Carta de Invocação da Cidadania Contra a Violência



Este texto é direcionado a você. Você que desde sempre vem reclamando que o Brasil anda muito violento, que não existe mais lugar seguro. Você que muito provavelmente já perdeu um celular, uma bolsa, um relógio, uma carteira e/ou outro objeto de valor para um bandido que ameaçou te ferir ou matar se não entregasse o que ele queria. Você que vive desanimado(a) com o país onde vive, achando que nada mais tem solução, que o perigo da violência urbana é irreversível. Este é um alerta persuasivo: está mais do que na hora de a sociedade se levantar contra a situação em que se encontra. E isso deve começar por ninguém menos que você.

É mais do que hora de as pessoas, incluindo você, começarem a perceber que estão numa situação que requer imprescindível participação popular cidadã para sua resolução. Alienar-se, deixar tudo caminhando para o pior, esperar que alguma autoridade crie vontade e resolva sozinha tudo só é ruim. Não só ruim, como é uma vergonha. Um povo que se mantém estático à espera do próximo revés ou tragédia é tudo de que os bandidos precisam para triunfar impunes.

"Mas eu não posso fazer nada!", talvez você diga. Como ser humano, digo a você o quanto é ruim e degradante estar à frente de um problema, um obstáculo, um desafio e dizer "não posso", "me sinto impotente", "não dá", em vez de ao menos dizer "vou tentar fazer alguma coisa, nem que seja o mínimo". Frente ao flagelo da violência das ruas, infelizmente essa é a opinião coletiva da população. E isso inclui você, que provavelmente disse em algum momento nos últimos meses ou anos algo parecido com "sinto uma impotência diante disso tudo". Em vez de aceitação, essa atitude mereceria atitudes de reparação e contrariedade imediatas – do tipo "não, fulano, você não pode pensar assim!", pois um ser humano que nega a luta e a perseverança está, sem querer, mostrando-se fraco perante o mundo, que precisa e espera que cada pessoa contribua para a edificação dele como tijolo de um castelo, e também a si mesmo.

"Não dá", "é impossível", "não vou conseguir". Ninguém que estava no protesto contra o aumento das tarifas de ônibus de 2005 no centro do Recife, ou em Paris protestando contra a lei do primeiro emprego em 2006, ou em Buenos Aires batendo panela contra a crise econômica em 2001, ou na Belgrado do ano 2000, na Sérvia, derrubando o ditador Milosevic, ou, indo mais longe, na revolução de independência dos Estados Unidos, ou na Revolução Francesa, pensou assim quando foi lá e mudou a situação que estava o(a) oprimindo. Pode parecer uma ladainha romântica para muitos, mas nada disso é mentira, e sim demonstrações de que, quando um povo assume sua força, vai lá e faz.

Se todos, começando por você, cultivassem ao menos uma fração da determinação dos manifestantes dessas ocasiões, tenha certeza de que nossos inimigos públicos teriam medo de nós, e nunca o contrário.

Se a força vinda do humano não convence você, a força divina em que você provavelmente crê pode ser mais convincente. Posso não ser a melhor pessoa para me dirigir à fé dos cristãos, mas creio ter algo a dizer sobre a vontade de Deus em que se crê. Você que é cristão ainda não percebeu o desfavor que faz à sua Autoridade suprema quando fraqueja perante o mundo e perante suas próprias necessidades. Deus pode acolher os fracos, mas isso não quer dizer que o mesmo conceba que sejam permanentemente fracos e conformados. Se você quer agradar ao divino realmente, mostre-lhe que é um filho fortificado pela graça, e isso inclui abandonar as frases impossibilistas e incapazes e tornar-se um agente lutador contra os problemas que te afligem. Incluindo a violência que muito provavelmente já atacou você.

Reaja. Não contra o assaltante que pode balear ou esfaquear você, mas contra o descaso que até você ajudou a manter forte ao longo desses anos. Contra a falta de interesse legítimo tanto do poder público como da própria sociedade. É uma necessidade mais que urgente providenciar uma contribuição para fomentar as soluções válidas para esse tão sério problema. Pense em dar sua contribuição, por mínima que seja, como se fosse um esforço para resolver um problema pessoal. Do mesmo jeito que você se esforça em resolver uma pendência profissional ou se dispõe para contribuir com a cotinha da confraternização da empresa ou da faculdade. Pense em algo a fazer, ainda que pouco, para deixar na sociedade a sua marca positiva.

Mas como? – você deve estar perguntando. A dica que posso dar é que insira nas rodas de conversa a discussão de soluções realistas para a questão e providências/contribuições individuais ou de grupo, incluindo aí o incentivo à manifestação pacífica. Caso queira criar manifestações, é muito possível que você ou algum companheiro conheça alguém com dinheiro e influência, que poderá ajudar. Essa personalidade será talvez decisiva para um ato cidadão grupal. Há ainda diversos outros meios de deixar sua marca no combate à violência, não só incitar manifestações pacíficas. Experimente aderir a alguma ONG anti-violência, sendo membro contribuinte, ou, se tiver tempo disponível, fazer trabalhos voluntários em comunidades de risco. Se você é professor, reserve alguns minutos de suas aulas e converse com seus alunos sobre como ajudar. Se você gosta de escrever, escreva artigos sobre violência urbana, depurando causas, soluções e estratégias de combate e remediação. Outras soluções eu convoco você a pensar ou buscar junto a quem entenda de segurança pública e contribuições cidadãs.

O futuro da sociedade depende de você muitíssimo mais do que você sempre pensou. Dizer que não pode fazer nada – quando pode sim, se cultivar a vontade necessária –, ou evitar tocar no assunto, em nada vão ajudar e são comportamentos viciados que devem ser visceralmente combatidos. Se você quiser realmente uma cidade, estado e país mais seguros e pacíficos, deverá fazer algo a respeito. Desejo não realizado é o mesmo que não-desejo. Esperar por Deus, pela polícia, por esses governos que não funcionam sem a devida incitação popular não vai ser útil em nada.

Arregace as mangas e seja um cidadão. Ao menos TENTE fazer algo, para depois poder dizer de peito aberto que fez o que podia. Isso é que vai fazer toda a diferença para o país onde você quer viver.


Autor: Robson Fernando


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