VIOLÊNCIA, PARADOXO DA MODERNIDADE!



A modernidade pode ser definida como sendo o resultado da insatisfação humana. O homem vive uma busca interminável. A insatisfação e também a necessidade de obter algo que ainda não tem torna o homem escravo de uma força gerada por sua própria vontade.

Uma realidade ambígua; resultados positivos e negativos. As distancias entre os mundos diminuíram dando a sensação cada vez maior de cumplicidade. Negócios podem ser realizados com um simples "clic" no computador. No entanto, esses privilégios não podem ser vividos por todos.

De um lado o desenvolvimento tecnológico que proporciona a alguns um conforto paradisíaco; e de outro a miséria, a fome, a exclusão digital, etc.

São indivíduos em pontos opostos. Uns vivendo os reflexos da globalização; e outros, sobrevivendo a esses reflexos, ou seja, os primeiros vivem o lado positivo, o conforto, a praticidade, enquanto que os segundos vivem a exclusão, o abandono, o abismo social cada vez maior.

Certamente esse cenário acarreta um descontentamento, já que o homem vive uma insatisfação eterna, fruto de um desejo incontrolável.

Diante da visão discrepante, o homem que vive limitado, onde tudo que lhe resta são incertezas, e um muro a sua frente separando-o de um mundo tão diverso do seu... Quantas dúvidas! Quantos questionamentos! Quanta distância! Quanta exclusão!

A vida, também é como as fábulas, e tudo aquilo que se deseja e não se pode alcançar, se torna alvo da inquietude do ego. "Se não posso ter, posso desdenhar...".

Essa sensação de exclusão e preterimento faz do homem um ser amargurado tomado por um sentimento que o coloca no limite entre o bem e o mal, dando-lhe permissão para passar do simples desdém a destruição.

A partir da criação desses dois mundos, (que apesar de tão diferentes, resultam de um mesmo fenômeno e têm a mesma essência), é instituída uma violência legalizada.

Setores importantes da sociedade se erguem, com uma suposta solidariedade, em razão dos indefesos, no intuito de conter a violência propugnada pela massa excluída.

No entanto, essa repressão contra a violência que vem da massa é exercida de modo ainda mais violento, porém, entendido como legal, instituído, necessário!

Mas o que legaliza essa violência!

Certamente é a política. Hoje, política e violência são sinônimos. É como se para fazer política fosse imprescindível a violência.

O poder capitalista necessita de uma massa, que ao mesmo tempo em que empresta sua força produtiva, também consome o seu produto. E a manutenção do poder exige coerção.

Essa coerção é exercita por uma violência permanente, materializada pela política implantada pelos capitalistas, que cada vez mais vê nos demais indivíduos um meio para os seus fins, ou seja, o poder.

AGAMBEN observando a sociedade capitalista do século 19 definiu tal organização como "biopolítica". Era o fenômeno da tomada da vida pelo poder de tal maneira que os seres não eram considerados em si de maneira individual; eram apenas peças contadas por unidades engrossando uma massa viva essencial à produção capitalista.

Esse mesmo fenômeno se mantém ainda. Uma sociedade capitalista que dividiu os homens em grupos; de um lado os que vivem suas vidas e de outro os que têm suas vidas vividas.

Cada vez mais o homem se torna uma coisa, que todo momento pode ser descartada, não há comprometimento em conhecer o íntimo de cada um; apenas se vê o que esta na superfície, ou seja, um meio para o fim.

A propósito BAUMAN, em "Modernidade liquida":

"Os mecânicos de automóveis de hoje não são treinados para consertar motores quebrados ou danificados, mas apenas para retirar e jogar fora as peças usadas ou defeituosas e substituí-las por outras novas e seladas, diretamente da prateleira. Eles não têm a menor idéia da estrutura interna das 'peças sobressalentes' (uma expressão que diz tudo), do modo misterioso como funcionam; não consideram esse entendimento e habilidade que o acompanha como sua responsabilidade ou como parte de seu campo de competência. Como na oficina mecânica, assim também na vida em geral: cada 'peça' é 'sobressalente' e substituível, e assim deve ser. Por que gastar tempo com consertos que consomem trabalho, se não é preciso mais que alguns momentos para jogar fora a peça danificada e colocaroutra em seu lugar?

A "biopolítica" continua e é essencial à modernidade resultante da eterna procura do homem por aquilo que ainda não conquistou.

E os homens? Aqueles excluídos que servem à modernidade?

Continuam como peças vivas, sendo trocados e descartados a todo instante.

E a divisão do mundo continua...

Tanto quanto no que diz respeito às peças vivas humilhadas e desprezadas, quanto aos privilegiados que vivem um mudo de desespero, subordinados às vantagens da globalização.

Essa imagem de supremacia dos privilegiados em relação aos excluídos não é real. Só há dominação quando não há reação. É a dialética; o sistema refutado cria a solução para o seu fim dentro de si mesmo. Agora o segundo mundo também imprime sua força. È violência contra violência.

Os dois mundos resultantes da modernidade, distintos entre si, mas que todo tempo se cruzam, reagem às suas discrepâncias.

E esse desespero vivido pelo homem proporcionado pela sua eterna insatisfação é irreversível, já que resultante de seu próprio desejo.


Autor: marilda tregues de souza sabbatine


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