Crônica de um vigarista crônico



Certa feita, um caboclo, desses: tipo faceiro, cheio de ginga e de lábia, me parou nas ruas de Sanpa, aonde a necessidade capital me leva a ir com a obrigação de fazer uns "frila", para aumentar a diminuta grana jornalística. Bom! Quer dizer mal! O mequetrefe desandou a falar. – Meu amigo (nunca vi uma amizade nascer tão rápido, acabava de "conhecer" o bangalafumenga, que aparentemente, estava desejoso de mandar bala num desabafo) – devo pra Deus e o Mundo. Já não sei aonde arranco grana para pagar minhas contas. O pessoal do SPC já alertou: se eu chegar uns cinco metros próximo de qualquer loja me tacam na cadeia, tamanha é a minha capivara. Os que ficam de olho nos ficha suja, estão grudados em mim. To pego!

É! A vida financeira do fubica estava braba, pra lá de Marráquexe, deduzi. E ele continuou o falatório. – Acredita que tentei fazer um acordo com o Demo, vender a minha imprestável alma. Mas, acho que até o Rabudo ao ver o tamanho e peso da bronca não quis fechar negócio. Minha situação é irremediável", lamentou.

Caraca! Me assustei. Se o próprio Demo não quis barganhar com o "infeliz", o que eu ali, na condição de simples transeunte estava fazendo, me molhando naquela choradeira. Penso com os meus botões, que tenho muito mais coisa pra fazer que o Diabo. Sou, pretensiosamente, do bem. Não tenho e nunca tive vocação para padre. Mas, em plena rua paulistana me senti num confessionário, ouvindo as auto-admoestações de um pobre vivente, arrependido de ter "pilantrado" uma centena de pessoas, que por falta de espaço, tempo, e oportunidade, não fez mais vítimas. E na parada obrigatória, ao entrar numa profunda reflexão viu a desgraça feita Mundo a fora, optando pela remissão do pecado capital (no sentido financeiro da palavra).

O um, sete, um, me confidenciou que o seu lema era: Se otário não existia malandro não vivia. Na minha conduta – repreensível – acredito no malandro honesto: o boêmio. Toma umas e outras, cai na gandaia e reza Pai Nosso e Ave Maria quando a ressaca braba o faz pensar que vai dessa pra melhor, ou pior quem sabe. Por isso, é que plagio o que ouvi de um sambista: "Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem".

Continuando a prosa, foi ledo engano de minha parte cogitar que o ordinário estivesse caindo no arrependimento – Olha! – disse ele, ao que olhei e adiantei – O cara vai chorar e pedir perdão a Deus pelas ações de pilantrofia praticadas a esmo. Que nada! Necas de pitipiriba. Não é que o vigarista arrumou a fórmula de, além de pagar suas contas, arrumar mais uma legião de otários para sustentá-lo – Seguinte! – voltou a falar – As eleições estão aí. Com o que apreendi na universidade da vida, mais os conhecimentos obtidos nas horas de vadiagem nos bancos das praças acredito que posso vender algumas ilusões e, conseguir um mandato para me dar bem uns quatro anos. Traduzindo: vou mamar nas tetas do Poder. Pago tudo, faço novas dívidas e vou levando a vida, com os trouxas me levando... caindo na minha rede.

– Esse é mais um grande janistroques, patife, canalha, f.d.p., ruminei nas idéias. Mas, ingenuamente, visualizei – O povo já está vacinado contra esse tipinho de gente. Legal! Ele foi pra um lado, provavelmente, dar um picaretada em alguém. E eu fui à cata do "frila", aumentar a rasgada renda familiar. Pois bem, passou o tempo, chegou e passou as eleições. Como é de costume e hábito jornalístico folheei alguns jornais, no objetivo de ler, ver e avaliar os erros e "acertos políticos".

Confesso, quase tive um AVC com a capa de um deles, onde a foto estampava o pulha, que me parou nas ruas de Sanpa, erguido à altura dos ombros de dezenas de idiotas – que o levarão nas costas por quatro anos. A manchete – Fulano de Tal ganha estourado e é o novo prefeito da cidade.


Autor: Valmir Barros


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