As novas regras ortográficas: variação, arbitrariedade linguistica ou arbritrariedade social?



A sociedade Brasileira, assim como outras sociedades, cuja raiz fora o latim, vivenciam no estudo do vernáculo, regras, exceções e variações que as identificam como tal: complexas (Português), objetivas ( Alemão), retóricas (Italiano) entre outros adjetivos.A classificação nem sempre condiz com a vivência e as nuances dos dialetos que são criados, reinventados e ressignifeitos ao longo dos tempos, segundo determinados grupos e particularidades ímpares. Tais aspectos são marginalizados e muitas vezes esquecidos pela elite vernácula e tradicional que rege os estudos direcionados à lingua. Pode-se até dizer que este aspecto é bastante estudado e defendido nas Teses de Doutorado e nas Dissertações de Mestrado, porém não são esses aspectos que irão,por exemplo, compor toda a reformulação ortográfica da Língua Portuguesa.
Os editores, a mídia, políticos, educadores e todos os envolvidos irão justificar as mudanças ortográficas tendo como respaldo a importância da unificação da língua escrita entre os países que falam a Língua Portuguesa, pois a língua oral não se modifica, nem com o fim do trema.
A intenção é sempre boa, mas a funcionalidade e o porquê (o motivo, afinal ainda utilizo o acento diferencial pare explicar as diferenças entre os "porques") ainda estão nebulosos e ainda não nos convenceu. Por exemplo, quando utilizamos uma regra para explicar que uma palavra que antes era grafada com hífen e hoje não é mais, a explicação deveria ser dada por meio do princípio da funcionalidade, ou seja, o "não uso" ou o fim desse uso se deu porque na língua portuguesa o hífen separa apenas (generalidade impossível de se estabelecer dada a complexidade da nossa língua) os termos cuja raiz apresentam características próprias (prefixos plenos)- como é o caso de Micro, razão pela qual agora não se escreve microondas, mas micro-ondas. Mas essa mesma explicação não se aplica ao "super" como em supermercado, ao separarmos, "super - mercado" a carga semântica, o sentido atribuído ao termo mercado nos faz entender que o mercado é esplêndido, mas o micro-ondas, se refere às ondas do aparelho que aquece a nossa comida ou se refere à onda que não é macro, e sim pequena? Nota-se, portanto, que explicar que o uso do hífen em vogais que duplicam vão além do aspecto prático, pois o sentido, no caso supracitado, também é modificado com a separação, e este aspecto não é elucidado com a mudança.
Desta feita, pode-se afirmar que questões linguisticas deveriam ser pensadas a  fim de promover maior conformidade e adequação, afinal de contas, a língua é uma convenção arbitrária, mas mais arbitrário foi promover a mudança a partir de pressupostos de funcionalidade advindos de uma elite linguistica que nem sempre leva em consideração as especificidades e complexidade da língua ressignifeita entre os diferentes grupos sociais que instrumentalizam suas práticas por meio da língua portuguesa e suas metáforas, polissemia, neologismos etc. Um debate, discussões e um referendo poderiam amenizar a dor daqueles que são os últimos a saber das mudanças e para que foram realizadas. Fica aqui uma, das muitas propostas de reflexão.


Autor: Wagner Araujo


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