O Poder Das Palavras



"De um lado, a eterna estrela,
e do outro a vaga incerta,
meu pé dançando pela
extremidade da espuma,
e meu cabelo por uma
planície de luz deserta.

...Calada vigiarei meus dias.
Quanto mais vigiados, mais curtos!
Com que mágoa o horizonte avisto...
Aproximado e sem recurso.
Que pena, a vida ser só isto!"

- Cecília Meireles

1 - COMUNICAÇÃO, SIGNO, SIGNIFICADO

A comunicação humana é essencialmente individual. Ela, por isso mesma, é afetada pela personalidade (Persona = pessoa). O que torna problemático o significado.

O signo da cruz pode representar diferentes sentidos: para uma pessoa em crise e sofrimento: símbolo de dor; para um fiel: símbolo do Cristianismo.

Bacon afirmava que as palavras "atiram tudo à confusão e afundam a humanidade em vãs e falazes controvérsias sem fim".

Falando do significado das coisas, Rubem Alves diz que no mundo dos homens existem dois tipos de coisas:

A Existem coisas que significam outras - São as coisas/símbolo. Uma aliança significa um casamento; uma cédula, valor; mas alguém pode usar a aliança na mão esquerda sem ser casado, uma cédula pode ser falsa;

B - Há coisas que não significam outras - São elas mesmas. Tomo um copo d´água. A água mata a sede. Isto me basta. Não me pergunto se a água é verdadeira. Ela é cristalina, fria, gostosa...

Coisas que significam podem ser transformadas em símbolos. Coisas que nada significam podem passar a significar, por meio de um artifício: basta que sobre elas escrevamos algo, como fazem os namorados que gravam seus nomes na areia da praia. O dedo vira lápis, a areia, caderno.

As complexidades das palavras são capazes de prejudicar a empatia do palestrante/comunicador. Basta uma palavra fora de sentido ou uma ênfase errada e o interlocutor poderá se sentir o pior dos seres, como o Gato Malhado que mesmo em face de elogios da Andorinha Sinhá, percebia no tom de voz um certo ar de cinismo e isso o entristecia profundamente.

2 - AS PALAVRAS
A palavra tem cor e forma e essa forma é uma escultura sonora. Quando falamos, articulamos não somente fonemas e frases, mas, sobretudo, emoções e idéias. O tom dado às palavras pode construir ou destruir as pessoas que nos cercam.

Quem fala em público, deve ter em mente que toda palavra lançada, produzirá um efeito sem volta, quer seja bom ou mal.

Pense no poder das palavras, conforme as considerações de Charles Swindool:

"Quanta injúria, quanto dano se pode fazer mediante observações erráticas! Nossa língua descuidada pode depositar idéias germinais de mágoa, humilhação e ódio nas mentes tenras, idéias que se desenvolvem, tornam-se infecções incontroláveis e espalham doenças por toda a personalidade adulta. Temos o poder de iniciar um violento terremoto mediante algumas declarações simples que rasgam e dilaceram a mente da pessoa como se fossem granadas. Tais palavras são como a projeção de 800 volts numa fiação de 110 volts".

As palavras queimam porque são manuseadas pela língua e como diz a Bíblia que a língua é fogo consumidor e é capaz de destruir um exército.

O sábio Salomão tinha consciência do poder destrutivo e do poder construtivo das palavras. Ele nos orienta a ter atenção máxima ao que dizemos, quando o dizemos e como o dizemos.

Conteúdo - o que dizemos

O conteúdo é responsável por 50% do sucesso do falar em público. Quem não tem o que dizer, não saberá o que dizer. Vai encher lingüiça caso tenha uma retórica razoável ou repetir inúmeras muletas vocálicas - é é é é..., a a a a... tentando encontrar as idéias ou ainda ficará lendo um texto longo, chato, sem vida.

Tanto numa conversa informal, quanto num diálogo mais profundo o nível persuasivo - o conteúdo pode ser o grande responsável pelo fracasso ou sucesso na comunicação. Notícias negativas, expressões dúbias, palavras com ênfase errada, termos mal colocados podem gerar um ruído enorme nos tímpanos e mais, nas emoções de quem ouve.

Sendo uma conversa informal, particular, é possível corrigir rápido o equívoco. Dá para retratar-se a tempo. Numa palestra, o orador corre o risco de perder sua grande ferramenta, a empatia. Equivocar-se numa citação feita, no uso de expressões da língua, escorregar nas regras gramaticais, pode ser uma catástrofe para o palestrante.

Certo pregador, no afã de demonstrar sua eloqüência e quão rica era sua epopéia literária, emendou: Nessa noite lotada de gente, nesse lugar aglomerado de pessoas, sinto-me como Camões que disse em alto e bom tom: Hei de atravessar além mar e descobrir o belezas daquele lindo lugar...

O conteúdo pode ser o próprio fracasso do comunicador. Para evitar essas gafes e inviabilizar seu objetivo de cativar o auditório, lembre-se sempre das palavras sábias de Dale Carnegie: Tenha 40 vezes mais conhecimento do que vai transmitir ao público. Seu conhecimento organizado lhe dá confiança, clareza e paixão necessárias para disparar a flecha da eficácia na direção do ouvinte.

O tempo - Quando dizemos

Quando dizer é uma arte a ser aprendida. Muitas pessoas que falam em público podem prejudicar seu rendimento por não saber que horas devem contar uma piada, fazer uma ilustração ou até mesmo pedir silêncio para o auditório.

O tempo é sensibilidade. Resultado da experiência de contato e envolvimento com o auditório. Percebendo a atitude do auditório e seu estado de interesse (veremos mais sobre esses itens na aula o auditório), poderemos discernir se é hora de uma estorinha como aplicação de uma idéia ou ilustração de um fato, se é oportuno fazer alguma dinâmica etc.

Para ilustrar o que estamos dizendo, pense numa situação como a que segue.

João passa o dia inteiro no trabalho ouvindo reclamações do "chefe" que, sem piedade, vocifera palavrões e acusações sem que o "pobre" João tenha a menor oportunidade de defender-se.

O dia é "de cão". A vontade que João tem é de sair correndo daquela empresa e nunca mais pisar os pés ali. Seis horas da tarde. UFA! Respira o João. Que alívio! Agora está dentro do coletivo a caminho de casa. Sonha em comer aquele feijão quentinho, relaxar na sala - com aquela barriga enorme que Deus não lhe deu - sob o cafuné carinhoso da esposa amada.

Chega em casa já menos tenso. Mas não era dia do João. Nem bem abre a porta e a mulher vem ao seu encontro despejando "mil reclamações": "A geladeira pifou, o gás acabou... teu ´minino´ tá doente..." O João não agüenta, dá meia volta e vai em busca do primeiro bar que puder encontrar.

Quem estava com a razão? O que faltou para ambos? Imagine o dia da mulher do João? Cada um, na sua perspectiva, estava correto. O que faltou foi sensibilidade: era a hora de despejar tudo aquilo no pobre João? E o João, será que em algum momento do seu dia pensou em como poderia estar sua esposa?

Muitos relacionamentos têm sido destruídos pela falta do uso correto do tempo. Qual a melhor hora para um casal brigar? Eu e minha esposa decidimos que não levaremos contendas para a cama ou seja, brigar à noite, nem pensar! Pela manhã, na hora do café, nem pensar! Claro que não escolhemos que horas iremos nos desentender, mas é bom estarmos vigilantes para não estragar os relacionamentos com quem tanto amamos.

A falta de sensibilidade é um algoz dos inconvenientes. O indivíduo acaba de receber a notícia de que perdeu o emprego. Um desavisado (conhecido dele) o encontra e vai logo falando:E aí, tudo bem? Como é que está o seu empregão... ganhando bem, hein?

Evite: contar piadas em velórios, falar num tom de voz alto no leito de um hospital, contar estórias sem graça para recém-chegados na cidade e falar da vida alheia, fazendo um marketing negativo do semelhante.

A forma - como dizemos

A tríade da verbalização saudável completa-se com a forma como falamos. Os outros 50% do sucesso da comunicação é a forma tempo.

A criança chega em casa, mostra o boletim de notas para a mãe; esta ao ver tantas notas baixas, diz: "Você é burro mesmo. Vive só para estudar e ainda vem com essas notas ridículas, seu cavalo!"

Um prefeito do interior do Ceará, empolgado com as grandes realizações de seu pleito, emenda as seguintes considerações: "Quero dizer a todos que na minha gestação fiz muitas obras faraônicas e jamais deixarei que nenhum vício circuloso tenha vez no meu gunverno".

Afirma Tânia Casteliano: "O que uma palavra significa para mim poderá não significar o mesmo para outras pessoas. Temos vícios de linguagem, na maioria das vezes, devido à ignorância ou, até mesmo, por falta de conhecimento da pronúncia.

A palavra não é um cristal transparente e imutável; é a pele de um pensamento vivo e pode variar grandemente em cor e conteúdo, de acordo com as circunstâncias e o momento em que é usada.
(Wendell Holmes
)


Autor: Marcos Soares


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