Os Casais Simbióticos



É fácil perceber os efeitos da ausência de si nos relacionamentos. Ao menos uma vez, você já ouviu alguém dizer: "eu vivo para ele"; "ela é tudo para mim" ou então "não sei viver sem você, vou me suicidar".

O maior problema para as pessoas que descuidam de suas necessidades afetivas é que elas tendem a querer se fundir com os parceiros, pensando que assim sua sensação de vazio vai embora. Elas baseiam sua busca no mito de encontrar a outra metade. Alguns chegam a acreditar que o amor só é verdadeiro quando ambos sentem-se como se fossem um e não percebem quanto mal fazem a si mesmas e ao outro com seu comportamento grudento.

Isso indica imaturidade e por causa desse pressuposto, nascido e alimentado na ausência de si, elas se sujeitam a qualquer coisa para não ficar sozinhas mesmo quando a relação é péssima.

Não é nada confortável fazer parte de um casal simbiótico. Se você percebeu que, nessa relação, autonomia e liberdade estão colocadas em plano secundário.

Se um não admite que o outro faça qualquer coisa sem seu consentimento ou presença há um sério risco de que manobras de controle e repressão – incluindo ciúme excessivo e chantagens emocionais – estão sendo usadas para manter o relacionamento.

Uma convivência assim, com limites tão tênues, não contribui para a evolução pessoal nem como casal, apenas fortalece a dependência recíproca. E vai chegar um momento em que suas individualidades estarão mescladas de tal forma que vocês não saberão mais no que são diferentes – podem passar inclusive a ter o mesmo cheiro e não adianta por a culpa no amaciante de roupas – imagine o prejuízo que isso causará à sua sexualidade.

Ninguém é de ninguém

Se você acha que amar é se grudar no outro talvez tenha em seu íntimo um grande medo de se entregar a um relacionamento mais maduro por não acreditar que pode arcar com todas as responsabilidades que ele comporta.

Talvez você se sinta inseguro sobre o tamanho do amor do outro e seu medo de perde-lo o faça tentar controlar seus olhares, amizades, horários, modos de vestir e se comportar em público, mas isso não protege ninguém apenas limita sua liberdade e a alheia.

Se continuar assim daqui a pouco, sem perceber, você estará escolhendo e comprando as roupas dele para garantir que sua outra metade esteja devidamente moldada para se encaixar no seu mundo perfeito, segundo sua visão do que seja um mundo perfeito.

Cuidado, se vocês já estiverem com dificuldade para diferenciar quais pensamentos "são meus" e quais "são seus". Se todas as idéias "são nossas". Se um de vocês, ou ambos, acredita que ter opinião diferente significa "estar contra" e se um inibe no outro o direito de discordar, se comportar e se expressar acendam a luz vermelha.

Quando, num relacionamento longo, as pessoas percebem que já não se reconhecem individualmente, que são cópias um do outro, a única coisa a fazer é colocar limites no controle de suas vidas; redescobrir a originalidade que está escondida sob a rotina; repensar o que é amor para eles e redefinir as bases sobre as quais assentam sua união.

É importante que os dois descubram quem são individualmente e o que esperam do relacionamento. Comparem suas percepções e chequem se estão expressando claramente seus sentimentos e idéias.

Acautelem-se para não se tornar simbióticos, pois muitas vezes sob a fachada de excesso de amor, por trás de toda essa dependência afetiva, estão atitudes autoritárias e manobras de controle para possuir um ao outro. A fantasia de que se abolirem as diferenças de opinião e de gosto poderão controlar as imprevisibilidades do amor.

 

Bote salva-vidas

Se vocês já formaram um casal simbiótico e estão no meio de uma crise não usem de força bruta para criar limites na relação. Agora é preciso ter calma e aumentar os níveis de liberdade individual suavemente e aos poucos.

Se apenas um de vocês é o grudento não vale a pena atacar ou criticar suas atitudes. Se ele grudou é porque você permitiu, então vá devagar com as mudanças. É muito tentador culpar o outro pelo que está acontecendo no casamento, mas o melhor é atinar sobre o quanto suas atitudes foram permissivas e facilitaram a invasão e o controle.

Contudo, se você ainda estiver sendo arrastado para esse território instável, ouvindo constantemente dele ou dela: "só vou, se você for comigo" cuidado. As pessoas que acreditam que a melhor forma de relacionamento é ser um casal simbiótico gostam de pensar com a cabeça do outro e concordam com tudo sem refletir nem conversar francamente sobre como se sentem, apenas obedecem e depois, quando as coisas saem erradas, culpam você pelo fracasso do casamento.

Questionem o adestramento cultural que diz que para o casamento dar certo os dois devem fazer tudo sempre juntos. Esse tipo de pensamento não preserva a liberdade para atividades individuais e a rotina desgasta a relação.

Não tenham medo de colocar seu amor à prova, conversem a respeito da mesmice e de como cada um pode contribuir para fortalecer seu laço afetivo e deixar esse relacionamento mais criativo e agradável para os dois.

Fazer boas negociações assegura a liberdade individual. Pois, se continuarem com o relacionamento ligado no piloto automático – com cada qual ausente de si e grudado no outro –, não demorará até um de vocês se sentir tão sufocadoque,em pouco tempo o bom humor, a criatividade e vontade de estar juntos vão, definitivamente, perder espaço para o tédio e a insatisfação.

Com que roupa eu vou?

Vocêsevoluirão como casal quando conseguirem incluir em sua rotina semanal uma atividade para cada qual fazer sozinho sem que isso seja uma tragédia para o outro.

Deixem de lado o preconceito de que pessoas comprometidas que saem desacompanhadas estão traindo. Muitos homens e mulheres conseguem combinar a vida social rica com o relacionamento duradouro, baseando-se em amor e lealdade.

Outro bom termômetro do nível de afeto e confiança é o diálogo saudável, que inclui respeito e liberdade para expressar os próprios pensamentos. Ele aumenta a capacidade do casal para lidar com o fato de que nem sempre há concordância entre seus desejos e opiniões. Também ajuda a conter o impulso de desqualificar as vontades do outro só porque não é o que se quer.


Autor: Sueli Nascimento


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