Diversidade Lingüística e Culturais Presentes na Produção de Textos de Alunos da EJA em Escolas Rurais do Município de Ariquemes - RO



José silva do Nascimento - Pós- graduando em Língua Portuguesa e Literatura  pela FAMA, Graduado em Pedagogia pela FIAR especialista em Psicopedagogia e Gestão Escolar pelo Instituto Cuiabano de Educação -  ICE.

Salete Ribeiro de Moraes - Pós-graduanda em Língua Portuguesa e Literatura pela FAMA, Graduada em Pedagogia pela FIAR em 1999, Especialista em Supervisão Escolar, pela UNIR.

Vicente Paulo de Souza - Pós-graduando em Língua Portuguesa e Literatura pela FAMA, Graduada em Pedagogia pela FIAR em 1999, Especialista em Supervisão Escolar, pela UNIR.

RESUMO

Esse artigo foi elaborado com base em produções de textos de alunos da EJA do primeiro segmento na área rural do município de Ariquemes-RO. Tem como objetivo analisar a diversidade cultural e lingüística no município através dos textos produzidos pelos. Alunos de diversas escolas rurais do município produziram texto contando sua história de vida incluindo a suas vindas para o estado de Rondônia, principalmente para o município de Ariquemes. Os textos foram analisados criteriosamente pelos autores do artigo, embasados com a parte teórica do trabalho e finalmente apresentando o resultado final do trabalho, além de possibilitar perspectiva para estudiosos aprofundar esse estudo. Palavras-Chave: Diversidade cultural, produção de texto, alunos da Eja, estudiosos.

INTRODUÇÃO

Esse artigo apresenta um estudo sobre a diversidade cultural e lingüística no município de Ariquemes – RO, usando como recursos para o estudo produções de textos de alunos da EJA. A clientela de alunos que participaram com as produções de textos nesse artigo são estudantes do primeiro segmento da EJA na área rural do município, são oriundos de diferentes regiões do Brasil que migraram para o estado de Rondônia na sua grande maioria nas décadas de 70 e 80 com o intuito de adquirir terra para trabalhar na agricultura familiar. Portanto as produções apresentadas por eles existem uma riqueza cultural muito variada com significados explícitos dos seus locais de origem. Para a realização desse estudo foram analisados textos de aproximadamente 80 alunos.

Nessa perspectiva esse trabalho aqui apresentado possui uma relevância muito grande no que diz respeito à diversidade cultural e lingüística e a educação de jovens e adultos muito contribuiu para concluir esse trabalho, pelas as informações que serão apresentadas. O objetivo maior desse trabalho é demonstrar a grande variedade cultural que se concentrou no município a partir da formação da sua população.

A escolha de turmas da educação de jovens e adultos para sustentar essa investigação não foi por acaso, mas sim, por entender que a clientela de alunos que voltaram a estudar na EJA rural em Ariquemes é oriunda do processo migratório que sofreu o município nas décadas de 70 e 80.Acreditou-se que as informações fornecidas por eles através dos textos serviriam de uma grande fonte de pesquisas para realizar esse estudo. Acredita-se ainda que esse artigo ainda poderá servir para outros estudiosos que pretendam estudar a formação étnica racial da população de Ariquemes e grande riqueza cultural que se concentra nesse município.

Esse artigo está organizado em três principais partes. A primeira apresenta uma síntese da diversidade lingüística e cultural do Brasil, a segunda apresenta um breve histórico da Educação de Jovens e finalmente a terceira parte apresenta as produções de textos de alunos da Eja, contando historias diferentes de suas vidas, contos carregados de significados e ligações culturais com seus estados de Origens. Nas considerações finais desse trabalho os autores fazem um breve comentário sobre ariqueza cultural do município a partir das produções de textos dos alunos.

1 - DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA E CULTURAL NO BRASIL

O Brasil um pais multilíngüe, embora muitos tenham a impressão de viver num país monolíngüe, porém a única singularidade lingüística do Brasil está em que uma dessas línguas, o Português que é a língua falada por 185 milhões de brasileiros, que vivem dentro e fora do país.As outras línguas faladas no Brasil correspondem a um percentual de 0,5% distribuídas em idiomas diferentes como: o japonês, chinês, coreano, árabe, Armênio, Alemão, Polonês, Grego Moderno, Húngaro, Ucraniano, lituano e pelas línguas indígenas.

O Brasil além de ser um pais multilíngüe ainda possui uma grande variação dialetal, isso em conseqüência do seu imenso território geográfico, da herança da formação dos habitantes das regiões brasileiras e das imigrações que ocorreram no interior de cada uma delas. Essa variedade dialetal é característica da língua portuguesa, muitos desses dialetos possuem uma acentuada diferença lexical em relação ao português padrão, entretanto não prejudicam a comunicação entre os locutores de deferentes dialetos.

No Brasil, o dialeto preferido é o falado e muito mais escrito pelos habitantes cultos das grandes cidades. Dentre Maiores dialetos da Língua Portuguesa brasileira destaca-se:

a) Caipira – interior do estado de São Paulo, norte do Paraná e sul de Minas Gerais

b) Cearense – Ceará

c ) Baiano – região da Bahia

d) Fluminense (ouvir) – estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo (a cidade do Rio de Janeiro tem um falar próprio )

e) Gaúcho – Rio grande do Sul

f) Mineiras – minas gerais

g) Nordestino (ouvir) – Estado do nordeste brasileiro (o interior de Recife tem falares próprios

h) Nortista – Estado da bacia do Amazonas

i) Paulistana – cidade de São Paulo

j) Sertão – Estados de Goiás e Mato Grosso

l) Sulista – Estado do Paraná e Santa Catarina

Essas variedades da língua falada no Brasil constituem - se as marcas da cultura local dos falantes que podem ser reconhecidos a sua naturalidade pela sua forma de falar. , pois os falantes adquirem as variedades lingüísticas próprias da sua região, a sua classe social.

As palavras têm várias fontes em todas as línguas que formam a sua história, no Brasil não é diferente, o português brasileiro também é assim. A fonte primária e básica da nossa língua é o latim vulgar, depois vem o latim escrito usado pela Igreja Católica e pelos intelectuais, de onde nasceram as palavras eruditas no português, outras línguas, quase sempre neolatinas, Invasões estrangeiras, Imigrações e influencia cultural de outros países. Todos esses fatores lingüísticos contribuíram para a formação da língua portuguesa falada no Brasil e as suas variações dialetais nas regiões.

Quanto a cultura sabe-se que é um dos aspectos que mais marcam um povo, revelam sua identidade. A cultura pode se apresentar de várias formas dentre elas língua, sotaques, religião, costumes, tradições, tudo isso em escala nacional e regional. A cultura e tudo aquilo que a compõe são passadas entre as gerações.O Brasil é um país que possui sua identidade cultural oriundas de outras culturas, somadas com os costumes dos nativos que aqui viviam na época da sua colonização construiu a sua identidade.

Acredita-se que o município de Ariquemes é um grande berço de culturas vindas de diversas regiões brasileiras e aqui somaram com a cultura local para criar uma identidade cultural do município.

2 - BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL

A educação de jovens e adultos no Brasil tem a sua história marcada ao longo do tempo acompanhando o processo histórico de desenvolvimento do país e automaticamente as mudanças sociais que ocorreram implicaram na sua constituição.

Com a chegada dos portugueses ao Brasil um dos objetivos da coroa portuguesa era conseguir conquistar os nativos para facilitar exploração das riquezas naturais da nova colônia, enquanto a igreja por sua vez, queria a propagação da fé cristã aos nativos da região neste contexto de interesse coroa e igreja se uniu para alcançar os seus objetivos. No dilema de interesses a presença dos jesuítas foi de fundamental relevância para processo de início da educação de jovens e adultos no Brasil entre os nativos da região, conforme ressalta Pilleti: [1]

...a realeza e a igreja aliavam-se na conquista do novo mundo, para alcançar de forma mais eficiente seus objetivos: a realeza procurava facilitar o trabalho missionário da igreja, na medida em que esta procurava a converter os índios aos costumes da coroa portuguesa. No Brasil, os jesuítas dedicaram-se a duas tarefas principais: pregação da fé católica e o trabalho educativo. Com seu trabalho missionário, procurando salvar almas, abriam caminhos à penetração dos colonizadores.

A expulsão dos Jesuítas, ocorrida no século XVIII, desorganizou o ensino até então estabelecido. Novas iniciativas sobre ações dirigidas à educação de adultos somente ocorreram durante a época do império.

A partir de 1930 começou-se a discutir a educação EJA no Brasil, mas foi no ano 1934 com a criação da constituição em que foi reconhecida como dever do estado, incluindo em suas normas a oferta do ensino primário integral, gratuito e de freqüência obrigatória, extensiva para adultos.

No ano de 1946 instalou-se o Estado Nacional de Desenvolvimento no Brasil e com isso o modelo político econômico, que até então era rural, deslocou-se para o urbano industrial, automaticamente passou a exigir dos trabalhadores mão de obra mais qualificada. Com o surgimento dessa nova demanda o MEC em 1947 promoveu a Campanha de Educação de Adolescente e Adulto (CEAA) que atuou no meio urbano e rural, no primeiro visava a preparação de mão- de- obra alfabetizada e o segundo a fixação do homem no campo.

De 1952 a 1956 outra campanha foi criada para impulsionar a educação de jovens e adultos, essa, porém foi especialmente para o setor rural, denominada (CNER) que no inicio foi ligada a CEAA.Em 1958; foi realizado o segundo Congresso Nacional de Adultos com o objetivo de avaliar as ações realizadas na área e visando propor soluções adequadas para a questão. Nesse congresso discutiu a lei de Diretrizes e bases da Educação nacional, em decorrência dos debates foi elaborado em 1962 o Plano Nacional de Educação, extinguindoas campanhas de alfabetização de jovens e adultos em 1963.

Na década de 60 com o golpe militar praticamente não houve avanço a educação de jovens e adultos, apenas sobreviveu com recursos limitados e escassos O Movimento de Educação de Bases (MEB) aliada a igreja católica.

Ainda na década de 60 um marco importante na historia da EJA surgiu a proposta de Paulo Freire, educador brasileiro que revolucionou a proposta da alfabetização nas camadas populares, apresentando um método mais significativo para os educandos da EJA, apesar das perseguições no inicio da proposta não impediu que essa se estendesse além das fronteiras brasileiras. A experiência de freire iniciou na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. E, com o sucesso da experiência, passou a ser conhecido em todo País, sendo praticado por diversos grupos de cultura popular.

Com a proposta de Freire ocorreu uma mudança de paradigma teórico metodológico no ensino da Eja que ainda hoje é grande referência nas escolas brasileiras, pois, para Freire educador e educando devem caminhar juntos durante todo o processo de alfabetização e o ensino da escola deve ter significado na vida prática do educando e o que está sendo ensinado sirva para aplicar em sua vidaSegundo Freire: [2]

Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adulto demanda, entre os educadores e educandos uma relação de autentico diálogo. Aquele em que os sujeitos do ato de conhecer (edecador-educando; educando-educador) se encontra mediatizados pelo o objeto a ser conhecido nesta perspectiva, portanto, os alfabetizados assumem desde o começo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar silaba, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o processo de ler e escrever sobre o profundo significado da linguagem

Foi nessa perspectiva deintroduzir o ensino da leitura e escrita para jovens e adultos que a proposta de Freire para alfabetização ganhou credibilidade e mudou a concepção de trabalhar a alfabetização na EJA nas escolas brasileiras atingindo atéoutros países.

A década de 70, ainda sobre a ditadura militar, marca o inicio das ações do Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, que era um projeto para se acabar com o analfabetismo em apenas dez anos, porém, o MOBRAL não alcançou o seu objetivo. Ainda nessa década no ano de 1971 foi implantado o marco mais importante na história da Educação de Jovens e adultos o ensino supletivo, que segundo Vieira[3]

Durante o período militar, a educação de adultos adquiriu pela primeira vez na sua históriaum estatuto legal, sendo organizada em capitulo exclusivo da Lei 5. 692, intitulado ensino supletivo. O artigo 24 desta legislação estabelecia com função do supletivo suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a tenham conseguido ou concluído na idade própria.

Com a implantação do ensino supletivo foram abertos centro de estudos supletivos em todo pais, uma proposta de um modelo de educação do futuro e com o objetivo de escolarizar um grande numero de pessoas. O ensino supletivo ainda é atualmente uma grande opção de escola para adequar as condições de muitos trabalhadores terem acesso ao ensino.

3- PRODUÇÕES DE TEXTOS DOS ALUNOS DA EJA DAS ESCOLAS RURAIS E MULTISSERIADAS DO MUNICÍPIO DE ARIQUEMES

A vontade de vencer buscando novos horizontes fizeram com que o projeto Ariquemes Alfabetizada, fosse uma ponte de ligação aos jovens os adultos do município de Ariquemes, acompanhando a crescente impulso desse município numa melhor qualidade de educação, e os alunos da Eja área rural estão otimistas neste contexto de ensino aprendizagem uma vez que são peças fundamentais, são anfitriões desta historia.

Após todo semestre letivo de 2008 chegaram-se ao final com a produção de uma historia com grandes honras contada por cada aluno que pretende ser publicadapara dar maior consistência ao trabalho didático pedagógico planejado por uma equipe de profissionais preocupada com uma educação de qualidade e os educandos foram que grande importância nessa relação, uma vez que ajudaram a conquistar e a marcar um grande feito na historia de nossa educação.

Jovem e adulto recém-alfabetizado são colocados quase sempre diante de dois extremos de propostas pedagógicas: uma literatura com caráter infantiliza dor ou, então, por demais complexas da realidade desses educandos.

"Aprender a ler e escrever é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, localizar-se no espaço social mais amplo, a partir da linguagem. Pensamos como Paulo Freire (1979)[4] que o homem está no mundo e com o mundo, produzindo-o e transformando-o, preenchendo com a cultura os espaços geográficos e os tempos históricos."

Todos os alunos fizeram suas produções tendo como foco principal descrever histórias de contos antigos, falar de sua vida de seu ingresso na Eja, os professores e coordenador pedagógico contribuirá com os recursos necessários para a produção de dessas histórias.

Após realização de todas as produções de autoria dos alunos as mesmas foram editadas com os nomes de todos os autores, transcrito na integra todas as emoções, e inspirações que foram desenvolvidas pelos educando. Ao produzir sua própria experiência de vida estará os jovens e adultos resgatando parte de uma cultura que esquecida pelo preconceito popular, o sábio provérbio "nunca é tarde para aprender "vem sugerir a capacidade que detêm esses educandos, os textos intitulado "minha historia" visa elevar a auto-estima dos alunos da referida modalidade de ensino e oferecer um rico material de pesquisa para a conclusão desse trabalho..

A produção de texto contando sua realidade é uma forma dos alunos Jovens e Adultos estarem nos demonstrando o quanto é importante buscar caminhos através de suas forças, com seu vocabulário próprio, suas formas de expressar é extremamente rico e importante para resgatar a cultura dos dialetos regionais, podemos através desta constatação verificar que a migração da população do nosso município retrata as origens de outros estados brasileiros.

Fica explicito nas produções dos alunos as dificuldades durante as viagens realizadas de várias partes deste imenso Brasil até chegar a esta terra prometida chamada Rondônia, principalmente na década de 70. O desbravar do então território contou decisivamente com a coragem destes heróicos pioneiros, povo humilde, hordeiro, que buscavam acima de tudo possuir um pedaço de terra onde poderiam viver dignamente com suas famílias, culturar, criar, ampliar no dia-a-dia o progresso do rico estado de Rondônia.

Acredita-se que ao dar importância aos alunos democraticamente realiza-se trocas de informações e conhecimentos adquiridos ao longo dos tempos, dividindo-se as responsabilidades no que diz respeito ao ensino e aprendizagem, como dizia o grande educador Paulo Freire: "Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa, por isso aprendemos sempre".

Apresentam-se aqui algumas produções que servirão de analise nesse trabalho e responder a problemática levantada nesse estudo.

José Camilo Facundo[5]

HISTÓRIA DA MINHA VIDA

Eu vim do Paraná no ano de 80 vim de pau-de-arara[6] foi muito difícil, naquele tempo não existia asfalto só era estrada de chão.

Naquele tempo gastemos 7 dias e 7 noites de viagem mas chegamos com saúde em Ariquemes no dia 29 de abril de 1980.

Rosa Benedita da Silva Santos[7]

COMEÇO DA NOSSA HISTÓRIA DE MIGRAÇÃO PARA RONDÔNIA

Viemos de Medianeira Paraná chegamos em Ariquemes no ano de mil novecentos e setenta e sete, o meu marido chegou um mês depois porque não conseguiu guia para a mudança.

Quando nós chegamos aqui era tudo mata o hospital do nosso prefeito era lá na Vila Velha, olha eu tive sete filhos! Cinco vieram do Paraná, dois eu tive aqui, olha foi muito sofrido por causa da malária.

Nós enfrentamos muitas dificuldades porque a situação financeira era pouca e o lugar era muito duentil.

Agora graças a Deus não perdemos ninguém da nossa família, meus filhos já estão casados e já me deram doze netos. E moramos todos no lote que pegamos do Incra naquela época a gente não enricou, mas também não falta nada para todos nós.

Isso nós agradecemos a Deus, agora aqui em Ariquemes está muito lindo, Ariquemes cresceu muito temos tudo o que precisamos

Maria Francisca Bailiot[8]

MINHA HISTÓRIA

No ano de 1966 em que meu sogro vendeu as terras para comprar mais terras no Paraná, mas as terras do Paraná eram muito caras e nosso dinheiro não dava para comprar, então viemos para Rondônia de pau-de-arara[9] e gastamos muitos dias para chegar em Rondônia, ficamos morando na beira do rio Machado que se chamava Vila de Rondônia hoje Ji-Paraná, e moramos ali mais de três meses.

Lá dava muita malária todo o povo pegava malária até nos macacos, e morria muitas pessoas tinha de até 4 pessoas, e nós ficamos com medo de nossos filhos morrerem também, e voltamos para o Espírito Santo não tinha ônibus fomos de carona até Rio Preto em São Paulo, e de lá fomos de ônibus até Vitória no Espírito Santo.

Embarquemos de trem até Colatina, de lá de ônibus no Rio Norte os meus pais moravam lá, a mais de três anos.

Em outubro de 1969 os meus pais inventaram de vender as terras para comprar mais terras em Rondônia e nós viemos juntos de novo, e agora é para sempre nunca mais voltamos e nós sofremos muito mas agüentamos até agora, já estamos com 38 anos de Rondônia já moramos em vários lugares, muda pra cá, muda pra lá, já morei em Vila de Rondônia que hoje se chama Ji-Paraná, de lá fomos para Riozinho lá moramos um ano e meio e mudamos para Ouro Preto onde moramos 6 anos, de Ouro Preto viemos para Ariquemes mas já está com 30 anos.

Esqueci de dizer que quando viemos a segunda vezpara Rondônia nós viemos duas vezes de pau-de-arara, foi um sofrimento a e primeira vez com a família do meu sogro e a segunda com a família do meu pai, e todos os meus irmãos foi um sacrifício e choramos muito nervosos mas não desistimos, agora já estou velha com 62 anos mas estou contente estou estudando na 3ª série e moramos na beira da estrada, muita poeira e lamamas estou feliz e aqui termino minha história.

Carlos Ferreira dos Anjos[10]

MINHA HISTÓRIA

Eu me chamo Carlos, tenho 26 anos sou amigado[11], vim do estado do Paraná moro no município de Ariquemes trabalho na roça, parei de estudar com 16 anos. Voltei a estudar agora dez anos depois, gosto de histórias e músicas sertanejas, gosto de fazer novas amizades.

Tenho cinco irmãos moro na Linha C 60 BR 421 TB 40, minha primeira professora foi Yonete Carneiro Correia. Eu adoro contar piadas, e histórias para meus amigos, já estou na 4ª etapa.

Juarez de Jesus Pedroso[12]

MINHA HISTÓRIA

Eu me chamo Juareztenho 44 anos tenho 6 filhos vim de Porto Seguro estado da Bahia, cheguei aqui em Rondônia no ano de 1984 eu vim de ônibus, hoje moro na Linha C 60 BR 421, tenho 12 anos que moro nesta linha, já aconteceram muitas coisas em minha vida.

Eu já morei em várias linhas com minha família, tudo o que aconteceu em minha vida foi tudo de bom. Eu comecei a estudar em 2006 parei, agora estou em 2008 comecei de novo, já estou fazendo a 2ª etapa e prendendo continuar estudando

Zenita Maria Martins Coelho[13]

MINHA HISTÓRIA

Eu me chamo Zenita Maria, tenho 48 anos sou casada, tenho três filhos, vim do estado de Minas Gerais cheguei em Rondônia no município de Ariquemes em 91, minha viagem foi de ônibus com minha família.

Voltei a estudar 40 anos depois e estou fazendo a 3ª etap

Lina Rocha Lima[14]

MINHA HISTÓRIA

Eu nasci no estado de Mato Grosso do Sul, no dia 08/03/1950, tive uma infância muito boa ao lado dos méis pais e dos meus irmãos nós somos em11 7 homens e 4 mulheres só não pude estudar, mas aprendi a assinar o nome.

Com 17 anos eu me casei com um jovem de 21 anos, ele é muito lindo e bondoso, eu aprendo muito com eu e ele fomos morar em uma fazenda, ele era capataz[15] da fazenda eu me sentia orgulhoso por ser esposa dele.

Depois de 1 ano e 4 meses nasceu minha filha Jandira depois de 2 anos nasceu o meu filho Jandilson depois 6 anos nasceu minha filha Luciana, fiquei na minha terra natal até os 26 anos de idade e mudei para o estado de São Paulo em uma fazenda por nome de Santa Rita no município de Araçatuba.

Lá moramos 2 anos mudei para outra fazenda por nome de gavião lá moramos mais 2 anos aí nós compramos uma chácara mudamos para lá moramos 5 anos aí mudamos para Rondônia no ano de 1984, saímos no dia 4 e chegamos no dia 7 de agosto ao meio dia nós viemos em um caminhão boiadeiro nos trouxemos 17 vacas, 1 touro,e 1 cavalo, foi uma boa mudança com esperança no futuro já se passaram 24 anos aqui estou com minha família feliz, obrigado meu Deus.

Não fiquei rica de dinheiro, mas tenho esperança de ficar e poder fazer a casa do meu sonho, mas sou muito feliz com a amizade com os colegas, da sala de aula, com os vizinhos, com a comunidade e com os irmãos na fé.

Eu sou muito feliz por estar realizando o meu sonho de estudar eu preciso de aprender a ler e a escrever para mim fazer um lindo livro da minha história vai ser uma linda história eu vou vender e vou vencer, vendendo 1 milhão de livros, vou ficar mais feliz e fechar com chave de ouro abençoado por Deus.

Maurilene Costa Lima[16]

DE SÃO PAULO PARA RONDÔNIA

Quando chegamos em Ariquemes pegamos um ônibus até a metade do caminho e seguimos o restante a pé eu carregava uma mala e uma menina e outra vinha chorando atrás, 15 anos de Rondônia não voltei embora estou em Rondônia sou agricultora tenho 42 anos e tenho uma oportunidade de estudar.

Durvalina Pereira da Silva[17]

MINHA VIDA

Nasci no estado da Bahia no município de Porto Seguro onde eu cresci e me casei. E depois de um ano vemos para o estado do Espírito Santo, lá moramos 8 anos no município de Pinheiros, trabalhamos de arrendatário com lavoura de café.

Mas nós tínhamos um sonho de ter uma terra para criarmos nossos filhos, trabalhamos de meeiro[18] era muito difícil, até que um dia resolvemos mudar para Rondônia.

Sem conhecer, sem saber, se Rondônia era um bom lugar para morar, quando deixamos o Espírito Santo enfrentamos uma viagem muito difícil, mais de 15 dias para chegar em Rondônia, isso era por volta de 1974.

Quando nós chegamos em Ouro Preto, ficamos morando um ano, conseguimos umapropriedade abandona mas o dono reivindicou seu direito e tivemos que deixar o lote e procurar outro lugar. E as coisas eram muito difíceis naquela época Sem dinheiro, sem lavoura, para trabalharera muito difícil.

Nós ficamos sabendo que no município de Ariquemes estavam dando muita terra, então viemos para Ariquemes por volta de 1975, quando chegamos em Ariquemes tudo era muito difícil, a cidade estava começando, só tinha uma rua, enfrentamos muita dificuldade porque tinha muita malária muitas pessoas morreram.

Eu sofri muito com malária, em 1976, meu esposo ganhou um lote do incra e enfrentou mais dificuldade não tinha estradas, tinha que andar nas picadas[19],muitas vezes doente com malária nossa vida foi sofrida.

Naquele tempo, nesta mesma época eu já tinha seis filhos mais com muita doença, malária, sarampo, morreram três filhos pequenos, meu sofrimento aumentou ainda, mais em 1979 meu esposo também morreu, fiquei com três filhos sozinha mas eu não desanimei, sem dinheiro para ir embora tive que enfrentar sozinha, trabalhei dei estudo para meus três filhos.

A história da minha vida é muito sofrida nasci em 1950, quando era pequena não tive oportunidade de estudar porque as escolas na época era difícil mas hoje comm 58 anos de idade consegui estudar agora já sei ler e escrever eu estou contente

Dolores Goulart de Oliveira[20]

Hoje estou escrevendo para contar a minha história quando eu morava no Paraná o nome do lugar Poço Azul. Era um dia bem cedinho o sol saiu bateu o esplendor, muito quente ele queimou o vento, ele esfriou a nuvem encobriu veio a chuva me molhou, veio o sol e me enxugou.

Era um barraco de tabinha[21] caindo aos pedaços, mas a chuva me continuou fiquei apavorada, falava Santa Clara! Clareou São Domingos! Iluminou.

Esta é a raposa do barraco de tabinha eu era uma dona de casa muito pobre não tinha nada mas era feliz, porque tinha muita amizade vim para Rondônia hoje estou velha e cansada e muito honrada, eu não tinha liberdade antes, hoje só a saudade dos amigos, parentes, que ficou para trás.

Aqui eu tenho comadres a escada da felicidade, a vida só é boa para quem sabe viver porque o sol que nasce a nossa volta ilumina nossa vida, esta é a história da minha vida e do barraco de tabinha.

Jocimar Souza Silva[22]

MINHA HISTÓRIA

Nasci em Ariquemes no ano de 1982 comecei a estudar com sete anos, no meu primeiro dia de aluna foi muito divertido minha professora era muito legal, eu e meus amigos brincávamos todos os dias. No final do ano não tive a oportunidade de passar para a 2ª série, e não pude acompanhar meus amigos.

Minha escola era um pouco longe e eu vinha de bicicleta com meus amigos, quando chegava na escola ia brincar o resto dodia, meus hoje estão estudando na 5ª série.

Eu sempre tive dificuldade na escola nunca parei de estudar e sempre fiquei na 1ª série.

Comecei a estudar a noite e fiquei dois anos e meio na 1ª série, do meio do ano de 2008, com muito estudo consegui passar para a 2ª série e se Deus permitir quero passar para a 3ª série no final do ano.

Hoje tenho 16 anos e estou na 2ª série, essa foi minha história.

PRODUÇÃO ESCRITA DOS ALUNOS DA EJA NA ÁREA RURAL DE ARIQUEMES, E AS MARCAS DA DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA E CULTURAL

Esse trabalho foi desenvolvido em escolas rurais e multisseriadas[23] no município de Ariquemes-RO, com o objetivo de verificar nas produções de texto dos alunos do primeiro e segundo seguimento da Educação de Jovens e Adultos a presença da diversidade cultural e lingüística nas produções de textos.

Foram analisados os textos produzidos pelos alunos contando a historia da sua vida em Rondônia. Na análise dos textos o primeiro ponto a ser analisado foi à naturalidade de cada um para saber de que região ou estado brasileiro pertenciam cada aluno. Quanto esse requisito a pesquisa apontou o seguinte resultado expresso no gráfico abaixo.

GRÁFICO DE NÚMERO 01: REPRESENTATIVO DA NATURALIDADE DOS ALUNOS ENTREVISTADO

Fonte: pesquisa realizada em setembro e outubro de 2008

Observa-se no gráfico que os alunos entrevistados vieram de vários estados e regiões brasileiras, com predominância nos naturais do estado Paraná. Sabe-se que diante dessa realidade pesquisada há uma grande diversidade cultural e lingüística na formação dessa comunidade. Segundo Declaration on cultural diversity[24] "O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de idéias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente".Acresitas-e que a presença de pessoas de diversas parte do país com dialetos carregados de significados diferentes tem grande influência na produçãoescrita.

A riqueza cultural expressa na linguagem das pessoas oriundas de todas as regiões do Brasil nas turmas da Ejatanto na linguagem oral e escrita apresenta traços marcantes da região em que migraram.

GRÁFICO DE NÚMERO 02 DEMONSTRATIVO DA DÉCADA QUE OS ALUNOS MIGRARAM PARA RONDÔNIA

Fonte: pesquisa realizada em setembro e outubrode 2008.

Os dados da pesquisa realizadaaponta queosalunos entrvistados migraram para Rondônia em sua mauioria nas década de 70 e 80, época em que um grande fluxo de pessoasde todas as partes do Brasil vieram para Rondonia.Segunda apesquisa realizadano saite Wikipedia.org.wiki/ariquemes,[25]

Em 1975 o INCRA iniciava a distribuição de 4.666 lotes de 100 HA de terras no Projeto denominado Marechal Dutra, e em 1976 mais l.555 lotes de 250 HA do Projeto Burareiro. Começava o novo e definitivo ciclo de desenvolvimento da Região. Diariamente chegavam centenas de pessoas para receber gratuitamente do INCRA os lotes de terras, na esperança de uma vida melhor.

Essa migração trouxe para Ariquemes sua história sua cultura e conseqüentemente influenciou a cultura local, as marcas estão explícitas também nos dialetos falados no município. Neste contexto a escola, principalmente as que trabalham com turmas da EJA, reflete muito mais essa influência cultural na produção escrita de dos alunos.

GRÁFICO DE NÚMERO 03: DEMONSTRATIVO DA FAIXA ETÁRIA DOS ALUNOS ENTREVISTADO.

Fonte: Pesquisa realizada pelos autores em setembro e outubro de 2008

A Eja Educação de Jovens e Adultos trás em sua cultura no contexto de educação uma população com idade que em sua essência já vem com grande embasamento e experiência de vida, suas dificuldades vividas em outrora ajuda a resistir sua presença em sala de aula, o gráfico acima demonstra que as dificuldades encontradas por estes alunos se traduz em uma idade onde tudo se torna mais difícil, compromissos familiares, problemas de saúde, questões financeiras, cansaço, distância da escola dentre outros fatores que têm influencia decisiva no rendimento do ensino-aprendizagem.

Buscou-se através desses resultados desenvolver na Eja rural 1º segmento quanto algo que fosse de fundamental importância a esses alunos e chegou-se a conclusão de que a história de suas vidas contadas por suas próprias mãos seria a melhor forma encontrada de garantir a permanência desses estudantes em sala de aula e entender a riqueza cultural e lingüística que trouxeram para o município no período da sua colonização

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história de um povo juntamente com os seus costumes, crédulos, tradições, culinária, festas, dialetos e outros forma a sua identidade. Nesse contexto vale ressaltar Ariquemes como produtora de um grande potencial de riquezas culturais pelo grande contingente de pessoas que migram para esse município no período da sua colonização.

Dados da pesquisa realizada nesse trabalho apontam através da produção de textos de alunos da EJA na área rural o grande contingente de pessoas que migraram para Ariquemes na época da sua colonização. O município recebeu a partir da década de 70 pessoas oriundas de todas as regiões brasileiras. Para tanto vale ressaltar que Ariquemes teve seu maior índice migratório apontado pelas pesquisas realizados com os alunos mais precisamente no ano de 1977, data essa de emancipação deste município.

Diante dessa realidade pode-se observar a diversidade cultural que esses migrantes trouxeram para o município. São exemplos dessa riqueza cultural: a festa do porco no rolete de origem paranaense, as festas juninas de origem mineira, a festa do peão de boiadeiro de origem paulista, o chimarrão, o churrasco, o tererê que vieram de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o vatapá e a cultura do cacau originário da cultura baiana, o cultivo do café de origem dos estados de São Paulo, Espírito Santo e Paraná. Em fim, a grande riqueza cultural do município de Ariquemes retrata a diversidade de culturas somaram a cultura local da região.

Observa-se que a riqueza cultural expressa nas produções de textos dos alunos descritos nesse artigo demonstra a grande variação lingüística que o município possui. Palavras usadas em diversos estados brasileiros passaram a fazer parte do vocabulário léxico dos ariquemenses. Analisando-se os textos deparou-se com palavras típicas de outras regiões que somaram com a cultural local para enriquecer a cultura lingüística tais como: pau-de-arara, amigado, capataz, arrendatário, barraco de tabinha, picadas e outras

De acordo com Wikipédia, a enciclopédia livre[26]:

Diversidade cultural engloba as diferenças culturais que existem entre as pessoas, como a linguagem, vestimenta e tradições, bem como a forma como as sociedades organizam-se conforme a sua concepção de moral e de religião, a forma como eles interagem com o ambiente etc.

Nessa perspectiva pergunta-se, será que o município de Ariquemes pode ser considerado o berço da cultura brasileira?Pela sua grande mistura regional e a riqueza cultural diversificada em que possui. Espera-se que esse artigo torna um grande suporte para estudiosos que pretendem continuarem a estudar a diversidade cultural do município de Ariquemes.

6- REFERENCIAS

PILETTI, Claudino. Filosofia da educação. São Paulo: Ática, 1997.

wikipedia.org/wiki/Ariquemes, acessível em 18 de setembro de 2008

Declaration on cultural diversity, UNESCO, 2001.11.(em francês) e (em inglês); Acessado em 30 de Agosto de 2008.

VIEIRA, Maria Clarisse. Fundamentos históricos, políticos e sociais da educação de jovens e adultos – Volume I: aspectos históricos da educação de jovens e adultos no Brasil. Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10ª ed. São Paulo. Paz e Terra. 2002.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Diversidade_cultural, Acessível em 29 de setembro de 2009




Autor: José silva do Nascimento | Salete Ribeiro de Moraes | Vicente Paulo de Souza


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