O Reino De Lívia



Deitada sobre o sofá, Lívia olha para o nada. Com o dedo indicador, enrola vagarosamente mechas de seu cabelo castanho. Imagens do dia apressado que tivera passam bagunçadamente por sua cabeça, umas ruins, outras banais. Embora os pequeninos olhos castanhos estejam abertos, Lívia não repara na manchinha que está na parede da sala ou na mosca que insiste em voar pelo ambiente. Talvez Lívia não olhe para o nada, talvez Lívia olhe para si mesma. Muito embora ela ainda não saiba até que ponto isso não é a mesma coisa.

Tudo poderia ser diferente na vida de Lívia. Ela imagina-se vivendo de outra forma, encarando as coisas sob outra perspectiva. Não queria engasgar quando era desafiada, e muito menos engolir desaforos e levá-los para casa, aceitando o ar de triunfo daqueles que a odiavam. Esboçou em sua mente aquilo que sonha ser, mas teme não alcançar. Ah, c0mo Lívia desejaria ter aquela voz de desdém com um pontinha de sarcasmo que enche o ambiente de tensão. E também queria ter olhos grandes e claros, que se iluminassem de indiferença e poupassem as palavras de serem ditas. Em sua mente, Lívia é uma garota linda e misteriosa, respeitada e temida - afinal, para Lívia,respeito e medo são sinônimos. Sonhos e mais sonhos...

Lívia levanta-se preguiçosamente do sofá, prevendo as insuportáveis horas que virão, enquanto faz seus deveres. Desde que começara a trabalhar no escritório, não havia tempo para quase nada. Suspirando, Lívia retira com a unha uma sujeirinha que estava sobre o sofá. Seus olhinhos escuros contraem-se numa expressão de cansaço e cada fibra de seu corpo implora para que permaneça deitada. Mesmo assim, a menina levanta-se e dirige-se ao quarto, sem saber ao certo quanto tempo passara embebida em seus pensamentos.


Autor: Gabriela Cardoso


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