O Aparelho Psíquico não é Psíquico
O APARELHO PSÍQUICO NÃO É PSÍQUICO. O que está sendo negado é o caráter de psíquico, e não o caráter de aparelho. Trata-se de um aparelho que tem uma estrutura, com seus limites, suas partes constituintes e seu princípio de funcionamento.
O próprio Freud alterna o emprego dos termos "aparelho psíquico" e "aparelho anímico". A partir da segunda tópica Freudiana o termo "aparelho anímico"(tão contaminado metafisicamente) prevalece. O que Freud queria marcar era a natureza de sua construção teórica. O Aparelho de Freud no Cap 7 da Traumdeutung, não é só um aparelho de sonhar, é também um aparelho de memorizar, pensar, fantasiar, falar, etc.. No cap 7 ele está preocupado em dar conta da estrutura e função do Aparelho Psíquico.
"..são necessárias novas hipóteses", diz Freud. Desde o texto sobre afasias, ele vem elaborando um modelo de aparelho psíquico concebido como aparelho de memória e de linguagem. Não é um aparelho de memória e de linguagem, se constitui enquanto aparelho de memória e linguagem.
Não há anterioridade do aparelho em relação à memória e à linguagem, não há primeiro um aparelho e em segundo uma memória e a linguagem " é na medida que se opera uma diferenciação na trama dos neurônios, distinguindo um sistema Y de um sistema j.
E aquilo sobre o qual ou com a qual essa memória opera são sistemas de traços(no caso do Projeto e da Carta 52), ou em Interpretação dos Sonhos é concebido como texto psíquico; portanto memória de escritura.
Freud propõe que pensemos o sonho como uma escritura ou um texto psíquico. As imagens do sonho constituem-se como um texto. Esse texto não é feito de palavras e sim com imagens, mas isso não elimina sua natureza de texto. Se as imagens se articulam como uma linguagem e não como um amontoado de sinais, devemos concebê-los como uma escritura pictográfica (filme mudo)
Lacan afirma que o aparelho psíquico não é psíquico e sim simbólico.
O simbólico é que funda esse aparelho e não o que resulta do funcionamento do aparelho; "o psicológico em Freud é simbólico".
Os lugares psíquicos
O conceito de lugares psíquicos é diferente de lugares anatômicos. "... levamos a localizar as representações em lugares ideais,... da mesma forma que num aparelho ótico as imagens se formam entre as lentes que compõe o aparelho..."
Sistemas psíquicos ¹ lugares psíquicos.
Sistemas psíquicos = elementos que compõe o aparelho – no símile ótico, são as lentes que compõe o aparelho.
Lugares psíquicos = vazios dos sistemas.
"as representações, os pensamentos e os produtos psíquicos em geral não podem ser localizados dentro dos elementos orgânicos do sistema nervoso, mas, por assim dizer, entre eles..."
Quanto aos sistemas, Freud fala que "não são de modo algum psíquicos".
O aparato psíquico é concebido como um instrumento, formado por um conjunto de elementos denominados instâncias ou sistemas.
INSTÂNCIA (Instanz) = sua ressonância jurídica. (Assinalar a atividade de um elemento deste aparato: a censura, por exemplo.)
SISTEMA (System) = sua conotação marcadamente tópica. (Se que se referir ao fato de que um elemento do aparelho é passivamente atravessado por uma excitação: sistema perceptível, por exemplo.)
Quando se refere à censura, Freud emprega o termo instância, quando fala da retenção dos traços ou da percepção, emprega sistema mnêmico e sistema perceptivo.
"... os sistemas se dispõem numa seqüência, de tal modo que sejam percorridos pela excitação segundo uma determinada série". Seu caráter espacial não é o mais importante, e sim seu caráter temporal. A espacialidade está a serviço da temporalidade, seu papel é de garantir a direção do funcionamento do aparelho. Trata-se de uma tópica temporal.
A seqüência dos sistemas que compõe o aparelho tem uma direção ao processo psíquico, da extremidade perceptiva à extremidade motora.
W Þ M onde W (Wahrnehmung = percepção ) e M (Motilitat = motilidade)
O sistema perceptivo caracteriza-se pela permeabilidade, condição para que ele se mantenha livre para a recepção de novos estímulos.
É indispensável, portanto, que se faça uma diferenciação na extremidade sensorial de modo a que um outro sistema fique responsável pelo registro das marcas mnêmicas deixadas pelas impressões.
SISTEMA PERCEPTIVEL – RECEBE AS IMPRESSÕES.
SISTEMA MNÊMICO – REPONSAVEL PELA MEMÓRIA DOS TRAÇOS.
Se todo traço é traço de impressão, quando houver simultaneidade de impressões perceptivas, haverá conexão dos traços. É o que Freud chama de associações.
Desta forma, um primeiro sistema fixará a associação por simultaneidade, um segundo sistema fixará a associação por semelhança, etc...
Freud assinala que é inútil especificar os inúmeros modos pelos quais os elementos atomisticamente fornecidos pelas impressões vão se articular.
A associação é uma das formas de relação entre os elementos, daí os vários sistemas mnêmicos.
Os traços mnêmicos são em si inconscientes, não possuem nenhuma qualidade.
O Projeto de 1895 referencia os sistemas Y, j, w (sistemas que compõe o aparelho).
O sistema y é fundamentalmente um sistema mnêmico, cabendo aos sistemas w a consciência e a qualidade.
w® Er®Er´®Er´´®M
Er = erinnerungsspur (traço mnêmico)
Para Freud, o aparelho psíquico é fundamentalmente um aparelho de memória, "a memória não é uma propriedade, mas aquilo que funda o aparelho".
São essas estruturas de retardo que primeiramente vão introduzir diferenças no indiferenciado inicial da trama dos neurônios . A partir daí, cria-se uma "preferência pelo caminho". De onde vem o termo, das Bahnungen, das diferenças entre caminhos possíveis.
Quando afirma que a memória está constituída pelas diferenças nas facilitações entre os neurônios y, o que está dizendo é que o traço mnêmico não pode ser concebido como um elemento simples independente das Bahnungen, mas sim em termos de diferença entre caminhos possíveis.
A noção de diferença é aqui uma noção primária, "a diferença como princípio de constituição do aparelho psíquico. A concepção da repetição como sendo primeira (Freud concebe a diferença como primeira).
Marco A. Wildt
Autor: marco aurelio wildt
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