VERÔNICA
Tatuou o nome dela na
parte interna do braço. Dois meses depois terminaram o namoro. Eternizou
Verônica na pele e no suor de seu corpo atlético. De início não quis tirar,
depois lutou para remover, química e abrasão. Sem dinheiro para cirurgia a
laser teve que se contentar com as letras mal-apagadas do nome dela. Ia a
festas, ficava com outras garotas, mas namoro de verdade nunca mais. Parecia
praga da ex. As letras e o efeito delas sobre ele. Sentia saudades, que
falta lhe faziam os beijos demorados de língua, o andar manso e a recepção
calorosa quando, à noite, regressava. Havia chorado muitas vezes, não se
conformava com a separação. Ingrata, infeliz, terminaram por uma banalidade
qualquer, ela:
– "Gláuber, acho que
não dá mais, você é muito pegajoso".
Aquilo deu um rebuliço na
boca do estômago, segurou o vômito e a dor. Ela argumentou que a culpa era de
seu ciúme doentio, mas Gláuber sequer lembrava de a ter censurado na roupa, de
a ter proibido de falar com algum amigo de seu convívio. Aquilo era pretexto,
de certo havia se enchido dele, da insistência para com o casório, da pressão
para que ela desse jeito no enxoval. Verônica se sentia presa a ele em virtude
da tatuagem. Bem lembrara da expressão em seu rosto:
– "Querido, e se não
der certo?"
e apaixonado:
– " Amor, ninguém
vai ocupar o teu lugar"
Ficou o nome e o lugar vazio no peito dele. Verônica foi
única. Das tentativas vãs, guardava o sentimento de culpa depois da transa sem
amor, com outra mulher. Desistiu de viver, cumprindo a ligeira obrigação de
concluir o Curso de Educação Física. Sem fome nem expectativas foi-se
minguando, tornara-se desligado para com os compromissos, era desprezível para
com os outros e mais, para consigo mesmo. Definhou até os ossos encovarem seu
rosto, até a caveira chupar seus olhos e então, para amenizar a dor sentia-se
feliz ao ver as letras, do nome dela, diminutas em seu braço.
Autor: Cl�udia Curcio
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