SETE SEXTAS-FEIRAS
Às vezes o destino nos da capacidade de
pensar em nossos atos e em nossas escolhas.Neste caso ele nem se preocupou em
avisar sua vontade.Ano de 1914,onde que por muito tempo a cidade que antes era
reconhecida pelas suas estrelas deslumbrantes e ferozes, que devoravam a noite
sem piedade,do verde que só se limitava a crescer por aquela área recobertas
por quentes dias de verão,pelas histórias de amor ali escritas,agora era
lembrada apenas pela expressão de medo e de arrepio.Muitos que se se
aproximavam dali eram surpreendidos pelos maus avisos e pelas puras histórias
de terror.A cidade leva o nome de Sete Sextas-feiras,o nome propicio,para a
história que lhes vou contar...
Era um dia como outro
qualquer,às 7 horas da manhã, o relógio de Sara mostrava em seus olhos que um
novo dia havia de passar.Ela era uma jovem, que se vestia todas as manhãs com a
ajuda das governantas da casa onde morava.Os vestidos longos e pesados
mostravam a imagem de seu caráter.Tinha o rosto branco que só se confundia com
as nuvens ao voar pelo céu,e os olhos negros davam mais sabor aquele rosto
saudável e puro.Boca saliente que nos deixava o recado de uma enorme maçã a ser
colhida.As mãos macias e perfumadas,que se encontravam em luvas de crochê.Todo
esse visual,para mais uma de suas apresentações.Sara era uma cantora da
época,que se apresentava no alto de um salão da cidade.Todos os dias ela
ensaiava alguns minutos e logo se apresentava.Seu público eram pessoas de todas
as idades,desde jovens apaixonados ate idosos.Suas composições eram quase
sempre curtas,como um trecho de algum poema,como um canto de um pássaro,que
eleva a melodia por alguns minutos.
Ela era assim,mas como ela
nunca se viu alguém,era doce,pura,parecia mesmo que vivia nos contos de fada.A
sua caricatura de moça simples e educada,se confundia aos olhos de quem a
observava.Ao cantar passava a seu público, o recado de um por quê,de um
reflexo, como um olhar de quero mais,de mudança...Ninguém nunca parou para
pensar no por quê de Sara passar ao público essa sua versão.Em um trecho de sua
música, lembro-me bem,era mais ou menos assim:
Por que correr se o caminho é curto, por que parar se há muito a caminhar...???
Composições que quase sempre deixavam as pessoas sem entender.Mas a melodia
clássica e lenta fazia com que o público a adorasse.
Depois da apresentação Sara
notou a presença de um bilhete na mesa do camarim.Disse ela:
---Será que é um pedido de
autógrafo, ou talvez um recado da imprensa ?
Mas ao ler o bilhete, a
expressão de seu rosto mudou,e logo se impôs a puxar uma poltrona e se
sentar.Disse em voz alta:
---O que será de ser?
O bilhete tratava-se de um
encontro marcado para as dez horas da mesma noite,em um dos maiores e mais
luxuosos hotéis da região. Sara não queria ver a realidade, achava que não
tratava de uma conversa formal,e pensou: “O local é freqüentado diariamente por
muitas pessoas,não fará mal eu sair de vez em quando para jantar fora.”.
Sara morava em um casarão
antigo,junto a muitas moças de região,que trabalhavam ou estudavam por ali.Seus
pais faleceram logo cedo,na verdade na sua infância, foi uma época
difícil...Como nas sextas-feiras Sara ficava trabalhando em suas
composições,ninguém notou a sua falta..Colocou um vestido muito elegante, pegou
a sua mão o seu casaco e saiu.
Chegando lá, percebeu que
estava tudo muito quieto,entrou,mas notou que o salão estava vazio,sem mesmo
músicos ou dançarinos,de repente a porta por onde Sara havia entrado se fecha
,dando a compreender a força de um vento a passar.Ela se aproximou das janelas
que também se fecharam diante de seu rosto.Sara ficou assustada com as mãos
trêmulas e o rosto mais branco do que de natureza.Logo o salão escuro e frio
foi ficando cada vez mais assustador.Em alguns minutos, Sara sem ter mesmo
idéia do que fazer, começa a ficar desesperada.Mas de repente ouvi-se
passos,que ao curto tempo aproximavam-se mais.Quando os passos se direcionaram
a ela, uma forte corrente de ar surge por entre as alas do caminho.E em seu
coração uma sintonia maluca tomada pelos sentimentos de pavor e ao mesmo tempo
de alegria por saber que havia mais alguém ali.Logo, Sara sente mãos macias e
delicadas por entre seus braços, que se aproximou de seus ouvidos dizendo:
--- Tu és linda, como a luz
do luar.
Ele toca o rosto de Sara, e em um movimento perfeito e
seus lábios se entrelaçam. Sara não sabia bem o que estava ocorrendo,mas uma
magia inexplicável toma conta de seu coração.No momento o conto de fadas
de sua vida parecia ter chegado.Sem ver
o seu rosto,sentiu em seu coração um grande desejo de continuar aquela sintonia
amorosa.O rapaz que a beijou não era igual aos muitos que a cortejavam Ele era
diferente ,era como se ele não visse o mundo a sua volta.Mas logo ele a envolve
em um abraço intenso e a diz:
--- Volte daqui sete dias que
estarei a sua espera.
Sara ainda em um estado de
choque,ouvia apenas passos que se distanciavam do salão. .Depois do acontecido,
Sara saiu do lugar em desespero,sem mesmo saber aonde ir...Queria achar uma
explicação para o que acabara de ocorrer,mas parecia que quanto mais ela
pensava, mais perguntas pareciam girar em torno de sua mente, e assim mais
confusa Sara ficava.Horas e horas ela andou sem mesmo saber aonde ir,sua imagem
se confundia aos daqueles bêbados desgovernados, que vagam pela noite sem
destino ou mesmo direção.Nessa hora, Sara estava encabulada ,tropeçou várias
vezes pela rua, mas isso não mudou o que se passava dentro da sua mente.Certa
hora, ela estava em um lugar onde jamais havia pisado,um lugar escuro sem
nenhuma casa por perto.Vagou ainda por muito tempo,mas afinal ela se cansou e
enfim foi para casa.
Já era quase de manhã, Sara
se deitou, sem mesmo tirar o vestido pesado que usava.Minutos depois, ela acorda
com o barulho do relógio, avisando que mais um
dia havia de passar.Ela se levantou com a maquiagem borrada e o cabelo
desarrumado, e foi para o salão onde se apresentava.Mas na verdade ela sabia
que não estava em condições de se
apresentar,ouve-se então uma voz que dizia: “Ficar deitada pensando no assunto,
não fará bem maior do que trazer alegria, a tantas pessoas que vem todos os
dias para te ouvir.”
Logo ela tomou junto as suas
mãos as composições e foi para o centro do palco. Quando ela acabara de se
apresentar, como se voltasse no tempo, ela olha para a mesa que dias atrás
presenciou uma carta de seu admirador.Mas mais assustada ainda, ela ficou
quando notou a presença de um outro bilhete.Foi então que todas as suas
lembranças se juntaram em uma grande história misteriosa,mesmo que dentro de
seu coração ela não parasse de ouvir uma voz a dizer: “Leia o que a carta tem a
dizer.” Ela também tinha medo de que algo muito ruim pudesse vir a ocorrer
.Mesmo assim Sara abre o envelope, lê a carta e mais uma vez ela se impressiona
com o que mencionado,mas dessa vez um pouco mais romântico:
--- Sara, sei que o que fiz
não é, e nunca será merecedor de sua compreensão, mesmo assim senti que ao
beijá-la uma força maior nos envolveu..Espero que não falte em nosso segundo
encontro, na sexta-feira.
Sara não tinha idéias do que
fazer e ficou nesse momento
paralisada.Sabia que se encontrar com esse rapaz era errado, mas seu coração
saltitante com esse sentimento que acabara de nascer, fez com que ela não pensasse
em nada, apenas em seu amor por aquele homem desconhecido.
Às vezes nossos sentimentos
nos fazem viver a vida como se não houvesse o amanhã.E assim viver sem
pensar,ou na verdade viver por puros
impulsos da mente.Mas na realidade o amor verdadeiro se vive pela paixão
inteligente, como uma bomba de ar,que começa a se bombear ao encontrar a pessoa
certa.Mas o amor vem depois, quando na verdade usando a sua mente, a própria
pessoa se convence que ela esta sendo feliz com a pessoa que fez sua “bomba” de
ar, bater mais forte.
Pena que Sara não teve tempo
de pensar por esse lado, e logo se deixou levar por esse sentimento que a
dominou.Depois daquele dia, Sara não era a mesma, parecia mesmo que havia sido
dominada por aquela voz, ou mesmo por aquelas poucas palavras.Só o que a
interessava era o próximo encontro, marcado para daqui uma semana.
Sara não tinha a menor idéia do que fazer,mas não queria perder o
que havia de mais bonito em sua vida.Durante toda a semana,Sara se mostrou
impaciente e sem sombra de dúvidas,agora ela tinha certeza do que queria.Os
dias se passaram, e Sara cada vez mais entusiasmada, fez da sua última
apresentação um marco para se lembrar,pois sabia que seu amor era um
desconhecido mistério.Mas mesmo assim queria ir,dizia que seu coração não
aceitaria mas desculpas.
Já eram 7 da noite e Sara em
casa se aprontava para o seu encontro.Saiu dali e foi...andando pelas ruas da
cidade, era como se os seus pés já soubessem o caminho até o salão.Chegando lá,
era como se sua mente dissesse: “Não entre...” Mas por outro lado vinha outra
voz que dizia: “O que esta esperando
entre...”
Ela entra, mas sente que a
partir dali não era mais ela quem vivia,era como se apenas uma parte do seu
interior pudesse falar,sentir e ouvir...No meio do salão vazio e frio estava
ele...
Como da outra vez, ele se aproxima dela, toca suavemente seu corpo e a envolve em um
beijo.Mas por incrível que pareça, Sara não conseguiu sentir o que da outra vez
pareceu ser mágico.Como se o beijo que recebia tivesse perdido o gosto.A voz do
homem amado e sua pele em contato com a
dela,era tudo sem sabor.Não sentia como antes o seu coração bater em alta
velocidade.Era como suas composições, sem começo, sem fim, sem lógica...
Quando o homem se foi,ainda
podia sentir o frio do salão,mas dessa
vez era tudo muito quieto,sem barulhos,sem ruídos...Só o que se podia ouvir era
a voz do homem a dizer:
---A partir de hoje você vem
todas as semanas, e não se esqueça, sempre na sexta- feira.
Nesse momento, Sara não
parecia pensativa,não parecia nada,em sua mente,na verdade não existia mais
mente,era como se aquele homem tivesse levado consigo todas as suas
idéias,segredos,sonhos que pela vida Sara havia cultivado.E o coração, ah...
esse estava cercado de um sentimento diferente,não era amor,ódio,pena
,carinho,nem insatisfação ,era um
sentimento inexplicável,como ouvir e não entender,como se alimentar sem
ter fome,como comprar sem precisar,era assim...
E por todos os outros
encontros era tudo igual.Por entre os dias de um encontro a outro não havia
medo,arrependimento,era tudo
normal.Passou a ser mais uma rotina para a pobre Sara.Dentro de si
mesma, sabia que havia algo errado,mas não tinha forças para seguir em frente,nem
para saber o que fazer,para ao menos dizer o que queria. E a partir dos outros
encontros,cada vez ficava mais escura e fria, tanto sua mente, como o seu
coração.
Acordar e sentir que o seu
sono não foi como os outros,saber que o amanhã,não existiria,apesar de não
querer um amanhã.Fazer de tudo um
começo,de cada palavra um sonho e de cada canção uma realidade.Caminhar sem ter
pra onde ir,saber que em sua mente só restavam lembranças de um amor que não é
seu,que o corpo não se atrai aquele que a toca ,que cada beijo não a levava
dessa vez ao amor.É difícil definir com palavras o que se passava na mente da
indefesa Sara.Não é ético,não é certo,sabia que havia algo errado, mas não era
como antes, dessa vez não havia escolhas, nem caminhos diferentes a
seguir,apenas os encontros com o homem no salão.
Um dia, quando Sara estava
sentada de frente ao piano,não sabe como, mas consegui observar uma marca em
seu pescoço,não era uma marca de pele, nem mesmo um machucado a cicatrizar.Era
uma marca pequena e escura que se encontrava entre as frestas de seus
cabelos,tinha o formato de um número,infelizmente era o número sete.Foi
arrepiante e medonho o que sentiu naquele momento,assustador como o vento que
tomou conta do lugar.Foi que se deu
conta, de que tudo aquilo não passava de uma maldição,que ela infelizmente estava condenada.
Já havia se passado
semanas,e o corpo de Sara já estava dominado,junto a sua mente.Não queiram
saber o que acontecera no último dos encontros,é até desumano descrever com
palavras o destino de Sara.O que restam saber é que Sara morreu, sem mesmo ter
feito da sua música um sucesso,sem mesmo ter definido para o mundo o por quê de
tudo,e o mais triste é saber que se foi sem ter descoberto o verdadeiro
amor...Aquele que te levanta,que não mata,que não deixa dúvidas,que te faz
feliz...
Dizem por aí, que em noites
de sextas-feiras podem se ouvir passos e ruídos por entre o
salão...Histórias,lendas,não sei,só o que posso deixar pra vocês,é que a
maldição ainda que tenha matado,tenha feito muitas pessoas sofrerem,não acabou.Sara
deixou um fruto da sua história, que carregou e passou para sua geração a certa
maldição,e só cessará no momento em que os olhos humanos não se deixem levar
pela ilusão,mas que vivam apenas com o verdadeiro amor no coração.
Autor: Aline Alves Muniz
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