Mudanças no Perfil da Ação Supervisora. Você Está Preparada?



Mudanças no perfil da ação supervisora. Você está preparada?

Renata de Souza [1]

RESUMO: O presente artigo possibilita uma reflexão sobre a ação no campo da supervisão, desde sua implantação até os dias de hoje, ressaltando sua importância para as transformações culturais, sociais e tecnológicas que acontecem em nossa atual sociedade. Como estudante do curso de pedagogia, os estudos e a abordagem a que refiro no texto contemplam investigações sobre a ação da supervisão escolar e me motivaram a continuar estudando, buscando novas questões para a continuidade da discussão a fim de que se possam ser estas outras abordagens repensadas e implementadas nas escolas.

PALAVRAS-CHAVE: Supervisão, transformação, educação.

O texto a seguir, apresenta reflexões feitas a partir de uma pesquisa[2] realizada no Núcleo de Apoio ao Discente – NAD, que é constituído por um espaço de articulação pedagógica pertencente ao Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter.

A equipe de profissionais do Núcleo conta com um total de quatro profissionais com formação em Pedagogia e uma em Psicologia, além das colaboradoras estagiárias que realizam o trabalho de secretariar e recepcionar os alunos do UniRitter. Dentro desse espaço educativo, busquei, juntamente com a profissional responsável pela supervisão, a Denise Ceroni, analisar a visibilidade e a importância que este espaço possui na vida dos acadêmicos do UniRitter.

Dentro da pesquisa procurei analisar os meios utilizados pela coordenação pedagógica, para que essa informação chegasse até seu objeto de trabalho: o aluno. Descrevo, agora, a historicidade dos fatos.

A supervisora comentou que recentemente foi alterada quase toda a equipe pedagógica[3], e que os profissionais agora estariam qualificados, e por acreditar que "a falta de diálogo entre as equipes (turnos inversos) anteriores e a também de planejamento ineficaz" era a principal justificativa para a pouca visibilidade do setor na instituição. Assim, por se tratar de alunas recém formadas, que a seu ver "possibilitam" uma nova visão para trabalhar a gestão local até então realizada.

Enquanto aluna da instituição UniRitter, juntamente com análise de algumas respostas de alunos entrevistados durante o projeto desenvolvido no NAD, pude perceber que a falta de visibilidade do setor acontecia, pela falta de diálogo dos mesmos conosco, pois muitos dos cursos oferecidos pelo NAD nem se quer chegavam ao nosso conhecimento, não eram divulgados.

A nova equipe[4] de gestão agora está se preparando para uma outra etapa que está sendo planejada, e que a meu ver trará bons resultados neste semestre que inicia. Trata-se de levar a informação até o aluno dentro da sala de aula, explicando o que o setor faz e oferece, e não mais ficar esperando que o aluno vá até ao núcleo em busca de informação quando precisar. Também haverá distribuição de cartazes pela instituição com a divulgação das Oficinas oferecidas pelo NAD, bem como a oferta para que outras, com contribuição dos professores, possam acontecer aos alunos portadores de dificuldade educativa tenham acesso aos serviços que o Núcleo oferece.

Esse estudo me proporcionou e me fez pensar em muito dos obstáculos vividos no campo da supervisão. Supervisão esta que se deixou levar por influências burocráticas e esqueceu o seu real papel dentro da educação. Conta-se através da literatura, segundo Medina (1995), que a supervisão foi considerada como necessidade pela sociedade e exercida de diversas formas, segundo seu momento histórico. Na idade média o governo encaminhava para as escolas um professor com o papel para controlar, inspecionar e fiscalizar as práticas educativas. Seu trabalho era certificar-se que os principais aspectos morais e religiosos estavam sendo desenvolvidos pelos professores em sala de aula.

Na Revolução Industrial, as fábricas criaram o cargo de supervisão com a intenção de garantir o "adestramento de comportamento" e desempenhos de seus funcionários, e quando esta migrou para as escolas, continuou com a mesma visão de controle. Segundo Medida (1995),

[...] as posições baseadas na história já contada apontaram e, por que não dizer, ainda, apontam, para um tipo de supervisão autoritária e incompetente, além de colocar o professor como um explorado nos seus direitos, expropriado no seu saber e desmoralizado na sua prática. (p. 48-49).

Isso explica o porquê até hoje ainda professores, e porque não, os estudantes, têm uma visão distorcida do real papel da supervisão. Os professores delegavam ao supervisor a ação de impedir/inibir seu trabalho. Foi meio a esse conflito que se criou entre o papel do supervisor junto ao professor, que a ação supervisora tomou outros caminhos e se deixou influenciar pelas atividades burocráticas junto a secretaria e direção, hoje ainda exercidas em muitas escolas.

Nós, alunos do curso de pedagogia, junto com alguns supervisores e professores, acreditamos nessa nova maneira de trabalhar, tentando mudar essa visão que a supervisão deixou-nos de herança, por acreditar no seu real valor dentro das escolas. Esse atual conceito de supervisão não mais coloca o professor e o supervisor num "campo de batalha", em que os dois disputam poderes, e sim, o supervisor como parceiro pedagógico dos professores. Ou seja, alguém que vai contribuir para que o professor, em suas reflexões diárias, em suas dificuldades cotidianas, discuta e busque compreender o fenômeno do processo de ensino-aprendizagem com alternativas mais eficazes. Rangel (1999) diz que "existe um buraco que separa o setor de supervisão da ação dos professores" (p. 18).

É papel desse atual conceito educativo que o supervisor deve poder explicitar e discutir com os professores frente ao projeto pedagógico da escola que coordena. Seu objeto de trabalho passa a ser "o resultado da relação que ocorre entre o professor que ensina e o aluno que aprende" (RANGEL, 1999, p. 22), e, para que isto ocorra, é preciso que este novo profissional busque constantemente apropriar-se de novas metodologias que servirão como "facilitador do ato de ensinar e aprender". (RANGEL, 1999, p. 22). Uma das grandes atribuições apontadas hoje para esse novo profissional é a sensibilidade para acreditar no outro. Segundo Vasconcellos (2002):

O supervisor não pode "queimar" a relação com os docentes. Toda relação humana autentica se baseia na crença da possibilidade do outro, de que ninguém é melhor ou superior a ninguém. Acreditar que o outro pode mudar, que o que lhe faltou até então foi efetiva oportunidade ou percepção da necessidade. Este é o ponto de partida: confiar que o professor pode mudar sua visão e postura em relação à prática pedagogia. Precisamos nos trabalhar nesta direção, desarmar preconceitos, buscar sinceramente esta crença. (p. 91)

 

A grande maioria dos supervisores ainda encontram resistência por parte dos professores e direção, para que este novo perfil de trabalho seja implementado nas escolas. Conforme já citado anteriormente, isso decorre da reprodução cultural que ainda permeia os espaços educativos. Outros já estão acostumados a trabalhar de tal forma e não se vêem encorajados para tal mudança, fato este que também preocupa quem investiga os processos educacionais.

Segundo uma pesquisa realizada por Medina (1995) com alguns supervisores, onde o intuito era repensar a ação supervisora, alguns "se queixavam e diziam não ter autonomia de mudanças, pois as decisões eram tomadas pela direção da escola e isso poderia ameaçar seu trabalho". Pelo medo, muitos supervisores continuavam e continuam ignorando a relevância de tal questão. Muitas dessas reuniões, que deveriam ser usadas para formação de professores e planejamentos, ainda são desperdiçadas, e quando acontecem, são destinadas para recados administrativos.

Como resultado dessa pesquisa realizada por Medina (1995), os supervisores chegaram à conclusão de que o trabalho do supervisor independe do aceite ou não do diretor da escola. E no âmago do trabalho que quem ensina e de quem aprende, existe um "par de olhos" para focalizar o trabalho do professor, possibilitando e contribuindo para discutir e refletir sobre sua qualidade.

Na constatação de que não existem respostas que durem por muito tempo, lembraram que isso ocorre porque o ato de observar, refletir e agir dentro da escola vai trazendo fatos novos e, com estes fatos, um tipo de pensamento que supera o pensamento anterior [...] e o supervisor que procura da administração RME[5] uma resposta acabada para o agir do supervisor na escola também terá dificuldades (RANGEL, 1999, p. 25-26).

Termino este artigo, trazendo uma mensagem de esperança que retrata um dos sentimentos que passaram a conviver comigo, após um curso de supervisão ao qual eu tipo o prazer de fazer parte. Nas palavras de Rangel (2001) explicito o que estou referindo:

[...] finalizo este texto, que é apenas um começo. E, neste momento, passo a sonhar – isto é, expor meu sonho – com um mundo mais justo e humano a partir de nossa ação consciente e competente como profissionais da educação que formamos profissionais da educação que formam cidadãos e cidadãs. Não me refiro ao sonho do adormecido, mas ao sonho que é uma utopia possível, que está além do "tópico" existente e limitado, que ainda é muito pequeno. Sonho com um propósito do qual nos orgulhemos, que alimentamos, até tornar-se pensamento dominante e que seguimos com muita persistência e paixão. (p. 99-100)

 

Eu acredito nessa mudança. E estou pronta para o desafio. E você, tem coragem? Pense nisso.

REFERÊNCIAS:

MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão escolar: da ação exercida à ação repensada. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.

RANGEL, Mary (Org.). Nove olhares sobre a supervisão. 3.ed. Campinas: Papirus, 2000.

RANGEL, Mary (Org.). Supervisão pedagógica: princípios e práticas. Campinas: Papirus, 2001.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: Do projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2002.