UM CAVALO QUE PERDEU AS ASAS



Fazia tempo que voava por todos os cantos da invernada. Não sabia mais o que era botar os cascos no chão. Era bom var. Todos o admiravam por ser uma espécie rara de cavalo alado. As éguas todas o queriam para marido. Todas as sogras o queriam para genro. Vivia como se estivesse no paraíso. Bajulado como ninguém nunca havia sido antes dele. Parecia um rei, ou melhor, um príncipe.

Sempre é melhor um príncipe do que um rei. Este já está velho, esclerosado, desgastado, repetitivo, com poucos anos de vida. Mas o príncipe não. É tudo vigor, renovação, potência, idéias novas. A esperança do futuro. Mas voltemos ao nosso cavalo alado. Tudo nele resplandecia. Todos eram atraídos para ele.
Assim como muitos o amavam, existia alguns, que tinham uma inveja doentia. Morriam de raiva. Pensaram seriamente em destruí-lo. Mas como, se todos o observavam e, de certa forma, cuidavam dele? Ficaram matutando, matutando, até que um dia alguém sugeriu que era só cortar suas asas. "Cortar suas asinhas", como diz o dito popular. Então vamos colocar o plano em prática.

Uma noite, enquanto ele dormia, (cavalo dorme em pé), com uma pequena escada e uma tesoura muito afiada tentaram, em vão, cortar suas duas asas brancas. Alguém percebeu que elas não eram dele. Estavam apenas encaixadas nas ripas de sua costela. Então foi muito fácil, apenas deu um puxão, desencaixando-a com naturalidade. E o cavalo perdeu as asas.
Seus inimigos ficaram felizes e se propuseram esperar por alguns dias para ver o que aconteceria. Depois de uma semana, perceberam que a popularidade de seu desafeto havia aumentado. Que o amor e o carinho dos outros animais era mais intenso para com ele. Que todos continuavam adorando-o como se fosse um deus. E seus inimigos se perguntavam por que, se agora ele tinha perdido o que o diferenciava deles?
A resposta é a moral desta pequena parábola. O cavalo perdeu as asas, mas não perdeu sua essência que, de fato, era o que o caracterizava como alguém bom. Nem sempre as qualidades exteriores fazem a diferença, mas as interiores. E estas é que fazem alguém voar ou tornar-se príncipe muito querido.


Autor: Amani Spachinski de Oliveira


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