A Afetividade nas Relações Escolares



A escola é um local repleto de fantasias, onde educandos, educadores, gestores, pais, e outros segmentos sociais acreditam em sua importância na construção, reconstrução e acondicionamento de uma sociedade idealizada.

A atualidade social nos remete há uma educação que já não suporta mais acatar tantos compromissos. É na escola que muitos educandos encontram sua família entre amigos, colegas e profissionais da educação. A escola é o referencial de segurançae esperança para muitas pessoas.

Escola e sociedade caminham lado a lado, uma depende da outra e juntas transformam sonhos em realidade, objetivos em metas, obstáculos em conquistas. Se a escola apresenta alguns problemas, esses serão refletidos na sociedade, se a sociedade passa por uma transformação importante, a escola terá que reorganizar seus princípios a fim de se adaptar as novas mudanças.

O Pós Modernismo, como é chamada a era atual, está trazendo um novo olhar para as questões educacionais. A Pós Modernidade não deixa para trás as aquisições e saberes educacionais da modernidade, leva consigo toda a historia de construção de uma educação mesclada de idéias, teorias e práticas.

Um olhar adiante e com os pés ainda na modernidade, Augusto Cury nos trás uma importante reflexão sobre a educação na atualidade. "A educação moderna está em crise, porque não é humanizada, separa o pensador do conhecimento, o professor da matéria, o aluno da escola, enfim, separa o sujeito do objeto"(CURY, 2003, p. 139).

A modernidade trás conceitos e ideologias de uma sociedade capitalista que grifa a tecnologia, a informação, a agilidade e o consumo. Em meioa essa sociedade esta inserida a escola, que teve que reorganizar seu currículo, seus ideais e seus princípios para acompanhar a evolução da humanidade.

"Os professores são heróis anônimos, fazem um trabalho clandestino. Eles semeiam onde ninguém vê, nos bastidores da mente. aqueles que colhem os frutos dessas sementes raramente se lembram da sua origem, do labor dos que plantaram. Ser mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver." (Cury, 2006, p. 133)

A escola tem inúmeras significações, esta repleta de símbolos que representam um ideal a ser alcançado. Apresenta-se como uma instituição que tem o poder de transformar as pessoas em sujeitos adequados para o convívio social. Diante desta questão com discurso voltado para teorias criticas, pode-se afirmar que nem sempre o ideal a ser conquistado é alcançado. Os discursos da educação estão repletos desaberes necessários, mas que muitas vezes não se tornam ações concretas, por apresentarem ideais humanos difíceis de serem alcançados.

A instituição escolar torna-se, em muitas ocasiões, responsável pelos sujeitos nela inseridos, sendo que depende desta o sucesso ou o insucesso dos mesmos na vida social. Observamos que não é somente a escola responsável pelo gerenciamento da vida das pessoas que por ela passam, mas sim, inúmeras outras instituições políticas e sociais.

A família deveria ser referencial de educação para o sujeito, mas diante do contexto apresentado aqui, é complexo idealizar que todasas crianças e adolescentes possam conviver em um lar com princípios definidos de educação. Em vista de muitos problemas sócios culturais e econômicos, a família não dispõe de recursos suficientes para transmitir aos seus descendentes a base da formação humana (princípios, valores, higiene, cultura, afeto, etc). Diante deste diagnóstico, constata-se que a família esta ausente na principal fase de formação do sujeito, com isso acarretando inúmeras conseqüências, especialmente na cognição e na afetividade. Essas conseqüências se estenderão para além da infância e adolescência.

A escola preenche a brecha que a instituição familiar não consegue dar contar. Essa mudança de papel, traz conseqüências, também para a escola. Enquanto esta absorve a ausência da família, deixa de lado outros compromissos como instituição formadora. Deve assumir o compromisso de educar além de formar, desenvolvendo alguns aspectos cognitivos, afetivos, sociais e físicos.

"O século XX foi o da aliança entre duas barbáries: a primeira vem das profundezas dos tempos e traz guerra, massacres, deportação, fanatismo. A segunda, gélida, anônima, vem do âmago da racionalização, que só conhece o cálculo e ignora o indivíduo, seu corpo, seus sentimentos, sua alma, e que multiplica o poderio da morte, e da servidão técnico-industriais." (Morin, 2000, p. 70)

Moran, enfatiza que a educação do futuro deve unir e não separar os conhecimentos e saberes. Dar importância ao individuo muito mais do que a racionalização. Essa é a resposta para algumas das perguntas atuais da educação. Não somente a escola, mas a sociedade como um todo, deve voltar-se para o ser humano enquanto sujeito repleto de sentimentos. Assim a humanidade estará dando um novo passo para uma nova era.

Na sala de aula, o professor conhece as conseqüências de uma sociedade no mínimo ambígua. Encontra alunos com problemas de aprendizagem decorrentes de falhas e faltas, tanto na família quanto na escola. São alunos com dificuldades cognitivas que na maioria das vezes não são decorrentes de fatores físicos, mas sim emocionais. A afetividade familiar é importante para o desenvolvimento integral da criança e muitas vezes, quem cumpre esse papel é a escola, quando esta tem capacitação e percepção para isso.

Segundo Piaget, os aspectos cognitivos e afetivos são inseparáveis e irredutíveis, não há ação sem motivação e não há motivação sem ação, sendo que a ação depende de estruturas cognitivas e a motivação depende de todas ligações anteriores vinda de sentimentos positivos ou negativos. É certo dizer que as emoções fazem parte dos seres humanos, por mais "evoluída" que seja a sociedade. Todo aprendizado transita por inúmeros sentimentos, como medo, ansiedade, curiosidade, insegurança, alegria, satisfação, realização, etc. A criança necessita estar preparada para experimentar tais emoções. Pois é diante destas que apresentará resultados no seu desenvolvimento holístico.

A família tem função indispensável na preparação emocional da criança, especialmente nos seus primeiros anos escolares. Aescola, especialmente e mais diretamente os professores, também precisam estar preparados para situações de improviso em sala de aula. Muitas dificuldades de aprendizagem estão relacionadas com problemas afetivos, seja este no âmbito familiar ou escolar. Além disso, pode-se dizer que a violência verbal e física, a indisciplina e evasão escolar, dentre outros, tem origem em problemas afetivos.

Tratando-se de escola e analisando algumas teses relacionadas ao desenvolvimento cognitivo e a afetividade, surgem algumas questões que põem em pauta as ações que a administração escolar deve executar para sanar ou diminuir estes problemas escolares. A gestão de uma instituição escolar deve ter como foco o educando e suas relações interpessoais e culturais.

A partir disto, acredita-se que a gestão escolar deve criar estratégias para aproximar a família da escola, valorizando esta, como elemento principal na formação psíquica da criança

Cabe a instituição escolar contribuir para que a criança integre seu convívio na sociedade, de outro lado à escola deve ajudar a família a solucionar o problema de seus filhos, reintegrando a imagem que se tem deles. Algumas vezes sendo necessário encaminhamento a profissionais especializados como psicólogos ou psicopedagogos. A escola, o educador e a família devem, pois, ser testemunhas da possibilidade do conhecimento. (Gomide, Vale S. Rafaela, 2007)

A administração escolar, ao propiciar alternativas para a integração, socialização e troca de saberes com o ambiente familiar do educando, esta contribuindo para a inserção da família na escola. Quando a família participa dos acontecimentos na escola e acompanha o dia-a-dia do educando, fornece uma base sólida para a formação afetiva e cognitiva do educando. Este se sente mais seguro e consciente do mundo a sua volta. A família esta mais próxima da vida da criança, dando mais atenção e permitindo trocas de saberes, experiências, frustrações, alegrias e conquistas, enriquecendo as relações familiares e permitindo um desenvolvimento integral e sadio, que persistirá por toda a vida. Para que os pais possam realmente conhecer seus filhos, devem estar permanentemente em contato com a escola. A escola deve também, ter contato direto com a família dos educandos a fim de orientar, e ajudar na resolução de conflitos, desajustes relacionais, problemas de juventude, migração e dificuldades escolares. A gestão escolar, portanto, deve ter sensibilidade e percepção para estas questões subjetivas, mas de imprescindível importância para o sucesso das futuras gerações. Assim, a criança que estiver bem na escola irá ainda melhor e a que tiver problemas, receberá ajuda tanto da escola quanto da família .

Quando a escola, o pai e a mãe usam a mesma linguagem e tem valores semelhantes, os dois principais contextos da criança, a família e a escola, demonstram uma segurança e coerência extremamente favorável ao seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a escola assume para a criança um lugar de aliada, como mais uma interessada em seu bem-estar. Quando há conflitos entre família e escola, as crianças tendem a acompanhar quem mais lhes agradar, e os adolescentes em geral tentam tirar vantagens pessoais. Assim, quando os pais não concordam com a postura da escola, é diretamente com ela que devem resolver as discordâncias. Desse modo, a criança não se apoiará nos pais para se insurgir contra a escola. (Tiba, pág.190, 2007)

Além de a família contribuir para a construção de um sujeito mais humano, a escola também tem importante participação nesta formação. Cabe a gestão educacional, promover formas de solucionar problemas afetivos na escola, especialmente entre professor e aluno. O professor deve estar preparado para enfrentar situações variadas de expressão sentimental, o que é natural ocorrer, especialmente nos primeiro anos escolares. Para que a equipe docente esteja preparada para enfrentar tais questões, a gestão escolar deve proporcionar a aquisição de habilidades e técnicas através de aperfeiçoamento e troca de saberes, conhecimentos e experiências. Deve estar aberta a novas formas de ensino-aprendizagem, atualizando e modificando o currículo escolar conforme seus interesses e objetivo. Também deve rever as relações entre equipe de trabalho. Um ambiente que favoreça a troca de experiências, e estimule a boa convivência, fortalece o trabalho e o resultado é visível.

Diante destes paradigmas educacionais, percebe-se que a escola tem importante papel de mudança social. Para que isso aconteça, a família deve estar constantemente e diretamente envolvida com a escola. Dentro deste elo de ligação e envolvimento, cada instituição tem seus deveres, mas sempre em busca de um objetivo. A escola com uma gestão democrática e participativa e a família como parte integrante. As questões afetivas no âmbito escolar e familiar devem ser consideradas com muito apreço, pois delas dependem a formação intelectual, moral, social e psíquica dos alunos.

Bibliografia:

CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. 19ª ed. Rio de Janeiro: sextante, 2003.

_________________. Os mestres dos mestres. Rio de Janeiro: sextante, 2006.

DANTAS, Heloysa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: DE LA TAILLE, Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

GOMIDE, Rafaela Vale S. A afetividade e o processo de ensino aprendizagem. Disponível em:http://www.webartigos.com/articles/1233/1/a-afetividade-e-o-processo-de-ensino-e-aprendizagem/pagina1.htm publicado em 05/03/2007. visitado em 20/06/08.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

LEITE, Dante Moreira. O desenvolvimento da criança. São Paulo: Nacional, 1972.

TIBA, Içami. Quem ama, educa! São Paulo: Integrare, 2007.


Autor: Adriane Masiero


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