Educação Sexual - Sexualidade: Antes E Depois



Numa reflexão sobre o tema, não tinha consciência de todo o jogo de poderes e saberes que envolvem a sexualidade em nossa sociedade.

Percebo que esta é apenas uma, das tantas possibilidades de se discutir a questão da sexualidade na sociedade. Porém, entendendo sexualidade também como uma questão de cidadania, a qual afeta a toda a sociedade, justifica-se o estudo.

Apesar de ocorrerem alguns questionamentos sobre a forma com que a sexualidade é negada na nossa sociedade, pois até grande parte dos educadores consideram que a sexualidade não é importante para ser tratada numa sala de aula e nem um tema a ser cogitado no trabalho pedagógico escolar, digo que essa educação se faz necessária para o educando possuir acesso às informações e passar a refletir sobre outros assuntos polêmicos, como drogas, tabus e a própria Educação Sexual.

Neste artigo, busca-se relatar com o objetivo de historicizar a difusão social e cultural da Sexualidade e analisar a visão de mundo que os autores tem nos dias de hoje.

Inicialmente, traz-se um breve Histórico da Educação Sexual destacando o que é Educação Sexual, articulando vários autores para buscar compreender como essa ela é vista em nossa sociedade.

A concepção do trabalho de Orientação Sexual, como instrumento preventivo, vem passando por inúmeras transformações. Seu espaço está sendo discutido intensamente, seja na família, seja na escola, seja na comunidade. Quando utilizado na área de educação, decorre do conceito pedagógico de Orientação Educacional, definindo-se como o processo de influência classificada na área de sexualidade, realizado principalmente em escolas. Implica o fornecimento de informações sobre sexualidade e a organização de um espaço de reflexões e questionamentos sobre postura, tabus, crenças e valores a respeito de relacionamentos e comportamentos sexuais.

Este, vai trazer reflexões sobre a História Antiga, com exemplo dos gregos e romanos; a Idade Média, com o autoritarismo da Igreja Católica; a História Moderna e a Educação Sexual revolucionando-se através das narrativas de William Shakespeare em peças teatrais e poéticas; a História Contemporânea e as mudanças radicais na cultura, assim como, na atualidade, através da liberdade sexual, contracultura etc, como também a partir das décadas de 1970 e 1980 quando surgem questões relevantes para a Educação Sexual ensinada nas escolas e comunidades.

Analisam-se valores e preocupações inseridos na história e compara com a opinião de outros autores que tratam do assunto.

1.1- EDUCAÇÃO SEXUAL: UM CONCEITO

Ao escrever história, o historiador conta com a memória explicando o objeto à sua maneira, essa perspectiva apresentada é apenas uma das várias possibilidades interpretativas do fato histórico, essa teoria pode ser levada em consideração ao estudarmos a importância da Educação Sexual[1].

Ocorreram várias mudanças na escrita da história. Podemos citar o surgimento da expressão francesa "La Nouvelle Histoire" (a nova história), na passagem dos séculos XIX e XX, esta Nouvelle Histoire praticada pela Escola dos Annales a partir de Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel, que romperam com a influência filosófica, sustentadas nas teorias das novas ciências sociais. A França, além de ser considerado o berço da Nova História, também é considerada precursora da Educação Sexual.

Abordar a temática Educação Sexual não é novidade, principalmente quando se pensa na questão da sexualidade vista de forma histórica. É interessante nos remeter a alguns fatos e datas significativas pelas quais atravessou este assunto.

Peter Burke em sua obra intitulada "A Escrita da História" discute a Nova história, onde se preocupa com uma história total, ou seja, onde tudo é histórico, e afirma: "A nova história começou a se interessar por virtualmente toda atividade humana e como afirmou o cientista J.B.S. Haldane "Tudo tem uma história"[2].

Nesse sentido, falar de Educação Sexual, nos remete ao tema sexualidade, e este também constituem os significados de coerção, domínio, preconceito, embargo do indivíduo, anseio, amor, prazer, vida, morte, autoridade, gênero, perversidade, opção sexual e construção de papéis sexuais. Por fim, de todas as representações sociais que giram em torno dela na sociedade.

Antes de fazer um retrospecto Sexualidade, se faz necessário explicar o que é Educação Sexual. Segundo alguns autores, como por exemplo a médica e sexóloga Marta Suplicy:

A Educação Sexual é um processo formal e informal, sistematizado que se propõe a preencher lacunas de informação, erradicar tabus, preconceitos e abrir a discussão sobre as emoções e valores que impedem o uso dos conhecimentos, cabe também propiciar uma visão mais ampla, profunda e diversificada acerca da sexualidade.[3]

Conforme Marta Suplicy, o processo do esclarecimento da Educação sexual pode ocorrer em qualquer lugar, sendo ele em salas de improviso, comunidade, ou até em associações para a explicação do tema proposto, buscando uma conscientização popular para a importância deste tema.

O esclarecimento sobre a Educação Sexual pode ocorrer de forma simples, a partir de informações repassadas por alguma instituição pública ou privada. Independente do local, o importante é que as informações sobre sexualidade sejam repassadas à população com a intenção de uma conscientização.

Segundo Vagner Lapate temos a concepção de que:

na moderna educação sexual projetada para o terceiro milênio abrange todo aspecto de informação cientifica, atitudes culturais e aprendizagem que estão implícitas no homem e na mulher[...] A educação sexual abrange o aspecto total do comportamento humano, a compreensão das necessidades básicas no que diz respeito a pertencer, a amar e ser amado, respeitando-se os direitos dos outros[4].

Vagner Lapate deixa claro que faz-se importante a discussão de todos os ângulos referentes ao tema Educação Sexual, do qual faz parte pontos como o respeito, amor próprio, preocupação com doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, entre outras preocupações cabíveis.A Educação Sexual, desde seu debate inicial acerca da sexualidade, sofreu várias formas de repressão, sendo marginalizada e perseguida pela moral[5]. Somente com o passar do tempo é que essa discussão ganhou espaço, credibilidade e importância, chegando aos dias de hoje como necessidades básicas para sobrevivência do ser humano, porque uma pessoa sem informação pode engravidar em hora indesejada, pode contrair doenças e essas levarem até a morte do indivíduo.

O sexo sempre esteve presente na vida humana, tanto como forma de reprodução, prazer, quanto na forma representativa de status ou virilidade, em alguns casos e lugares esta representação perpetua-se até os dias de hoje.

Atualmente, a mídia e os órgãos de saúde expõem uma crescente preocupação para com as doenças sexualmente transmissíveis (DST's)[6], e estas são conceituadas como estados patológicos incluídos entre as doenças infecto-contagiosas e infecções causadas por agentes causais diversos, envolvendo as áreas genital, anal, ocular ou outras, tendo no contato sexual seu modo de transmissão predominante.

Um dos principais fatores que contribuem para o aumento dessas DST's, é a mudança radical ocorrida na perspectiva demográfica, ou seja, a superpopulação nos dá prova circunstancial de um maior índice de doenças. Os usos abusivos das pílulas anticoncepcionais[7] contribuem para a reduzida aplicação do preservativo, uma vez que propiciam uma falsa segurança e causam uma sensação de destemor, aumentando também o índice de doentes.

Os preservativos mais antigos, são os envoltórios de pênis que aparecem em desenhos da civilização egípcia, também as mulheres estavam encarregadas pela contracepção, elas utilizavam plantas maceradas, raízes, beberagens e tampões improvisados.

Desde a queda do Império Romano, as alusões ao uso dos preservativos desapareceram até o século XVI, quando ressurgiram na Europa, com a informação de que no reinado de Charles II na Inglaterra (1660-85),[8] o rei utilizava preservativos fabricados a partir de intestino de cordeiro, tal como faziam os antigos soldados romanos, como podemos observar na imagem a seguir:

FIGURA


Anteriormente a isso, em 1564, o anatomista italiano Gabriel Fallopius (1523-1562) indicou o uso de um envoltório de linho para evitar doenças sexualmente transmissíveis.

FIGURA [9]:

FIGURA

Fonte: http://www.smile-condoms.com/francais/histoire/histoire.htm.

No século XIX, quando foi descoberto o método de vulcanização da borracha, os preservativos passaram a ser feitos desse material, mais resistentes e teoricamente mais seguros. A seguir temos as imagens dos preservativos de látex.

FIGURA [10] em Paris, trazendo uma discussão onde se tenta implantar a Educação Sexual nas escolas, tendo como objetivo maior a proteção à infância e a maternidade.

De acordo com o Guia do Vaticano[11], sobre a Educação Sexual, em relação à prevenção de doenças, recomenda o documento que os pais devem rejeitar o chamado sexo-seguro ou o uso do preservativo, devendo insistir na continência fora do casamento como a única e verdadeira forma de prevenção contra as doenças contagiosas, ou seja, o Vaticano não aprova o uso de preservativos, pois considera que as pessoas se contagiam com essas doenças através de relações extra-conjugais.

Através deste documento revela-se o conservadorismo e tradicionalismo da Igreja Católica, mostra que a instituição por vezes se mostra sexofóbica, a qual tem aversão ao sexo e não quer de forma alguma se modernizar de acordo com as mudanças sociais, ou seja, não mais aquele "sociedade disciplinar" estudada por Foucalt.

A sexualidade é imposta de uma maneira pela Igreja, também abordada no seio familiar, onde nas duas formas são passadas de forma direta ou indireta valores nos quais a própria família quer que a criança adote, mas também cabe à escola orientar sobre o tema prevenindo-a de doenças e de uma gravidez indesejada, este sim é o papel da educação, dar informações para a pessoa ter o controle sobre o que ela quer para o seu futuro.

1.2 SEXUALIDADE: UM BREVE HISTÓRICO

No período antigo da história, os indivíduos do povo Hebreu se casavam muito jovens, a reprodução era contínua por causa das guerras e também pela grande mortalidade infantil. A virgindade era valorizada ao extremo pela sociedade e a poligamia era liberada para os homens, somente após o casamento.

Portanto, o homem poderia ter, no casamento, sexo apenas para reprodução, mas em função das outras práticas, também tinha oportunidades de desenvolver sentimentos profundos de amar e de ter do sexo muito prazer sensual.[12]

Ainda no período antigo, mas sobre os Gregos, segundo Burgo Partridge[13] pode-se dizer que: "na vida prática cotidiana, os gregos baseavam seus comportamentos e ideais num hedonismo extraordinariamente simples e sensual"[14]. Neste seu livro intitulado: "Uma História das Orgias" o estudo deixa claro que eram idealistas, aficionados por uma doutrina filosófica que faz do prazer o objetivo da vida.

Um dos principais e importante filósofos gregos, Platão, em sua obra Repúblicas e Leis[15] recomenda a importância da educação igualitária para ambos os sexos, deixando clara a preocupação do filósofo quanto à necessidade da educação para o crescimento e desenvolvimento de uma sociedade culta e preparada, tendo como base todo o legado cultural deixado pelos gregos que ainda hoje é apreciada por alguns como uma das culturas mais desenvolvidas.

Os gregos tinham uma liberdade sexual grande como fica claro nas citações logo a seguir: "A moral não estava ligada à noção de pecado e sim as virtudes como bravura, autodomínio, patriotismo, sabedoria devotamento aos amigos[...][16], ou seja, os gregos ainda estavam livres do conceito de moral do qual muitos têm hoje, tinham sim por interpretação, muita relevância deste conceito, por exemplo, a ousadia, coragem, audácia e valor, ou seja, os gregos separavam, o sexo para procriação, do prazer.

E ainda Demóstenes diz: "As prostitutas, nós conservamos pelo prazer, as concubinas para cuidar da nossa pessoa e as esposas para nos proporcionar filhos legítimos e cuidar da nossa casa"[17], ou seja, sendo a sociedade grega da época patriarcal, a mulher sofria restrições provenientes destes costumes, não podendo reclamar ou questionar, pois os homens estavam livres para desfrutar de outras relações extraconjugais sem culpa moral e sociais.

Com os Romanos, notamos uma certa liberdade na questão da vida conjugal. Ressaltamos abaixo uma citação na qual se relata uma sensação de liberdade, embora pouca, mas iniciando uma longa conquista da família se formando por vontade própria, ainda que fosse por permissão do chefe da família, no caso a figura paterna:

[...] o casamento era uma questão pessoal e não requeria uma sanção religiosa ou governamental, apenas o consentimento paterno. Assim parece que os jovens romanos tinham melhor oportunidade do que os gregos para encontrar no casamento uma união de Amor e Prazer, embora aliado a sua função reprodutora, pois a tradição sustentava que todas as pessoas deveriam se casar e havia uma tributação de impostos para os solteiros.[18]

Pode-se entender ainda que para o governo romano, era vantajoso para que os jovens continuassem solteiros, pois tinham que pagar certo tributo ao Estado por continuar com a condição, também se interpreta que o Estado incentivava o casamento através deste tributo.

Os romanos, teoricamente, eram liberais, sendo sua cultura considerada até sádica e cruel. Com a iniciação dos filhos na atividade sexual, o pecado vai ser um instrumento para a conscientização de que o sexo desenfreado não é correto. Como fica claro no estudo de Burgo Partridge.

Os romanos, cujo comportamento indica certo grau de culpa por causa do elemento de sadismo em sua cultura, davam-se relativamente pouco a delitos puramente sexuais. No entanto, seu sadismo estava estreitamente associado à culpa sexual, e na cultura deles podemos ver os primeiros lampejos de um conceito novo: o pecado.[19]

Nos séculos II e III nota-se a ruptura do paganismo em direção ao cristianismo. Este período de Roma era dominado por luxúria e sadismo gerando um descontentamento por parte da população, parte esta que adere ao cristianismo que "escarnecia e castigava os prazeres"[20], apesar das divergências entre pagãos e cristãos o cristianismo cresce até se tornar religião dominante através do Imperador Constantino (323 d.C.).

Com a tentativa da Igreja Católica de impor condições novas à sociedade, como o celibato, exaltação da virgindade e uso do sexo apenas para a procriação, gerando um descontentamento a nova religião, a população começa a se queixar e resistir à imposição da Igreja. Contudo, nos tribunais da época apareceram inúmeros registros de condenação por crimes sexuais, de exemplo citamos a fornicação[21], adultério[22], incesto[23] e homossexualidade[24].

Com o passar dos séculos, na Idade Média, na Europa, a sexualidade era vista como pecado, sacrilégio, volúpia, devassidão, luxúria, e todos esses pecados deveriam ser confessados.

Atualmente o discursso atual da Igreja Católica dá ênfase à dignidade do corpo humano, pregando legitimidade do sexo apenas dentro do casamento, ou seja, o sexo deixa de ser pecado desde que seja praticado dentro dos laços do matrimônio. Para a oficialidade da Igreja Católica, a única forma sexual permitida era para procriação, sendo assim até os dias de hoje.

A doutrina cristã expõe a dignidade do corpo humano como exemplo máximo da obra de Deus, expressando toda a legitimidade do casamento e da união sexual como valorização da procriação, como fica claro na citação de Paul – Eugène Charbonneau "Cultivavam uma atitude negativa que condenava o sexo ou apenas o tolerava-o como uma vergonha inevitável. Tanto mais que, paralelamente, a virgindade era exaltada como a expressão da mais alta qualidade espiritual"[25].

Deixando claro todo o estigma criado pela Igreja em torno do sexo, mostrando que para a procriação o sexo ainda era tolerado, mas sempre enaltecendo a virgindade, ou seja, a pureza.

Durante a Idade Moderna, a partir do século XVI, a junção da idéia do Iluminismo com a Renascença, o sexo não parecia ser mais tão pecaminoso nem repulsivo, o sexo já podia ser associado com o amor.

William Shakespeare[26] pode ser citado como exemplo, pois sua narrativa romântica identifica-se com que já supõe algo parecido com o relacionamento moderno começando a surgir. Esta nova literatura apresenta o "homem renunciando a seu próprio espírito para entregar-se a sexualidade"[27]. Alguns títulos de peças de Shakespeare são: Otelo, Rei Lear, Macbeth, Hamlet e Romeu e Julieta, um dos mais conhecido.

Apresento como exemplo a peça intitulada de Romeu e Julieta:

conta história de duas famílias inimigas onde Romeu e Julieta se apaixonam e são proibidos de viver este amor. Para não ter de casar com outro Julieta decide seguir um plano que pode mudar sua sorte: ela fingiria o suicídio tomando um líquido que altera os sentidos. Romeu avisado e resgataria a jovem do tumulo. Os planos dão errado e os dois jovens escolhem a morte a viver separado de seu amor.[28]

Shakespeare encantou várias platéias com estes clássicos escritos no século XVI, os grandes gênios da literatura de hoje são muitas vezes inspirados por ele.

Na Idade da Razão, entre os séculos XVII e XVIII, época que o dogmatismo religioso começa a decair e têm-se a tentativa de dar lugar à razão, no qual as "coisas" do mundo começam a ser explicadas cientificamente com Newton, Galileu, Copérnico, percebemos então segundo Vagner Lapate "através da razão, ao invés da fé, a verdade objetiva poderia ser alcançada, desta forma o racionalismo avançava enquanto a teologia decaía"[29].

A sexualidade e o dispositivo saber / poder é demonstrada nos livros de Michel Foucault, um ponto importante nas teses de Michel Foucault é o questionamento da 'repressão' da sexualidade.[30]

Michel Foucault descreve o período moderno da seguinte forma: "o discurso de confissão foi disperso em discursividades distintas, que tomaram forma na demografia, na biologia, na medicina, na psiquiatria, na psicologia, na moral, na crítica política"[31]. O discurso cristão foi sendo rompido e modificado para tomar lugar o discurso científico, ou seja, o discurso utilizado na Idade Média foi sendo substituído cada qual com o "olhar" teórico da sua lógica, procurando dar respostas para questões que até então não passavam de mais um fato do cotidiano.

Já na Idade Contemporânea, há indicativos de que a discussão sobre a Educação Sexual ocorreu na França em meados do século XVIII. De acordo com Marluce Alves dos Santos[32];

Pouco se sabe sobre a 'entrada' da sexualidade na escola, porém alguns estudiosos (BARROSO e BRUSCHINI, 1983; SAYÃO, 1997) apontam para o seu surgimento na França, a partir da segunda metade do século XVIII. Foi a partir desse período que a chamada Educação Sexual começou a preocupar os educadores. Essa educação tinha como objetivo maior combater a masturbação, tendo como pano de fundo as idéias de Rousseau, para quem a ignorância era a melhor forma de manter a pureza infantil.[33]

De acordo com Marluce, a França foi considerada o lugar de origem das discussões sobre sexualidade nos educandários, tinha como preocupação maior combater a masturbação, algum tempo depois retomam essas discussões pela preocupação acerca das enfermidades venéreas, a degradação das raças e o crescente número de aborto clandestino.

Nota-se ainda no discurso de Marluce que a Suécia teve também seu papel importante acerca de discussões sobre a Educação sexual. Marluce interpreta com afirmações de Ribeiro que:

em 1770 a Suécia teve as primeiras conferências públicas sobre as funções sexuais. As primeiras reivindicações pleiteadas referiam-se a informações sobre o livre acesso aos métodos contraceptivos e o direito ao aborto em certas circunstâncias, todas aprovadas pelo governo em 1938. RIBEIRO (id) cita ainda que a Suécia teve a Educação Sexual na escola recomendada pelo governo, em 1942, e declarada obrigatória em 1956. Ao contrário da França, que apesar de ser considerado o país precursor nas discussões sobre a inclusão da Educação Sexual na escola, só inseriu oficialmente esse tema nos currículos escolares, em 1973.[34]

Entende-se que a Suécia foi também precursora nas discussões sobre o tema mesmo naquela época, por volta do século XVIII, e a dar a devida importância à Educação Sexual, deixando claro que naquele período a preocupação sobre sexualidade era evidente. Ao contrário, a França, também precursora destas discussões mas que, somente implantou a discussão posteriormente.

Basicamente a revolução sexual[35] surgiu juntamente com os novos teóricos da sexualidade como Sigmund Freud, Alfred Charles Kinsey e William Reich no início do século XX, nascendo logo após o movimento de contracultura[36], um século de repressão do qual alguns grupos de pessoas criaram um modo de vida mais natural, como por exemplo, o movimento Hippy, que consistia na busca por liberdade em todos os ângulos e a quebra dos tabus sociais, objetivos estes sendo representados através do amor livre, dos cabelos longos, as roupas coloridas, drogas, músicas de protesto e pregando o pacifismo[37].

No século XX, o psicanalista Sigmund Freud, revolucionou as Ciências Humanas com suas teorias sobre sexualidade e suas implicações para o comportamento humano. Freud é considerado o pai da psicanálise analisando distúrbios psicológicos que muitas vezes, segundo ele, está ligado a distúrbios sexuais, constituindo uma ligação entre repressão sexual a outros fatores psicológicos, conforme a citação em "A educação sexual da criança" de Nunes e Silva:

Até a eclosão do fantástico pensamento de Freud não se admitia que existisse na criança o que ele chamou de 'impulso sexual'. No máximo, admitia-se que durante o período de puberdade o jovem começasse a se interessar pela chamadas "coisas sexuais". Em seus estudos, Freud considerou a sexualidade infantil desde o nascimento da criança (a primeira infância que nomeou 'pré-histórica do indivíduo'). Freud foi o primeiro a considerar com naturalidade os atos e efeitos sexuais das crianças como ereção, masturbação e mesmo simulações sexuais.[38]

A sexualidade, para Freud, não se limita à função dos órgãos genitais e desperta muito cedo, logo após o nascimento uma série de excitações e de atividades presentes desde a infância, à função sexual desde o início até a forma definitiva passa por um processo de impedimento da libido o qual dão origens as neuroses sendo o lugar inconsciente que se localiza os nossos desejos reprimidos.

Já Alfred Charles Kinsey foi um entomologista[39] e zoólogo[40] norte-americano. Em 1947, na Universidade de Indiana, organizou o Instituto de Pesquisa sobre Sexo, hoje chamado de Instituto Kinsey para Pesquisa sobre Sexo, Gênero e Reprodução. Suas pesquisas sobre a sexualidade humana influenciaram profundamente os valores sociais e culturais dos Estados Unidos, principalmente na década de 1969, com o início da revolução sexual. Ainda hoje, suas obras são consideradas de importância constitucional para o entendimento da disparidade humana.

Wilhem Reich (1897-1957) foi um médico cientista natural que, por quase quarenta anos, desenvolveu uma ampla pesquisa sobre os processos energéticos primordiais, vitais[41]. Todo seu pensamento indica que é preciso uma mudança radical nas relações humanas.

A experiência da contracultura indicou o destaque mais visível, até hoje, da possibilidade de uma tradição governada pelo princípio do prazer e não pelo princípio da realidade, gerador de neurose.

Com a "aparente" revolução sexual ocorrida nos anos de 1950, 60, 70, em alguns países iniciou-se, nesse período, uma temporada de tolerância em questões relacionadas ao controle do próprio corpo.

Desde a década de 1950 no Brasil, temos o início da comercialização da pílula anticoncepcional, a partir daí as mulheres começaram a ter o poder de escolher se queriam o sexo só por puro prazer ou para procriação[42]. Nesse momento parte da sociedade ficou muito agitada e ao mesmo tempo chocada com essa inovação.

Em meados de 1960 e 1970 o Brasil passa por um período de intensa repressão através da ascensão dos militares ao poder, instalando um clima de moralismo puritano e aumento da censura e medo.

Peter Burke nos remete a atenção nas tentativas de derrubar as "velhas hierarquias culturais"[43] com o surgimento da contracultura dos anos 1960 quanto pelo feminismo[44] dos anos 1970. Burke nos passa a mensagem de que até pouco tempo a questão do corpo era ignorada, negligenciada por questões relativas a nossa herança cultural.

Pela atitude moralista defendida pelo Golpe Militar de 1964, foram abortados alguns projetos defendidos em escolas que davam informações sobre Educação Sexual entre as décadas de 1954 a 1970 em São Paulo. Certamente este período repressivo também deixou marcas no processo de implantação oficial nas escolas de uma educação sexual.

Apesar de pouco estímulo em relação a alguns projetos, outros seguiram em frente, continuaram em colégios particulares, mas com pouca divulgação.

Na década de 1980 passou a ter mais veiculação questões ligadas à Educação Sexual como revistas "eróticas", publicando fotos de homens e mulheres nus até pouco tempo antes proibido. A sexóloga Marta Suplicy quando faz um quadro no programa TV Mulher, falando sobre sexo, provoca repercussões nas escolas, universidades e na sociedade, ressurgindo assim o interesse pelo tema.

Nos anos de 1990 intensificaram-se os projetos e trabalhos de Orientação Sexual desenvolvidos nas escolas devido ao grande número de gravidez precoce e ao número de pessoas contaminadas pelo vírus da AIDS.

Atualmente muitos Projetos vêm sendo elaborados no Brasil, acerca do tema da sexualidade, estão sendo abordadas com o intuito de discutirem a sexualidade nas escolas tanto pública como privada. Apresenta-se a necessidade da inclusão da orientação sexual nas escolas de forma clara e coerente, dado ao alto índice de gravidez na adolescência e devido ao alto índice de doenças sexualmente transmitida sem a devida prevenção.

Nota-se que desde o surgimento da Educação Sexual até os dias de hoje, o tema gerou várias abordagens e discussões, preconceitos e tabus, mas deixando clara a preocupação com a saúde e ao mesmo tempo gerando uma separação da Educação Sexual do preconceito ao sexo. Essa pesquisa tenta associar a sexualidade desde a antiguidade até a consolidação, afirmação e desenvolvimento da Educação Sexual na atualidade, a partir da analise de dois projetos específicos dentro do território brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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WILHELM Reich.  Disponível em: <http://www.org2.com.br/wreich.htm>.

[1] BURKE, Peter.  A escrita da história: novas perspectiva.  São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.  p. 332.

[2] Idem, p. 11.

[3] SUPLICY, op. cit., p. 12.

[4] LAPATE, op. cit., p. 34 e 36.

[5] O termo moral pode ser compreendido como parte da filosofia que trata dos costumes ou dos deveres do homem.  BUENO, Francisco da Silveira.  Mini dicionário da língua portuguesa.  São Paulo: Editora FTD, 1977.

[6] De acordo com seu histórico recentemente foi divulgada a teoria de que os vikings teriam a doença já há mil anos , em torno de 1495 a Europa sofria da primeira epidemia de sífilis. Fritz Shaudinn descobriu a bactéria causadora em 1905, Paul Ehrlich descobriu o primeiro tratamento usando um composto á base de arsênico em 1909. Morreram com sífilis Rei Henrique VIII (inglês), Vicent Van Gogh, Beethoven, Schumann [...]". LAPATE, op. cit., p.121 e 124.

[7] As pesquisas com as pílulas contraceptivas datam da década de 1960, nos últimos anos se conseguiu diminuir progressivamente a dosagem de hormônio até atingir–se os atuais contraceptivos de baixa dosagem que previnem eficazmente a gestação não desejada, acarretando menos efeitos físicos e metabólicos indesejáveis. LAPATE, op. cit., p. 94.

[8] MUSEU do sexo.  Disponível em: <http://www.museudosexo.com.br>.  Acesso em 05 out. 2006.

Fonte: http://www.zol.be/Vesalius/Biography/body_biography.html.

[9] Informações contidas no site http://www.museudosexo.com.br.

[10] REIS, Letícia Vidor de Sousa.  Uma senhora batalha.  Disponível em: <http://www.agenciacartamaior.uol.com.br/ templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=11939>.  Acesso em: 17 out. 2006.

[11] No dia 20 de Dezembro de 1995, o Vaticano, através do conselho Pontificico para a família, divulgou um manual normativo sobre sexualidade humana.  TOMITA, Luiza E.  Guia do Vaticano sobre a educação sexual.  Boletim Pela Vidda, n. 27, jan./mar. 1997.  Disponível em: http://www.pelavidda.org.br/public2.html>.  Acesso em 17 out. 2006.

[12] LAPATE, op. cit., p.34 e 36.

[13] Burgo Partridge, escritor, filho de Ralph e Frances Partridge, figuras expoente do grupo de Bloomsbury, nasceu na Inglaterra em 1935 e morreu em 1963 aos 28 anos seu único livro: Uma História das Orgias.

[14] PARTRIDGE, Burgo.  Uma história das Orgias.  São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004.  p. 11.

[15] LAPATE, op. cit., p.18.

[16] Idem, p. 18-19.

[17] Idem, ibidem

[18] Idem, p. 19.

[19] PARTRIDGE, op. cit, p 79.

[20] LAPATE, op. cit., p. 20.

[21] Pratica de atos sexuais.  BUENO, op. cit.

[22] Infidelidade conjugal.  BUENO, op. cit.

[23] União sexual ilícita entre parentes.  BUENO, op. cit.

[24] Atração ou afinidade entre indivíduos do mesmo sexo.  BUENO, op. cit.

[25] CHARBONNEOU, Paul-Eugéne.  Educação sexual: seus fundamentos e seus processos.  São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1979.  p. 13.

[26] De acordo com Harold Bloo


Autor: Jehmy Katianne Walendorff


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