Aspectos Geo-Históricos do Município de Passa e Fica – RN



Márcio Balbino Cavalcante

"vista à distância, em suas relações com o homem, a geografia não é mais do que a história no espaço, do mesmo modo que a história é a geografia no tempo".

Elisée Reclus

1. Introdução

O espaço geográfico compreendido como palco das atividades humanas, é produto das relações que se estabelecem entre o homem e o meio natural. E a partir destas relações estabelecidas, surgem os "aglomerados humanos", tidos como representação da cidade, esse ambiente reflete, sobretudo, uma complexa e dinâmica interação entre os processos históricos, sócio-econômicos e ambientais.

Neste sentido, qualquer espaço geográfico, seja um país, estado ou município possui uma complexidade de fatores e ocorrências que de forma direta e/ou indireta proporciona sua origem e desenvolvimento diante das trilhas da geografia e da história.

A cidade como aglomerado humano é recente, contemporânea na história da humanidade. O homem não tinha moradia fixa e desde os primeiros de sua espécie, antes mesmo da escrita, vivia como nômade. Mesmo assim exprimia sinais de sua existência necessários a sua sobrevivência: desenhava símbolos, sinais em pedras, nas cascas de árvores, no chão, em peles de animais e nas cavernas, mais tarde fez dela sua morada (Breton, 1990).

Este trabalho tem como objetivo realizar um levantamento Geo-histórico e sócio-econômico do município de Passa e Fica - RN, como forma de levar subsídios a comunidade passa e fiquense e a todos que se interessam pelo estudo do urbano e sua dinâmica.

Para alcançarmos os objetivos desejados adotamos os seguintes procedimentos técnicos: Revisão bibliográfica e cartográfica; reconhecimento de campo; aplicação de questionários sócio-econômicos; levantamento demográfico do município e vetores de expansão (evolução urbana); caracterização geoambiental do município (estrutura geológica-geomorfólogica, solo, clima, biodiversidade e recursos hídricos).

2. Delimitação Geográfica do Município

O município de Passa e Fica situa-se em zona fisiográfica de caatinga, localizado na Mesorregião do Agreste Potiguar, está inserido na Microrregião do agreste Potiguar, entre os paralelos 6º 26' 09" de Latitude Sul e entre os meridianos 35º 38' 35" de Longitude Oeste. Passa e Fica limita-se com os seguintes municípios: Ao norte: São José do Campestre – RN e Lagoa D'anta - RN; ao sul: Campo de Santana-PB; ao leste: os municípios de Nova Cruz – RN e Lagoa D'Anta - RN; e ao oeste: Serra de São Bento – RN. Abrange uma área de 43 Km², equivalente a 0,08% da superfície estadual, inseridos na folha São José de Campestre (SB,25-Y-A-I), na escala 1:100.000, editados pela SUDENE (CPRM, 2005, p. 02).

A Sede do município tem uma altitude média de 189 m, está distante 155 km de João Pessoa - PB, 148 km de Campina Grande - PB e 105 km de Natal – RN, Capital do Estado.

3. Evolução Histórica do Município de Passa e Fica

3.1. Toponímia: origem do nome através da "fazenda" ou "bodega"?

É curioso saber o motivo de um lugar ser conhecido por determinada denominação, engraçada ou poética. A denominação dos lugares dá-se o nome de topônimo. E, ao estudo lingüístico ou histórico de sua origem, bem como ao próprio costume de atribuir-se tal denominação, chamamos toponímia.Segundo o saudoso professor Luís da Câmara Cascudo, em seu célebre livro "Nomes da Terra" (1968, p.228), obra que analisa a origem dos topônimos norte-riograndenses, comenta sobre a origem do nome "Passa e Fica":

Umas das antigas estradas para Araruna, brejos paraibanos, descendo em reta para Caiçara, Pirpirituba, ou infletindo no rumo das tradicionais feiras de gado, Mamanguape, Campina Grande, Itabaiana, tinha o derradeiro trecho norte-rio-grandense ao travessar a fronteira da Paraíba, na Fazenda PASSA E FICA. Constituía, realmente, uma passagem e daí o nome chistoso da propriedade, PASSA

Diante do relato exposto acima, Cascudo reforça a idéia de algumas cidades do Rio Grande do Norte tiveram sua origem em virtude da atividade criatória, o comércio de gado. Entre elas, Passa e Fica, que outrora era vinculado à cidade de Nova Cruz - RN, sua toponímia está vinculada primeiramente à fazenda Passa e Fica, propriedade outrora situada à margem de uma das antigas estradas de gado que ligava Nova Cruz a Serra de São Bento, cidades do Agreste Potiguar. Devido a essa função, foi estalada uma hospedaria a beira da estrada que ficava na fronteira entre o Estado do Rio Grande do Norte e o da Paraíba, ponto obrigatório de pouso e rancho que servia de descanso para os boiadeiros que conduziam seus rebanhos de gado com o objetivo de comercializá-los nas tradicionais feiras de gado da Paraíba e de Pernambuco (CAVALCANTE, 2006, p. 02).

Em suma, a origem do nome do município está ligado primeiramente a existência fazenda Passa e Fica e posteriormente, a instalação da famosa hospedaria. Em curto espaço de tempo, em torno da fazenda, da hospedaria e do posto fiscal. Assim, nesse cruzamento, iniciou-se a formação de um pequeno aglomerado de casas, e que, no dia 10 de maio de 1962, através da Lei de Criação nº 2.782, Passa e Fica se emancipou politicamente de Nova Cruz, tornando-se mais um município norte - riograndense (Dicionário Escolar do Município de Passa e Fica, 2001, p.10).

4. Ambiente Natural: dinâmica dos elementos abióticos e bióticos

4.1. Ambientes Geológico, Geomorfológico e Pedológico

Geologicamente o município de Passa e Fica - RN caracteriza-se por dois tipos de terrenos: O Embasamento Cristalino e as coberturas Colúvio-eluviais. O Embasamento Cristalino, Complexo Serrinha - Pedro Velho, aflora nas áreas mais baixas, nos vales dos rios, sua estrutura é composta de rochas do período Pré-Cambriano (1.100-2.500 milhões de anos): granitos, migmatitos, gnaisses, xistos e anfibólitos. Enquanto as coberturas Colúvio-eluviais ocupam as partes topograficamente mais altas do município, são caracterizadas por espessos solos arenosos e argilosos lixiviados e inconsolidados de Idade Quaternária, que tiveram origem pelo intemperismo atuante sobre as rochas do Grupo Barreira. Quanto a sua geomorfologia, o município situa-se na depressão sub-litorânea, apresentando uma altitude média de 189 m em relação ao nível do mar (Atlas do Rio Grande do Norte, 2004).

O solo do município pode ser classificado como solos predominantemente Argilosos, denominados de podzólico vermelho – amarelo e Planossolo Solódico, este último possui como características: fertilidade alta, textura arenosa e argilosa, relevo suave ondulado e imperfeitamente drenados e rasos.

4.2. Ambiente Climático

O clima de Passa e Fica é semi-árido, quente e seco, Bsh segundo a classificação de Köppen, com estação chuvosa curta entre os meses de março a julho, adiantando-se para o outono. Seu índice pluviométrico é de 719,1 mm/ano. Possui temperaturas médias que variam de 26 ºC a 32 ºC, e Umidade Relativa Média Anual de 72%.

4.3. Ambiente Hidrográfico

O município de Passa e Fica está inserido na bacia hidrográfica do Curimataú, na microbacia do Rio Calabouço, este é um dos principais afluentes do Rio Curimataú, que é de fundamental importância para os municípios da região. Em decorrência da devastação da mata ciliar, da irregularidade das chuvas e da temperatura, o curso d'água desse rio tornou-se intermitente. Registra-se ainda no município o Açude Calabouço, com capacidade para 1.443.000 m³, e as lagoas: Comprida, do Pedro, do Rancho, Gravatá, da Carnaúba e do Venâncio (CAVALCANTE, 2006, p. 353).

4.4. Ambiente Fitogeográfico

De acordo com a IBGE (1996, p.117) a vegetação predominante no município é a Savana Estépica nordestina - Caatinga, de característica Hipoxerófila, vegetação de clima semi-árido, apresentando arbustos e árvores com espinhos e de aspecto menos agressivo do que a caatinga Hiperxerófila. Este bioma exclusivamente brasileiro, vem sofrendo forte intervenção humana no tocante ao fornecimento de madeira e lenha para o uso humano, para a criação do gado e plantios agrícolas.

6. Considerações finais

Com a finalização dos estudos das fontes e da pesquisa de campo, foi possível identificar diversas ações do homem sobre a natureza no espaço rural e, mais precisamente, no espaço urbano do município de Passa e Fica – RN. Em linhas gerais, o município em estudo apresenta crescimento urbano notável graças a sua localização geográfica, fronteira entre os Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, favorecendo sua expansão urbano-comercial, em contrapartida, surgem problemas de ordem social e ambiental significativos, tais como: desemprego, prostituição, problemas com a deposição de lixo, desmatamento, poluição e contaminação dos principais recursos hídricos do município, entre outros. Neste sentido, estes fatores negativos devem ser encarados como desafios para uma gestão urbana ecologicamente correta, dentro dos princípios da Agenda 21 e do desenvolvimento sustentável. Portanto, o nosso desafio é, acima de tudo, despertar nas gerações mais jovens e futuras o interesse pelo conhecimento de suas origens. Por um conjunto de motivos, os nossos jovens, apesar de estarem profundamente arraigados em seu meio social, terminam por não refletir sobre a realidade histórica e cultural que os cercam e que eles próprios também contribuem para a sua construção.

7. Bibliografia

ATLAS DO RIO GRANDE DO NORTE. 2ª ed. Natal: Diário de Natal, 2005.

CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org). Novos caminhos da geografia. São Paulo: Contexto, 2006.

CASCUDO, Luís da Câmara. Nomes da Terra. Natal: Fundação José Augusto, 1968.

CAVALCANTE, Márcio Balbino. Ecoturismo em áreas protegidas: um olhar sobre o Parque Estadual da Pedra da Boca. Monografia de Conclusão de Curso Geografia. Centro de Humanidades/Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, 2005.

CAVALCANTE, Márcio Balbino. Rio Calabouço: conhecer para preservar. In: LINS, Juarez Nogueira; BEZERRA, Rosilda Alves; CHAGAS, Waldeci Ferreira (Orgs.). Espaços Interculturais: linguagem, memória e diversidade discursiva. Olinda: Livro Rápido, 2006.

FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Economia do Rio Grande do Norte. Estudo Geo-Histórico e Econômico. João Pessoa: Grafset, 2002.

IBGE. Censo Demográfico 2000. Disponível em: <http//www/ibge.gov.br>. Acesso em 03/01/2002.

IDEMA. Perfil do Estado do Rio Grande do Norte. Natal: IDEMA, 2002.

MARIANO NETO, Belarmino. Ecologia e Imaginário. Memória cultural, natureza e submundialização. João pessoa: CT/Editora Universitária – UFPB, 2001.

MARIANO NETO, Belarmino. Geografia: textos, contextos e pretextos para o planejamento ambiental. 1ª ed. Guarabira: Gráfica São Paulo, 2003.

MORAIS, Marcus César Cavalcanti. Terras potiguares. Natal: Dinâmica Editora, 1998.

MUNFORD, Lewis. A cidade na história: Suas origens, transformações e perspectivas. Tradução de Neil R. da Silva. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Ensino Superior).

REVISTA PREÁ. Passa e Fica, bordadeiras preservam o frivoleté. nº 13, Julho/Agosto. Natal: Fundação José Augusto, 2005.

SANTOS, Milton. Manual de Geografia Urbana. São Paulo: Hucitec, 1991.


Autor: Márcio Balbino Cavalcante


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