'Tempos Modernos' numa Perspectiva Histórica
Segundo o autor Francisco Iglesias a evolução da indústria, deve ser entendida desde os tempos mais remotos da história do homem, quando os primeiros trabalhos com pedra e a invenção do fogo, lá na Pré-História, até a Revolução industrial na Inglaterra nos séculos XVIII,e XIX, espalhando-se pelo globo, até a Revolução tecnológica dos dias de hoje, segundo este autor tudo é industria.
Porém ele lembra que é só no século XVIII da era cristã que a industria dará um salto, até então nunca antes visto no processo da evolução histórica social do homem. Sabemos através de nossos estudos, e notícias dos meios de comunicação, e de nossas praticas dentro do nosso contexto social, que , na atualidade apesar da ganância do capitalismo, hoje a máquina cada vez facilita mais o trabalho humano, ao mesmo tempo em que desempregam muitos, mas só que com as conquistas tecnológicas cada vez mais o homem se esforça menos, idéia compartilhada por Francisco Iglesias em sua obra "Revolução Industrial"(1981).
No entanto nem sempre foi assim, essas facilidades são novidades recentes. Para que se chegasse a esses resultados muita máquina foi lubrificada "a suor e sangue de seus operários", durante a primeira e a segunda Revolução Industrial, e também perpassando pelo século XX. E nesse contexto que iremos analisar o filme de Chapllin "Tempos Modernos" (1936), e sua relação com a obra de Francisco Iglesias "Revolução Industrial"(1981).
O filme se passa entre as décadas de 20 e 30 do século XX dentro do contexto da crise de 1929, que solapa a industrialização e economia dos Estados Unidos, sendo ao mesmo tempo uma crise de proporções mundiais que coloca em xeque o capitalismo e o liberalismo, e as nações democráticas. Tanto que nesse período é onde se fomentam as idéias totalitárias, onde ganha força o Fascismo e o Nazismo.
Mas nos fixando dentro dos Estados Unidos, onde se passa o enredo do filme, que é o que nos interessa no momento. Podemos entender a conjuntura daquela sociedade e o impacto da industrialização dentro desta sociedade, a quebra dos valores humanos, a miséria a qual a indústria sujeitava as massas de mão de obra barata que disponibilizava, as greves reprimidas pela violência policial e a grande diferença na distribuição de renda entre burguês e proletário, em suma a desumanização do homem ou a alienação deste em detrimento da venda de sua força de trabalho, numa operação que não permite ao operário conhecer seu produto final, numa produção em serie típica do Fordismo. Conjuntura semelhante a do século XVIII na Inglaterra, conforme Iglesias, (1981), onde o mestre artesão se torna apenas vendedor de sua força de trabalho ao capitalista, agora detentor dos meios de produção.
No entanto é preciso notar que agora no período do século XX, ao qual o filme se reporta, para a Revolução Industrial na Inglaterra, lá se vão mais de cento e cinqüenta anos, um tempo razoável para uma mudança de mentalidade. Pois no filme a questão social é evidente a mudança, a sociedade no início do século XX é uma sociedade de controle, uma sociedade disciplinar, no filme mostra a pressão exercida pelas instituições de seqüestro, na vida principalmente dos proletários. Primeiro a fábrica com um trabalho desumano e degradante, um serviço repetitivo capaz de deixar mazelas físicas e mentais nos homens, mau alimentados, alimentado-se quase em cima das máquinas, vigiados pelo capataz, dentro de um ambiente que condiciona o homem ou seja já sistematiza o indivíduo aquela condição de acessório, de engrenagem da máquina.
Uns trabalhos degradantes, que muitos afetados pelas seqüelas do trabalho repetitivo, encontram amparo em outra instituição, como aconteceu com o personagem do filme que surtou, a ponto de ser levado para o hospício, onde nesse período a sociedade burguesa escondia as impurezas da sociedade. Lembrando que no período abordado por Iglesias (1981), na Inglaterra a vadiagem era punida, reprimida pelas instituições competentes.
Com a Crise de 1929, o fechamento de fabricas, as greves também eram reprimidas por outra instituição de seqüestro, a polícia, que procurava inibir e por fim as manifestações populares, fato que foi uma constante no século XIX na Europa sobre tudo com as idéias Marxistas, Anarquistas, com seus protagonistas, século da Primeira Internacional, como ressaltou Iglesias (1981), o período de O Capital, até o desfecho da Revolução Russa de 1917.
Mas agora apesar da semelhança, o local é os Estados Unidos, país que ascendeu no Pós Primeira Guerra Mundial. E nesse momento o filme aborda, o que, muitos autores dizem ser a primeira crise do capitalismo.
Também fica evidente a critica feita por Chapllin ao modo de vida consumista capitalista que estimula o consumo de bens de toda espécie que desde utilitários até superfalos, produtos típicos da Segunda Revolução Industrial como resaltou Iglesias (1981). A Primeira Revolução Industrial período esse que a grande ênfase era dirigida a produtos de primeira necessidade, como os têxteis, não que não se produzisse para o mercado produtos de luxo e conforto, só que a produção em larga escala de mais variedades de produtos é marca da segunda fase da Revolução Industrial no século XIX.
O ponto, onde apesar de períodos distintos, o filme de Chapllin (1936) e a obra de Iglesias (1981), concordam e confirmam, é que entre uma época e outra as condições dos proletários da Inglaterra daquele período do século XVIII, e em relação aos Estados Unidos do período do século XX, em nada mudou apesar da distância que separam as duas épocas cada qual na sua conjuntura, continuavam sendo explorados de forma violenta sendo apenas mão de obra barata sem nenhuma perspectiva diante do enriquecimento acelerado da classe burguesa.
Mesmo assim o filme deixa em seu final uma mensagem de otimismo, típica das classes oprimidas, que sobrevivem dentro do sistema capitalista. No entanto, o filme em sua forma tradicional, mudo, da forma como o artista o trabalhou, fala pelas imagens, expressões que denunciam o contexto social do período, de uma indústria onde as máquinas eram responsáveis pelo modo de vida do homem, antes no século XIX, ou até neste, as vezes vistas como responsáveis pela situaçãodegradante do proletário, até mesmo sendo alvo de sua fúria como aparece em Iglesias (1981).
No período do filme Tempos Modernos, já se observa um homem alienado de tal maneira que eram como ovelhas a serviço da indústria, elas se empurrando no brete da esquila, como os homens nas portas das fabricas nos tempos de oferta de emprego, e também ambos os dois descartados num período posterior, quando cessava a produção.
E dentro do contexto de 1929 as greves devido à crise econômica colocam seus proletários na miséria, como ironiza Chapllin, aponto de preferir a cadeia por oferecer moradia e alimentação. Antes de engraçada a cena da cadeia denuncia a que ponto chega a dignidade humana, claro que o proletário não preferia a cadeia, mas suas condições de liberdade eram degradantes, é o que se pode interpretar como denuncia do filme ao contexto da época.
Hoje aparentemente parece estar melhor a situação dos proletários, porém o grande aumento populacional e as industrializações espalhadas pelo mundo ajudam a maquiar a miséria fomentada pelo capitalismo, claro que trouxe mais benefícios para os dias atuais, só que tais benefícios atendem apenas uma parcela da sociedade. A vida do homem na fábrica certamente esta melhor, porém cada vez mais o homem se conserva alienado ao capitalismo, pela dificuldade de se obter emprego, e também alienado a maquina pelo tempo de vida que ele ainda passa ao seu lado, e assim o capitalismo vai cumprindo seu papel.
Referências.
CHAPLIN, Tempos Modernos, 1936.
IGLESIAS, Francisco. Revolução Industrial. Brasiliense, 1981.
Autor: luciano braga ramos
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