EFEITO BUMERANGUE
Era feliz antes de conhecê-la, passei a ser descrente da vida quando Ana Maria foi embora. Nem adeus, nem nada, apenas a palavra ardida na boca, que ainda beijei na noite anterior. Me fez dormir nos braços da saudade e partiu levando mais da metade de um homem, sinceramente levou o homem inteiro, sem pena ou partilha. Então fiquei sem ânimo para o trabalho, sem vontade de comer, de respirar.Fui despedido da metalúrgica, empreguei-me na bebida, vez ou outra surgia um ombro amigo para confortar, só que o amor quando bate no iceberg do coração, afunda mesmo.
Quis outras, na noite há sempre uma mulher disposta a dar prazer em troca de grana. Mas ninguém era igual a Ana Maria, aos braços molambos quando envolvia meu corpo, aos movimentos de ginasta quando com as pernas enlaçava meus rins. Fui afundando, os olhos perdidos nas órbitas, as órbitas sumidas no rosto, o rosto naufragado no resto. Mas, antes de tentar a maior das atrocidades que o ser humano é capaz de cometer, me contive, então Ana Maria voltava para nossa casinha verde, portas e janelas amarelas, telhas de barro.
Voltava sem
expressão alguma, voltava argüida e leve, sem dar muita explicação, agarrada em
mim e eu nela. Pedipara não me
abandonar nunca mais. Não disse nada, distante no pensamento, roçando o corpo
no meu. Ainda hoje nem sei por que, de tempo em tempo ela teima em sumir. Já escutei
boatos, já desmenti e jurei que Ana Maria me ama, que nosso amor tem efeito
bumerangue, mas toda vez que ela vai, afundo nas águas da incerteza, sem saber
se volta ou não.
Setembro de 2005.
Autor: Cláudia Curcio
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