O Mártir



"Mas que cruz enorme essa sua! Como você consegue carrega-la? Leva tudo isso nas costas sozinho? Onde arranja forças?" Ah! Como gostava de ouvir essas palavras. Deliciava-me em cada uma das pequenas letrinhas proferidas para formar tão belas frases aos meus ouvidos. Só de lembrar do gosto que sentia... Ah! Que maravilha. Sentia-me mais alto, sentia-me mais forte, mais importante. Pobres criaturas que me olhavam de baixo, admirando meu poder, meu altruísmo e dedicação sempre aos outros. É claro! Ou acha que eu carregava a cruz por mim mesmo? Eu nunca tive erros! Sempre fiz tudo corretamente, e olha que se não fosse eu, nada do que existe hoje existiria! Foi o meu suor, o meu esforço. Por isso deliciava-me com cada frase, cada palavra, cada sílaba, cada letra de todos os títulos que conquistei. Conquistei com honra! Fiquei anos trabalhando em prol do bem comum para que meu nome fosse reconhecido. Ai daquele que não me tratasse pelos títulos que tanto me custaram! Quer dizer, é claro que não foi só pelo título, mas convenhamos: a quem merece honra, a honra! Era só o que eu pedia. Está na Bíblia, não é verdade? Só estava seguindo a Bíblia. Assim como sempre o fiz, sem nunca pisar fora da linha. Sempre tive muito amor pelos outros, orava por aqueles que passavam fome, orava por aqueles que não tinham onde dormir ou com o que se cobrir do frio, orava por aqueles que estavam tristes, orava por quem estava doente de alguma coisa, orava para que Deus ajudasse os novos convertidos, ou seja: orava por tudo e por todos! Sempre fiz isso em alto e bom som. Nunca tive vergonha do meu amor pelos outros. Mas mesmo amando a todos, sempre apontei os erros também, afinal, não podemos afagar aquele que erra. Precisamos repreender e mostrar a todos o erro dele para que ninguém faça igual. Posso dizer sem sombra de dúvidas que dediquei minha vida para servir aos outros. Busquei agradar a todos quantos se achegavam a mim. Desde que, é claro, suas propostas estivessem de acordo com a Bíblia. As vezes apareciam interpretações diferentes das que eu tinha de algumas passagens, mas onde já se viu isso? Questionar a Bíblia? A Bíblia só diz a verdade e eu só digo o que a Bíblia escreve. Por exemplo, se lá está escrito que as pessoas devem se sujeitar as autoridades e com meus títulos eu me tornei uma autoridade, as pessoas devem me respeitar por ser quem sou! E o que é questionar se não uma forma de faltar com respeito? Quem questiona, discorda; quem discorda, acha que o outro está errado; quem acha que eu estou errado, acha também que Deus está errado, pois sou eu autoridade e toda autoridade é instituída por Deus. Ou seja, o problema não era nem a falta de respeito comigo, mas a falta de respeito com Deus. Por isso nunca aceitei questionamentos, porque sigo a Bíblia! Até morrer eu morri pela obra. Estava indo a uma viagem missionária. É claro que era missionária a minha viagem, onde já se viu viajar por lazer? Eu viajava para fazer a obra e falar de Deus. Nada mais do que isso. Continuando, estava numa viagem missionária para o Nordeste do Brasil. Os irmãos têm que ver como são humildes as pessoas de lá. Orem muito por eles para que Deus mande alimentos, roupas e condições melhores de vida para aquele lugar. Mas mesmo os irmãos sendo humildes me ofereceram tudo que tinham. Disse a eles que eles primeiro tinham que abençoar o profeta e que depois seriam abençoados pelo profeta. Deram-me tudo que tinham e eu também fiz minha parte, orei e profetizei muita vitória para todos. Mas sou servo de Deus e não tenho medo de entregar profecias: aqueles que não tiveram fé e não abençoaram primeiro o profeta receberam uma profecia muito dura da parte de Deus. Morri voltando de avião, mas que fique bem claro que não foi com dinheiro meu, não tenho dinheiro pra isso não! Foi com a oferta dos irmãos lá do Nordeste que comprei a passagem. Eu morri no avião, mas não porque ele caiu. Na verdade, eu acabei engasgando com um amendoim que serviram. Quis comer bem rápido para não precisar oferecer para a pessoa ao lado que ficou sem. Morri asfixiado por um amendoim. Imaginem, pois, meus caros, qual não foi a minha surpresa ao passar pelo julgamento final eouvir dos lábios do próprio Deus que não me conhecia! Até agora não entendo, alguém pode me explicar?


Autor: Renato Malkov


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