A magia do contato
A magia do contato
Não há possibilidades de bem estar coletivo,
a menos que o indivíduo esteja em bem estar - o todo não subsiste
sem as partes.
Marco Aurélio.
Copyright @2006 by Marco Aurélio Pinto da
Fonseca
Projeto gráfico e diagramação
Marco Aurélio
_____________________________________________
Pinto da
Fonseca, Marco Aurélio
A magia do contato
1. Filosofia 2.
Psicologia Social 3. Religião
______________________________________________
Índices para
catálogo sistemático
Filosofia : Psicologia Social :
Religião
1� Edição - 2006
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proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por
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Agradecimentos:
Agradeço imensamente aos colegas de experiência, aos Mestres de cada dia e aos Mestres eternos, aos meus pais, minha esposa e filha, aos irmãos e aos amigos.
Namaskar!
Introdução
Este é um trabalho inspirado em observações de convívio, com o intuito de prestar uma colaboração à melhoria na qualidade de vida do grande corpo coletivo em que vivemos. O bem estar de todos depende, em grande medida, do bem estar do indivíduo e, embora seja essa a intenção dos diversos profissionais implicados nesse processo, ainda há muito para melhorarmos. A princípio, nossa postura mental e corporal deveria ser de maior proximidade, zelosa e atenciosa..., porque o observado observa o observador, e a ele reage, assim como reage ao ambiente criado ao seu redor.
Mas é claro que a autenticidade e qualidade do
profissional que se prontificar a isso, deve provir da consciência
que possui da importância de seu serviço, uma vez que, administrar
um ambiente de relações interpessoais implica, também, fazer parte
da teia de probabilidades relacionais que provenham de cada um dos
indivíduos administrados.
Primeira Parte
Relações
interpessoais
Gostaria de começar com uma história
conhecida no Oriente, à qual dá-se também o nome de Koan
(histórias que têm a finalidade de provocar um insight, ou visão
luminosa de um aspecto da realidade).
Era uma vez um grande Samurai, herói de muitas batalhas e desafios e que, após muitos anos de luta e experiência nas asperezas e doçuras da vida, não compreendia bem o que vinha a ser céu e inferno. Até que um dia, quando acampado em um grande vale, distinguiu a silhueta de um ancião no topo de um monte. Acercou-se de seus conselheiros com o intuito de descobrir quem era aquele homem que, apesar de sentado, mantinha uma postura ereta e um ar sereno que o realçava até mesmo diante do sol.
Soube que se tratava de um Yogue, alguém que busca a harmonia entre os opostos e a sublimação dos estados da mente. Seu nome era Satori Sensei (que em Japonês significa aquele que tem a luz ou que provoca seu aparecimento). O grande General Samurai ficou muito entusiasmado em saber que um grande professor estava ali, tão perto... E logo vislumbrou a oportunidade de acabar, de uma vez por todas, com sua dúvida sobre o céu e o inferno.
O Samurai dirigiu-se ao topo do monte munido de
sua inseparável Katana (uma espada japonesa), um bule e um saquinho
de bansha (um combinado de ervas para chá).
O momento do
pôr-do-sol estava próximo. Chegando ao cume, o General resolveu
reacender a pequena fogueira já arranjada pelo Yogue e preparar um
chá, o que parecia anunciar uma longa noite de boa conversa.
Sentado junto a uma grande pedra, o Yogue mantinha-se imóvel e com um largo e sereno sorriso, sendo observado a uma respeitosa distância pelo Samurai. A noite anunciava-se com os primeiros brilhos de estrelas distantes e o sol estendia, no horizonte infindo, seu majestoso manto de luz.
A paz estava ali, pensava o Samurai. Quase que no mesmo instante, o Yogue abria seus olhos. O sorriso largo ia dando lugar a um olhar profundo, em rosto sulcado pelos muitos e longos anos de vida. Em um rápido escrutínio, o Yogue, sem tirar os olhos do experiente General, perguntou com voz vibrante a que se dava tão honrosa visita. O General levantou-se e, com uma breve inclinação, perguntou: Sensei (Mestre), o que é o céu e o que é o inferno?
O Yogue fechou os olhos, levantou levemente a cabeça. Logo em seguida, abriu os olhos e deu uma sonora gargalhada: - Ha, ha, ha, ha!
O Samurai, pego de surpresa, perguntou: - Não entendi Sensei, por que a risada?!
Estúpido! És tu o motivo de minha risada! - sentenciou o Yogue.
Desconcertado, o samurai tentava entender aquela
inusitada situação. E, abruptamente, com extrema rispidez, o Yogue
liberou uma avalanche de insultos, pondo em dúvida a capacidade do
General em entender a natureza do céu e do inferno. O General,
enrubescido, suava; seus olhos saltavam às órbitas; seu rosto
crispado prenunciava uma catástrofe. Alisando o punho de sua Katana,
deu um passo para trás e desafiou o Yogue a confirmar o que havia
dito. Satori Sensei olhou-o bem e num gesto único retrucou:
-
Estúpido, ainda quer que eu repita?!
O Samurai, em erupção,
resmungou entre os dentes: - Hoje sua vida termina... E levantou a
espada por sobre a cabeça.
Satori Sensei esticou a coluna,
relaxou o rosto e, com serenidade e doçura desconcertantes diante da
morte, disse as seguintes palavras:
Assim se abrem as portas do
inferno.
O Samurai ficou atônito. Seu rosto era a soma de
seu espanto e surpresa. Baixou a espada e, quando já a guardava,
ouviu novamente:
- E assim se abrem as portas do céu.
Relação
No latim, Ad aliquid, Relatio. O modo de ser
ou de comportar-se dos objetos entre si. Esta definição não é
senão um simples esclarecimento verbal do termo, o qual não pode
ser definido, em geral, de outro modo, isto é, fora das
interpretações específicas que os filósofos lhe deram. Esta é,
aliás, a definição retificada que Aristóteles deu da "Relação":
como aquele algo "cujo Ser consiste em comportar-se de uma
determinada maneira para alguma coisa" (Cat., 7,8 a 33); e que
coincide substancialmente com a de Peirce: "A `relação' é um
fato acerca de um número de coisas" (Coll. Pap., 3.416) –
Dicionário de Filosofia: ?????
Em uma relação, diversos fatores estão implicados. Antes de conversarmos sobre eles, olhemos para a relação entre o Yogue e o Samurai. Ambos têm uma história pessoal e importante, uma vez que é esta história que fundamenta suas existências no presente.
Nesta relação específica, podemos inferir uma grande quantidade de aprendizados. O Yogue, por exemplo, é aquele sobre quem são depositadas as expectativas, os questionamentos que o Samurai gostaria que fossem atendidos. Essa expectativa é amplificada pelo ambiente em que se dá a relação, o mistério puro e simples do nada sabermos sobre o ancião, o comportamento doce e sorridente que esperamos que ele tenha, a infinita paciência e bondade que projetamos do nosso inconsciente, enfim, arquétipos criados e presumidos que, em nenhum momento, ele próprio quis confirmar.
O Samurai, à medida em que se aproxima do ambiente de vida do ancião, deixa-se transbordar de seu próprio entendimento sobre o ancião, cortando, com isso, o fluxo natural intrínseco a qualquer relação estabelecida em sinceridade e verdade. A relação proposta era de egos estruturados: Eu, General Samurai; você, Grande Yogue e Mestre.
A mente do General estava estabelecida em uma das miríades de perspectivas da realidade, o Samurai estava identificado com o General e sua história. Desta forma, apresentava-se a seu presumido professor tão cheio de si que nada mais poderia caber. Além do que, estava encantado com sua visão e, por isto, desatento...
Tudo confluía para uma solução satisfatória: o lugar, o céu, o pôr-do-sol, o sorriso transcendente do ancião em meditação... Ah, como era doce aquele momento. O grande Samurai, depois de tantas batalhas, tornara-se finalmente um herói reconhecido e, com o reconhecimento, o posto de General. E agora, o momento mais esperado dos últimos anos de uma vida gloriosa. O encontro com um mestre fidedigno que dissolverá com um potente raio de sabedoria a dúvida de toda uma vida.
A espera é uma doce ansiedade que será certamente satisfeita por esse velhinho sutil, com um modo de vida tão austero e visivelmente disciplinado, tal a sua postura corporal, firmeza e tom de pele, sua leveza transcendente, sua simplicidade escalar, sem excesso ou ausência, que não fugiram ao escrutínio do experiente General.
Aparência
Do latim Apparentia. O termo teve na história da filosofia dois significados simetricamente opostos: 1. Ato de ocultar a realidade; 2. Manifestação ou revelação da mesma realidade. Conforme o primeiro significado, a `aparência' vela ou obscurece a realidade das coisas, de modo que esta não se pode conhecer senão procedendo além da `aparência' e prescindindo dela. No segundo, a `aparência' é o que manifesta ou revela a própria realidade, a sua revelação.
A partir do primeiro significado, conhecer significa liberar-se das `aparências'; a partir do segundo significado, conhecer significa confiar-se à `aparência', deixá-la aparecer. (Dicionário de Filosofia: ?????)
O que aconteceu nesta relação que de um pôr-do-sol plácido e terno, converte-se um uma furiosa tormenta? Podemos pensar que o Yogue fora `agressivo', `desrespeitoso' e, no mínimo, pouco hospitaleiro. Mas lá estava ele, no cume de um monte, afastado voluntariamente das miríades de estímulos externos, a perscrutar a alma; procurando, no vazio e no silêncio, a compreensão de si mesmo.
Podemos inferir que a vida social nos confere habilidades para mediar os conflitos e desafios do dia-a-dia e que o afastamento poderia desgastar essa habilidade. No entanto, o objeto da busca do ancião não fora simplesmente alhear-se ao movimento do mundo, mas encontrar aquilo para o qual confluem todas as coisas e, ao encontrar, transbordar de si aquele sentimento transcendente aos demais sentimentos...
O general sabia desse sentimento, sabia dessa comunhão que poucos logravam alcançar. E pelo que havia ouvido a respeito do Yogue e percebera à primeira vista, cria estar, de fato, diante de um desses raros heróis anônimos. Seu respeito e reverência vinham dessa certeza proferida por sua própria razão - uma espada afiada no tempo, capaz de discriminar entre o que é e o que não é.
Humildade X
Magnanimidade
São Paulo a caracterizara como a ausência do espírito de competição e de vanglória (Phillip. , II). Santo Tomás de Aquino via na humildade aquela parte da virtude "que plasma e contém o ânimo a fim de que não vise, desmedidamente, às coisas mais altas". Para ele, a humildade poderia ser o complemento da magnanimidade que "fortalece o ânimo contra o desespero e impele-o a perseguir as grandes coisas, de acordo com a reta razão". Para Aristóteles, neste sentido, a humildade é a própria magnanimidade que vem a ser a virtude que consiste em desejar grandes honras e em ser digno delas. (Dicionário de Filosofia: ?????).
Para o Yogue, a maior honra é a comunhão do sentimento unitário com o sentimento do Cosmo, da Consciência unitária com a Consciência no estado Cósmico - que difere do inconsciente coletivo de Jung.
Consciência
Do latim Conscientia. O uso filosófico desse termo têm pouco ou nada que ver com o significado comum que ele tem como ciência que o Ser humano tem dos próprios estados, percepções, idéias, sentimentos, volições, etc., consciência pelo qual dizemos que um humano "está consciente" ou "tem consciência" quando não está dormindo nem desmaiado, nem distraído por outros eventos da consideração dos seus modos de ser e das suas ações. O significado que esse termo tem na filosofia moderna e contemporânea, embora pressuponha genericamente essa acepção comum, é muito mais complexo: é o de uma relação da alma consigo mesma, de uma relação intrínseca ao humano, "interior" ou "espiritual", pela qual ele pode conhecer-se de modo imediato e privilegiado e por isso julgar-se de forma segura e infalível. Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral - a possibilidade de auto-julgar-se - vincula-se estritamente ao aspecto teórico, a possibilidade de conhecer-se de modo direto e infalível. (Dicionário de Filosofia: ?????).
Mas Satori Sensei não era apenas um bom velhinho, um bom professor e um contemplador da realidade... Satori, cujo nome quer dizer `raio de luz', queria dar uma resposta à altura de seu aluno. O desafio era grande, o risco: a perda da oportunidade de aprendizado e ensinamento, mais do que a própria cabeça ou a liberdade da alma.
O pedido não era comum; o conhecimento do céu e
do inferno pressupõe mais do que o aparente conhecimento, pressupõe
o conhecimento e o valor que se tem da vida e da morte.
O
cognoscível, o que se sabe dele? Como o apreendemos, como o
auferimos da experiência, quanto de experiência possuímos e que
tipos de experiências são mais comuns em nossas vidas? Em que se
baseia nossa realidade?
Percepção
Do Latim Perceptio. Podemos distingüir três
significados principais deste termo: 1�, um significado muito geral
pelo qual este termo designa qualquer atividade apta a conhecer em
geral; 2�, um significado mais restrito pelo qual ele designa o ato
ou a função apta a conhecer, à qual está presente um objeto real;
3�, um significado específico ou técnico pelo qual o termo designa
uma operação determinada do Ser humano em suas relações com o
ambiente.
No primeiro significado, a `percepção' não se
distingue do pensamento. No segundo, é o conhecimento empírico,
isto é, imediato, certo e completo, do objeto real. No terceiro
significado,
é a interpretação dos estímulos. Somente no
âmbito deste último significado podemos entender o que a psicologia
hoje discute como `problema da percepção'. (Dicionário Filosófico:
?????).
Perspectivas de
realidade
Ao focarmos um objeto qualquer, a imagem que
obtemos depende, em certa medida, da capacidade que nosso nervo ótico
possui para apreender as partículas luminosas que emanam do objeto.
Assim o é também com o que podemos inferir das ondas sonoras, das
papilas gustativas, dos sensores tácteis e olfativos.
Sabemos
que dentre as miríades de possibilidades de percepções, só
distinguimos aquelas que estão no âmbito de nossa capacidade de
apreensão. Ou seja, se houver vibração sonora cuja freqüência
esteja abaixo ou acima daquilo que somos aptos a captar, simplesmente
não apreenderemos conscientemente as informações contidas na
vibração. Da mesma forma acontece com nossa capacidade visual - da
vibração que estiver acima do ultravioleta ou abaixo do
infravermelho, inclusive, não extraíremos significado
conscientemente.
Por que digo conscientemente? Porque nossa mente é mais ampla do que acreditamos que seja e, de um modo bastante superficial, poderíamos dizer que a mente divide-se em consciente, subconsciente, inconsciente e, em uma `oitava' acima do consciente, teríamos o superconsciente... Mas essa discussão é tema de outros trabalhos: "Consciência multidimensional & Reiki" e "No limiar da vida e da morte"...
Vemos, portanto, que nossa capacidade de apreensão da realidade, no que diga respeito ao início de nossa compreensão do universo, restringe-se a zonas de percepção. Com o tempo, na própria experiência, aprendemos a integrar essas diferentes perspectivas percepcionais e as ampliamos, expandindo, por conseqüência, nossa capacidade de compreensão da realidade.
Entretanto, como são diferentes as probabilidades experienciais, também o são, como conseqüência, os `entendimentos', ou `cognosceres' da realidade. A não ser, é claro, naqueles onde ou em quem as experiências tenham sido mais completas e em graus maiores de intensidade e qualidade..., maiores ainda se hajam experimentado a realidade o mais próximo de sua multiversidade, o que, segundo alguns (eu inclusive), provocaria a transcendência da experiência cognoscível, abrindo uma super perspectiva em um majestoso degrau de experiência: a totalidade pela onisciência - que viria a ser uma percepção sincrônica de todo o conteúdo do universo pelas ligações que as partes fazem entre si...
Não era fácil a tarefa de Satori Sensei:
explicar, com poucas palavras, o céu e o inferno. E se possível
fosse, seria o Samurai merecedor de tal conhecimento? Como auferir?!
Satori provoca o conhecimento utilizando-se de um contraste entre
os estados d'alma do general. Entra em seu campo de experiência e o
desafia, para depois assumir seu próprio lugar, deixando sozinho o
Samurai, exposto a si mesmo e às respostas de seus
questionamentos...
Atitude
Termo amplamente usado na filosofia, na sociologia
e na psicologia para indicar, em geral, a orientação seletiva e
ativa do ser humano em face de uma situação ou de um problema
qualquer. (Dicionário Filosófico:?????).
Perspectivas absurdas...
Há algum tempo, li um artigo de um psiquiatra que
expõe uma singularidade conhecida há tempos pelos estudiosos da
consciência e, para ilustrar, conta a seguinte estória:
Um
professor, lendo um jornal pela manhã, espanta-se ao ler no caderno
`cotidiano' que um rapaz, conhecido seu, fora encontrado pela
polícia, bêbado e largado na praça pública da cidade. Ao terminar
seu café, saiu para caminhar no calçadão e encontrou um amigo...
- Olá, Bom dia! Como está você?
- Bom dia!
Estou bem, obrigado (...)
- Você não sabe o que me aconteceu
ontem...
- Não, conta...
- Vínhamos eu e minha esposa para jantar no
Dionízio's, quando um desses `vagabundos' que ficam à espreita nos
percebeu lá da praça. Minha mulher estava distraída `com suas
coisas de mulher', mas eu estava atento... O sujeito levantou-se e
veio em nossa direção, eu estava pronto `pro que desse ou viesse'.
Aí ele pediu fogo, peguei o isqueiro e, propositalmente, deixei-o
cair. Foi aí que peguei o gatuno, ele abaixou-se para pegar o
isqueiro e eu lhe dei uma forte bengalada na nuca...
- Meu caro,
que coisa! E o rapaz...?! Ficou lá, caído?!
- Claro, saímos
rápido antes que seus comparsas aparecessem...
À tarde, o mesmo professor, tomando chá com sua esposa, conta-lhe as desventuras do jovem ladrão. Sua esposa, espantada, o interrompe, dizendo ter encontrado a esposa daquele mesmo amigo que havia lidado com tanta destreza com o suposto larápio. Contou ela que havia ouvido o seguinte relato:
- Não era muito tarde e estávamos indo àquele restaurante grego maravilhoso e chique, quando percebi que um rapaz estava me olhando lá da praça que fica próxima ao restaurante. Claro que fiquei chocada! E justamente no dia em que estreava um modelito que minha irmã, que está fazendo doutorado, me enviou lá de Paris. Ele é lindo..., e fica bem justo ao corpo. Além disso, estava usando um echarpe de pele de raposa que combina com meus cachos ruivos e... você imagina, não é?! De repente, para meu espanto, o rapaz veio em minha direção... Ai! Quase tive um desmaio de tão nervosa que fiquei... Que ousados são esses rapazes de hoje! Fingi-me desentendida... O rapaz olhando para mim, pediu fogo ao meu marido. Ele estava tão enciumado que deixou o isqueiro cair, e quando o rapaz se abaixou, não se conteve e deu uma pancada no pobre rapaz. Fiquei apavorada, será que ele estava pensando que eu já o conhecia?! Mas ele me puxou pela mão e saiu sem dizer palavra...
O professor, atordoado com as estórias, foi para
a faculdade e, para sua surpresa, na entrada, encontra o rapaz a
respeito de quem havia lido pela manhã.
- Rapaz, que faixa é
essa na cabeça?!
- Olha, o Sr. não vai acreditar... Tinha
acabado de deixar minha noiva em casa, pedi-a em casamento!...
- Puxa, meus parabéns!!!
- Obrigado! Mas
então..., deixei-a em casa e fui à praça fumar um cigarro e passar
o tempo, botar as idéias em dia... O céu estava lindo, a `maior
lua', quando dei-me conta de que meus fósforos haviam acabado...
Então, vi passando no calçadão um casal de coroas e resolvi
pedir-lhes fogo. Lembro-me que o Sr. havia tirado um isqueiro do
bolso e quando ia entregá-lo, deixou-o cair; abaixei-me para pegá-lo
e acordei no hospital! Dá pra entender?!
O professor então,
lembrou-se da manchete do jornal matutino: "Rapaz de família,
encontrado bêbado e supostamente drogado, jogado na praça!".
Consciência
Do latim Cognitio; toda operação cognitiva
dirigindo-se a um objeto e tendendo a instaurar com o próprio objeto
uma relação da qual venha a emergir uma característica efetiva
deste.
Os pré-socráticos a exprimiam como o princípio através
do qual: "o semelhante reconhece o semelhante..."
Empédocles afirmava que "conhecemos a terra com a terra, a água
com a água, etc...., Heráclito: "o que se move conhece o que
se move"; Anaxágoras: "a alma conhece o contrário com o
contrário"...; Platão: "conhecer significa tornar
semelhante o pensante ao pensado. Conseqüentemente, os graus de
`consciência' se modelam sobre os graus do ser: não se pode
conhecer com certeza, isto é, com "solidez" o que não é
sólido (firme), porque o `conhecimento' não faz senão reproduzir o
objeto; de modo que o que é absolutamente, é absolutamente
cognoscível, enquanto o que não é de nenhum modo, de nenhum modo é
cognoscível". (Rep., 447a).
Santo Tomás: "Todo o
conhecimento ocorre per assimilationem ou per unionem" da coisa
conhecida e do objeto cognoscente; afirma que "o objeto
conhecido está no cognoscente segundo a natureza do próprio
cognoscente". (Dicionário Filosófico: ?????).
Consciência e Emoção
Emoção, do latim Affectus ou Passio. Em
geral, entende-se por esse nome todo estado, movimento ou condição
pelo qual o animal ou o homem percebe o valor (o alcance) ou a
importância que uma
situação determinada tem para a sua vida,
as suas necessidades, os seus interesses. Nesse sentido, a emoção,
no dizer de Aristóteles, é toda afecção da alma que esteja
acompanhada pelo prazer ou pela dor: sendo o prazer e a dor a
percepção do valor que tem para a vida ou para as necessidades do
animal, o fato ou a situação a que se refere a própria afecção.
Desse modo, as emoções podem considerar-se como a reação imediata
do ser vivo a uma situação que lhe é favorável ou desfavorável:
imediata, porque é condensada e, por assim dizer, resumida na
tonalidade sentimental, agradável ou dolorosa, a qual basta para pôr
em alarme o ser vivo e para dispô-lo a enfrentar a situação com os
meios em seu poder. (Dicionário Filosófico: ?????).
Segundo o neurocientista Antônio Damásio, "consciência e estado de vigília, consciência e estado de atenção básica, podem ser distinguidos; as pessoas podem estar despertas e atentas sem ter consciência normal e ainda, que consciência e emoção não são separáveis, e que quando a consciência está comprometida, o mesmo se dá com a emoção. Com efeito, há uma conexão entre emoção e consciência, de um lado, e entre a mente e o corpo de outro”. Ver Antônio Damásio:?????
Conforme já havíamos discutido, o processo de "conhecer" implica em uma interação com a realidade, de modo a que possamos auferir experiência - e quanto maior o grau de consciência implicado, maior o insight do panorama do que há manifesto e não manifesto para se conhecer.
Segundo Tomas Aquino, “o `cognoscere' provém de um processo de assimilação e união com o cognoscível”. E como obtê-lo senão houver um comprometimento da consciência `observadora' com o que há de ser o `observado'. Para que haja assimilação presumimos que seja necessário, ainda que ínfimo, um potencial de ação evocador de um outro potencial reativo. Mesmo que a ação de per si o seja apenas `contemplativa', estando a consciência implicada, o observador `afeta' o observado, e o `colapso' - a percepção recíproca - provoca a transformação mútua das estruturas, a assimilação de uma pela outra, que pode culminar na união de uma estrutura em a outra.
Mas é claro que, durante a percepção mútua, uma cadeia de eventos bio-psíquicos se sucedem. As estruturas colapsadas perturbam-se, suas ordens e seus estados são afetados e, a consciência adquirida, soerguida nas experiência até aqui experimentadas, ameaça romper-se para dar lugar a uma nova e mais ampliada estrutura.
Alguns de nós inferimos que parece ser mais
salutar atender ao instinto de sobrevivência e ater-nos àquilo que
mantenha e preserve o já conhecido, porque o que cremos Ser subjaz
às experiências já
conhecidas. E por que renovar-mo-nos
continuamente se podemos tonificar e amplificar o que já se sabe
ser? Ainda, lançarmo-nos no vasto desconhecido sem sabermos se a
"autoridade" conquistada no aquém subsistirá ao além?
Por que voltar a um estado de `novatus' se já se adquiriu `maestria'
no `praeter ictus'.
Da assimilação à união
As oportunidades de experiência saltam à nossa vista. No dia-a-dia de nossas vidas; a interação consciente faz-nos sentir vivos e membros ativos de um grande projeto de crescimento coletivo. O prazer e a felicidade nos fazem transbordar de satisfação em participar disso tudo, assim como a dor e a tristeza, quando analisadas e compreendidas pelas perspectivas de suas causas, permitem-nos a oportunidade de reavaliarmos nossa trajetória, o modo como caminhamos na estrada da vida, o alcance de nossas ações ou omissões, as reações a essas ações e omissões e, ainda, o nosso projeto de futuro. O que esperamos de nós mesmos? O que estamos fazendo ou como estamos preparando nosso futuro ou o de nossos filhos? Os fins a serem alcançados justificarão os meios empregados para alcançá-los?!
Em 1997, quando estive na Índia, embarquei em um trem elegante que lá era chamado Rajdhani. A passagem não era barata para os padrões hindus, mas a viagem prometia ser calma e sem sobressaltos. Na cabine, compartilhada com mais dois jovens hindus, conversávamos cordialmente ao longo da viagem, quando ouvimos o que parecia ser um pequeno tumulto. Levantamo-nos para saber do que se tratava e vimos o comissário de bordo expulsando grosseiramente, um homem de uns 33 anos, do trem já parado. Os jovens disseram-me que o homem não tinha passagem e havia aproveitado a parada em uma estação para entrar e ocupar um assento livre. Senti-me um pouco mal com aquilo tudo, pois tornei-me consciente do que já sabia, que a grande maioria dos hindus não podiam pagar uma passagem no Rajdhani. Meu mal estar transpareceu aos companheiros de viagem, que logo me estimularam com uma boa conversa e histórias do lugar.
Ao voltar de Calcutá, tomei um outro trem, agora na 2� classe. Havia bem mais pessoas nos vagões, mas um assento/cama para cada passageiro. Depois de bem avançada a viagem, estiquei-me na cama e dormi. No meio da noite, após muitas paradas do trem, surpreendi-me com alguns olhares curiosos que tentavam compartilhar minha cama. No momento fiquei ligeiramente contrariado, talvez pelo cansaço e a vontade de me esticar, mas com um pouco de boa vontade, umas 3 pessoas sentaram-se junto a mim. Quando acordei pela manhã, haviam dois deitados, bem encolhidos, e mais três sentados nas beiradas.
Olhei à volta, eu parecia ser o único estrangeiro e o meu assento, o mais disputado... Por um lado, fiquei orgulhoso por haver dividido o assento, por outro, fiquei pensando se eles estavam achando que eu era um bobo...
Minhas andanças demandavam longas horas de viagem
de aqui para lá, por lugares que muitas vezes decidia ir na hora.
Por isso tudo, o melhor e mais prático meio condutor era o trem. Em
uma outra oportunidade, embarquei em um trem de 3� classe. Pensei,
ora, na segunda eu vou ter de dividir mesmo, então vou ficar logo na
terceira... Qual não foi minha surpresa, quando tornei-me consciente
de que quase toda India parecia ter tido a mesma idéia, e eu estava
preocupado em saber como todos iriam caber naquele vagão. Ao final,
tive de viajar em pé, com a mala entre as pernas. Estava seguro,
imóvel. No início, achei engraçado, e só ficou ruim mesmo
depois...
Como ir ao banheiro? Como resistir horas em pé com
cheiros variados, intensos e com o trem balançando toda a gente...
Como reagir a um empurrão dolorido? Um palavrão desconhecido? Empurrando de volta? De repente, surpreendi-me com um senhor que havia dito algo como: "Balô malukê, satrapo no bulê!", e a pessoa que havia empurrado, olhou para trás e com um sorriso largo retornou um "desculpe-me" (multilingüístico) que chegou à alma... Fiquei feliz, mas envergonhado pelo pensamento anterior ao sorridente: "não foi nada...".
A viagem continuou, não sem surpresas, e com o tempo o vagão ia ficando mais vazio. Então, pude ir ao banheiro, enquanto um senhor tomava conta de minha mala e de meu "lugar". Passei a achar interessante os cheiros de óleo de coco, sândalo, canelas e outros aromas, nos cabelos e sabe-se lá em que lugares mais...
Diverti-me com os garotos que entravam tocando uns pequenos banjos, ou que iam e vinham com bandejas cheias de comidas, doces, biscoitos, e ainda outros que propagavam: "bisquitis, coffi cháiii, bisquiti, coffi cháiii", que me mantiveram alimentado por toda a viagem...
Depois de muito tempo, fiquei pensando: talvez
fosse melhor tomar sempre a 1a ou 2a classes, mas a experiência
proporcionada na terceira era inigualável... Tal experiência é
comparável a estar no limiar de um universo de probabilidades sem
poder imaginar o que possa acontecer no gesto seguinte...
Reflexões
Shrii Shrii Anandamurtiji, um filósofo Indiano,
dizia que existem três classes de pessoas no mundo:
O tipo A que
pensa, fala e age coerentemente; o tipo B que pensa e fala
coerentemente, mas seus atos são diferentes e o tipo C que pensa uma
coisa, fala outra, e age de uma terceira maneira diferente. Sejamos
pois, todos Seres de Classe A.
"Os homens chegam e vivem, os homens partem e
morrem.
De cada dez, três são companheiros da vida, três são
companheiros da morte e três são os que tanto valorizam a vida e
com isso na morte vão ingressando. E por que razão?
Por sua
ansiedade e tentativas para perpetuar a vida. Mas ouvi dizer, que os
que sabem viver, viajam na terra sem ter receio dos rinocerontes, nem
dos tigres ferozes. Nem necessitam temer as armas aguçadas, nem
pesadas. Neles não há lugar onde o rinoceronte possa enfiar seu
chifre, nem o tigre rasgar com suas garras. Não há lugar onde uma
arma possa alojar sua lâmina. Por quê? Porque, para ele, não mais
existe o reino da morte".
Lao Tsé. (Tao Té Ching)
Certa feita, ouvi de um sábio Judeu a seguinte história:
Antes da queda do império romano do oriente, um místico e sábio Judeu estava andando pela rua quando um soldado romano o interpelou:
- Alto lá passante! Para onde vais?
- Agora
eu não sei!
- Como, `agora eu não sei"?
- Antes de ser
parado eu pensava saber onde ia, agora eu não sei mais para onde
vou...
- Tu és muito insolente! Pois vades à prisão!!!
-
Não disse, não saber para onde iria?!...
Nós como seres humanos, também somos tal
qual “universos paralelos” em relação a nossos semelhantes,
cada qual com suas miríades de impressões da realidade, com suas
teias de relações que evocam geometrias nas equações por detrás
da existência; hologramas escalares que conectam nossas mentes
através do sinal de fundo do universo de sorrisos e olhares que nos
perscrutam curiosos, nos décimos percentuais que nos cabe
experimentar em um universo com 4% de matéria e 96% de energia e
matéria escura do qual quase nada se sabe, mas que nos lança à
frente na harmonia das esferas...
E quando nada sabemos de alguém a quem queremos conhecer, não nos impele uma força oculta, que ressoa em toda a estrutura que se apruma para o contato?! Seja um olhar ligeiro ou aguçado, um sorriso breve ou amplo, uma expressão curiosa ou solícita, um gesto bem pequeno, "quase imperceptível", ou um amplo e oferecido...
Tantas as possíveis formas de comunicação que quase sempre sabemos o que se quer dizer, a não ser que nos movamos inseguros ou apressados, irrequietos ou sabotados... Sabotados por nós mesmos ou pelas experiências amargas ou mal compreendidas...
E, se sabotamo-nos, faze-mo-lo por quê? Pelos nossos próprios interesses, que nos reduzem a bólidos gélidos, cruzando o horizonte das experiências, errantes em nossa própria trajetória, até um dia, espatifar-mo-nos em um planeta qualquer ou sermos absorvidos em nossos infernos pessoais?! O que tememos no compartilhar de nós mesmos? Reduzirmo-nos àquele a quem compartilhar? Não será, a fusão de perspectivas, a abertura de uma nova, capaz de nos lançar além de nós mesmos?!
Se caminharmos mais, sem as “máscaras de ferro” ou as “carrancas”, poderemos facilmente, identificar que as dores são comuns, assim como suas causas; os sorrisos e o que nos faz sorrir; as ansiedades e medos, todos, no âmago, poderemos saber que também nos são comuns.
E é claro, apesar do colorido e variedade de nossas formas, o frio e o calor nos colhe por igual, apesar das variantes. E por debaixo das peles, o vermelho da carne, o bombear do sangue, o funcionamento dos sistemas e dos órgãos também nos aproximam, apesar das conseqüências de nossos hábitos variados. Até a metamorfose exterior para que nos adaptemos às intempéries e estados de viver: o nariz mais fino para o frio, o mais largo para o calor..., os olhos mais escuros para muita luz ou mais claros para a escassez...
Assim como a pele mais pigmentada para o sol, e a sem pigmentos para sua ausência... E muitas, muitas outras adaptações aos modos do viver... E ainda assim, apesar disso tudo, lá estão elas: as dores, os sorrisos e suas causas afinizadas no multiverso experiencial...
A árvore da ofensa
Quais as formas que ela assume? O que
trás em si mesma?
Se possui um objetivo, quando ele se consome?
Por que reagimos tanto às ofensas?
É possível de fato
contorná-la?
E se a contornamos, não nos pegará na esquina
da próxima experiência?
Suportá-la é o melhor?
E, se
de tanto suportá-la, não advirá
uma grande explosão?
E se
a sublimássemos?
Onde estará o degrau para esse novo estado?
O metabolismo se acelera, os
batimentos cardíacos conduzem o rictum que se inicia, tomando todo o
organismo... Descargas hormonais cada vez mais potentes na torrente
sangüínea, amplificam o potencial reativo e estimulam a ativação
de um esquadrão de “memórias”, prontas para toda defesa e
justificativas. O tamborilar do coração, aumenta o compasso da
batalha que se anuncia. O olhar ávido, a boca seca, o estômago
recolhido; escolhida a vítima, a razão seqüestrada, as fúrias
relincham...
A língua, como serpentes ferinas
entre dentes, ora mostrando as presas, ameaçadora - prestes a dar o
bote final para inocular o veneno mortal e catártico...
Palavras
ressoando com o vento, letras ricocheteadas em tormenta; o espírito
revolto destroça cada embalagem de palavras para alcançar seu
núcleo e em nada encontrando, consome-se, faminto de certeza.
A ofensa travestida de riso, ribombeia qual raio, estremecendo o íntimo..., assim como, o olhar de deboche ou desprezo, perturbando a razão, instala sorrateiro a semente de uma grande dúvida: ofendeu ou não ofendeu?!
Por que me ofendo?
ou por que me
ofendo com tal coisa?
Certa feita, estava um cara, desses bem loucos,
postado à frente de uma padaria. As pessoas iam e vinham, e o louco
permanecia postado à frente da loja, olhando com certo espanto e com
ar contrariado às pessoas que saíam com seus pães e leites. À
medida que mais pessoas saíam, mais ele contraía a face, até que
de repente, resmungou uma ofensa entre dentes para um senhor que
saía:
- F&%#@!
- O quê?! Perguntou o ofendido. E o
louco deu de costas... Bastante contrariado o Sr. foi até ele e
chamou-lhe pelo ombro:
- O Sr. me disse alguma coisa?!!
E o louco entre sorrisos:
- @@##$$%%&&**!
O ofendido, não se contendo, partiu para a ignorância. O louco
rindo apanhava, e o louco gritando batia... Era tamanha a `com-fusão'
em torno do louco que logo a polícia lá chegou. Depois de muito pão
e leite derramado, foram todos para o xadrez. E o ofensor, O Sr. X.,
lá ficou... Explicações dadas, testemunhos colhidos, lá estava o
louco, livre, à porta da padaria, com alguns arranhões é verdade,
mas com uma felicidade louca estampada no rosto...
O tempo foi
passando, as pessoas iam e vinham sem notar o louco lá postado,
olhando um e outro que saía, até que resmungou de novo:
- P*&$##!!! Uma senhora virou-se com as
bochechas rubras:
- Toma vergonha rapaz! Isso é jeito de falar
com as pessoas?! E ele virou de lado resmungando... Ela bastante
afetada, olhou para um lado, olhou para o outro, como que buscando
algum aliado, resmungou um bocado e se foi... O louco voltou para seu
posto, ficou sério olhando um e outro que saía... Até que um,
passando apressado, chamou a atenção do louco e ele xingou em alto
e bom tom:
- P$$$###@@@!
O sujeito olhou e olhou bem na cara do louco,
curioso mesmo... O louco virou-se e resmungou. E então, para
surpresa de todos, o moço gargalhou. Gargalhou e gargalhou, ia
andando e de vez em quando virava para trás, como que lembrando do
louco... O louco fez cara de choro, de desamparo... Olhou para cima,
olhou para baixo... Ficou ali, gesticulou e voltou depois de um tempo
para a frente da padaria com um ar mais triste.
Um senhor sentado em um banco da praça em frente, fechou o jornal, dobrou-o e levantou-se decidido a entrar na padaria. Saiu com um saquinho de pães e uma caixa de leite. Olhou na cara do louco, tirou um pão e ofereceu sem cerimônias. O louco abriu uns olhões, juntou as mãos como que agradecendo a Deus, deu um largo sorriso em troca, pegou o pão e balançou a cabeça em um misto de alegria e satisfação... O Sr. olhou para ele de novo e disse: - Toma, é para você! E estendeu o saco de pães e a caixa de leite. O louco era só sorrisos, pegou tudo e foi para a praça comer... O Sr., com o jornal debaixo do braço foi andando pela calçada acima...
Interpretamos bem as coisas que vêm a nós?
São muitos os possíveis motivos para que
alguém haja como se não houvesse um outro alguém a recepcionar a
mensagem, ou tentar abstrair-se da interação imprescindível ou
inescusável ou ainda, projetar as mazelas e frustrações que se
aninharam sorrateiras no lado úmido e sombrio da personalidade.
Assim como há também, outros motivos para não sombrearmos as possibilidades ensolaradas do dia daquela vida... Uma delas, é a possibilidade de que o raiar da felicidade ilumine nosso próprio coração entristecido ou aqueça a frieza de nosso mutismo.
Quantas e tantas não foram as vezes em que um
radiante sorriso sincero, não dispersou por completo o mau humor
persistente. E dessas tantas vezes, não foram mais poderosos os mais
puros como os de uma criança? Pois é, o sorriso e a pureza da mente
são poderosos antídotos para os males diversos que em esqueletos
velhos e carcomidos nos transformam, relegando-nos aos sombrios
recantos de nossas mentes e da vida...
Quantas não foram as vezes que aguardamos
para que o outro nos cumprimentasse, sorrisse ou tomasse a iniciativa
da interação; ficando ali, com a animação suspensa para só então
permitir-mo-nos um gesto simpático.
Vindo, será ele pleno e transbordante? E a
recíproca, será verdadeira? Por que subtraí-mo-nos das cadeias que
nos conectam àqueles que estão juntos de nós na trama da vida? E
se esse comportamento tornar-se hábito e agirmos por exclusão e
exceção, ao invés de nos inserirmos e até imprimirmos um pouco
das cores de nossa vida na tela das relações? Não nos tornaremos
aquele borrão que cedo ou tarde será guardado no fundo do sótão,
do baú ou até mesmo na lixeira?
Há aproximadamente 600 a.c., nasceu um jovem que os historiadores diziam já haver nascido de cabelos brancos; na distante china antiga, em uma época não menos terrível, onde nós também nos comportávamos egoística e insensatamente...
O jovem havia vivido uma vida intensa e também de
muito estudo, até que resolveu retirar-se do convívio social e
ninguém, até então, o havia visto novamente...
Um dia, em uma
distante fronteira, de uma das muitas províncias chinesas, um jovem
guarda estava prestes a terminar seu turno, sem que nem mesmo um
pequeno animal tivesse atravessado a imensa planície que dizer da
fronteira...
O imenso céu se estendia ao longe, e o sol já ia se pondo, quando o jovem guarda avistou um ponto na extremidade leste do caminho para a fronteira. Apertou o olhar, para melhor compreender o que via e apurou os ouvidos para divisar o som dos passos que vinham calmos por entre as ondas de calor que já se dispersavam. Aprumou-se em seu posto; não sabia bem se para receber o viajante ou se para cumprir seu dever.
Para cumprir meu dever, claro!
O sol quedava-se a oeste da fronteira, vez ou outra o jovem olhava ao longe para melhor saber quem vinha lá, mas o azul já se tornava mais escuro por detrás do viajante, dificultando um pouco a visão.
Os passos ecoavam na imensidão, assim como o clap-clap dos cascos de seu imenso boi. Os pensamentos do jovem iam longe, mas sempre girando em torno do viajante desconhecido.
Por que não sobe no boi? Para onde vai? Será um vadio? Será um bandido fugitivo? Será um pai, cuja vida está desgraçada? Será um sábio? Um sábio... e se for??! O que farei?! Devo cumprimentá-lo? Não, sou um guarda imperial! E se for um bandido? Não devo ficar me abrindo assim...
Vou pedir seus papéis, afinal de contas isto é uma fronteira! E se for um sábio andarilho e não tiver papéis, perdidos há muito em suas andanças...?! Ai! Ai! E continuava o jovem guarda, solenemente perfilado na fronteira...
Tac-Tac, CLAP-CLAP, Tac-Tac, CLAP-CLAP..., iam aproximando-se o ancião e seu boi ou o boi e o ancião e mais um olhar austero e curioso na direção dos viajantes.
- Nenhuma espada, uma túnica surrada mas distinta, um andar cansado mas digno, um rosto sereno e um olhar cheio, cheio de quê...??!
A mão acaricia a nuca do boi como que avisando que logo viria o descanso merecido.
- Ah, deve ser um velho com seu boi... As
estrelas já surgem no céu, já têm formas e histórias. As
histórias que aprendi..., e ainda há tanto! Bem que ele podia ser
um sábio, um sábio e seu boi, ou o sábio e o boi... Está chegando
com a noite e seu manto de estrelas. Meu turno já está por
encerrar, mas creio que vá dar tempo para recebê-lo na fronteira.
Mas bem que ele podia andar um pouco mais depressa... Depois de
recebê-lo, farei a troca de guarda e o convidarei para um chá...
- Boa noite senhor!
- Por favor, seus papéis.
- Hum, 120 anos?! Está tudo em ordem, pode passar.
-
Obrigado.
O ancião atravessou a fronteira e continuou por mais algumas dezenas de metros. O rapaz ainda perfilado, acompanhava-o com o olhar. Veio a troca de turno, ele olhou mais uma vez o ancião, formalizou-se a troca, entrou na casa da guarda e trocou suas roupas. Saiu, esticou o olhar na penumbra e foi atrás do ancião. Encontra-o alimentando uma, ainda tímida, fogueira.
- Boa noite meu rapaz! Por favor, tome assento
junto à fogueira...
- Trouxe um pouco de chá!
- Muito bom,
muito bom!
Como é simpático, pensou o rapaz. Parece ter caminhado bastante, mas ainda assim está organizando seu acampamento e preparando o chá cheio de contentamento. O jovem pensou haver escutado o sussurro de uma antiga e bonita canção. Sua mente encheu-se de tranqüilidade, estava vazia e também havia contentamento em seu espírito.
A infusão estava pronta e o ancião encheu duas xícaras. Ambos beberam contentes e nada falaram por mais de uma hora.
- Você gosta das estrelas rapaz?
- Sim e das
histórias que elas contam.... Insinuou o rapaz.
- Hum...
- E
o senhor?
- Gosto das histórias que as pessoas contam...
- E
se elas nada falarem de si?
- Ainda assim muito estará sendo
dito...
- Hum... Como assim?
- Você por exemplo, estava
sério há pouco na fronteira, mas seu olhar de longe era cheio de
curiosidades. Você veio logo, mas ficou mais de uma hora em
silêncio. No início estava ruidoso, mas soube silenciar e aquietar
a mente. Poderia ter esperado mais, até que resolvi interrompê-lo.
Sem falar nada, você mostrou muito de si...
O jovem enrubesceu,
até que soltou um sorriso largo. Os olhos do ancião sorriram de
ponta à ponta...
A conversa havia se estendido por longas horas até que se deitaram. O jovem acordou cedo, mas o ancião e o boi já haviam partido. Olhou ao longe, não havia ninguém. A leste, a fronteira e o guarda.
Sentou-se, organizou as idéias e sorriu satisfeito lembrando..., em um determinado ponto da conversa, pedira ao ancião que lhe contasse o que havia entendido em sua existência no mundo. O ancião pediu-lhe que anotasse. Anos mais tarde, o jovem guarda havia tornado-se um célebre erudito e conselheiro do imperador. Um dia, em uma conversa com o imperador, a propósito de uma situação muito difícil, mostrou-lhe as anotações que tanto haviam contribuído para sua vida pessoal.
O imperador ficou encantado e perguntou-lhe o nome do ancião. Tratava-se de Lao Tzu. O imperador resolveu publicar as anotações e distribuí-la por todo o império. Hoje circula todo o mundo, há mais de 500 anos e se chama: Tao Te Ching.
Contato além dos sentidos
Desde o princípio da vida
humana, temos nos expressado por amor, com ou sem paixão. Mas,
quando nos expressamos por amor, há paixão?!
O que é a
paixão? O que nos move, lançando-nos em direção ao bem
querer?! O que nos incendeia, transbordando-nos em coragem, para
colher no abismo a mais delicada flor do amor?!
Qual razão
para explicar tal paradoxo - porque há paixão, há coragem, há
força, há brilho; há o fogo libertador de grilhões, que cerceiam
a expansão da alma, que se agiganta... Pois que no ar que se
acentua, na visão que se aguça, no tato que se volve intenso, no
salivar..., vemos a expansão dos sentidos - e, no aumento do fluxo
bioquímico, a busca incessante...
Tal a transformação do
Ser para alcançar o que lhe é mais sagrado; mais até que a própria
vida, pois para quem ama, viver é amar, e a plenitude, fundir-se a
quem se ama...
Como aquele que se agiganta, que se incendeia,
que expande os sentidos, pode ser capaz de colher a mais delicada
flor do amor?!
Como não se consumir no próprio fogo
libertador?! Como, com as asas do amor, ao subir aos céus, não se
consumir em seu calor?
Eis o paradoxo maior, pois dizia
Gandhi: "o amor é a mais sutil força do universo"...,
está no mundo, mas é transcendente a ele, é imanente a
nós, mas escapa-nos aos sentidos...
Quem há no mundo que já
o haja colhido em seus lábios, ou que o tenha guardado em seu
peito?!
Há muito que se fala no amor, sem que no entanto se
possa entendê-lo... Pois há que se amar para sabê-lo e, em amando,
dá-se um passo para a transcendência, pois que o amor "é",
sem dúvida, sempre foi o que há de mais sagrado e mais perfeito.
Eis o mistério da fé no amor - porque sua gravidade
desperta a chama da paixão para que possamos ousar e, em ousando,
movermo-nos corajosamente em direção a quem, ou a que amamos, mas
sendo o verdadeiro amor tão sutil, como alcançá-lo se nos
agigantamos na forma e na expressão?!
O amor se completa no
amor, nenhuma chama o podendo alcançar... Sua gravidade é
recíproca, e em não havendo, a paixão extingue-se de per si ou
dispersa-se, sem núcleo, lançando-se de um a outro vento até que,
por colapso, sua própria essência desponte...
E é na
ausência do amor que despertamos para sua presença, que nos
afinizamos e o amplificamos em nós mesmos; ajustando-nos aos seus
sussurros, permitimos aos pensamentos, palavras e ações,
tornarem-se sua mais pura expressão...
Mas como acertar, sem
antes não haver morrido; como saber da profundidade do amor,
sem que por ele se houvesse lançado ao abismo...?! Como sorrir
verdadeiramente, se antes não se chorou por amor?!
Ah, tão
doce o é quando tanto se há feito por Ele...E é tentando
alcançá-lo que aprendemos mais... Afinizando o tom de nossa voz, o
acento de nosso toque, o pousar de nosso olhar, o ritmo de nossos
movimentos, o fluxo de nossa alma...
Enfim, é por amor que
nos deixamos fluir no encanto do pensamento, que nos evolvemos na
harmonia do tom, no fluxo da energia vibrante que nos lança à
vida...
Mas qual a fundamental diferença entre o amor e a
paixão?! Se houver, será a paixão a mola motriz que nos impulsiona
à frente, em busca do amar?
E se em seus sussurros (do amor)
não lhe distinguirmos a sombra, e em não o sabendo, não nos
lançaríamos às feras da incerteza: vorazes dilaceradoras de nossas
entranhas; gelando-nos o sangue, entorpecendo-nos a razão?!
Será
antes o amor a razão primeva que na noite escura da alma
sorri-nos sutilmente, vibrando as vibrações em nossos corações e
gerando as freqüências e estados de Ser?! Se assim o é, é o sol
que aquece nas geleiras, é o norte que nos colhe à deriva, é a
alegria do despertar, a doçura do alento...
Aristóteles o
sabia como o primeiro motor que move todas as coisas; para mim, o que
inspira o motor a sê-lo ou que a paixão sim, é o motor que move
todas as coisas inspirada em tornar-se amor...
No entanto, o
amor é imanente e transcendente à paixão, e na busca em
alcançá-lo em nós mesmos, tornamo-nos ainda mais sinceros àqueles
ou a quem amamos...
Leibniz dizia: "Quando se ama
sinceramente uma pessoa não se procura o próprio proveito, nem um
prazer desligado do da pessoa amada, mas se procura o próprio prazer
na satisfação e na felicidade dessa pessoa; e se essa felicidade
não agradasse de per si, mas só pela vantagem que dela resulta para
nós, já não se trataria de um amor sincero e puro. Convém
portanto que se sinta imediatamente prazer na felicidade e que se
sinta dor na infelicidade da pessoa amada..."
E Hegel
completa: "o verdadeiro amor é identificado com a verdadeira
unificação, que ocorre entre seres vivos que são iguais em
potenciais e que estão em tudo e por tudo, vivos um para o outro...
A verdadeira essência do amor, consiste em abandonar a consciência
de si, no esquecer-se em um outro si mesmo e todavia, no
reencontrar-se verdadeiramente nesse esquecimento...".
Marco
Aurélio Pinto da Fonseca
Contato além fronteiras
Por que choras Palestina?
Uma crônica
Parte I
Muhammed vive em um vilarejo em Al-Tur, cidade próxima à Jerusalém Oriental; sua mãe, Zohra, preparava-o para mais uma ida à Al-Ayzariyah, cidade próxima, mas que ficava do outro lado do muro de separação Israelense. Sua casa tinha dois cômodos: uma sala/quarto e uma sala/cozinha, além, é claro, do banheiro. Tudo pequenininho, mas bem ajeitado.
- Anda menino! Larga essa bola e venha comer; hoje você vai visitar sua tia Ouarda.
- Ah mãe, de novo! por que tenho de ir lá? É longe...
- Não é não, fica do outro lado do muro, é só contornar...
- Contornar! Tenho de passar por várias barreiras, cães farejadores, ter a mochila revirada e, se bobear ainda furam minha bola para ver o que tem dentro...
- Hoje você vai de ônibus até o terminal de Ras Abu Sbeitan, pega o túnel novo até a estrada e daí até sua tia é um pulo.
- Ah, vou chutando bola até lá, tomara que tenha algum soldado no caminho que vou lhe dar um chapéu!
- Não faça isso menino! Vai que ele pensa que é uma bomba!
- Hahaha, que nada mãe, eu vou chutando a bola assim e depois dou-lhe um chapéu assim!
- Ai menino! Não vai dar
chapéu coisa nenhuma, já terei muita preocupação com você indo
lá, ainda mais essa...
Por que choras palestina?
Choro
o choro das viúvas,
o lamento eterno
que não cala no peito!
Verto a lágrima das mães
dos muitos Muhammedes
que
ainda impúberes já se foram ao paraíso...
Ariel,
soldado israelense recém formado em matemática pela Universidade
Hebraica, morava em Jerusalém Oriental, território anexado em 1967,
junto com outros 6 soldados. Seu apartamento tinha 3 quartos, sala,
sala de jantar, uma boa cozinha e uma lavanderia. Fora praticamente
um presente do governo para eles – todos recém formados e
engajados nas fileiras do exército.
- Geza, poderia devolver meu lap top? Quero terminar umas pesquisas que estou fazendo...
- Pesquisas?! Você não pára de procurar probabilidades sinistras no código do Torah!
- Não são probabilidades sinistras... São eventos colapsados no espaço-tempo que derivam de ações no presente, como o tapa que vou te dar se não me devolver o lap top!
- Hahaha, eventos colapsados que derivam do presente... Cara todo o futuro provável deriva do presente!
- Sim, mas o interessante é que há probabilidades já escritas e outras que são reescritas à medida dos acontecimentos presentes... Aliás, havia um grande Rabino chamado Moses de Leon que já o estudava no século XIII.
- E ele usava Lap Top?!
- Tinha uma memória fantástica e sabia de cor a posição de todas as expressões do Torah.
- Tá, tá, tá, não vou mais comentar em respeito a ele e ao Torah...
- Ariel, que horas você chegou da Patrulha em Al-Isawiya ontem? Perguntou um oficial.
- Acho que já eram 11 e tanto da noite, por quê?
- Porque recebi um informe de que você está escalado para o Checkpoint de Ras Abu Sbeitan...
- Aquele perto do Parlamento Palestino?
- Não, o que fica ao lado do terminal.
- E como eu vou para lá?
- A pé, de ônibus, como quiser, hehehe...
- Pô Baruch, não dá para me conseguir uma carona? - Não dá!
- Cara, eu vou ter que guardar o uniforme todo na mochila...
- Ué, vá uniformizado!
- E levar uma pedrada ou quem sabe um abraço fatal!
- Que nada, os palestinos que vivem aqui são todos gente boa...
- Ah tá, depois do muro
ficaram ainda mais legais, né?!
Por que choras,
Palestina?
Choro o choro de mãe
a ver seus filhos
sangrarem...
Choro o choro sofrido
dos tempos vividos
e
eles ainda a se matarem...
Meu nome é Abd El Hafsi, tenho
21 anos e serei um mártir. Já tenho alguma barba, meu queixo é
firme, meus ombros fortes, dignos dessa responsabilidade. Devo
lembrar bem as palavras do Xeque Umar Al-Nefzawi (Que Deus lhe seja
misericordioso!):
- estar sempre pronto para entregar tudo pela ideologia;
- não olhar nos olhos de uma mulher;
- não olhar nos olhos de uma criança;
- não divagar;
- estar com a mente apontada para a missão.
Há dias saí de casa, estou preparado! Meus pais vivem em Al-Amari, hoje um campo de refugiados, fui educado em Ramallah e cedo meus professores perceberam que meu destino seria glorioso. Meu tio Abdul mudou-se para a França e meu tio Jenilous para o Brasil.
Brasil..., se meu pai tivesse ido para lá talvez eu tivesse tido o mesmo destino dos meus primos:
Farad é médico e minha prima Leila é procuradora de Estado; já esqueceram a causa, suas mentes estão entorpecidas pela vaidade e o egoísmo; não passam de infiéis...
Alguns pensavam que eu não teria futuro, mas o que eu nunca tive foi o presente, que roubaram de nós. Vivemos do passado para a reconstrução do futuro.
Não divagar...
Estou pronto, todos os preparativos já foram feitos, a roupa está ajustada, hehehe, bem ajustada...
Este é meu melhor destino; talvez, melhor ainda teria sido estudar nos Estados Unidos, em Harvard! Haver-me formado em Ciências Políticas e tornado-me assessor do presidente dos Estados Unidos!
Ahh, e em um dia como este na Casa Branca, o presidente me chamando para um abraço de agradecimento...
Hahaha, seria realmente glorioso!
Manter a mente apontada para a missão...
Como será o último
instante? Talvez como disse uma vez o Xeque Umar: o tempo se dobrará
sobre vós em um segundo que eternizará vossas
vidas...
Por que choras
palestina?
Parte II
-Venha
Muhammed, faça suas orações e depois coma o que preparei para
você. Enquanto isso vou arrumar sua mochila... Ó Deus, seja
misericordioso com meu menino e com seu pai Jaffah que está
trabalhando em obras em Dubai. Há seis meses que não o vemos,
espero que Tarik o marido de Ouarda tenha trazido alguma notícia
dele, afinal eles trabalham próximos... Ainda bem que em suas
últimas férias deixou-nos o suficiente, de si e para o sustento...
Agora venha comer Muhammed.
- Mãe, por que não vamos para o Brasil? Eu poderia ser jogador de futebol e ajudar você e o papai.
- Não é assim tão fácil meu filho, há muita política para isso...
- É mãe, mas daqui há pouco não vai ter nenhum amigo meu do lado de cá do muro, e talvez, até nós tenhamos que nos mudar!
- Só Deus sabe disso meu filho, só Deus...
- Não mãe, quando eu vou na casa da tia e passo o muro há sempre alguém do lado de lá que diz: por que você veio para esse lado, não sabe que é isso que eles querem? Volta para lá! E aí tenho que explicar até às árvores o que fui fazer e onde estava indo... Na volta, pior: De onde você vem menino, deixa eu ver sua mochila, o que é isso? (bola!), onde é sua casa, onde está seu pai, sua mãe..., e depois de quase ficar pelado, me deixam passar. No Brasil eu poderia ser jogador de futebol, jogar com o Ronaldinho e o Robinho na seleção do Brasil!
- Mas você é Palestino menino!
- É, mas não temos uma seleção da Palestina...
- Não temos nem um Estado que dizer de um time de futebol...
- Que mãe? Time de futebol não! Uma seleção! Os melhores jogadores da Palestina e eu lá, dando chapéu nos Israelenses, já pensou?
- Hahaha, seria interessante meu filho...
- E aí eu dou o “drible da vaca”, o “pedala Robinho” e o mais novo: “você vai pra lá, que eu vou prá cá”!
- De onde você tirou isso menino? Todo mundo comenta na escola mãe e o Senhor Maluf da mercearia me falou dessa última arma secreta do Robinho; ele disse que o jogador da Colômbia ficou com um nó nas pernas por 3 dias!
- Hahaha, você não
deveria ficar dando ouvidos ao Maluf...
Por
que choras, palestina?
Choro
o choro de quem não pode dormir,
choro
a ausência de sonhos,
o estado de sobressalto,
a dor do pesadelo...
-
Ariel, me diga uma coisa, eu gostaria de acreditar nessa sua
perspectiva de estudo, mas me parece um tanto improvável que haja
uma escrita secreta e dinâmica por detrás dos textos sagrados.
- Não só dinâmica Geza, mas viva...
- O que quer dizer?
- O Ravi Moses de Leon contou em seus escritos que quando os romanos dominavam nossa terra, havia uma ordem de proibição da leitura do Torah, mesmo em casa; então, os rabinos começaram a lê-lo de uma forma diferente. Foi o Ravi Moshe Ben-Maimon quem primeiro conseguiu relacionar as palavras em ordens implicadas no contexto dos livros. Antes disso, muitos tentaram memorizar e passavam horas da noite lendo o Torah com lamparinas bem pequeninas para não chamar a atenção dos soldados romanos. Mas, havia aqueles que viviam por entregá-los...
- Que horror!
- É, esse tipo humano sempre existiu em qualquer cultura... Moses de Leon conta também que em uma dessas noites, um espião percebeu um tremeluzir de vela na casa do Rabino Ben-Yusef e chamou um soldado Romano; o soldado informou ao Centurião, que deu ordens para invadir a casa. E lá estava o Ravi, simplesmente dedicado à leitura do texto sagrado...
- E o que aconteceu?!
- O Centurião ordenou que o amarrassem em um grande tronco em frente à sua casa, para que todos os vizinhos pudessem vê-lo e lembrassem da proibição. Um cordão de isolamento fora realizado para impedir que os discípulos do Rabino o ajudassem; daí o Centurião, pessoalmente, dirigiu-se ao Ravi, pediu a Torah confiscada e retirou todas as folhas jogando-as no chão a seus pés, diante dos olhares atônitos da multidão que se formava. Então, deu uma gargalhada e mandou que um soldado colocasse as folhas em volta do Ravi já amarrado. O Ravi nada dizia, só olhava para o Centurião tentando entender a motivação de seus atos.
- E então Rabino, peça agora ao seu Deus para salvá-lo, se algo acontecer, prometo que o libertarei. O Ravi continuou a fitá-lo.
- Que assim seja Rabino! Juntem lenha ao tronco e ponham fogo!
Ahhhhh! Gritava a multidão horrorizada!
- Não façam isso! Soltem-no, já é o bastante! Não basta nos humilhar, ocupando nossa terra e até nossas casas, têm que roubar nossas almas? Cães! Chacais! Abutres!
O Centurião apenas sorria. Depois que as últimas toras de lenha haviam sido depositadas, pegou ele mesmo um pote cheio de óleo e jogou sobre o Ravi, as cordas, as folhas da Torah e as pequenas toras de madeira; em seguida pôs fogo sobre tudo... O Ravi contraiu o rosto em dor. A multidão gritava desesperada! Os discípulos choravam e pediam a Deus que tomasse a alma do Ravi. O Centurião juntou com o pé uma ou duas toras que escapavam, e, de repente, o Ravi com o rosto lívido e sem expressar nenhuma dor, fitou os céus...
- O que vês Mestre?
- Dê-nos seus últimos ensinamentos!
- O que vês?!
- E sorrindo, o Mestre disse: Vejo as letras do Torah, me envolvendo em uma dança espiralada até o mais alto dos céus...
Assim, com um sorriso extático, deixou essa vida.
Por
que choras Palestina?
Parte III
Vitória, na morte?
Transbordo em mim mesma a expectativa do vir a ser,
e em
não sendo, reflito o deslumbramento nos olhos daqueles
cujos
árduos passos de uns dias já passados
almejam comigo o
completar-se...
Mas, se não somos ambos e "amamo-nos"
tanto assim,
o que será dos que em nós sustentam suas
esperanças?
Ai, ai natureza infinda..., entre o Paraíso e o
nihilismo,
onde fico eu?
10:34h da manhã
O pregador Omar Al Bhakit chega ao sobrado amarelado onde Abd El Hafsi aguarda por seu encontro com a eternidade. Ao seu lado, o Xeque Abdulazi Al Sustan observa o movimento na rua..., o sol causticante torna ainda mais brancas suas vestes.
- Subamos.
As escadas são íngremes
e mal-cuidadas, o Xeque suspende levemente suas vestes e prossegue.
Uma batida, aparentemente em código, provoca uma pequena perturbação
em Abd, imerso em seus pensamentos.
- Que Deus lhe seja
misericordioso, professor!
- Que Deus lhe seja misericordioso, ó enviado!
– Fique à vontade meu filho, respondeu o Xeque, passando ao lado do rapaz e perscrutando calmamente o ambiente. Abd, orgulhoso de sua sorte, organização e limpeza, não deixa escapar um sorriso de satisfação e euforia que lhe advém, mordendo a língua. Omar ergue suavemente a cabeça analisando a expressão e postura do rapaz. O Xeque toma em suas mãos um pequeno e surrado caderninho com anotações que Abd fez em seus anos de estudos com o pregador Omar e as diversas palestras do Xeque. Folheia-o atentamente...
- Abd. Chama sua atenção Omar.
– O Xeque lhe fará
várias indagações para provar sua alma e sua fidelidade à nossa
causa. Preste atenção. Não se exalte. Pergunte o que quiser,
absolutamente qualquer coisa, mas espere-o terminar quando estiver
expondo algum ponto. Permita-o interrompê-lo, mas não o interrompa.
- Fique à vontade, sente-se... Diz, indicando-lhe um
assento, o Xeque Al Sustan.
– Meu filho, você já teve uma namorada?
– Não, senhor.
– Nenhum romance? Nem em Al Amari, onde vivem seus pais?
- Sim, senhor, mas foi em outra vida...
– Não meu filho, as remanescências desse amor ainda vibram em sua alma..., isso pode gerar dúvidas.
– Não senhor, meu amor é à minha causa, à minha ideologia, à minha missão!
– Ha, ha, ha... Vê Omar, ele ainda é uma criança...
– NÃO! Senhor...
– Por que te exaltas, Abd? Não aceitas que és uma criança ou não aceitas que ainda ama à Mahmouda, tua antiga namorada...?
– Senhor, não guardo lembranças de nenhuma mulher. E, apesar de sentir-me como uma criança que está prestes a encontrar seu Deus, sinto-me honrado e velho o suficiente para perpetrar o que me foi incumbido.
– Muito bem
decorado rapaz! ESTÚPIDO! NÃO QUERO OUVIR FALAS DE
SUAS ANOTAÇÕES INFANTIS! QUERO OUVIR SEU CORAÇÃO VIBRANDO NA
CAUSA DOS MÁRTIRES!
Fez-se um longo silêncio. Abd olha para
baixo e esfrega suas mãos. Omar levanta-se para preparar um chá. O
Xeque sentado de forma perfeitamente ereta, alisa com o polegar e o
indicador da mão direita, seus longos bigodes e barba.
-
“Por que você não luta pela causa de Deus e ajuda àqueles homens
e mulheres fracos que estão gritando: Nosso Deus, tire-nos desta
cidade cujas pessoas nos oprimem”. (o Al Nisa 4:75)
- Você
tem medo?
– Não senhor...
– Mas...
– Eu não sinto que seja certo matar outros muçulmanos e inocentes..., pois assim diz o Corão...
– “Para qualquer um
que matar um crente (muçulmano) intencionalmente, sua punição será
o inferno; ele vai morar lá, e Deus vai enviar sua ira sobre ele e
amaldiçoá-lo, e preparar para ele uma dolorosa punição”..., e,
meu filho, está escrito também: “Qualquer um que agir de forma
hostil ao profeta, depois da orientação haver-se manifestado nele,
e seguir outro caminho que não seja o dos crentes, nós (os crentes)
vamos torná-lo no que ele tornou a si mesmo (infiel) e vamos fazê-lo
entrar no inferno, um lugar de encontro do mal”.
Omar traz
o chá e todos o apreciam calmamente.
- Meu filho, todos os condenados e todos os que morrem não são mais muçulmanos antes do começo da missão, portanto, o inferno está descartado para você e o paraíso continua assegurado por ter eliminado do mundo apenas os infiéis.
– Senhor, Deus não me puniria pela morte de crianças que ainda não tiveram a oportunidade de entendê-lo ou conhecê-lo através dos ensinamentos do profeta?
– Não se você morrer junto com elas meu filho... Esses anjos inocentes conduzir-lhe-ão ao paraíso, aos braços do profeta, a Deus.
– Não há outra maneira de reagirmos, senhor?
– Infelizmente não, meu filho, nossos inimigos não afetam nossas comunidades, afetam os indivíduos, desmembrando nossas nações, nossas famílias... Eles dizem que buscamos nossa identidade em uma fé perdida no passado, sem fundamentos reais, sem conteúdo verdadeiro... E é por isso que devemos ferí-los em sua própria fé, a fé em si mesmos! E o faremos forte e resolutamente, como só mártires são capazes de fazê-lo. Abd olhou profundamente nos olhos do Xeque afirmando-se como emissário da causa dos mártires.
- Obrigado pelo chá.
Vamo-nos, Abd tem muito o que fazer.
Todos se levantam, e Abd
os acompanha até a porta. O Xeque vai na frente, acompanhado por
Omar que se vira para Abd e lhe abraça.
- Que Deus o acompanhe em cada passo!
– Assim seja!
Abd fecha a porta e pronuncia para si:
- Meu líder religioso me absolveu de todos os pecados que eu já tenha cometido ou que venha a cometer, portanto, posso dar prosseguimento à minha missão sem receio de ir ao inferno ou morrer sem ser absolvido. Meu líder religioso determinou que aqueles que eu matar não são mais muçulmanos, são infiéis, assim como os outros; e pela minha religião tenho o dever de mandá-los ao inferno...
nota: a linha ideológica
expressa no texto, faz referência ao Takfirismo e não ao islamismo
clássico.
Por que choras
palestina?
Parte IV
11:
25h da manhã, um homem em túnica verde passeava por uma das ruas de
Ras Al-Amud; trazia consigo um grande e luminoso sorriso, e, em sua
direção, vinha um jipe do exército israelense.
- Ei, você!
Para onde está indo?
- Que Deus esteja contigo!
- Perguntei
para onde está indo!
- Eu achava que sabia, e agora não sei
mais...
- Está de gozação conosco homem velho?
- Não
policial, eu apenas pensava saber para onde ia, e agora que vocês
chegaram não sei mais para onde vou...
Enquanto isso, duas
pessoas em túnicas brancas saem de um sobrado próximo. O velho
homem os fita concentrado, por um breve instante, e então torna a
sorrir.
- Desculpe-me policial, estava tão feliz porque
minha neta está por nascer que minha mente ficou um tanto fora de
lugar. Não quis ofendê-los, vou sentar-me um pouco ali adiante,
para tomar ar, depois sigo caminho para minha casa que fica a dois
quarteirões daqui. Muito obrigado pela preocupação!
- Está
bem, está bem..., e, parabéns pela neta!
- Oh, obrigado!
O
velho homem caminha alguns passos e então senta-se em um muro baixo
em frente a um sobrado amarelo; contempla as nuvens no céu, sente o
vento e sua direção, estreita a vista ao horizonte e espera...
11:34h, sai um jovem vestindo calças jeans, uma camisa
branca aparentemente nova e um casaco amarelo felpudo. O homem em
túnica verde levanta-se e vai em sua direção.
- Olá meu
jovem, eu estou um tanto perdido, poderia me ajudar?
- Desculpe
senhor, estou com pressa.
- Oh, de forma alguma quero tomar-lhe o
tempo, mas tenho certeza que com a sua ajuda poderei ganhar a
eternidade...
- Abd El Hafsi olha intrigado para o homem e
pergunta seu nome.
- Meu nome é Ali Farmadhi e o seu?
- O
meu..., é Mojud! De onde vens senhor, seu tom de voz é um tanto
diferente...
- Ah, eu andei muito por aí, mas minha cidade natal
é Samarkand no Afeganistão.
- Sr. Farmadhi, eu estou realmente
com pressa, em que poderia ajudá-lo?
- Sabe, minha filha mora em
Ras Abu Sbeitan e eu não sei como chegar lá, você por acaso sabe?
- Sbeeitan..., eu não sei!
- Ah, não é nenhum problema,
mas você está bem elegante, talvez vá tomar algum ônibus e eu
possa acompanhá-lo até uma parada...
- Senhor, peço desculpas
por não poder ajudá-lo, mas eu gostaria de andar só.
- Ah meu
filho, muitos pensam que as melhores jornadas são solitárias, mas
eu sempre digo que 1-“nunca estamos sós ou sem ajuda, a força que
guia as estrelas nos guia também”... Desculpe-me a impertinência,
mas eu simpatizei muito com você e gostaria de simplesmente
acompanhá-lo até o ônibus. Você vai de ônibus a algum lugar não
vai?
- Sim, vou...
- Então?
- Humm, está bem! Vou para
além do muro e poderei pegar um ônibus que passe por Ras Sbeitan, e
com isso, ajudá-lo a ganhar a eternidade...
- Hahaha, que bom
que seu humor voltou, sabia que podia contar com você!
Porque
choras, palestina?
Choro o choro do santo,
extático;
olhar voltado para cima;
vertendo suas lágrimas pelo canto,
enquanto uma suave brisa serpenteia-lhe coluna acima.
Choro
enquanto sorrio
para quem vê é um desvario,
Mas para quem
sente
é deixar-se seguir no Grande Rio
e transbordar no
peito
a dor-felicidade dos que realizam o Grande Feito...
-
Ariel, meu turno já acabou, pegue suas coisas que lhe dou uma carona
até o ponto para Ras Sbeitan. Enquanto isso, gostaria que me
explicasse mais sobre esse código do qual me falou.
- Está bem,
vamos.
Por que choras, Palestina?
Choro o toque dos sinos,
O sino das sinagogas, das
mesquitas e das igrejas.
O som do meu choro é o mesmo,
embora
diferentes sejam as lamentações...
- Mãe, não precisa
colocar tanta comida na mochila, vai ficar pesada e não poderei ir
chutando bola.
- Estou colocando o suficiente para a ida e a
volta. Entregue esse envelope para sua tia e não esqueça de guardar
bem o que ela lhe der. Lembre-se de não fazer gracinhas para os
guardas, quanto menos chamar-lhes a atenção melhor! Agora vamos que
o levarei até o ônibus.
Por que choras, palestina?
Choro
o choro da Grande Mãe
que espera a cada dia,
uma atitude
mais sensata dos seus muitos filhos.
Rogo pelo fim das
provocações,
das pequenas intrigas e das mediocridades,
que
separam nossa cidade
por um grande muro e lamentações...
1
- Srii Srii Anandamurtijii - Filósofo e guia espiritual
Indiano.
Por que choras
Palestina?
Parte V
- Geza,
o código está sendo estudado há muito tempo, no início era um
processo mental de assimilação de palavras ocultas em um texto,
onde os espaços eram desconsiderados; podia-se ler palavras em
saltos que variavam de 2 a 50 letras, por exemplo. Uma forma mental
mais complexa, desenvolvida ainda no tempo de Moshe Ben Maimon, era a
busca por palavras ocultas em diagonais, verticais, horizontais e
depois integradas em quadrantes.
- Nossa, como era possível
isso?
- Primeiro, o Moshe criou cartões com textos em forma de
matrizes de 50 por 50, estudou cada cartão em todas as perspectivas
possíveis e, à época, já eram incríveis as descobertas.
Com
o tempo, o Moshe já tinha memorizado todos os cartões. E passou a
fazer as relações mentalmente. Sua habilidade tornou-o célebre
dentre os estudiosos; mas não foi só isso, ele passou a interpretar
o Torah de uma maneira diferente; havia expressões, frases inteiras,
avisos e até previsões que se confirmavam no tempo linear.
-
Que incrível! E por que não se sabe nada sobre isso, pelo menos,
fora dos círculos reservados?
- Porque o Moshe passou a ser
temido por sua genialidade crescente, pela força e convicção de
suas descobertas, ainda que admirado por alguns.
- Aconteceu
alguma coisa?
- Sim, os interpretadores do código do Torah foram
secretamente perseguidos e ainda o são.
- Ainda? E você fica
para baixo e para cima com esse lap top, estudando esse programa?
-
Ha, ha, ha, não se preocupe Geza, eu sou um inofensivo; o pessoal do
Mossad já mexeu no meu computador várias vezes; tentaram não
deixar rastros, mas eu tenho meus algoritmos secretos...
-
Mexeram no seu computador? E aí?
- Cara, o Mossad está em todo
lugar; na faculdade estava cheio deles, é doideira! No início,
achei que você também o fosse, porque vivia mexendo no meu lap top,
só que deixando todo o tipo de rastros, bem diferente do padrão de
acesso do Mossad...
- Que é isso cara?
- É, eu sabia tudo
que você fazia no meu computador, e ainda tinha que ficar limpando
as sujeiradas daqueles sites pornôs que você vivia acessando... Ha,
ha, ha...
- Pô, Ariel, que é isso? Eu tomava todo cuidado cara!
Depois, você tinha firewall, spyware, adware, anti-pharming,
antivírus, como é que podia ficar alguma coisa?
- Cara, praga
sempre dá um jeito de grudar...
- E, depois, admito que sempre
tive curiosidade em saber o que você tanto fuçava em seu computador
por horas a fio, que não era internet e nem jogos... Mas, quando
procurava em seu computador não encontrava nada a não ser programas
básicos e arquivos comuns.
- Ha, ha, ha. Geza, você é um
verdadeiro bisbilhoteiro! Mas confesso que fui eu quem despertou sua
curiosidade e, provavelmente, a do pessoal do Mossad. Mas vou te
contar meu segredo... Criei um programa que criptografa qualquer
arquivo, mesmo os executáveis e os compacta. Depois disso, eu os
renomeio com um nome de sistema bem comum e o escondo no meio dos
milhares de arquivos do sistema operacional. Encontrá-lo já é
difícil mas, se alguém o conseguir, terá problemas com a minha
senha de 256 bits! Ha, ha, ha...
- Putz cara, mas para que tanto
segredo?
- Primeiro, eu faço de pirraça, para mexer com os
bisbilhoteiros como você! Segundo, eu gosto de estudar seriamente e
vou catalogando as pesquisas, fazendo analogias, comparando dados,
criando hipóteses e até coletando informações de jornais e
cruzando com informações do código.
- Uau, mas cara, você
deveria trabalhar lá no Mossad, e não como soldado...
- Eu sou
só um amador..., os caras que trabalham com o código lá têm
pós-doutorado em matemática, física, engenharia de sistemas,
teologia, história, etc.., eu só poderia ser um analista júnior,
ficaria todo tempo rastreando a internet e não teria teria tempo
para meus estudos particulares. Já, como soldado, faço meu turno e
fico totalmente livre com algum dinheiro no bolso.
- Você disse
que os interpretadores do código que não trabalham para o Mossad,
claro, são perseguidos até hoje, por quê?
- Geza, hoje há
programas que lêem o Torah em múltiplas dimensões, as informações
são coletadas e reunidas por supercomputadores. Depois, os
especialistas as analisam.
- Mas, o que é analisado nesses
programas?
- Eventos, Geza. Eventos do presente e do futuro!
-
Do futuro?
- Sim, mas há uma limitação nos programas. É
necessário uma chave para interpretação: algumas palavras-chaves
que desencadeiem o salto das palavras e expressões que caracterizem
eventos.
- Como assim?
- Imagine que você saiba o futuro,
sabe que algo acontecerá ao meio-dia de hoje. Então, insira nos
programas palavras como Ras Abu Sbeitan, o meu nome, a hora, o nome
de outras pessoas envolvidas que você já saiba que participarão do
evento e inicie a busca com saltos de letras de até infinito. Se seu
programa for muito bom, ele desencadeará resultados em camadas e
poderá agrupá-las pelo sentido que elas formem entre si. Depois,
você as analisa. Por exemplo, o código passou a ser reconsiderado a
partir do atentado ao primeiro ministro Yitzhak Rabin, que foi
previsto por meu professor de matemática que usava o código.
-
Cara, que é isso?
- É, ele tentou avisar ao governo e ninguém
o levou a sério, diziam que qualquer autoridade estava em risco a
qualquer hora e lugar.
Mas ele informou o lugar do atentado e a
hora; perguntaram como ele ficou sabendo e quando disse que foi com a
ajuda do código, desligaram.
- Mas aconteceu!
- Sim, e o
professor nunca mais foi visto... Mas qualquer um que tenha o
programa básico, com as variáveis já sabidas do evento passado,
pode encontrar as informações do atentado e - pasme! - até o nome
do assassino está lá!
- Mas isso é fantástico!
- Por isso
é levado a sério hoje em dia, mas seu uso oficial é guardado em
segredo.
- Mas como você disse, há informações que só são
possíveis de se saber após o acontecimento.
- Sim, mas é por
isso que foi criado um novo sistema de rastreamento na internet.
Através dele e com a utilização de satélites e bancos de dados
compartilhados pelo mundo, é possível cruzar dados que presumam
ameaça, com informações completas sobre os autores, inclusive os
locais onde se encontram, mesmo que os IP sejam mascarados. Daí é
só cruzar as informações mais ameaçadoras com o código do Torah
multidimensional e: Eureka!
Por que choras, Palestina?
Choro
gotas do orvalho
Choro pelo sol que está por vir
Por aqueles
Que sua luz não poderão sentir,
Seja por estarem à deriva
No mar do mundo,
Seja porque do mundo
já hajam
desembarcado...
- Lá vem o ônibus, Muhammed, meu filho. Ah,
dê-me aqui um abraço.
- Ai, mãe, não fica me apertando tanto
assim na rua. Mas tudo bem!
Dos olhos de Zohra rolam lágrimas
inesperadas e o coração se aperta no peito, não querendo seu filho
deixar. Seca uma lágrima fugidia, levanta-se e faz sinal para que o
ônibus pare.
- A Deus mãe.
- A Deus meu filho.
Por
que choras, palestina?
Meu choro é o da lua partida
Talvez
um choro de corações partidos
à procura da completude.
Meu
choro é o da estrela solitária,
Talvez o choro de corações
solitários
que na estrela distante
busquem o seu próprio
calor.
Ó estrela em cuja gravidade existo.
Ó lua em cuja
superfície me espelho...
- Mojud, meu jovem, você gosta
de dançar?
- Não, senhor.
- Ah, eu gosto! Danço como
girassóis até que o sol se ponha... Ha, ha, ha...
- Você já
viajou, Mojud?
- Não.
- Ah, ainda há tempo... O mundo é
muito grande..., bonito e diverso. Do oriente ao ocidente, do
nascente ao poente, há muito o que se viver...
- Não tenho
tempo para isso.
- Ah! meu jovem, desculpe este velho
impertinente, mas justamente por causa desse ar responsável que traz
no rosto é que você merece o mundo conhecer.
Sabe, quando eu
tinha a sua idade, eu saí lá de Samarkand e andei pelo mundo
afora... Sempre há algum trabalho para um jovem bem disposto, mesmo
que não seja muito sorridente, não é Mojud? Ha, ha, ha.
-
Senhor Farmadhi, meu mundo é a Palestina e, pelo que sei, o seu
deveria ser o Afeganistão.
- Sim, sim, mas apesar disso, nossas
línguas são similares, nossa cultura é compartilhada, o céu que
nos cobre é o mesmo e o manto que se espalha pela terra é do mesmo
Deus. Seríamos muito tristes e solitários se confinássemos nossa
mente e nosso espírito a um só pedaço dessa grande terra.
-
Mas com esse pedaço de terra temos responsabilidades.
- Sim, e
há várias maneiras de cumprirmos nossa responsabilidade. Veja, no
mundo há várias culturas, e a nossa, graças a Deus e aos nossos
antepassados, está espalhada pelo mundo, coexistindo com as outras.
Há lugares rigorosos como o Irã e há outros mais tolerantes, como
o Líbano; mas são todos, de uma forma ou de outra, de cultura
árabe. Há diferenças familiares, de clãs, de tribos, que acabam,
com o tempo, por tornarem-se diferenças étnicas; mas Deus nos une,
nosso amor por Ele nos une, assim como Seu amor por nós nos uniu um
dia e nos unirá no futuro.
- Sr. Farmadhi, é por causa de
mentalidades como a sua que nosso povo sofre.
- Por que, Mojud?
- Porque essa maneira de pensar nos enfraquece, dispersa-nos e
permite ao inimigo nos ocupar com mais facilidade, enquanto, segundo
sua concepção, tornamo-nos viajantes apátridas, passeando pelo
mundo.
- Não, meu filho, o inimigo utiliza o nosso ódio contra
nós mesmos. Ele nos incita para que o ataquemos. Por quê? Porque o
mundo nos protege. O mundo tem olhos para nós, para nossos problemas
e o inimigo ainda não nos ocupou completamente porque o mundo possui
regras de convivência e de civilidade. Ao nutrirmos nosso ódio,
damos salvo-conduto ao inimigo para agir segundo suas prerrogativas
de defesa. E por que ele consegue isso? Porque ele tornou-se forte ao
unir-se. Eis nossa fraqueza, seja como indivíduos, como familiares,
como nação ou como seres humanos: a tendência à divisão e,
portanto, ao isolamento.
Abd fica em silêncio. Por um
brevíssimo instante, sua atitude resoluta, dá lugar a um grande
tormento: o da divisão interior.
Por que choras, Palestina?
Choro a ausência dos Abdis
que morrem por suas causas,
e
que, embora resolutos,
no fundo são solitários
e sofrem no
isolamento
a mais terrível dor.
11:52
Checkpoint de Ras Abu Sbeitan
- Chegamos!
-
Valeu, Geza, depois nos vemos.
Ariel dirige-se a um soldado
do posto de vigilância.
- Onde encontro o comandante?
-
Quem é você?
- Ariel Shalom. Força de segurança –
comunicações.
- Aguarde um instante, estamos em alerta 3.
-
Terrorista, aqui?
- Sim, recebemos um comunicado da inteligência.
- Hum, aqui está minha identificação, posso esperar ali
dentro? Talvez eu possa ajudar...
- Está bem.
Ariel
acomoda-se em uma pequena sala com mesas, cadeiras e um grande mapa
daquela localidade. Abre a mochila e tira seu notebook.
- Código
do Torah... Ras Abu Sbeitan, 30 de dezembro de 2007...
Enquanto
isso, chegando ao terminal...
- Oh, o grande terminal de Sbeitan.
- Os portais do céu... Diz Abd.
- ... ou do inferno...
Completa Ali Farmadhi.
- He, he, he, é verdade.
A alguns
metros dali, um forte movimento de revista. Abd já percebeu, seu
olhar muda e seu semblante torna-se austero.
Em outro ponto
do terminal...
- Nossa que tumulto!
- Ei, vocês, vão
atravessar? Todos para ali.
Os policiais se espalham por todo
o lugar e começam a formar grandes filas. Um caminhão cheio de
soldados e cães farejadores estaciona.
- Ai, meu Deus, é
hoje que não saio daqui.
-Calma menino, não se preocupe, tire
sua mochila das costas e ponha-a a seus pés para evitar maiores
problemas; e não deixe ninguém mexer nela que não sejam os
policiais.
- Por que o senhor está dizendo isso?
- Por que
eu acho que eles estão procurando um homem-bomba...
- Nossa, e
não é melhor sairmos daqui?
- Está vendo aqueles ali no canto,
de óculos escuros? São do Mossad; qualquer movimento suspeito e
eles nos prendem.
- Ai, ai, ai...
- Calma, vai terminar tudo
bem...
Dentro do posto de vigilância...
- Grande luz
na hora cheia..., grande luz na hora cheia... Meu Deus, o ataque será
ao meio-dia!
Abd caminha calmamente a uma das passagens quando um
policial o interrompe.
- Vá para a fila de inspeção!
Abd
o fita sem expressão.
- Vá para a fila de inspeção!
O
policial o encara seriamente ao mesmo tempo em que pega o walkie
talkie.
- Desculpe-nos policial, meu sobrinho é surdo,
já estamos indo para a fila. Obrigado.
- Está bem. Leve-o
daqui.
- Vamos, Mojud.
Os dois dirigem-se à fila. Há
doze grandes filas, a inspeção se inicia...
- Ei,
senhor, olhe aquele velho de túnica verde e aquele cara de casaco
amarelo.
- Não olhe para eles. Olhe para frente ou fique
conversando comigo.
- E se ele for um homem bomba?
- Eles não
andam acompanhados e, pelo visto, aquele senhor deve ser o pai ou avô
dele.
- Mas eu não sou nada do senhor e o senhor está
conversando comigo.
- Justamente para a segurança não pensar
que você é um menino-bomba.
- Eu?!
- Sim, com esse mochilão
você é bem suspeito...
- Ha, ha, ha, talvez depois que eu comer
toda a comida que minha mãe colocou aí...
- Nem pense nisso,
ha, ha, ha.
12 horas
Todos os muçulmanos se
ajoelham voltados para Meca. Os policiais israelenses põem as mãos
na cabeça desconsolados. Alguns trazem consigo pequenas bolsas e
tiram pequenos tapetes e garrafinhas para abluções.
Abd não
traz nada consigo, mas ajoelha-se igualmente, olhar voltado para
cima... Farmadhi, ao seu lado, pega um belo tapetinho persa e um
cantil dourado; faz suas abluções e olha para Abd, que começa suas
orações:
1 "Dou graças a Vós, Senhor, por me
conhecerdes melhor do que eu me conheço, e por me deixardes
conhecer-me melhor do que os outros me conhecem. Tornai-me melhor,
rogo-Vos, melhor do que eles supõem que eu seja, e perdoai-me pelo
que eles não sabem".
Ali Farmadhi começa suas orações:
2 "Ó Deus, dai-me luz em meu coração, e luz em
meu túmulo;
luz quando escuto e luz quando estou vendo;
luz
na minha pele, luz no meu cabelo;
luz na minha carne e luz nos
meus ossos;
luz diante de mim, luz detrás de mim;
luz à
minha direita, luz à minha esquerda;
luz acima de mim, luz
debaixo de mim.
Ó Deus, fazei crescer a minha luz
e dai-me a
grande luz do Todo.
Ó Tu, misericordioso, dai-me luz;
Ó Tu,
o mais compassível,
Ó, cheio de graça".
3 "Ó
Deus, Sua graça é o correto objeto do nosso desejo, não é próprio
acrescentar outro ao Senhor. Nada é mais amargo do que afastar-se do
Senhor. Sem sua proteção não há nada, exceto desorientação;
nossos bens materiais nos privam de nossos bens espirituais; nosso
corpo rompe as vestes da nossa alma, nossas mãos, como estão,
oprimem nossos pés; sem confiarmos no Senhor, como poderemos viver?
E se a alma escapa destes grandes perigos, é capturada como
vítima de infortúnios e medos, pois quando a alma não está unida
ao Bem-amado, ela vive cega e obscurecida por si mesma".
De
repente, Ali Farmadhi ergue suas mãos aos céus e começa uma canção
em tom alto e lamentoso. Todos se voltam para ele.
4
"Seja feita sua vontade, meu Senhor e Mestre.
Ó Senhor,
significado do tesouro do meu espírito.
Ó Essência do meu ser,
Meta do meu desejo.
Ó meu Falar, minhas Intuições e meus
Gestos..."
Seu corpo começa a tremer, as lágrimas
rolando abundantes de seus olhos...
4 "...Ó Tudo do
meu tudo, Ó minha Audição e minha Visão. Ó meu Completo e meu
Elemento, ó minhas Partículas..."
Um forte tremor
toma conta de seu corpo, um sorriso sobrenatural surge em seu rosto.
Os policiais israelenses se aproximam, não sabendo o que fazer;
todos os muçulmanos interrompem suas orações e curvam suas cabeças
em respeito a Deus. Abd fica petrificado. Um agente do Mossad dá
ordens pelo walkie talkie para pegarem o velho. O comandante
intervém, adverte que este ato poderá provocar uma grande revolta.
Os policiais se aproximam com os cães. Abd olha para cima e fala
para si:
- É chegada a hora...
Ariel vai
para fora, vê o centro das atenções e pensa: na hora cheia, uma
grande luz!
A terra começa a tremer, um forte vento toma
conta do lugar trazendo uma grande quantidade de poeira. Todos ficam
atônitos e temerosos. Ali Farmadhi com um belo sorriso, olhos
molhados, pega as mãos de Abd e diz:
Vamos meu filho,
não é essa a sua hora...
Abd levanta-se e parte com
ele.
Cessa o tremor e o vento volve-se em brisa fresca.
Todos procuram o velho Santo, mas ele já não está mais ali, assim
como o jovem de jaqueta amarela.
- Uau, deixa eu contar para
minha mãe!
- Meu filho, essa você poderá contar para seus
filhos e netos, assim como para todas as pessoas que tenham ouvidos
para ouvir...
1 - Abu Bakr; 2 - Hazrat Inayat Khan; 3 -
Jalal Ud-Din Rumi;
4 - Kashf Al Mahjup
Marco
Aurélio Pinto da Fonseca
Biografia
Estudou Filosofia, história e psicologia Oriental no Ananda Ashram Institute ao longo de 5 anos;
- Estudou 2 anos de Direito na Univ. Estácio de Sá;
- Estudou Filosofia na Universidade Federal do Paraná;
- Aos 6 inicia estudos de judô e ingressa no Grupo Escoteiro João XXIII - Em Brasília - DF (onde fica até os 12 anos);
- Aos 13 compõe contos e poesias e ganha prêmios do Colégio Dom Bosco e da Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira - Amazonas;
- Aos 15 ingressa na Escola Naja de Muay Thai - com o Mestre Narany - no Flamengo - RJ, com quem estuda até os 19;
- Aos 19 ingressa na Escola Kyoto de Jiu-jitsu, onde estuda até os 22;
- Aos 22, em Petrópolis no Rio de Janeiro, em busca de um mosteiro, onde buscava ingressar como monge, encontra Swami Dharmadevananda Avadhuta, com quem reside por 2 anos, estudando Filosofia Oriental, Medicina Ayurvédica e Yogaterapia, além de ser iniciado em Rajdhiraj Yoga, sob os auspícios de Shrii Shrii Anandamurti de Jamalpur, Bengala Ocidental - India, e desde então, participou como voluntário dos projetos da AMURT ( órgão reconhecido pelas Nações Unidas pelos serviços de assistência à humanidade em desastres naturais e provocados pelo pelo homem; criação de escolas, creches, orfanatos, hospitais; incentivo ao desenvolvimento artístico e cultural; valorização e treinamento profissional das mulheres residentes em países onde ainda há discriminação; incentivo à pesquisa e desenvolvimento de fontes de energia alternativa; incentivo e desenvolvimento de fazendas modelo onde o ser humano vive em harmonia com o meio ambiente; dentre outros programas para o progresso do Ser);
- Aos 23 anos acompanha como assistente Swamiji Tapeshwarananda Avt., com quem aprende mais sobre Biopsicologia, Ayurvédica, Astrologia e Raja Yoga aplicada;
- ainda aos 23 anos, participa do Curso de Formação em Qi-Gong e Filosofia Taoísta, promovida pela UNIPAZ- Universidade Holística de Brasília, ministrado pelo Mestre Taoísta Liu Pai Ling;aos 24, trabalha com Swamiji Subhasisananda Avadhuta, estagiando em projetos educacionais, práticas de Hatha Yoga e ainda em 1994, visita o International Institute for Social Service, em Idrefors, Gulringen, na Suécia, onde assiste palestras e seminários sobre Biopsicologia do Yoga, e participa de meditações intensivas. Visita também Ashrams em Mainz na Alemanha, em Copenhagen na Dinamarca, em Amsterdam na Holanda, onde participou de atividades de serviço social, palestras e seminários sobre a ciência do yoga;
- aos 25, é encaminhado ao Mestre de Reiki Johnny De' Carli, aluno de Doi Hiroshi Sensei membro da Usui Ryoho Gakkai - Japão, com quem recebe as iniciações dos três graus de Terapeuta Reiki e é convidado ao Programa de Treinamento para o Grau Reiki Master;
- Ainda em 1997, visita a Universidade Gurukul, em Ananda Nagar, Distrito de Purúlia na India e recebe a atenção e sabedoria de Swami Vitamohanandaji Avadhuta, sobre os ensinamentos, vida e obra do Sadguru Shrii Shrii Anandamurtiji;
- recebe as bençãos do Presidente da Ananda Marga Pracaraka Samgha em Calcutá, Swamiji Puroddha Pramuka, com quem relembra as poesias escritas e declamadas na juventude. Swamiji Puroddha Pramuka confidencia que também gosta de Poesia e apresenta sua coleção com mais de 1.000 poesias - as quais chama de "Cantos devocionais", escritas em Hindi;
- Em 1998 ingressa no Curso de Filosofia na Universidade Federal do Paraná;
- Ainda em 1998, participa do programa de formação de Instrutores de Ch'i Kung, ministrado pelo Dr. Mo Xiao Ming, médico do Zhejiang College of Tradicional Chinese Medicine;
- Desde 1992 lecionando Yoga e desde 1996 lecionando Reiki e programas de qualidade de vida, em todo o Brasil; desenvolvendo projetos e atividades no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina;
- Atualmente, ingressou no curso de Gestão de Segurança Pública e estuda Ninjutsu.
Obras do autor:
- Consciência multidimensional & Reiki;
- A magia do Contato;
- No limiar da vida e da morte.
Para contato:
[email protected]
www.marcoaurelio-pintodafonseca.net76.net
Autor: Marco Aur�lio Pinto da Fonseca
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