A ESCOLHA DA ESCOLA CERTA



Podemos sentir certo alvoroço no comércio neste início de janeiro, com a venda de materiais didáticos e uniformes. Hora de matricular as crianças. Enquanto isto, as escolas se enfeitam (pintando as paredes e muros, reformando os móveis, trocando a areia do parquinho...) para atrair a clientela, que neste caso, são os pais. E é aí que é preciso muita cautela. A escolha da escola certa depende de diversos fatores. Geralmente somos levados, primeiramente, a analisar as escolas pelo seu aspecto físico (limpeza, organização, espaço), localização (perto ou à caminho de casa) e atividades extras oferecidas e que eu costumo chamar de penduricalhos (judô, natação, balet; jazz etc). Esquecemos de priorizar as condições pedagógicas, implícitas no projeto político pedagógico da instituição.

A proposta pedagógica revela, pelo menos, no papel, (por isso mais fácil de ser acompanhada e cobrada) a intenção educativa e a filosofia que a escola se fundamenta, assim como suas finalidades educativas; seu currículo, seu processo educacional; sua organização e funcionamento; seus recursos humanos; sua estrutura física e seus recursos materiais e equipamentos. Podemos comparar a proposta pedagógica da escola a uma bula de remédio, que contém a identificação do medicamento (o que é), informações ao paciente (ação e indicações do medicamento), riscos do medicamento (contra-indicações, advertências e precauções), modo de uso e conduta em caso de superdosagem. Fazendo esse paralelo vamos construir uma análise:

Qual é a identificação da escola? A escola não é neutra! A função social da escola é a transmissão do conhecimento sistematizado pelo homem ocidental às novas gerações, juntamente com os valores, normas e símbolos da cultura nacional. Essa transmissão acontece tanto ao nível do discurso (oral e escrito) quanto à conduta estabelecida na prática social e pedagógica, que acontece no cotidiano da relação professor – aluno – conhecimento – realidade.

Quais os riscos da escola? Poderá favorecer os interesses de manutenção da ordem social estabelecida de dominação e exploração dos mais pobres. Cumpre com eficiência seu papel de legitimar o poder e de classificar os indivíduos para que assumam a posição de subalternos numa sociedade dividida, ainda, em classes. Esta escola ignora as necessidades e características dos alunos e os condena, ao fracasso, convencendo-os de que são pobres porque são inferiores. Nesta escola (mais comum do que se pensa) existe a figura do Diretor Feitor, o que assume o papel ultrapassado de – autoridade máxima da escola. Aquele que elabora sozinho ou com um pequeno grupo de professores a SUA PROPOSTA PEDAGÓGICA , impregnada de seus valores, suas crenças e sua burrice! Nesta escola, os professores seguem o mesmo princípio do trabalho industrial. Como os operários que tiveram de se adaptar à linha de montagem, o professor é forçado a enquadrar-se nos esquemas de planejamento propostos pelos – especialistas. Nesta escola o que determina o currículo são os livros didáticos, as cartilhas, os programas, agora tão em evidência. Lembra dessa escola?

Entretanto, é preciso dizer que existe uma outra escola, a que favorece o questionamento, a crítica e a transformação da ordem estabelecida, em que o respeito, a cooperação, a solidariedade são fatores determinantes da educação. Nesta escola a proposta pedagógica é construída coletivamente, por meio de debates, de estudo, de questionamentos sistemáticos das situações vividas, Nesta escola a própria palavra Diretor começa a ser questionada, ganhando força a proposta de que a direção da escola deve ser exercida não por um indivíduo, mas por um colegiado, formado por representantes de todos os segmentos envolvidos no processo educativo, os chamados Conselhos Escolares. Nesta escola existe um tempo reservado para os professores se aprofundarem, coletivamente no estudo dos conteúdos curriculares.Uma escola assim – aberta, viva, em constante interação com a realidade, dirigida de forma democrática, sem excluir ou desqualificar ninguém - irrita e atemoriza os "feitores", pois deixa de estar a serviço e passa a articular interesses e necessidades da maioria da população.

Diante disso, podemos afirmar que escolher a escola certa não é tão fácil e nem tão simples. E em tempo, não ler a bula do remédio pode ser fatal!


Autor: Ângela Maria Costa


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