Os pólos internacionais de poder e a crise de 2008



Quase vinte anos após o colapso da União Soviética ( URSS), tínhamos um panorama certo, construído na década de noventa do século XX e no início do XXI : o predomínio do sistema capitalista.

Apesar da definição simplista e até muito didática, esta era, até 2008, a única verdadecompreendida como modelo sócio-econômico por analistas : algumas regiões do planeta eram classificadas como em transição ao capitalismo, como Rússia, Leste Europeu e China e nações já capitalistas iniciaram a abertura de suas economias ao capital internacional, especulativo e produtivo, como o Brasil por exemplo.

O capitalismo era, até 2008, o parâmetro, ou seja, tudo estava condicionado a ele, até porque o motivo era a euforia vivida pela onda neoliberal nos últimos anos, onde a maior integração dos continentes, diga-se de passagem jamais vista na História, demonstrava crescimentoeconômico, principalmente nos países emergentes, o grupo classificado na Guerra Fria como subdesenvolvido, mas que apresentava então características do antigo 1º Mundo na globalização.

Esta euforia, com a China apresentando crescimentode 10 % ao ano, Brasil e Índia se inserindo com players globais e a Rússia se consolidando após a fragmentação soviética, criaram novos pólos de poder, independente do mundo multipolar, ou tripolar , composto por Estados Unidos, Europa e Japão.

Com o final da União Soviética, o mundo Bipolar, representado pela disputa da Guerra Fria entre Estados Unidos e URSS, foi regionalizado a partir de critérios econômicos, ou seja,os três grandes centros tecnológicos, como elevado IDH e mercado consumidor significativo foram classificados como "centro" ou países do Norte e os " outros", como periferia do sistema capitalista ou países do Sul.

No entanto, os BRICs ( Brasil, Rússia, Índia e China) ampliaram o conceito de multipolaridade, pois representa imensos mercados consumidores e possuem reservas estratégicas de recursos naturais,sendo que , com exceção dos Estados Unidos, os outros não têm.

Este panorama apresenta um mundo multi-multipolar, ou ainda pluripolar, ou seja, existem pólos significativos de podercom tecnologia de ponta e elevados IDHs, mas também pólos de poder composto por países industrializados e populosos, com amplo mercado interno em expansão.

Associado a isto, temos a força regional ou geopolítica que estes países possuem, geralmente representando suas regiões, como é o caso do Brasil, tradicional potência sub imperialista na região da América Latina e a Rússia, herdeira da hegemonia local da URSS e dos próprios países que compunham a União Soviética. Possuímos ainda a Índia e a China, com praticamente 2/3 da população mundial, sedo que a segunda ainda possui um tigre asiático, cobiça outro e grande parte da "elite" dos tigres são compostos por chineses étnicos.

Aliados a este panorama possuímos ainda as questões ambientais e energéticas, que em menor ou maior grau passam definitivamente pelo crivo do s BRICs. O Brasil , por exemplo, projeta-se como uma grande potência energética do século XXI, seja através dos poços de petróleo do novo campo de TUPI ou do desenvolvimento dos Bicombustíveis.

Esta conjuntura demonstra um fato muito interessante : os BRICSsão geridos por governos de orientação socialista, ou ainda muito próximos de um capitalismo intervencionista, nos moldes de Keynes.

Os países anteriormente classificados como centrais diminuem a sua influencia e cedem espaço para os BRiCs, que continuam , mesmo afetados pela crise em menor grau, mantendo suas economias e ajudando a economia internacional a funcionar.

No turbilhão dos problemas econômicos que ocorreram no antigo "centro", pode ressurgir novas orientações sócio-políticas defendendo o socialismo ou mesmo um espécie de neokeynesianismo, com forte intervenção estatal nestaseconomias para que não travem por completo o seu funcionamento, pois o neoliberalismo conduziu a isto. Há de se considerar que os BRICS, que ainda estão saudáveis, possuem estes modelos e serão utilizados como exemplos.

As projeções do Banco de investimento Goldman Sachs indicam os BRICs e os Estados Unidos com as cinco maiores economias do mundo por volta de 2050. Países tradicionais como a Inglaterra e França perdem cada dia mais força e neste cenário somente são consideradas unidas com a União Européia.

Este cenário demonstra que o poder internacional pende para a antiga periferia, uma vez que associados ao declinismo dos três antigos pólos, eles ainda estão em crise, que não deve ser breve. Talvez daqui vinte ou trinta anos teremos a crise de 2008 como um divisor de águas, semelhante a de 1929, onde novas idéias surgirão e o poder internacional se remodelará.

Apesar da antiga periferia ganhar prestigio econômico, resta-lhe o geopolítico, como por exemplo um assento permanente no conselho de segurança da ONU para o Brasil e Índia, já que China, Rússia e Estados Unidos já o possuem . Resta saber se dentro de alguns anos existirá o Conselho de Segurança da ONU com os atuais membros, pois o que uma Inglaterra faria por lá?

Ivan Santiago Silva -graduado em Geografia, pós graduado em Educação , docente do Curso de Geografia do Instituto Superior de Ciências Aplicadas nas disciplinas de Organização do Espaço e Geografia Regional


Autor: Ivan Santiago Silva


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