Interpretação textual: Um desafio no ensino atual



A interpretação textual, nos dias atuais, é um tema que vem ganhando destaque e sendo exigido com maior freqüência em concursos, vestibulares e provas em geral, porém, é também um dos grandes obstáculos encontrados pelos alunos.

Identificar idéias centrais, secundárias, implícitas e intertextuais; estabelecer relações entre essas idéias; fazer inferências; reconhecer linguagem real de linguagem figurada; captar o que, de fato, pretende mostrar determinado autor ou até mesmo compreender o que se pede em uma questão, são tarefas que representam uma enorme dificuldade para alunos de variados níveis, desde o fundamental ao superior.

Tudo isso acaba repercutindo, não só no baixo desempenho do aluno em língua portuguesa, como também em várias outras matérias, e até mesmo na vida do indivíduo fora da escola, já que este se depara diariamente com questões que exigem interpretação e compreensão textual.

A falta do hábito de leitura, do acompanhamento acadêmico do educando e de metodologias incentivadoras da leitura são alguns fatores contribuintes para as dificuldades de interpretação textual. Além disso, alguns outros fatores, que podem ser de ordem lingüística, material e cognitiva, contribuem de forma positiva ou negativa, para essa atividade de compreensão textual.

Aos fatores lingüísticos estão associados elementos como: léxico, sinais de pontuação e estruturas sintáticas. Já os aspectos cognitivos estão ligados ao conhecimento de mundo, as experiências e a bagagem cultural do leitor. Dentre os aspectos materiais estão a variedade tipográfica, a letra- o tamanho, a clareza e a fonte empregada, o papel, ou se tratando de texto digital, a tela utilizada (KOCH, 2006, p. 28).

Dentre estes fatores, os de ordem cognitiva referem-se diretamente ao leitor, os outros - lingüísticos e materiais - estão voltados para o autor e para o texto em si. Assim, levando-se em conta um texto bem organizado, coerente, coeso e com material adequado e legível, não se pode atribuir outro responsável pela incompreensão, a não ser o próprio leitor.

Porém, a ausência de um conhecimento prévio acerca do assunto, de conhecimentos gramaticais, a falta de atenção, de costume e a falta de interesse pelo texto levam o leitor a sentir uma enorme dificuldade para compreendê-lo e interpretá-lo. Parece não existir diferença alguma entre essas duas habilidades: compreender e interpretar, mas por menor que seja, há sim uma diferença e vale aqui ressaltar.

A compreensão de um texto abrange o entendimento, a percepção do conteúdo global, da mensagem que se pretende transmitir, das idéias principais e da opinião do autor, mesmo que essa seja contrária a nossa. Percebe-se então que está mais voltada para os objetivos e as idéias do autor, por isso muitos a confundem com a idéia da compreensão como mera captação da mensagem, o que não é verdade. Afinal, o indivíduo, ao compreender o posicionamento de outro, não está impedido de pensar, refletir, e inclusive de confrontar suas idéias.

O termo interpretação, por si só, já nos traz à mente a idéia de multiplicidade, já que cada pessoa pode interpretar de maneira diferente uma mesma coisa. A interpretação textual se dá quando transferimos para o texto o que é nosso: nossa experiência, opinião e visão de mundo, e passamos a explicá-lo da maneira que entendemos, sem nos importamos se o que entendemos foi o que, de fato, o autor quis mostrar. Vemos, então que o elemento que se sobressai é não mais o autor, e sim, o leitor. Tendo em vista que essa postura é praticamente inaceitável, seria essa uma das maiores dificuldades dos alunos, que se torna evidente, principalmente, a partir de textos que abrem espaço para a imaginação tais como a charge, a fábula ou até mesmo a piada.

Mas, apesar da baixa qualidade de ensino ofertada nas escolas; do baixo salário e da desvalorização dos professores, o que acaba desmotivando-os; da aprovação automática; da falta de hábito de leitura da população e de todas as deficiências presentes na educação ainda é possível melhorar o nível de leitura e compreensão de nossos alunos.

Para isso, a escola juntamente com o corpo docente, em especial, o professor de língua portuguesa, já que este trabalha diretamente com a questão da leitura e escrita, tem o poder de mudar ou pelo menos melhorar essa realidade, através de métodos mais eficazes que valorizassem mais o trabalho com a leitura e com o próprio texto.

Além disso, outro fator importante seria avaliar melhor a opinião do aluno, antes de descartá-la ou simplesmente taxá-la como incorreta por não apresentar a idéia ou resposta esperada.

BIBLIOGRAFIA:

KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.


Autor: Queilla Moraes


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