Flor de Anil



Com a arma em punho, saíra o homem a contemplar a família ao qual pertencera. Não era o melhor dos guerreiros, mas com o punhal numa das mãos fazia-se como o mais poderoso de todos os homens. E se o fosse, não seria por méritos, merecimentos ou orgulho, pois era injusto por pensar assim. "E lembrara-se de Shakespeare e da obra 'Romeu e Julieta'", mas pertencera à vingança que já o havia tomado o espírito. Resultado de muitos anos de lutas e confrontos famosos em todo o reino, causado por uma idéia de aglutinação entre duas famílias.

O nobre de feições joviais, de cascos resvaladiços com cabelos louros e belos, avistara a donzela da corte, Camila, uma jovem bela e direita, com traços para uma rainha. A ela concedeu uma dança de amizade numa canção lenta e apaixonante.

O casal, noivos, correspondeu com orgulho à mão que os uniria para toda a eternidade. (...) Logo padeceu o pai de Uriens, rei de Maques, após o matrimônio de Camila e o príncipe. Assim Uriens teve que assumir o trono.

O casal vivera feliz, até que recebera uma notícia auspiciosa e um tanto inesperada de que teriam gêmeos. Todavia, sete meses passados, o rei Uriens declarou que todos os estrangeiros do reino teriam que sair do local. Esse era o novo decreto de abolição aos provocadores de uma desordem ocorrida dias atrás, os estrangeiros, que desordenaram uma feira popular.

A feiticeira Mócrita, quem havia dado ao rei a notícia de que sua consorte e rainha teria gêmeos, era uma estrangeira e, como todos dessa casta, teria que deixar o reino. Sem saída, a bruxa preparara uma estranha porção: pegara uma rosa e jogou-lhe por cima uma substância preparada, e a rosa, vermelha, tornou-se azul, chamando-a Flor de Anil. Caminhou até o palácio real a velha feiticeira, apresentou à rainha um buquê de rosas azuis. A excelência, ao apreciar o perfume das rosas, ficou fascinada. Sonhou-se que uma chuva de pétalas de anil caíra sobre todo o reino e, dentro de seu ventre, uma dessas pétalas atingira a pele de uma fêmea. Por forças superiores, Camila desperta atordoada por forças malignas e recolhe um punhal e com o instrumento faz uma excisão, retirando do ventre a filha após o outro, um menino, estar morto.

O rei Uriens fora acusado de ter assassinado a esposa. A família Valmont, de Camila, assassinou-lhe após este chorar ao lado do corpo da rainha.

Isabel havia sido criada por Mócrita sem saber que um dia pertencera à família do rei e da rainha de Maques.

A guerra entre Valmont e Montergo continuava sangrenta entre os parentes de Camila e Uriens que, ao se cruzarem, matavam-se mutuamente.

Isabel, já com dezoito anos, tinha os cabelos e lábios idênticos aos da mãe e olhos que se assemelhavam aos do pai, feições que poderiam ameaçar Mócrita por toda a eternidade. E certo dia a donzela viu-se de frente com um Montergo. De repente sentiu uma forte dor e caiu aos braços do Montergo que de lado a si se encontrava. A moça posicionava a mão sobre o abdômen, local onde se encontrava uma pétala de Anil. No pescoço, um sinal de família que estava escondido entre os seus lindos e graciosos cabelos. Ela se desfalece ao avistar um ar sereno nos olhos do homem cujos braços se derramara.

Quando abre os seus olhos, Isabel se vê num local estranho, ao qual nunca pensou em avistar com os seus belos olhos, e ao seu lado Ricardo Montergo, que, por sua vez, conduz sua fala à moça que repousava sobre uma macia cama:

— Não se preocupe, Sara, descanse. Precisas de repouso.

A jovem meneou a cabeça e fez um olhar tão surpreso que seus olhos arregalaram, dilatando-se em meio à ardência que a sua visão proporcionava ao órgão. Exclamou, então:

— Não me chamo Sara, como proferiras, mas sim Isabel, a menina das flores!

Ricardo soltou uma gargalhada tão doce e graciosa que a jovem achou que debochava da imagem da menina das flores, mas ouviu-se pronunciar com uma voz branda:

— Não deves lembrar... Claro que não, como sou bobo! Eras apenas um bebê quando foste retirada dos braços da tua mãe, que morrera logo após o teu nascimento. Seu verdadeiro nome é Sara, a princesa de Maques.

Mócrita, por sua vez, procurava a moça dentre o reino e, num ritual, espalhou pétalas de anil pelo chão. Logo um caminho com as pétalas se fez e seguiu-o confiante. Encontrara a moça ao seguir da vereda. Disse algumas palavras macabras e puxara-lhe pelo braço, proferindo:

— Moça infeliz! Como ousas desaparecer assim?

Ricardo reagiu, tomou a princesa pelo braço com carinho e olhou nos olhos da bruxa com fúria e exaltação. Mócrita contraiu os braços de Isabel com ódio e advertiu:

— Como atreveste a aproximar-se de uma moça esbelta como esta e a tocá-la sem o consentimento da sua dona? Não te atreves mais a aproximar-se de Isabel, seu verme infeliz! Se insistires, morrerás da pior forma que imaginaste.

O guerreiro observou nos olhos da feiticeira e neles avistou algo que o fez declarar:

— Foi você... Foste tu quem assassinaste o meu tio! Isso tudo, toda essa desgraça que vivemos é por sua causa.

A velha ironizou:

— És um Montergo, não é?

A donzela não sabia em quem acreditar. Estava mesmo demasiadamente irresoluta. Mas ao observar os olhos do jovem guerreiro, percebeu a sua fúria e viu que ele dizia senão a verdade. Ela então se desfez dos braços de Mócrita e correu até aos afagos de Ricardo. A feiticeira, contudo, conjeturou:

— Acreditas neste homem, Isabel? Não deves crer em estranhos, quanto mais nos Montergos.

— Prefiro acreditar em estranhos a crer numa bruxa!

Mócrita, sem mais vontade de brigar por uma "desgraçada", reflete: "O que quero com esta malcriada infeliz!" E no mesmo instante a princesa cai sobre os braços de Ricardo e uma pétala da flor de anil é lançada para fora do corpo de Sara. A moça, prevendo o fim, diz:

— Adeus...

Ricardo, em pranto, declama:

"Seria eu o teu noivo. Oh, flor bela e estrela da sorte! Dou a vida por ti, amor. Daria para ti o meu sangue em ritual a Anil, a flor que te fez prisioneira. Dou-me agora, em teu nome. Oh, bela flor, estrela da sorte e ave viva em meu coração!"

O jovem cai sobre o chão morto. Sara assusta-se e chora após beijá-lo.

Num dilúvio, após cem anos, uma pétala de anil escorria pela rua. No castelo de Maques, a imagem da jovem Sara e de Ricardo beijando-se num ato de união de diversas pétalas de Anil. As flores secaram-se e depois eram apenas rosas vermelhas e perfumadas.

Anil eram os olhos da bela princesa Sara e vermelhos eram seus belos cabelos longos e perfumados.

O céu também é azul e anil é o mundo em rotação simultânea.

As águas, anil, são belas como os olhos da jovem princesa. E o fogo representa o forte amor que uniu Ricardo e Sara.

Como tudo tem o seu fim, talvez a bela jovem sentisse medo, mas foi confortada. Ela, assim, declama:

"Estou só, amado, mas agora irei para junto de ti. Sabia que seria lindo, mas não sabia que seria assim...!".

Ela se juntou às milhares de pétalas de rosas e ao amado... Assim termina a triste história da flor que um dia desfez-se do azul e declamou o vermelho.

Por: Ronyvaldo Barros dos Santos


Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos


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