Memórias - A Serra dos Moinhos



É uma das muitas e pequenas serras de Portugal, povoada por lendas e mistérios bem ao sabor da imaginação de quem por lá passou a infância.

- Era assim a Serra da Ireira, dos Moinhos ou simplesmente a Serra d'Arega:

Nos seus tempos de criança, a serra vestia-se de tojo e carqueja, floridos de amarelo, de sargaço cor de lilás, e de urze rosa e branco.

Era povoada de rebanhos e bandos de cotovias que cantavam ao desafio com os assobios e risos estridentes, depequenos pastores nas suas brincadeiras e correrias.

Há cerca de meio século, apenas se via um eucalipto aqui e ali ou um pequeno pinhal onde se amontoava a "munha" (caruma, agulha) que, periodicamente, era apanhada para queimar ou para fixar as águas nas terras de regadio.

Nessa época a serra era atravessada por uma estrada de empedrado ou quase sempre de terra batida. Cruzada por pequenos caminhos ou atalhos, que ligavam entre si as povoações das freguesias que a circundavam -Arega, Pussos e Maçãs de D.ª Maria- . Eram as vias de comunicação local, onde o transporte era o de tracção animal ou bicicletas ou então as "trotinetes de pau" das crianças, feitas segundo a inspiração e engenho de cada "artista".

Raramente se via um veículo automóvel ou motorizado.

Quem subisse ao topo da serra, para nascente, avistava a freguesia de Arega e, sem obstáculos, grande parte dos lugarejos da freguesia e seus limites e todo um vasto horizonte para as bandas dos Vales do Zêzere e da Rbeira d'Alge.

Para poente, onde a inclinação era em muitos locais abrupta, avistava-se uma paisagem bela, cujo horizonte se perdia em qualquer direcção.

Quantas Asa Delta não foram antecipados na fértil imaginação infantil.

Olhando no sentido de litoral, tínhamos como fundo, a Serra de Alvaiázere, de vegetação rasteira, deixando entrever as manchas de rocha calcária.

Continuando a trajectória estendia-se para as bandas de Ancião a Serra de Sicó e, completando o movimento de rotação para Noroestelá estava integrada no maciço central a Serra da Lousã indicando a majestosa Estrela, que se adivinhava distante por detrás de neblinas.

Quem quisesse, subir á Serra junto dos moinhos vivia, em tempo de estio, um espectáculo sublime. Podia desfrutar-se um cenário circundante até perder de vista, com paisagens multiformes e multicores. Ao mesmo tempo, aí se assistia ao concerto oferecido pelo vento, fazendo girar as velas do moinho, numa chiadeira- him..him..him.... - em sintonia com a rotação circular e rítmica das mós de pedra: tonc..tonc..tonc.., tonc..tonc..tonc.., que lentamentemoíam o "grão".

Como a criançada gostava de visitar os moinhos dos irmãos Pires, para dar uma espreitadela ao seu interior, ver a dança das mós e ficar enfarinhado.

Era uma espécie de conto de fadas. Porém, não o era, com certeza, para quem tinha que remendar as velas dos moinhos, tantas vezes destruídas pela aspereza de fortes temporais e para quem, repetidamente, semana após semana, tinha que subir e descer a serra, calcorreando veredas, para distribuir o fole da farinha aos fregueses e recolher o grão.

 Hoje, quando atravessamos a "Serra" que avistamos daí?

Dos moinhos, nem vestígiosO cenário, esse, escondeu-se por detrás de uma densa cortina verde.

Hoje, só vemos floresta e um horizonte distante na nossa imaginação.

(continua)

Autor: maria borges


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