Orquídeas e Girassóis



Orquídeas e Girassóis – A História da Minha Vida

Eu vou falar pouco porque daqui a quinze minutos ou um pouco mais eu chego em casa. Nossa, como estou cansada!

Bom, na verdade eu deveria estar fazendo lição de casa, mas... ah, deixa eu falar um pouquinho da minha vida.

O meu dia foi (e geralmente é) do jeito que eu irei contar.

Eu acordei cedinho e preparei leite quente com achocolatado para eu e meus irmãos Roberto, Alice e Lucas. Nessa hora, minha mãe já tinha ido para a oficina de jóias, onde trabalhava como ourives.

Fui levar meus irmãos á escola. Adivinhem como? De metrô, que novidade. Eles se foram na segunda parada do metrô e eu fiquei lá mais três paradas, lendo um livro, ou fazendo lição de casa, não me lembro.

Andava pelas ruas, desajeitada como só eu sou, segurando livros em uma mão e minha mochila nas costas, além de uma bolsa que tentava segurar com uma mão que sobrava. Como sempre, o frio me fez tremer, fechei o zíper da minha jaqueta e segui em frente.

Na sala de aula, por mais bagunça que estivesse, eu sempre estava lá, prestando atenção. Minha mãe paga todas as escolas, porque quer que sejamos alguém na vida. Ela não paga a minha, estudo numa escola técnica federal. Isso é bom, menos gastos.

Meu pai ajudava a pagar, mas infelizmente, estava voltando do trabalho, quando uma bala perdida atravessou seu peito. Ah, como foi duro ter que agüentar aquela notícia, como foi duro ficar esperando ele chegar de noite, sendo que ele não chegaria mais. Como foi duro contar para meus irmãos. Como é duro pensar nele...

Bom, limpando as lágrimas e seguindo em frente. Eu me esforço na escola (e no trabalho) para eu passar no vestibular de uma faculdade pública, para ser uma incrível arquiteta, meu sonho. Algum dia, ainda hei de ter um belo escritório e dividi-lo com minha amiga Camila! Isso ainda acontecerá.

Depois de muito esforço (ainda estou na metade do dia), volto para casa, faço comida para meus irmãos, almoço, lavo a louça, ajudo em qualquer coisa, e sigo para estação de metrô, para trabalhar. Me preocupo com eles: mesmo Roberto tendo doze anos, Alice nove, e Lucas seis; eles são minha responsabilidade durante o dia.

Após dez minutos adiantando minha lição de casa a caminho do trabalho, chego lá. E não é como outros lugares em que é ruim de trabalhar: lá eu gosto mesmo. O que eu faço? Bom, eu confecciono roupas. Essa é outra parte do meu sonho: fazer um belo desfile com todas minhas roupas lá. Ah, isso ainda acontecerá.

Depois de um bom tempo de aproveitamento, onde eu relaxo, ganho meu pagamento do dia: R$50,00. É, no total, ganho R$1.100,00. Juntando com o pagamento da minha mãe, que é de RS1.500,00, dá um bom dinheirinho, mas não é suficiente.

A caminho de casa (por metrô), faço mais lição (exceto hoje) e chego lá por volta de... já cheguei.

Foi ótimo falar com vocês, só que agora entro no mundo exterior, onde volto a realmente viver.

Vejo essa casa cor de requeijão, com as janelas abertas, poucas plantas e sonho com minha casa perfeita. Isso ainda acontecerá.


Autor: Barbara M.F.Monfrinato


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