Resenha do Artigo Democracia Racial Brasileira 1900-1990: Um Contraponto Americano



Resenha do artigo Democracia racial brasileira 1900-1990: um contraponto americano

ANDREWS, George Reid. Democracia racial brasileira 1900-1990: um contraponto americano. Estud. av.,  São Paulo,  v. 11,  n. 30, ago.  1997 .  

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 10  out.  2008.

George Reid Andrews é formado em história pelo Dartmouth College em 1972, adquiriu o mestrado em história pela Universidade de Wisconsin-Madison em 1974 e o título de Ph. D. em história pela universidade de Wisconsin-Madison, em fevereiro de 1978. Foi professor auxiliar do Departamento de História da Universidade de Pittsburgh, 1981-83; também foi professor associado do Departamento de História da Universidade de Pittsburgh, 1983-91; atualmente trabalha na OIC (Centro Universitário de Altos Estudos Internacionais) em Research como professor, desde 1991, entre outros trabalhos.

Recebeu inúmeros prêmios entre eles: o Prêmio Arthur Whitaker, Médio Atlântico Conselho de Estudos Latino-Americanos, em 1993; Rockefeller Fellowship Humanidades, Universidad de la República, Montevidéu, Uruguai em 2001; seu último prêmio foi o Arthur Whitaker, Médio Atlântico Conselho de Estudos Latino-Americanos, em 2005.

Possui uma grande quantidade de publicações tanto em livros como em artigos sendo os mais recentes: os livros A Construção da Democracia Social, 1870-1990, co-editado com Herrick Chapman. London and New York: Macmillan Press Ltd. and New York University Press, 1995. Londres e Nova York: Macmillan Press Ltd e New York University Press, 1995, eBlacks and Whites in São Paulo, Brazil, 1888-1988, Madison: University of Wisconsin Press, 1991. Afro-Latino-América, 1800-2000. New York: Oxford University Press, 2004. Awarded the 2005 Arthur P. Whitaker Prize, Middle Atlantic Council of Latin American Studies; Choice Outstanding Academic Title, 2005. Nova Iorque: Oxford University Press, 2004. Os artigos "Formas de Black resposta política no Brasil", em Beyond Racismo: Englobando um interdependente Futuro, vol. 4, (2000) e "Lembrando África, Inventando Uruguai: Sociedades de Negros no Carnaval Montevidéu, 1865-1930," Hispanic American Historical Review, próximo de 2007.

"Remembering Africa, Inventing Uruguay: Sociedades de Negros in the Montevideo Carnival, 1865-1930," Hispanic American Historical Review , forthcomiNo artigo Democracia racial brasileira 1900-1990: um contraponto americano, George Reid Andrews procura fazer uma análise sobre a democracia racial mostrando os fatores que possibilitaram a sua construção, bem como o seu declínio, dando mais ênfase aos fatores externos que possibilitaram tal declínio, para tanto ele utilizou aparentemente dois métodos científicos: o método histórico, visto que ele resgata toda a produção intelectual sobre as relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos desde o início do século XX até os anos de 1990, além de expor as diversas reações da sociedade através das décadas sobre esta questão. E o método comparativo, pois em todo o artigo ele a utiliza para identificar em determinadas décadas como se dava as relações raciais nos dois países.

O artigo encontra-se dividido em cinco partes, que são:

Introdução: Nesta parte o autor irá expor os principais pontos que serão trabalhados no artigo, neste caso ele abordará a democracia racial no Brasil durante quase todo o século XX, mostrando o contexto que possibilitou a sua criação (anos 10 e 20), o seu desenvolvimento no Brasil e sua influência no exterior em especial nos Estados Unidos (anos 30 e 40), bem como o seu declínio (a partir dos anos 50).

Democracia racial, 1900-1950: Nesta segunda parte o autor começa realmente a trabalhar o assunto de forma aprofundada expondo os primeiros contatos intelectuais entre o Brasil e os Estados Unidos nas questões raciais que se deram no final do século XIX, através das teorias raciais científicas em especial o Darwinismo social. A sociedade brasileira reagiu de duas maneiras as tais teorias, porque ao mesmo tempo em que elas confirmavam a superioridade do branco sobre as demais raças algo já difundido no Brasil, criticavam a mistura racial que também ocorria em grande escala no país. Com o intuito de se livrar do peso de possuir um grande contingente populacional de mulatos e negros, os pensadores brasileiros desenvolveram a tese do branqueamento em que acreditavam que através de várias misturas raciais, já que para eles o gene branco era superior e que depois de várias gerações o Brasil viria a se tornar uma nação branca.

Uma forma adotada pelo governo brasileiro para adiantar este processo de embraquecimento foi o de estimular a vinda de imigrantes de diversos países da Europa, chegando a certas ocasiões ao financiamento da vinda dos imigrantes. Após quarenta anos de política de imigração, nos ''anos 20 e 30 o desencanto nacional com a imigração e europeização era abundantemente evidente. '' (ANDREWS, 1997, p. 98)

Neste contexto Gilberto Freire oferece através dos seus estudos, em especial no período em que viveu nos Estados Unidos e presenciou o alto nível de preconceito, hostilidade e segregação racial na sociedade americana, uma nova visão do passado do Brasil em que o remodela com base a nova realidade nacional, essa nova ideologia é denominada de democracia racial, pois para ele no Brasil ocorre ''uma das uniões mais harmoniosas da cultura com a outra que as terras deste hemisfério já conheceu '' (FREIRE apud ANDREWS, 1997, p. 98) esta ideologia é amplamente aceita no meio intelectual, acadêmico e na mídia nacional. O mesmo não acontece com a população afro-brasileira, onde exatamente se esperava mais entusiasmo.

O que acontecia é que a imprensa afro-brasileira denunciava as deficiências da democracia racial, argumentando que ''a democracia racial expressava, simultaneamente, nítida preferência por mulatos racialmente mistos com relação a pessoas de ascendência inteiramente africana'' (ANDREWS, 1997, p. 100).

O declínio da democracia racial, 1950-1990: Nesta parte do artigo o autor trata dos fatores que levaram o declínio da democracia racial, este declínio ocorreu a partir da década de 50 com a realização de uma pesquisa promovida pela Unesco para entender como ocorre o igualitarismo racial no Brasil. A pesquisa foi realizada nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, e de outros estados, como resultado a pesquisa revelou os altos índices de desigualdades entre brancos e negros.

Outro fato que contribuiu para desmistificar a democracia racial no Brasil foi a proibição da cantora afro-americana Katherine Dunham se hospedar no Hotel Esplanada de São Paulo. Por ser internacionalmente conhecida e por também ter feito várias denúncias sobre o ocorrido, um ano depois seria aprovado pelo Congresso brasileiro o primeiro estatuto antidiscriminação do país.

Graças a estes eventos em especial a pesquisa desenvolvida pela Unesco, houve um estimulo a produção de novas pesquisas sobre a democracia racial no Brasil nas décadas seguintes, sendo os nomes mais relevantes desse período Thales de Azevedo e Florestan Fernandes. Na década de 70 a população afro-brasileira ''observou os nítidos avanços na situação racial que lá [Estados Unidos] ocorria e atribuiu o crédito ao movimento de direitos civis dos negros'' (ANDREWS, 1997, p. 104). Outras medidas foram tomadas pelos afro-brasileiros para poderem se aproximar da situação existente nos Estados Unidos, entre elas estão a criação de organizações e movimentos que lutassem pelas suas causas, sendo estas baseadas em modelos americanos.

Os Estados Unidos no mesmo período contribuiu com financiamentos através das fundações norte-americanas para a realização de pesquisas sobre a comunidade afro-brasileira, esses financiamentos representam uma grande ajuda, visto que ele possibilitou a produção cultural, intelectual e acadêmica sobre a questão racial no Brasil.

Andrews (1997, p. 105) afirma que ''durante o curso da segunda metade do século, inúmeras influências externas se combinaram para minar a hegemonia ideológica da democracia racial no Brasil.'' Acarretando nos anos 80 a sua perda como uma ideologia que não podia ser questionada.

O outro lado do diálogo: Neste ponto Andrews visa expor qual a influência que o Brasil teve em relação às questões raciais nos Estados Unidos, já que o Brasil foi teve inúmeros contatos sobre esta questão com os Estados Unidos.

A princípio Andrews nos diz que até a primeira metade do século XX os norte-americanos acreditavam que no Brasil ocorria de fato uma democracia racial, esta situação só começou a mudar a partir da década de 40 quando a imprensa americana começou a criticar as desigualdades raciais e sociais no Brasil. Enquanto isso a produção acadêmica norte-americana continuava a elogiar a democracia racial do Brasil, só quando houve a pesquisa da Unesco é que os acadêmicos perceberam a realidade do país. Durante as décadas seguintes várias comparações entre o Brasil e os Estados Unidos foram feitas mostrando que ''Depois de cair durante os anos 60 e 70, os índices de desigualdade racial aumentaram nos Estados Unidos durante a década de 80. Não obstante, continuaram mais baixos que os do Brasil.'' (ANDREWS, 1997, p. 108)

Conclusão: O autor conclui que os vários intelectuais que trataram das questões raciais no Brasil, seguiram esta linha pelo fato de terem tido contato direta ou indiretamente com a questão racial nos Estados Unidos. Através destes contatos começaram a produzir inúmeras pesquisas comparativas entre os dois países, quando os brasileiros produzem algo a respeito depois de alguns anos os intelectuais americanos respondem com novas pesquisas comparativas e vice-versa. Para Andrews este diálogo entre o Brasil e os Estados Unidos é importante e deve ser mantido, pois a cada vez que se produz sobre este tema ''um novo capítulo [é construído] de um contínuo contraponto americano que já dura um século'' (ANDREWS (1997, p. 109).

Fica impossível não perceber a importância deste artigo, pois ele nos dá uma grande contribuição para o entendimento de como ocorreu o processo de criação, o desenvolvimento, a influência e o declínio da democracia racial. Além de expor o quanto foi importante a interação do Brasil com os Estados Unidos em relação a este tema.

Escrito de forma clara este artigo é sem dúvida um grande tesouro que possibilita diversas pesquisas em variados campos do saber como história, sociologia, entre outros. Por isso devido a sua importância para a sociedade indico a leitura tanto para leigos, que poderão ter contato com uma história do Brasil mais próxima da realidade e principalmente para os acadêmicos para que possam refletir sobre o assunto e quem sabe contribuir para que continue este contraponto americano.


Autor: Jardel Gonzaga Veloso


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