Crônicas da Estação das Chuvas



"Mais do que com homens, essa sua tendência se intensificava quando estava com velhos feios, ou homens que num primeiro momento lhe pareceram repulsivos. Só depois é que vinham os calafrios de vergonha ao relembrar tudo o que tinha feito" página 48


Kimie, prostituta que mora no agitado bairro boêmio de Ginzo em Tóquio, em meio ao pensamento de se sentir sórdida consigo mesmo, descobre em um jornal que alguém está escrevendo artigos falando de sua intimidade. Estranhando os fatos e reveses que vem passado até aquele momento, faz uma derradeira tentativa de descobrir a causa de todos os infortúnios, que coincidentemente ocorrem um atrás do outro. E assim decide procurar uma vidente e acaba descobrindo algo surpreendente

Escrito por Nagai Kaifu (1879-1959) em 1931, Crônicas da estação das chuvas (Tradução de Dirce Miyamura, Estação Liberdade, 160 páginas, R$ 29,00) representa o cotidiano dos bairros de gueixas, das casas de chá, das prostitutas que moravam por ali e seus freqüentadores, figuras que são narradas poeticamente, num estilo por vezes ácido, por outras doce, onde o dialogo é a veia condutora do argumento, tudo amparado em um cenário da estação das chuvas.

Os personagens são tratados como ambiciosos, transtornados pelo modo de vida que levam, enquanto por dentro sentem o ódio da sociedade e se entristecem pela maneira de que são tratados e perfilam a vingança em seus corações. Uma obra que aborda o panorama do inicio do século XX, de uma Tóquio extinta nos dias de hoje, aquela onde se misturavam prazeres pagos, teatro kabuki e nô, becos soturnos e vielas enlameadas, e cuja pujante alegria de viver seria em breve abafada pelos anos de intolerância e guerra.

Nostalgia e mistério para os amantes da literatura japonesa, uma boa leitura.


Autor: Cadorno Teles


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