Antes de Reformas



Os governos têm uma inclinação forte por "reformas" que, muitas vezes, resultam em decepção para todos. Percebe-se que o objetivo de reformar se antecipa a medidas que sustentam uma reforma duradoura. No caso da Educação, a falta de ações de base é por demais evidente e melhor agiria o governo se executasse medidas simples, mas fundamentais. Vejamos alguns pontos que merecem atenção especial e que, ao longo dos anos, os governantes têm ignorado.

Indiscutivelmente, o primeiro ato deve ser o de dar às escolas condições de segurança, pois ela é um dever do estado e não necessita de nenhuma "reforma educacional". As nossas escolas, em especial as da periferia, estão totalmente desprotegidas e qualquer direção de escola sabe que alunos, professores e o patrimônio da escola estão sujeitos a toda ordem de atos criminosos. Escolas sem segurança não têm como ser avaliada por produtividade, a não ser que entre os parâmetros conste "tempo de sobrevivência".

O transporte escolar é um outro setor que exige atenção especial dos governantes, pois a precariedade do serviço é pública e notória. As queixas de empresários dos transportes, prefeitos e usuários exigem uma mediação competente do Estado. Os contratos devem ser melhor fiscalizados, as vistorias rigorosas e as licitações regidas por quesitos técnicos. Esta é uma área que exige coragem para enfrentar interesses econômicos e proteger a vida de escolares que usam o serviço.

Os prédios escolares nem sempre condizem com um ambiente propício ao aprendizado. Em muitos casos, estão em precárias situações, colocando em risco as pessoas que ali trabalham ou estudam. É indispensável que, antes de qualquer reforma, o Estado coloque em condições de uso as escolas. Quem fornece "habite-se" a prédios inacabados, quem vistoria de forma incompleta reformas mal feitas, quem deixa para depois consertos que deveriam ser urgentes, quem deixa de proteger o patrimônio que está sob sua responsabilidade, com certeza não contribui para uma melhoria na qualidade da educação.

Urgente também uma reforma no conceito de disciplina. Após longos anos de teorias pedagógicas permissivas que toleram comportamentos inadequados ao convívio social, é indispensável que se reconstrua esse conceito, pois sem disciplina não há aprendizagem. Enganam-se os que opõe disciplina à liberdade. Não são conceitos antagônicos, mas complementares. Talvez aqui tenhamos que chegar, também, ao conceito de autoridade, pois aí reside a falência do sistema. Autoridade não se confunde com autoritarismo, pois o exercício dela está centrado na liderança e na capacidade de organização. Pais, professores e policiais são vistos pelos defensores intransigentes dos direitos das crianças e dos adolescentes como opressores e repressores. As nossas crianças estão soltas no mundo, desamparadas, desorientadas e vulneráveis às ações do tráfico e do vício. Educá-las é a melhor forma de proteção.

Quando a escola for um ambiente seguro, os professores tiverem condições para exercer sua função e as crianças chegarem à sala de aula com um mínimo de educação dada pelos pais, poderemos falar em Reforma da Educação. Até lá continuaremos convivendo com projetos pessoais, eleitoreiros e prejudiciais ao sistema educacional. Mudar este quadro caótico exige muita coragem dos governantes e colaboração constante de toda a sociedade.


Autor: Odiombar Rodrigues


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