VOCÊ E A ESCOLA DO SEU FILHO SABEM O QUE É BOM



VOCÊ E A ESCOLA DO SEU FILHO SABEM O QUE É BOM

 PARA ELE

 

Ângela Maria Costa*

 Maria Angela Coelho Mirault**

 

O ser humano não nasce pronto para a vida natural, e por isso é considerado ao nascer, o animal mais imaturo e dependente dentre todos os animais, porque apesar de nascer com pés e mãos e os sentidos da visão, audição e tato, como todos os outros animais, necessita de pelo menos oito anos de cuidados e atenção da mãe, da família ou de substitutos, para poder sobreviver, sem ajuda externa, em seu meio natural.

O filhote humano precisa, portanto, para manter-se vivo, imediato ao seu nascimento biológico, passar por um segundo nascimento e mergulhar num mundo sígnico, o mundo da cultura, que recebe como herança do grupo, do qual passa a fazer parte. É neste lugar que receberá todas as informações necessárias à sua adaptação à vida em sociedade.

Desde então, estará submetido aos (qualquer que seja) processos sociais de aprendizagem, que se instalam em um ambiente semiótico previamente organizado, sob o domínio de trocas de símbolos, de intenções, de padrões culturais e relações de poder.  Serão estes, que fornecerão os parâmetros de conduta com os quais, esse indivíduo pautará toda sua existência. Neste percurso, ao longo de toda uma vida, submeter-se-á aos valores vigentes sociais do seu grupo.  

Observa-se, então, que tudo se aprende aos poucos e é adquirido pela vivência de muitas e diversas situações de trocas entre seus iguais – quem sabe, ou domina, ensina. A educação natural tem seu maior exemplo na aprendizagem da língua materna, que apesar de sua complexidade é repassada (ensinada) pela mãe, no contato diário. Assim, também, são ensinados às filhas os costumes e as normas sociais (o modo de ser mulher), naquela determinada sociedade. Ao pai, durante esse processo, cabe a tarefa ancestral, dentre outras, de ensinar ao filho a polir a ponta da flecha, a pescar, a caçar... a aprender a ser homem.

Pode-se afirmar que todos nós, oriundos de uma tribo, ou de uma metrópole, nascemos de um meio físico (natural) para mergulharmos em um meio simbólico (cultural). Aprendemos, assim, muito cedo, um modo de falar, de ouvir e introjetar as crenças do nosso grupo. Arbitrariamente, porque se processa fora de nós, nossas percepções sobre o que é verdadeiro ou real são modeladas por esse mundo semiótico, traduzido, na maioria das vezes, por instituições manipuladoras dos signos da tribo a que pertencemos.

Com o tempo, e até para sobreviver, aprendemos a obedecer a um conjunto de abstrações verbais e não-verbais, que, aos poucos, vão se transformando em uma identidade ideológica, da qual ninguém estará imune, e que se derivarão os (nossos) preconceitos. A nossa cultura será a lente pela qual enxergaremos e entenderemos (ou não) o mundo a nossa volta e todos os outros mundos que se conectam com este.

Desse modo, podemos definir Educação como o conjunto de ações organizadas no interior de toda e qualquer sociedade com o objetivo de tornar os indivíduos biológicos aptos a viverem no mundo da cultura, sob as condições existentes, num certo momento e espaço definidos. Por isso, não se pode dizer que exista um padrão universal de Educação. A valoração que cada grupo social dá ao seu repertório cultural categorizará certo tipo de sujeito, constituirá as características mais marcantes de um povo. Sob essa valoração, no encontro e contato entre povos, alguns submeterão outros, fazendo da educação um recurso a mais de sua dominação.

Falar de Educação no mundo de hoje requer o entendimento do mundo em que estamos vivendo. O que deve ser valorizado como significativo na formação do homem desse terceiro milênio, serão os mesmos que serviram para os séculos anteriores?  E, nós, estamos nos preparando para nele sobreviver?

Estamos em meados de janeiro e muitos pais já escolheram a escola em que seus filhos irão estudar. Mas, será que essa escolha foi feita com plena consciência do que a escola pretende, ou pode e se propõe a fazer, para a preparação dos nossos filhos a viverem nesta segunda realidade? Será este ambiente cultural coerente com a formação que a família quer oferecer?

Muitas vezes, verifica-se apenas o espaço físico da escola: se está limpa, pintada, com mobiliário em perfeito estado; se o pátio é amplo; se é dotada de biblioteca, cantina, sala de informática. É mais comum do que se pensa, deixar-se em segundo plano o que realmente importa: qual a formação profissional do diretor e do professor responsável pela turma, e, mais ainda, que modelo de educação estará pautado na metodologia que será utilizada na aprendizagem?  Estas são questões cruciais dentro desse contexto cultural-escolar em que as crianças passarão, não apenas parte do dia, mas parte de suas vidas, porque todas essas pessoas, com suas crenças e com seus métodos, influenciarão significativamente no presente e no futuro de nossos filhos, forjarão suas personalidades, interferirão nas concepções de mundo e de vida que terão .

Não é o que dizemos às pessoas que conta; é o que conseguimos que elas façam. O que elas aprendem a fazer é a mensagem da aula, como diria McLuhan – “o meio é a mensagem”. A mensagem subliminar contida no fazer pedagógico cotidiano da escola e mediada pelo professor (com todas as suas crenças e preconceitos) é comunicada silenciosa e implacavelmente - com maior eficácia - através da estrutura de uma aula, assim como no papel que o aluno se submeterá, pelas regras do jogo verbal, pelos direitos e deveres implícitos, pelos atos que são valorizados, elogiados ou censurados.

As crenças, sentimentos e pressupostos são componentes da atmosfera que se respira num ambiente de aprendizagem, determinantes da qualidade de vida que se desenrola nesse mesmo ambiente. Quando o ar está poluído, o aluno é envenenado e as conseqüências são letais em sua alma, com reflexos imprevisíveis na sociedade.

De qualquer forma, não dá para arriscar em assunto tão sério. Afinal, estamos falando do homem de amanhã, daqueles que herdarão a Terra e que, por nossa causa, terão muito que fazer.

 

 

*Doutora em Educação – [email protected]

** Doutora em Comunicação e Semiótica – [email protected].

 

 

 

 

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Autor: Ângela Maria Costa


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