Jesus de Nazaré: entre a existência, a mitologia e a historicidade



Primeiramente, temos que analisar uma questão importante: a da historicidade de Jesus. De fato, a tese a respeito de Jesus nunca ter existido, sendo, portanto uma criação da Igreja Católica muito a posteriori, é uma das possibilidades já levantadas por historiadores, especialmente os iluministas, que começaram a discutir o assunto já no séc. XVIII. Isto se deveu aos mesmos motivos dos levantados acima: a grande ausência de comentários a respeito da vida do homem que é citado como o iniciador da maior religião do mundo atual!

Mas é preciso lembrar que hoje em dia, essa tese já se tornou obsoleta, ao menos para a maioria dos historiadores. Na época em que tal questionamento foi levantado, não havia tanta informação, tanto histórica (documental) quanto arqueológica, a respeito do cristianismo primitivo, nem da Palestina do tempo de Jesus. À medida que os estudos foram progredindo, muitas informações foram sendo levantadas a respeito do "Jesus Histórico" e muitas destas corroboraram a possibilidade de sua real existência.

Antigamente nem mesmo existiam evidências tão antigas da autenticidade dos originais dos evangelhos (como hoje há!), gerando toda especulação a respeito da possibilidade de sua criação bem posterior ao tempo de Jesus. Também não haviam sido descobertos os textos apócrifos de Nag Hamadi, já do I e II séculos, que comprovam que o movimento cristão já possuía até mesmo correstes diversas por essa época. Descobertas arqueológicas recentes comprovam a coerência do texto bíblico com os costumes da época. E por fim, existe o desenvolvimento de técnicas de filologia (compreensão dos textos) que demonstram como que determinadas colocações dos evangelhos podem ou não ser autênticas.

Mas se Jesus existiu realmente, como explicar o silêncio dos historiadores e de personalidade importantes da sua época, considerando a pessoa que os evangelhos dizem que ele foi? Na verdade o único trecho que pode autenticar a sua real existência fora da Bíblia é o de Flávio Josefo ("Antiguidades Judaicas"), que fala de personagens como João Batista, Tiago, irmão de Jesus, e do próprio Jesus! Apesar do questionamento a respeito do trecho ser uma falsificação embutida no original de Josefo, feita por monges ou cristãos copistas piedosos, muitos historiadores acreditam na sua veracidade, ainda que de fato possa ter havido alguma adulteração do trecho (sobre este tema sugiro que leiam o tópico "O Texto de Flávius Josefus", desta mesma comunidade).

As evidências todas apontam para a existência de um movimento cristão já muito forte e organizado no início do séc. II, com evidências de ter se originado seguramente no séc. I. Assim, não há possibilidade de fraude. E apesar de toda a "mitologia" que se desenvolve em torno do personagem Jesus, dificilmente esse movimento vigoroso teria surgido a partir de uma figura doutrinária fictícia. E, ainda que admitíssemos isto, teríamos que pensar que alguém (ou outros personagem reais), igualmente inspirador(es), o tivesse(m) criado, o que tornaria a questão irrelevante, a partir daí.

Se Jesus foi o personagem que os Evangelhos nos dizem que ele foi, talvez jamais iremos saber! Entretanto é possível fazermos alguns estudos e comparações a respeito do que temos, de tal forma a tirarmos algumas conclusões, ainda que incertas. Muito embora a maioria dos historiadores atuais considera que a figura de Jesus possa ter sido realmente bem menos importante e influente para os seus contemporâneos do que se tornou posteriormente para os cristãos. O próprio relato dos Evangelhos parece exagerar em muito a sua fama (como pode se deduzir), fato compreensível se considerarmos que se tratava de um escrito doutrinário! Mas hoje em dia dificilmente um historiador sério questionaria de todo a existência do personagem Jesus.

Muito há ainda que se debater sobre o "Jesus Histórico", entretanto os estudos se aprofundam a cada dia, à medida que surgem novas descobertas e se desenvolve o debate crítico. Ademais, também não é necessário se polemizar sobre se Jesus era um charlatão, um louco megalomaníaco ou um verdadeiro operador de milagres... Esse discurso radical já é ultrapassado, defendido ora por ceticistas impiedosos, ora por religiosos dogmáticos.

Dependendo de como vemos as coisas, e, principalmente se olharmos para Jesus Cristo "com os olhos do homem antigo", de 2000 anos atrás, e não com o do séc. XXI, poderemos entender melhor o personagem. Para alguém daquela época, não seria impossível acreditar em alguém como Jesus Cristo! Ainda que tivesse que fazer concessões à razão, uma vez que nosso conceito de razão, de verdade e de realidade não existia na época. Para eles, personagens como Jesus Cristo seriam uma possibilidade bem próximo do seu cotidiano, por mais que envolvessem aspectos "mitológicos".

Desse modo, ainda que o Jesus Histórico, ou seja, Jesus como homem, judeu e pregador itinerário e marginalizado tenha sido transformado pela tradição popular em uma entidade cósmica, sobrenatural e divina, podemos ter certo grau de certeza que o mesmo existiu historicamente.


Autor: Francisco Chagas Vieira Lima Júnior


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