O ano novo para o velho
Entender o impacto desses números no quadro demográfico, social e da saúde é imprescindível no sentido de se estabelecerem estratégias adequadas. O Brasil vai deixando de ser um país de jovens. Delineia-se um cenário muito diferente do que se observava há pouco mais de meio século, quando os octagenários eram 0,5% dos habitantes. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstra que, em 2020, 12% da população brasileira deverão ser idosos. Isto significará 31 milhões de pessoas, o equivalente ao total de habitantes do Peru ou do Marrocos.
O envelhecimento dos brasileiros, como na maioria do mundo em desenvolvimento, ocorre mais tarde em relação aos países desenvolvidos. Nestes, os habitantes com mais de 65 anos representavam 15% do total já na virada do século. O índice deverá saltar para 27% até 2050. O Japão, que já tem a maior quantidade de velhos no mundo, deverá chegar a 35%.
Nas nações pobres, os idosos eram apenas 6% em 2000, devendo chegar a 14% em 2050.
A expectativa de vida nos países desenvolvidos, que entre 1950 e 1955 era de 67 anos, subiu para 79. Nos subdesenvolvidos, a evolução foi de 41 para 63 anos, em média. A proporção de idosos no mundo, hoje de 9%, passará a 14% (delimitador a partir do qual os países são chamados “envelhecidos”) em 2018 e, em 2050, deverá ser superior a 25%. Isto ocorre atualmente somente no Japão e na Itália, nações com o maior índice de habitantes da terceira idade. Para entender melhor toda essa transformação, é interessante notar o exemplo da França, onde transcorreram 115 anos (de 1865 a 1980) para se dobrar a proporção de idosos de 7% para 14% da população.
Essas comparações não se limitam à cronologia do processo de envelhecimento. Há uma observação crítica, feita por Alexandre Kalache, o médico brasileiro que, desde 1994, chefia o Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS): “Os países desenvolvidos enriqueceram antes de envelhecer. Países como o Brasil estão envelhecendo antes de serem ricos”. Ou seja, o Brasil tem um desafio crucial pela frente: criar condições econômicas e sociais que permitam uma boa qualidade de vida aos idosos, pois, como alertam os números, nos próximos 40 anos haverá crescimento acelerado dessa faixa etária.
Quando se analisam estratégias e ações relativas à qualidade de vida dos velhos, não se pode limitar o pensamento às obrigações do Estado. É necessária a mobilização das famílias e da sociedade para o enfrentamento do desafio. Nesse sentido, deve-se ficar atento às recomendações da própria OMS. A respeitada entidade norteia sua política para o envelhecimento no conteúdo de um documento lançado em 2002, intitulado “Envelhecimento Ativo, um Marco Político”. O texto define “envelhecimento ativo” como o “processo por meio do qual se possam otimizar as oportunidades para saúde, participação e segurança, de modo a assegurar qualidade de vida à medida que se envelhece”.
Tais recomendações assumem significado ainda mais relevante se considerarmos que, em 2008, o Estatuto do Idoso, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, completará a emblemática marca de cinco anos. Sua meta - lembram-se? - era justamente ampliar os direitos e a qualidade de vida dos cidadãos com idade acima de 60 anos. No papel, é muito mais abrangente do que a Política Nacional do Idoso, de 1994. O estatuto institui penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da terceira idade. Isto inclui o Estado, ao qual devemos cobrar ações efetivas, mas também a sociedade, que tem responsabilidades inalienáveis quanto à vida dos brasileiros que envelheceram.
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Autor: Felipe Braga
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