resíduos, da água gerada durante a decomposição dos mesmos e também das chuvas que percolam através da massa do material descartado. É um líquido com alto teor de matéria orgânica e que pode apresentar metais pesados provenientes da decomposição de embalagens metálicas e pilhas. A composição final do chorume é fruto do tipo de lixo depositado e do seu estado de degradação. Historicamente, os lixões têm sido construídos em vales, nas proximidades ou dentro de leitos de cursos d’água, o que torna o chorume um agente de comprometimento de recursos hídricos. Os lixões, por serem na verdade uma mera disposição de resíduos a céu aberto, são construídos sobre terrenos que permitem não apenas o escoamento do chorume, mas também a sua infiltração no solo, levando à contaminação das águas subterrâneas.

“Chorume é o líquido oriundo da decomposição dos resíduos e provém de três fontes: 1) da umidade natural dos resíduos, que se agrava nos dias de chuva intensa; 2) da água de constituição de vários materiais que sobra durante a decomposição; 3) de líquidos provenientes da dissolução da matéria orgânica pelas enzimas expelidas pelas bactérias. Este líquido possui cor escura, caráter extremamente ácido, odor desagradável e alta carga poluente” (PAVAM 2007).

“estima-se que mais de cinco milhões de pessoas morrem por ano, no mundo inteiro, devido a enfermidades relacionadas com resíduos” (Machado & Prata Filho, 1999).

“entre as doenças relacionadas ao lixo doméstico, destacamos: cisticercose, cólera, disenteria, febre tifoide, filariose, giardíase, leishmaniose, leptospirose, peste bubônica, salmonelose, toxoplasmose, tracoma, triquinose”. (Universidade federal do Rio de Janeiro. UFRJ – Instituto de acidentes)

Ao contrário dos lixões, os aterros sanitários, que recebem resíduo sólido municipal urbano (o lixo gerado em nossas casas), e os aterros industriais, que recebem resíduo sólido industrial, têm as suas construções pautadas em normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que prevê impermeabilização do terreno e o tratamento do chorume gerado. Poços de monitoração abertos nas proximidades do aterro permitem a avaliação constante da qualidade das águas subterrâneas e a tomada de decisões em caso de eventuais infiltrações.

Em 1988, pela primeira vez, a Constituição Federal Brasileira abordou com maior ênfase as questões ambientais, considerando o meio ambiente como patrimônio nacional e das futuras gerações. Nesta Constituição, o saneamento básico ganhou importância e os resíduos sólidos foram considerados com maior destaque, recomendando-se maior fiscalização e ação dos órgãos públicos e privados responsáveis pelo setor. Desta forma, o primeiro instrumento legal a ser utilizado para análise na área de resíduos sólidos é Constituição Federal, notadamente em seu Artigo 30, que estabelece competência do município para “organizar e prestar assistência direta ou indiretamente sob regime de concessão ou permissão aos serviços públicos de interesse local” (Constituição Federal, 1988). No entanto, a gestão de resíduos sólidos, em termos legais, está dispersa em vários diplomas federais e estaduais. Na forma de lei, a lei 9.605 de 1998, Lei de Crimes Ambientais, também faz menção à área de resíduos sólidos, porém este dispositivo está mais associado ao resíduo industrial. Está em trâmite no Congresso Nacional (desde 1991) o Projeto de Lei (PL-203/1991) que instituirá a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tem como objetivo, estabelecer diretrizes, em nível federal, para a gestão e gerenciamento dos diferentes tipos de resíduos sólidos.

LEMOS et al. 1999, diz que dentre os diversos problemas ambientais mundiais, a questão do lixo é das mais preocupantes e diz respeito a cada um de nós. Abordar a problemática da produção e destinação do lixo no processo de educação é um desafio, cuja solução passa pela compreensão do indivíduo como parte atuante no meio em que vive.

OLIVEIRA, 1973. diz que o conhecimento do problema passou a incluir no seu universo de análise, preocupações, por exemplo, com a velocidade do processo de produção de resíduos sólidos nas cidades, e com os fatores que influenciam esse processo, que é, superior à velocidade natural dos processos de degradação. A questão dos resíduos sólidos, no meio urbano, representa impactos ambientais relevantes que afetam e degradam a qualidade de vida urbana.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB, 2000) realizada no ano 2000, o Brasil gerava, neste ano, diariamente, cerca de 228 mil toneladas de resíduos. Esta foi à última pesquisa realizada sobre geração de resíduos sólidos em nível nacional.

A COMPAM uma empresa de Comércio de Papéis e Aparas Mooca Ltda, realizou um estudo sobre o tempo de decomposição de algumas substâncias quando dispersas no meio ambiente como mostra a tabela abaixo.

Lixo Tempo de decomposição

Cascas de frutasde 1 a 3 meses

Sacos plásticosde 30 a 40 anos

Lata de conserva100 anos

Latas de alumínio 200 anos

Plástico450 anos

Fralda descartável 600 anos

Garrafas de vidroindeterminado

Pneu indeterminado

Garrafas de plástico (pet) tempo indeterminado

Borracha tempo indeterminado

Papel03 a 06 meses

Panode 6 meses a 1 ano

MetalMais de 100 anos

Borracha tempo indeterminado

Vidro 1 milhão de anos

Lixo radioativo250 anos ou mais

Tabela 1 – Tempo de decomposição de algumas substanciais. Fonte: www.compam.com.br

Educação ambiental e sua prática na escola

A Educação Ambiental é uma das ferramentas de orientação para a tomada de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, por isto sua prática faz-se importante para solucionar ou mitigar o problema do acúmulo de resíduos sólidos, lixo, nas escolas, na comunidade e no meio ambiente.

A LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e a torna parte integrante do processo educativo incumbindo ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente e cabe as instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem.

"São objetivos fundamentais da educação ambiental: I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos."(Art. 5o da Lei no 9.795: Brasil, 1999).

No estado de Mato Grosso também existe uma Lei específica de Educação Ambiental, a Lei nº. 7.888, de 09 de janeiro de 2003, que dispõe sobre a educação ambiental, a política estadual de educação ambiental, que por sinal determina os critérios e objetivos da Educação ambiental do Estado, Fundamentada na constituição Federal e ainda na lei 9.795 de abril de 1999.

A educação pode se constituir em importante ferramenta nesse sentido. Por meio dela, torna-se possível reconstruir uma idéia do lixo mais compatível com a nova tendência mundial, pelo menos em discurso, de atuar sobre a produção do lixo. Para tanto, torna-se necessário que cada um comece com uma reflexão sobre a produção de lixo em sua casa; fique atento ao desperdício tão comum em nossa cultura e desenvolva a capacidade de julgar as razões pelas quais determinado método de tratamento do lixo é escolhido em detrimento de outro. A mudança do discurso sobre o lixo, a inserção ativa de cada ator social no enfrentamento da problemática do lixo, o monitoramento e fiscalização das decisões dos poderes públicos com relação ao lixo são elementos essenciais num trabalho educativo.

CORREA, 2001, relata que devemos desenvolver atitudes e ações de conservação e preservação do ambiente natural, na comunidade, demonstrando que a utilização de práticas de proteção ao meio ambiente resulta no proveito próprio e comunitário, ajudando a desenvolver uma postura social e política preocupada e comprometida com a questão da vida na Terra. Assim, fica mais fácil reconhecer os prejuízos e benefícios que causa o lixo acumulado na saúde pública e a importância da redução, da reutilização e da reciclagem do lixo para a natureza.

O trabalho educacional é, sem dúvida, um dos mais urgentes e necessários meios para reverter essa situação, pois atualmente, grande parte dos desequilíbrios está relacionada à condutas humanas geradas pelos apelos consumistas que geram desperdícios, e pelo uso inadequado dos bens da natureza e, é através das instituições de ensino, que poderemos mudar hábitos e atitudes do ser humano, formando sujeitos ecológicos. Diante disso, além da formulação de propostas teóricas, da aprovação de leis e da introdução de novas diretrizes curriculares e orientações didáticas nos sistemas educacionais, da produção e distribuição de material pedagógico, é necessário que haja um acompanhamento e maior apoio ao que acontece dentro das escolas, no espaço de sala de aula, local onde a educação realmente acontece e, quer sejam grandes ou pequenas, as ações desenvolvidas, elas são extremamente necessárias. É a partir delas que podemos mudar condutas e pessoas, que serão capazes de relacionar-se de forma mais consciente e racional com o mundo e com os outros.

RESULTADOS E DISCUSÕES

Após as entrevistas que foram aplicadas durante o mês de abril do ano de 2008, com 25 pais e 37 alunos de 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental na Escola Municipal Ricieri Berté localizada no município de Santa Cruz do Xingu-MT, foi possível realizar um levantamento considerando o manejo, a concepção, o destino e os impactos negativos causados por resíduos sólidos à saúde da população e ao meio ambiente.

Com base nas entrevistas realizadas com os pais obtiveram-se os seguintes resultados:

Com relação ao tipo de acondicionamento do lixo, pode-se constatar que para acondicionarem o lixo gerado em seus domicílios, 46% dos entrevistados afirmaram utilizar sacolas de supermercado, 30% latas ou similares e 23,4% sacos plásticos. Verificamos que o fato das sacolas plásticas terem sido predominante na pesquisa foi devido a fácil acessibilidade, pois são adquiridas freqüentemente quando as pessoas vão ao supermercado. Isto evidencia que é necessário desenvolver políticas de sensibilização da comunidade e comerciantes a fim de reduzir a dispersão de sacolas plásticas no meio ambiente.

“a gente sabe que o problema maior do lixo é gerado por recipientes: sacolas plásticas, garrafas pet e outros. Neste sentido estamos realizando parcerias com o projeto “XINGU MATA VIVA” onde estaremos propondo aos comerciantes a substituição das sacolas plásticas por sacolas de TNT, uma vez que é mais durável e pode ser utilizada por várias vezes” (Secretário Municipal de Meio Ambiente de SCX)

Quanto à composição do lixo, verificou-se que 21,1% era composto por plásticos, 21,1% papéis, 12,7% latas, 11,8% vidros, 10,5% compostos orgânicos, 8,4% pilhas e baterias, 6,7% lâmpadas, 5,0% trapos e 2,5% outros tipos de lixo.

No que diz respeito à coleta do lixo, 100% dos entrevistados relataram que o lixo produzido é coletado por um caminhão terceirizado pela prefeitura que passa nas residências três vezes por semana. Porém esta coleta não é seletiva sendo que o lixo é depositado para coleta sem nenhum processo de separação.

Baseando-se na informação do modo como o lixo é depositado para a coleta, 64% dos entrevistados afirmaram possuir cesto próprio de lixo e 36% relataram que o lixo é colocado em frente à casa no chão, vale ressaltar que o lixo quando colocado no chão, gera uma série de fatores preocupantes, pois o vento quanto animais domésticos podem dispersá-los, provocando poluição, aumentando a probabilidade de vetores nocivos.

Referente ao destino do lixo produzido obteve-se os seguintes dados: 73% dos entrevistados afirmaram que o lixo após ser coletado, é transportado para o lixão, 23,2% não sabem para onde o lixo é levado e 3,8% disseram queimar o lixo.

Em visita a este local indicado pelos entrevistados, constatamos que o lixão é localizado em um local impróprio à aproximadamente seis quilômetros de distancia do núcleo urbano da cidade, onde abriram uma clareira no meio da mata e ali depositam o lixo em valas a céu aberto o qual é queimado periodicamente sem nenhum controle sanitário. Após esta visita procuramos os representantes do legislativo e secretaria de meio ambiente a fim de obter informações sobre a postura da secretaria em relação aos problemas ambientais provocados pelo lixo, condições sanitárias do lixão e existência de indicação ou lei por parte do legislativo para construção de um aterro sanitário.

“todo produto é levado pro lixão, e este lixão ainda não é um aterro sanitário, fica a céu aberto e o próprio parceiro que está coletando o lixo tem feito a queima de trinta em trinta dias, o local que está sendo colocado o lixo ainda não é adequado, pois está muito perto da população urbana, vai ter que ser escolhido outro lugar. Nos estamos buscando parcerias com a secretaria de estado de meio ambiente e ministério da saúde para que se faça um aterro sanitário definitivo e ainda com a SETEC para que possamos estar utilizando parte deste lixo em trabalhos manuais, artesanais e reciclagem.” (secretário Municipal de Meio Ambiente de SCX).

“Estamos cientes de que precisa ser feio um aterro, até porque existe uma série de políticas para não queimar esse lixo hoje. O aterro seria uma alternativa, se não, para onde vai tanto lixo? Para isso precisa passar por uma série de etapas, fazer uma emenda parlamentar e através da FUNASA, Prefeitura e Câmara, liberar recursos. Precisa da liberação da SEMA da área para construção por causa das questões ambientais. Precisa de um engenheiro para que siga todas as normas”. (Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de SCX).

Quando questionados se possuem conhecimento dos danos que o lixo causa a saúde, 96% dos entrevistados afirmaram conhecer os danos e 4% disseram não possuir conhecimento algum sobre o assunto. Alguns entrevistados até citaram algumas doenças que podem ser causadas pelo lixo, as mais citadas foram: dengue, doenças infecciosas, malária e outras.

Verificou-se que 93,6% dos entrevistados também são conhecedores dos problemas ambientais que o lixo pode causar ao meio ambiente e 6,4% não possuem conhecimento a respeito do assunto. Apesar de a maioria possuir consciência dos problemas, nota-se que muitos não sabem descrevê-los ou mesmo identificá-los, o que deixa claro que é necessário se realizar um trabalho comunitário que vise mostrar para a comunidade os reais problemas que o lixo pode causar.

Perguntamos aos pais se a escola desenvolve trabalhos que abordam a problemática e os impactos negativos causados pelo lixo e 56% dos entrevistados afirmaram que sim, pois acompanham seus filhos na escola e sempre comentam o que aprendem em casa, 32% afirmaram que não. Entrevistamos a coordenadora responsável e percebemos que os trabalhos desenvolvidos pela escola são interdisciplinares e sobre os temas transversais, mas existe um projeto a ser realizado no segundo semestre do ano letivo de 2008 o qual envolverá alunos e a comunidade local com proposta de sensibilização.

“até o momento aconteceram alguns trabalhos esporádicos em algumas turmas, mas a escola está com um projeto para uma mobilização geral da comunidade para sensibilização a respeito do assunto que será realizado no segundo semestre e culminará com uma feira ambiental” (Coordenadora Pedagógica da E.M.R.B)

Também perguntamos aos pais se acham importante a escola desenvolver trabalhos específicos que abordem a problemática do lixo, e 100% dos entrevistados responderam que é muito importante o que evidencia que os pais atribuem a responsabilidade para a escola, em nenhum momento da pesquisa, relataram que também são responsáveis e podem orientar os filhos em casa.

Quando analisado os resultados das entrevistas com alunos, sobre seus conhecimentos a respeito dos danos causados pelo lixo à saúde, foi constatado que 97,2% dos alunos afirmaram que o lixo provoca danos a saúde, e citaram alguns exemplos de doenças como: dengue, diarréia, vômito, febre e dores no corpo. Enquanto 2,8% dos alunos acreditam que o lixo não causa danos a saúde e não souberam justificar.

A maioria dos alunos (89,2%) demonstraram que estão bem informados das conseqüências que o lixo pode provocar ao meio ambiente, entre estas citaram: poluição dos rios, extinção de animais, poluição do solo, contaminação do ar, destruição da camada de ozônio e inundações. Enquanto 10,8% relataram não possuir conhecimento dos danos que o lixo causa ao meio ambiente.

Questionamos os alunos se a escola tem desenvolvido trabalhos de sensibilização sobre os impactos ambientais provocados pelo lixo, 86,4% dos alunos responderam que sim e 13,6% disseram que não.

Perguntamos ainda se consideram importante a escola desenvolver trabalhos que abordem temas sobre a saúde e o meio ambiente onde 100% dos alunos responderam que sim, demonstrando possuir consciência a respeito da influencia exercida pela escola perante a sociedade. Ao compararmos as respostas de pais e alunos a respeito da atuação da escola e sua relevância, os resultados obtidos evidenciam que há uma transmissão de informações aprendidas em sala de aula.

Considerando que a preservação do meio ambiente é dever de todos, indagamos aos pais e alunos sobre as possibilidades de colaboração para prevenção de problemas ao meio ambiente onde as respostas obtidas foram: não jogar lixo nas ruas e rios, praticar coleta seletiva e reciclagem, e não jogar lixo na natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resíduos gerados nas residências, quando não avaliados criteriosamente acarretam graves problemas ao meio ambiente e à saúde pública quanto ao seu destino. Ao entregar, por exemplo, o lixo para o caminhão coletor, pensa-se muitas vezes, que o problema terminou, pois o lixo é levado para longe do alcance visual. Entretanto, é neste momento, que os problemas estão começando.

Pelo exposto neste trabalho, percebeu-se que a comunidade escolar possui informações a respeito dos problemas que o lixo pode acarretar a saúde e ao meio ambiente e sobre a importância do manejo correto de resíduos sólidos o que refuta a primeira hipótese. Mas, no entanto há ausência de políticas públicas voltadas para a coleta e destinação do lixo e pouca freqüência de trabalhos desenvolvidos pela escola comprovando a segunda e terceira hipótese.

A escolha e seleção de uma área para implantação de um aterro sanitário, devem estar embasadas em estudos que considerem as particularidades do município de Santa Cruz do Xingu no que tange a seus aspectos naturais e sócio-econômicos.

Para que um programa de educação ambiental aconteça de forma coesa em Santa Cruz do Xingu, é necessário que o maior número de segmentos da sociedade participe como um todo, em favor de objetivos em comum, cada um com suas possibilidades próprias de auxílio à proposta, sendo de suma importância a participação efetiva de todos os integrantes da instituição de ensino, do poder público e da sociedade em geral, professores, alunos e comunidades escolares devem engajar-se nos esforços do desenvolvimento de ações em educação ambiental, no desejo de contagiar, envolvendo a todos, para uma boa produção, um bom resultado, promovendo discussões e construção de conceitos de forma coletiva, visto que muitos fatores ambientais, econômicos e sociais, estão envolvidos e são responsáveis pela degradação do meio ambiente. Para isso, é necessário conhecer os problemas e tentar solucioná-los de forma conjunta, inspirando a consciência de que preservar é preciso.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS-ABNT, NBR 10.00 4-Resíduos sólidos: classificação. São Paulo. 63 p.1987

AZEVEDO, Cleide Jussara Cardoso de. Concepção e prática da população em relação ao lixo domiciliar na área central da cidade de Uruguaiana- RS. Uruguaiana, PUCRS- Campus II, 1996. Monografia de pós-graduação. Educação ambiental.

BRASIL. Secretaria da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos – apresentação dos temas transversais. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

Brasil, Constituição (1998) – Constituição da República Federativa do Brasil – Texto Constitucional de 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas emendas constitucionais n° 1/1992 A 30/2000 e Emendas Constitucionais de Revisão nº. 1 a 6/1994. Ed. Atual em 2000 – Brasília: Senado Federal, Gabinete do 4º Secretário, 200. 516 p.

CORREA, Saionara Escobar de Oliveira . O conhecimento da problemática ambiental do lixo na visão dos alunos de 5a a 8a séries em escolas municipais de Itaqui- RS. Uruguaiana, PUCRS- Campus II, 2001. Monografia de pós-graduação. Educação.

DOS ANJOS, Maylta Brandão. Educação Ambiental na abordagem interdisciplinar: experiência do Colégio Cenecista Capitão Lemos Cunha. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.

FERREIRA, J.C.V. Mato Grosso e Seus Municípios - Cuiabá: Secretaria de Estado da Educação, 2001. 660p.: ret.; 23cm.

LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.

LEI Nº. 7.888, DE 09 DE JANEIRO DE 2003, que dispõe sobre a educação ambiental do Estado de Mato Grosso.

LEMOS, Jureth Couto; LIMA, Samuel do Carmo. Segregação de resíduos de serviços de saúde para reduzir os riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Bioscience Journal. Vol.15, n.2,. Uberlândia: Universidade federal de Uberlândia, 1999.

MACHADO, C. & PRATA FILHO, D. A., 1999. Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos em Niterói. In: 20º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Anais, CD-ROM III. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental.

OLIVEIRA, Walter Engracia de. Resíduos sólidos e limpeza urbana. USP: FSP: PNUD: OMS: OPS: PIPMO: MEC. São Paulo, 1973.

PAVAN.Margareth Oliveira, Gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil -Revista Sustentabilidade.2007.

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www.ibge.com.br Acesso em 30 der maio de 2008 sexta feira 14h20 min.
Autor: Vinicius Batista da Silva | Graciela Morais Sales | Ivone Lima de Almeida | Daiane Goulart F. Barreto


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