Leitura: Uma Visão de Suas Variantes Através de Seu Desenvolvimento na História



Esse trabalho tem como objetivo elucidar as relações existentes no processo de leitura, colocando a mesma ao lado da sociedade e do indivíduo leitor. Busca-se primeiramente na história como a leitura se desenvolveu e qual é a sua relação com a sociedade e seu conseqüente contexto histórico. Logo depois, apresenta-se um novo elemento que faz parte desse processo: a educação. Para isso, faz-se uma associação entre o ato de ler e as correntes pedagógicas que povoam a educação brasileira. Ao finalizar essa análise, torna-se possível clarear a estrutura fenomenal história – sociedade – leitura - educação, mostrando a interferência que cada uma exerce sobre a outra, sendo que essa variante pode ser benéfica ou maléfica para a estrutura num todo.Considerando que cada sociedade tem suas normas pré-estabelecidas, que devem ser respeitadas para dar uniformidade e caracterização a mesma, analisam-se pontos dos Parâmetros Curriculares Nacionais que expressam o seu olhar sobre o ato de ler e a importância do seu desenvolvimento na sociedade, o que leva a reflexão de como o ambiente social se refletiu nesse documento, no que diz respeito a sua formulação. Palavras-chave: Leitura. Sociedade. Indivíduo. Educação.

1 INTRODUÇÃO

A leitura já tem dentro do processo de desenvolvimento do homem e da civilização um papel importantíssimo, sendo ela a habilidade principal para a sobrevivência em um modelo social cada vez mais complexo e que exige clareza na comunicação, seja ela de informações mais simples até as mais complexas, que irão interferir na estrutura do ser, e conseqüentemente, na sua visão da sociedade.

Por conta disso, faz-se necessário que a visão sobre leitura seja aprofundada, sendo aqui apresentada no decorrer da história da humanidade, descrevendo o seu desenvolvimento a partir da estrutura mais rudimentar até o modo complexificado que apresentado hoje no meio social.

Contudo, para que o objetivo de aprofundamento seja alcançado, é de vital importância que se busque as explicações sobre o desenvolvimento do ato de ler nas sociedades humanas tornando nítidas as relações que permeiam esse encaminhamento dentro da história da humanidade, onde se fazem presentes em um mesmo ambiente, o homem, a sociedade, a educação e a própria leitura.

Com o olhar focado nesse prisma, busca-se a priori, traçar o desenvolvimento do ato de ler em relação com os momentos históricos vividos pelo ser humano, elucidando a interferência da visão social e de seus momentos dentro do processo de formação do indivíduo como leitor, mostrando sua ligação íntima com a escrita, e o impacto do desenvolvimento tecnológico para a disseminação do ato de ler como meio de obter conhecimentos, chegando até os dias de hoje.

Após essa análise, surgem as correntes pedagógicas que permeiam a atuação do profissional de educação em seu dia-a-dia. Objetiva-se aqui analisar cada uma das principais correntes pedagógicas que estão presentes na educação brasileira, buscando dentro de suas características mostrar a sua visão sobre a leitura e como ela deve ser desenvolvida no indivíduo.

E, por fim, é efetuada uma análise do principal instrumento de regulamentação da educação brasileira: Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's). Partindo do caráter desse documento, que visa homogeneizar as características educacionais do país, sendo considerado um meio de interferência da sociedade sobre a escola e sobre o ser humano a ser formado, busca-se elucidar sua visão sobre o ato de ler, mostrando no que o documento considera essa habilidade importante e como o modelo social em que o indivíduo está presente interfere na sua formulação de seus conceitos.

Como curso natural dessa análise, é necessário que se elucide qual tipo de indivíduo a sociedade quer que seja formado. Por conta disso objetiva-se mostrar o que os PCN's dizem sobre esse ser humano, especialmente no âmbito da leitura.

 

2HISTÓRIA DA LEITURA E A SOCIEDADE

A leitura sempre teve seu desenvolvimento aliado ao da escrita ao longo da história da humanidade, pois a escrita não é nada mais nada menos do que a significação da linguagem oral ou sonora de forma impressa, ou seja, graficamente.

Ao analisar esse fato, pode-se fazer um tipo de relação mais complexa para definir um desenvolvimento da leitura na história humana, que seria o fator social. A história humana foi escrita e teve suas transformações motivadas por fatores sociais. Cada acontecimento social teve reflexo nos vários campos que permeiam a sociedade, e por isso não há possibilidade de dissociar leitura de sociedade.

Para se iniciar uma análise sobre a leitura, é necessário retroceder a 40.000 anos, quando surgem as primeiras formas de escrita feitas pelo homem, e, conseqüentemente, também são feitas as primeiras interpretações de representações gráficas, que se entende como leitura. A essa forma de escrita primitiva se dá o nome de pictografia, sendo estas encontradas em cavernas, efetuando a comunicação na sociedade primitiva. A partir desses primeiros registros, a escrita começa a ser desenvolvida, passando da simples representação visual para a representação sonora, fato esse que retrata o desenvolvimento da sociedade, com o homem despertando como detentor da razão. Esse fato começa a aperfeiçoar a sociedade e criar os moldes que hoje em dia ainda estão presentes na estrutura de nossa sociedade (BRAICK; MOTA, 2002).

Com isso, a linguagem oral começa a ser amplamente utilizada, sendo na Antiguidade o principal meio de transmissão de conhecimento.

Ferreira (1975) concebe a leitura como uma arte, sendo esta uma de suas definições para esta palavra.

Ao ver isso, vem à mente o porquê do tratamento da oratória como uma arte na Antiguidade. Como já foi dito acima, a linguagem oral era a principal forma de transmissão de conhecimentos, e, por conseguinte, era vista como arte. Nessa época havia os papiros, que eram os primeiros meios de registro de textos, mas a base da formação era a oral sendo assim que os mestres ensinavam seus aprendizes. O leitor era um ouvinte, e pela forma de transmissão, mais pessoas eram capazes de ter acesso a leitura, trabalhando a interpretação e resignificando os textos originais.

No desenvolvimento da história, vão surgindo sociedades mais complexas, e por conta disso, começam as restrições ao acesso, sendo o conhecimento fator determinante do poder dentro da sociedade. Na Grécia, leitura e escrita ficaram restritas aos filósofos e aristocratas. Já em Roma, esse conhecimento era utilizado para garantir o poder dos patrícios, legitimando seu direito sobre uma propriedade. Dentro dessas duas civilizações, havia os registros desses textos, como já relatado, através dos papiros, sendo estes organizados em volumes, para garantir que esses textos fossem passados para outras gerações da classe que tinha acesso aos mesmos (BRAICK; MOTA, 2002).

Passando a Idade Média, onde a Igreja controlava a circulação dos conhecimentos, os textos oriundos das antigas civilizações Greco-romanas eram preservados e restaurados no interior de suas bibliotecas e escolas. Isso transformava os mosteiros, abadias e igrejas nos únicos centros de cultura letrada na sociedade medieval. Como produto desse fato social, a minoria tinha acesso à cultura letrada, sendo essa oferecida a alguns nobres e garantido a formação do clero (Idem, ibidem). Por esse motivo, a educação formal entra em crise, sendo a leitura reduzida a um caráter religioso, excluindo todo aquele que não fosse seguir a vida religiosa do processo de ensino da leitura e da escrita. Essa conduta tornou a transmissão ideológica mais eficaz, dizendo que os indivíduos laicos não deviam contestar os ensinamentos sagrados, já que a escrita foi transformada em símbolo sagrado, devendo estes indivíduos apenas ouvi-las e memorizá-las.

A principal idéia da leitura é a do leitor transformar e resignificar os símbolos utilizados pelo autor de um texto, a fim de tornar possível a produção de conhecimento. Essa idéia foi totalmente destruída nesse período, pois pela conduta da Igreja, isso não poderia se realizar.

Contudo, mais uma vez os movimentos da sociedade influenciam no desenvolvimento da leitura, e principalmente em sua distribuição e reprodução de textos e livros escritos.

Talvez a principal contribuição da tecnologia à delimitação e disseminação da leitura tenha sido a invenção da imprensa mecânica, no século XV. Essa conferiu ao livro outra configuração material, de que adveio sua maior maleabilidade e acessibilidade. Ele deixou de ser um objeto raro e de difícil utilização, para, aos poucos, pôr-se ao alcance de um mais número de pessoas, pelo menos das que sabiam ler e se dedicavam aos estudos. Determinou também uma mudança fundamental no uso da língua literária, pois incentivou a expansão do vernáculo na literatura. E provocou novas formas de percepção, pois a circulação da linguagem passou a ser mediada cada vez mais pela intervenção da escrita (ZILBERMAN, 1988).

A mudança do modelo social, que gradualmente foi do Feudalismo para o Capitalismo, marcou o aparecimento da burguesia, que estimulou várias reestruturações na base da sociedade. Uma que irá afetar fortemente a leitura e a escrita é a Revolução Industrial, que mostra o surgimento das indústrias e o fortalecimento das atividades comerciais. Como citado acima, a tecnologia de produção em larga escala fazia com que os livros e textos chegassem a mais pessoas, e também favoreceu o surgimento de outros modos de produção textual como revistas e jornais.

Essa expansão da leitura era um dos objetivos da burguesia, que ara ter indivíduos capazes de desempenhar funções nessa nova sociedade, necessitava de uma população com o mínimo de instrução, mas a seleção de textos e livros que chegavam à população era feita pelo poderio econômico. Determinados tipos de textos e livros não chegavam às camadas de baixo poder aquisitivo, o que mantinha o controle das massas através do conhecimento.

A partir desse momento, a leitura passa a ser fortemente relacionada com as evoluções históricas, a alfabetização, a religião e o processo de industrialização.

2.1LEITURA E AS CORRENTES PEDAGÓGICAS

O processo de leitura vai sendo colocado como elemento de suma importância para o trabalho intelectual, que visa à produção de conhecimento. Mas, com já frisado acima, suas mudanças de concepção estão muito ligadas à sociedade.

É importante assinalar que, para melhor entender essas mudanças, pode-se relacionar outro fator além da sociedade para ajudar nessas transformações: a educação.

Para interagirem, esses fatores dependem da existência de algumas instituições, sendo a escola a mais representativa, responsável pelo processo de alfabetização do indivíduo e pela socialização do sistema da escrita. A difusão dessa, por seu turno, não ocorre apenas por efeito da ação da ação da escola; igualmente decisiva é a contribuição da tecnologia, que alcançou esse resultado por intermédio de diferentes e progressivos instrumentos, como foram, numa época, os primeiros modelos de impressão e são hoje os recursos bastante dinâmicos e aperfeiçoados de reprodução mecânica. A técnica aparece também no âmbito da educação, ao qual a leitura está indelevelmente vinculada, confundindo-se então com os meios que permitem produzir, ampliar e consolidar os métodos de alfabetização, tornando-os a condição necessária para a efetiva aprendizagem da habilidade de ler (ZILBERMAN, 1998).

Nesse trecho, fica elucidada como educação e leitura estão ligadas, e, por conseguinte, as correntes pedagógicas que permeiam a educação, têm sua influência sobre as concepções da leitura.

O método montesoriano, primava pela auto-educação, ou seja, usando de métodos educacionais e materiais didáticos que exploram a curiosidade da criança. Procura tornar o ambiente propício ao desenvolvimento multi-sensorial, estando envolvidas neste âmbito a aprendizagem da linguagem, matemática, ciências e prática de vida. Esse método prioriza a aprendizagem autor motivada e individualizada, estando a escrita e a leitura inseridas neste olhar, tendo como exemplo que crianças com menos de cinco anos de idade são apresentados a linguagem escrita (ARANHA, 1996). Portanto, a leitura é vista de forma individualizada, ou seja, seu desenvolvimento depende do aluno, mas está inserido no processo de aprendizagem.

A pedagogia tradicional já apresenta uma proposta diferente, pois está centrada no professor, sendo o aluno um ouvinte, que memoriza os conteúdos e não reflete sobre eles, pois essa análise cabe apenas ao professor. Este, por sua vez, é a principal peça desse processo, transmitindo seu conhecimento de forma a enfatizá-lo e fixá-lo. Não há construção ativa de conhecimento, pois a aprendizagem é de fora para dentro, vinda do professor, tendo como objetivo a formação geral do aluno através de conhecimentos disciplinares considerados importantes para inserção do mesmo na sociedade (Idem, ibidem). Dessa forma, a leitura não tem importância para a construção de conhecimento, sendo apenas um processo de codificação da escrita, muitas vezes de forma que não cria nenhum tipo de significado para o aluno.

A pedagogia renovada é conhecida pela mescla de várias metodologias e movimentos, estando ligada ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Essas correntes têm como concepção a valorização do indivíduo, sendo este um ser livre, ativo e social, sendo o professor um facilitador da busca desse aluno pelo conhecimento. O interesse e curiosidade do aluno são enfatizados, fazendo com que o professor estruture, organize e coordene situações de ensino, baseando-se no aprendizado pela experiência, ou seja, os alunos têm de experimentar por si próprios, produzindo seu próprio conhecimento (Idem, ibidem). A partir disso, a leitura é vista de forma individualizada, sendo resultado da curiosidade e interesse do aluno, favorecendo a leitura reflexiva, que trará significado, e, conseqüentemente, construção de conhecimento por parte do aluno.

O Tecnicismo foi desenvolvido os anos 60, sendo conhecido como tecnicismo educacional, que foi baseado nas idéias behavioristas de aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino. O que se torna importante nessa corrente não é o aluno e nem o professor, mas sim a tecnologia, sendo o professor considerado um especialista, que aplicava os manuais e tinha sua criatividade restringida pelos métodos e técnicas utilizadas (ARANHA, 1996). Com isso, a leitura não tinha nenhuma importância, ou seja, não era estimulada, pois não cabia a essa corrente trabalhá-la, era estritamente behaviorista, baseada em estímulos e respostas conduzidas pelas escolas.

A pedagogia libertadora surge no final dos anos 70 e início dos 80, coincidindo com a abertura política oriunda do final do regime militar, da mobilização de educadores em torno de uma educação crítica, capaz de transformar a sociedade econômica e politicamente. Essa pedagogia busca a formação total do indivíduo, não só produzindo conhecimento, como também conscientizando-o, tornando-o capaz de transformar profundamente a sociedade a que ele pertence. Também tem-se da mesma origem a pedagogia critico-social dos conteúdos, que defende a mesma formação do indivíduo, mas entra em divergência com a pedagogia libertadora no que diz respeito à valorização dos conteúdos mais elaborados, que constituem parte do que chamam de acervo cultural da humanidade. Essa pedagogia assegura a função social e política da escola com o trabalho envolvendo os conhecimentos sistematizados, tendo como objetivo o preparo das classes populares para participarem das lutas sociais. Também considera que não basta o trabalho com as questões sociais atuais, mas também trabalhar conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas, que ajudam na interpretação de experiências de vida, a fim de defender seus interesses de classe (Idem, ibidem).

Para essas duas correntes pedagógicas, a leitura é muito importante, sendo feita de forma reflexiva, promovendo a formação e produção de conhecimento, que sempre será transformado de acordo com o aluno. Mas diferente de outras concepções que valorizam a leitura, ela tem uma visão mais coletiva, e não individual, que centraria no aluno, individualmente, o desenvolvimento da leitura.

Através dessas correntes pedagógicas, pode-se ver com nitidez como história, sociedade, leitura e educação estão ligadas e agem transformando uma a outra. Sendo assim, a leitura e o modo como ela foi desenvolvida em cada uma dessas épocas retrata um modelo vigente na sociedade, que trouxe benefícios ou prejuízos muito significativos. Não existe uma concepção dominante, mas co-existentes, mas não se pode negar que há muita influência das classes dominantes sobre a educação, e, conseguintemente, sobre a leitura.

2.2LEITURA, PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E SOCIEDADE

A educação brasileira é uma das pioneiras na elaboração de diretrizes para o seu desenvolvimento e qualificação. Pode-se observar que, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), são tratados os vários aspectos da educação, dando diretrizes de como trabalhá-los e desenvolvê-los na área pedagógica, desenvolvendo as capacidades que julga necessárias para o indivíduo se incorporar na sociedade.

A influência do modelo social é muito forte, o que acaba ligando a educação brasileira à sociedade brasileira. Com a leitura não seria diferente, por ser um processo que está dentro do processo de ensino e aprendizagem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:

·Compreender a cidadania como participação social e política, assim com exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito [...] (BRASIL, 1997, p.5).

Ao analisar os objetivos gerais dos PCN's, fica bastante claro que tipo de cidadão quer se formar e como essa sociedade deseja recebê-lo para que seu andamento seja dinamizado. Através destas diretrizes, que regem toda a educação nacional, fica mais fácil de controlar e homogeneizar os indivíduos que irão se incorporar, mais tarde, a sociedade.

O sentimento manifestado no PCN é de criação de uma identidade nacional, ou seja, de um único pensamento para a sociedade brasileira, sendo assim, mais fácil controlar e manter o modelo vigente. Mesmo para essa manutenção, não é inteligente formar indivíduos sem as competências que são necessárias a essa sociedade. Sendo assim, tem-se o cuidado de formar os indivíduos desenvolvendo as habilidades que fazem a máquina funcionar.

A leitura é uma competência importantíssima na aprendizagem, pois através dela o educando adquire e transmite os conhecimentos assimilados por ele. Apesar de o seu desenvolvimento estar mais relacionado ao conteúdo de língua portuguesa, essa competência de ler e interpretar está perpassando todas as áreas de aprendizagem, sendo assim, trabalhada em toda a vida escolar.

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos (BRASIL, 1997, p.21).

Nesse ponto, pode-se observar que o desenvolvimento da língua é tratado pelo PCN com um olhar social, como uma ferramenta de inserção do indivíduo à sociedade, como já foi visto no objetivo geral do PCN acima.

Mas passa por esse processo o tipo de trabalho a ser desenvolvido. No que diz respeito à leitura, são destacados os textos a serem trabalhados, pois demonstra-se uma preocupação com o modelo antigo da sociedade, que não exigia o mesmo nível de leitura de hoje, e, por conseguinte, uma revisão no modo como os textos são trabalhados e nos aumento da diversidade de material.

Cabe a escola tornar possível o acesso dos educandos aos diferentes tipos de textos presentes na sociedade. Toma-se como exemplo o desprezo de outras disciplinas com o trabalho com textos, por acharem que isso é trabalho da disciplina de língua portuguesa. Fica bem claro que todas as disciplinas devem sim trabalhar com textos de suas áreas, mas cabe a disciplina de língua portuguesa o trabalho mais sistematizado (BRASIL, 1997).

Desse fato, surge a grande novidade dos trabalhos interdisciplinares, que tornam a comunicação entre uma disciplina e outra mais coesa e produtiva para o docente e para o discente. Esse trabalho garante o uso de vários tipos de textos e de várias áreas, proporcionando ao educando a chance de interpretar e expor opiniões sobre vários assuntos.

O trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes, e, conseqüentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura, por um lado, nos fornece matéria-prima para a escrita: o que escrever. Por outro, contribui para a constituição de modelos: como escrever (BRASIL, 1997, p.40).

Ao analisar a leitura para o PCN, pode-se ver com clareza que sua intenção já vem sendo descrita por todo o documento, sendo a mesma de todos os conteúdos de língua portuguesa, como os das demais disciplinas, que é o de formar indivíduos competentes para explicitar suas idéias e pontos de vista.

Com certeza chama atenção a conseqüência da leitura: formar escritores. Claro que dentro do processo podem surgir indivíduos capazes de produzir livros de vários gêneros literários, mas a intenção não é essa. Formar escritores seria capacitar os educandos a exprimir suas idéias, pontos de vista e discursos escritos com clareza, ou seja, de forma a fazer com que os receptores de seus textos, dos mais simples bilhetes aos mais complexos artigos científicos, possam ter suas idéias entendidas da forma que foram concebidas, não criando assim, outros significados que venham a prejudicar a comunicação e transmissão de conhecimentos.

Com efeito, isso também se aplica ao lado do leitor, que deve ter a capacidade de interpretar aquilo que lhe foi dado para ler e transmitir as idéias de maneira correta, não dando chances a qualquer tipo de deturpação.

 

3CONCLUSÃO

Ao aprofundar a visão de leitura, o indivíduo se torna capaz de ver além do que poderia ser descrito nas grafias uma pessoa ou de um livro. O objetivo aqui é muito maior, sendo este o de levar os leitores a observarem as entrelinhas, saindo do livro e dos manuscritos para olhar o mundo como um todo, analisando o que as visões sociais têm haver com os rumos que sua formação pode tomar.

Esse era o principal objetivo desse trabalho, que buscava explicitar os caminhos da formação do leitor através das visões da sociedade e das variantes que se apresentam dentro da mesma, sendo estas o próprio meio, a educação, a leitura e o próprio indivíduo.

Pode-se observar que durante o desenvolvimento da leitura, houveram várias mudanças que foram ocasionadas pelas pressões externas, ou seja, da sociedade, que interferia não só no modo de ler como também na educação, mostrando o indivíduo que deveria ser formado, o que produziu várias visões sobre o ato de ler, que na medida em que a civilização humana foi se tornando mais complexa, foi se tornando de suma importância para que o ser humano fosse devidamente incorporado a essa sociedade, podem usufruir de seus benefícios através do conhecimento adquirido.

Estabeleceu se então a estrutura homem – educação – leitura – sociedade, que se tornam variantes dentro do processo de desenvolvimento do ato de ler até hoje.

Comprova-se essa visão através das correntes pedagógicas, que através da história refletiram na educação os acontecimentos históricos que estavam mudando o prisma em que a sociedade situava a leitura. Estas representavam a influência do meio na educação, e, por conseguinte, na leitura e no indivíduo leitor, que teve sua formação caracterizada a partir do olhar de cada uma das idéias pedagógicas.

Por fim, chegando aos dias atuais, fica representada como ato de interferência das variáveis sobre o desenvolvimento da leitura os Parâmetros Curriculares Nacionais, que contém as visões sociais sobre a educação em torno de sua formulação, buscando formar indivíduos que através da leitura possam se tornar escritores, não só no sentido literal da palavra, mas sim com um significado maior, que seria o de formar homens capazes de pensar sobre aquilo que estão lendo, reformulando o pensamento e construindo conceitos próprios.

Com isso, atinge-se o objetivo desse trabalho, mostrando que a visão de leitura de maneira aprofundada apresenta exatamente a estrutura da sociedade, onde suas variantes interagem de maneira constante e construam um esqueleto próprio, que nesse caso seria representado pela sociedade, educação, leitura e indivíduo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1996.

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2002.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília, DF, 1997. Disponível em: <http://mecsrv04.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro02.pdf>. Acesso em: 2 mai. 2008.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

ZILBERMAN, Regina. Leitura: História e Sociedade. São Paulo: FDE, Série Idéias, n. 5, 1988. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_05_p013-017_c.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2008.


Autor: Rodrigo Avelar


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