SOBRE AMIGOS IMAGINÁRIOS



Determinada parente minha veio orgulhosamente me dizer a seguinte frase: "Eu já tive um amigo imaginário!". Obviamente não pude deixar de pensar "Que idiotice não?". Como não pôde deixar de ser, minha opinião passou do cérebro para a boca e da boca pro ouvido da tal parente, que ficou aparentemente ofendida com a minha observação. Desculpe a todos que possuem ou já possuíram os tais amigos imaginários, mas parando pra pensar melhor, tentando deixar de lado o preconceito, concluí que amigos imaginários não são apenas idiotas, mas também inconvenientes. Concluí isso pelo seguinte fato "imaginário" suposto:

Às vezes em momentos de raiva, tesão, morcegagem e derivados, imaginamos, sem querer querendo, algumas coisas, como golpes de alguma arte marcial em determinada pessoa, uma passadinha de mão na bunda de alguém (isso pegando leve), um viajem pra lá de Bagdá... Ou seja, não temos controle sobre nossa imaginação. Agora imagina a sua situação, isso porque aprendi que temos que nos colocar no lugar da pessoa, então imagine que você tem um amigo imaginário e num momento mais íntimo seu, quando você está "esvaziando o intestino", ou cagando mesmo, o negócio é que seja qual for o termo que você quiser utilizar no final o resultado é o mesmo, é só você, o trono e uma meditação profunda, isso até que apareça seu "amigo imaginário", quebre sua concentração e te faça cortar o cocô no meio! Olha que coisa ridícula! Mas tudo bem, vocêcriou, você agüenta, é só respirar fundo aquele ar fétido que saiu do seu intestino e contar até dez que tudo passa. Agora você está na fila do banco e quem é que tá na sua frente? Seu amigo imaginário! Chega a vez dele ser atendido, depois de horas na fila (não se esqueça que você é o próximo!), ele vai até o caixa, fica parado na frente dele e o cegão lá gritando: "Próximo! Próóóximoooo!!!". O povo na fila mandando você ir, o caixa te chamando, ignorando totalmente a presença do seu amigo na maior falta de consideração e o amigo olhando pra sua cara como quem diz "Você faria isso comigo, amigo? Furar fila?".

E pior do que ter um amigo imaginário deve ser trabalhar como amigo imaginário. Já imaginou um amigo imaginário na faixa dos seus 40, 50 anos tendo que brincar de super herói com um garotinho de 6 anos? Que tipo de conversa pode sair?

-Tiozim: A economia global está em colapso. Será que o Obama conseguirá reestabilizar a economia americana?

-Mulekim: O nome do meu cachorro é Osama! Vamo brincá de cavalinho nele tio?

O que facilita o meu entedimento sobre essas pessoas, na maioria criaças, é que enquanto elas falam sozinhas eu escrevo pra ninguém, então deve ser quase a mesma coisa, com a diferença dos padrões sociais mais aceitáveis que um blog tem. De qualquer forma já decidi o seguinte:

Caso um dia eu tenha um filho (minha mulher no caso, já que possuo testículos ao invés de ovários), e caso meu filho tenha um amigo imaginário (moraremos num prédio bem alto mesmo), na primeira oportunidade falo pra ele:

- Você de castigo no seu quarto e seu amigo de castigo na varanda! E sem chorar, os dois!

Depois de dez minutos vou ao quarto e digo:

- Filho, pode sair.

- E o meu amiguinho papai?

- Infelizmente escorregou da varanda, caiu lá em baixo e morreu por hemorragia interna e falência múltipla dos órgãos. Dá a mãozinha pro papai e vamos rezar pra ver se ele num fica muito tempo lá no inferno filhinho...


Autor: Daniel Quintão da Silva


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