O Poder é Móvel



Quando analisamos a conjuntura internacional, que segundo Demetrio Magnoli é uma "anarquia", pois todos os Estados são soberanos e independentes,observamos que dependendo do enfoque realizado, possuímos centros de poder e que estes o difundem por uma dada região ou regiões. Sendo assim, a regionalização deste espaço internacional torna-se indissociável do conceito de poder.

Ao observar o espaço internacional do pós II Guerra Mundial (1939 -45),temos a regionalização do mundo bipolar, baseada no antagonismo estadunidense-soviético, com sistemas sócio-econômicos opostos. Avançando no tempo, temos outra abordagem com três pólos de poder. Afinal, como compreender melhor estas regionalizações?

Compreender a palavra ou conceito de poder não é uma tarefa demasiadamente fácil, pois a bibliografia sobre o tema é vasta, passando por pensadores como Foucault, por exemplo. No entanto, quando nos referimos a Geopolítica e a organização do espaço internacional, podemos afirmar que poder é o que prevalece em uma regionalização. Fácil ? Nem tanto ...

A Guerra Fria citada anteriormente, era regionalizada com dois pólos de poder,de um lado União Soviética e Estados Unidos de outro. Tratava-se de uma regionalização geopolítica e detinha o poder quem conseguisse se fortalecer, principalmente na esfera militar, tecnológica e geopolítica, influenciando países, a adotar o sistema ( socialismo ou capitalismo).

No momento histórico em que o socialismo sucumbiu, observamos uma rápida regionalização, com enfoque econômico, onde geopolítico foi rebaixado para segundo plano. Desta forma, o poder se moveu para os países altamente industrializados ( afinal se o socialismo desapareceu, o capitalismo "venceu" a guerra), com elevados IDHs e com produção de Tecnologia de Ponta.

É neste momento que surge o mundo multipolar, agora com três centros de poder econômico substituindo o poder geopolítico. Nesta classificação pós Guerra Fria, a Rússia, herdeira direta da União Soviética, não detinha mais poder, mesmo mantendo uma ampla influência geopolítica na região da ex-URSSe Leste Europeu, possuindo um forte armamento nuclear e um assento no Conselho de Segurança da ONU.

Atualmente, quase vinte anos após esta regionalização do mundo globalizado, observamos que a mesma apresenta várias deficiências, pois não possui correlação com a realidade no final da primeira década do século XXI . Os três grandes centros de poder desta regionalização possuem problemas estruturais e suas economias não apresentam grandes avanços, como é o caso de Japão e Alemanha. Os Estados Unidos, o outro centro, padece em uma crise ainda não diagnosticada integralmente.

Aliados a esta inércia dos pólos de poder da atualidade , é possível constatar o avanço no cenário global dos BRICs ( Brasil, Rússia, India e China)na inserção como players globais, com taxas de crescimentos aceleradas antes da crise de 2008.

Todos os BRICs, sem exceção, são potências geopolíticas regionais, como o Brasil , por exemplo, líder do cone sul. Diante deste quadro, a próxima regionalização do espaço internacional deve contemplar além do grau de industrialização, IDH e produção de tecnologia de ponta, os critérios de mercado consumidor interno e reserva de recursos naturais.

Nesta nova regionalização, os BRICs são mais fortes e possuem poder .Esta regionalização do mundo demonstra uma nova abordagem, onde os gigantes industrializados e subdesenvolvidos, possuidores de amplos mercados consumidores e reservas naturais, são considerados atores principais.

Se realizarmos um breve retrospecto histórico, podemos constatar que diante das Grandes Navegações no século XVI, Portugal detinha um amplo poder, quando o enfoque era o comércio, sendo seguido e ultrapassado ( até anexado) pela Espanha. Depois vieram os processos de manufatura, culminando com a Revolução Industrial, onde a Inglaterra foi contemplada com o poder e assim permaneceu por quase dois séculos.

Os Estados Unidos e União Soviética sucederam a Inglaterra em poderio mundial, para depois a URSS ceder seu lugar ao Japão e Alemanha. Agora o conceito de multipolaridade deve ser ampliado para a pluripolariadade, com a inserção dos BRICs como pólos de poder internacional.

É possível concluir, que a cada determinado período de tempo, surgem regionalizações do espaço geográfico internacional e o poder se move. Se em breve o Brasil for considerado um pólo de poder internacional, comprova-se ainda mais esta idéia, pois o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa do Brasil,já foi a capital de Portugal, ainda que por alguns anos ...

Ivan Santiago Silva – graduado em Geografia e Pós Graduado em Educação é ex professor oficial da rede pública de São Paulo, professor do Instituto Superior de Ciências Aplicadas no curso de Geografia, nas disciplinas de Organização do Espaço e Geografia Econômica.


Autor: Ivan Santiago Silva


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