O MARUJO



O marujo sonhava navegar;
Verdes mares bravios conhecer.
O marujo cantava e seu cantar
Dedicava às sereias com prazer.

O iate partiu, deixou o porto;
Somente céu e mar ele queria.
Das ondas, o balanço, o desconforto,
Transformava em sublime poesia.

Nem lembrava dos tempos de menino.
Bem distante ficara o seu passado.
Agora a solidão, o sol a pino,
O suor no seu rosto avermelhado.

Ora um peixe saltava à sua frente,
Após olhar o barco com cautela.
O mar encapelado, o vento quente,
Anunciava o início da procela.

A tempestade é sempre uma agonia;
Um mar de sonhos torna-se um pavor.
A natureza com soberania                                           Transforma o dia em noite, e a noite, horror.

A noite, quando calma, é interessante,
A lua sobre as águas vem brilhar.
O mar um grande espelho cintilante,
Refletindo a magia do luar.

A lua nova à noite não passeia.
Prefere, junto ao sol, andar de dia.
Porém há tanto brilho quando é cheia
Que a alma do marujo se extasia.

Sentado, olhava o céu, contava estrelas;
Passatempo constante, favorito.                                           Jurava que podia conhecê-las
Nas alturas incríveis do infinito.

A embarcação cortava destemida
As águas do oceano turbulento.
Quantas coisas ficaram sem guarida
No seio desse grande empreendimento!

Mares e mares, ilhas incontáveis,
Lindas praias, cidades, vilarejos,
Mas as ondas surgiam intermináveis
Aguçando os seus sonhos, seus desejos.

E o tempo foi passando, ano após ano
E o nosso herói passou a refletir:
Naveguei de oceano a oceano,
Que mais eu poderia conseguir?

Ele olhou para trás a vez primeira.
Onde foi que passou? Nenhum sinal.
Nem mesmo, das espumas, uma esteira;
Nada, nada restou de especial.

Filhos não teve. Amigos? Não recorda.
Passou a vida inteira em desconforto.
Céu e mar desde cedo quando acorda.
Amores? Um namoro em cada porto.

Agora, quem terá alguns desvelos
Com uma personagem aventureira?
Olha o mar, vê a cor dos seus cabelos
Nas escumas de vida passageira.

Gílson Faustino Maia
Petrópolis – R.J.

Autor: Gilson Faustino Maia


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