A balança, quem pesar e os pesos que se merecem!



A balança, quem pesar e os pesos que se merecem!

(Uma análise indignada do valor que eu dou às coisas)

10/09/2007

"Cada um pesa o valor das coisas com a balança que tem [...]." O que quis dizer a minha velha e sábia mãe quando proferiu isso? Por certo só o sabem as pessoas que passam por situações em que os inimigos estão ao alcance dos olhos e os amigos não.

Certa vez me pus a pensar nas amizades que fiz. Isso sucedeu num dia daqueles em que tudo parece começar mal. Já não é lá tão fácil começar um dia assim com os amigos nos resguardando, imagine rodeado de inimigos!

O instante em que me peguei recobrando da memória sobrecarregada e mente estressada a fala da minha querida mãe foi o mesmo em que mesclava os sentimentos de decepção e revolta. Nada parecia dar certo e surgia – a cada soprar de brisa – um novo entrevero com que lidar. [...]

O tempo passa. Vejo-me mais velho e as rugas me são companheiras e testemunhas das vivências e tentativas de fazer a coisa certa; agradar, atender, conviver harmoniosamente e, na medida do possível, querer ser agradado. Porém, tudo parece conspirar contra mim. As falas, ações, reações, intenções, vontades, virtudes, os defeitos e trejeitos, tudo se regula numa sintonia que não é a minha. E, de novo, me ponho a pensar sobre o que diz a velha baiana e me pergunto: 'Qual é a minha balança?' – não acho resposta. Talvez nem tenha uma; nem tenha o que pensar... Talvez não haja nada mesmo ou, se houver, seja ínfimo e ainda não me atinei a isso.

Pensando bem, acho que tenho uma balança; só não sei usá-la. Dou muito valor a quem não merece. Quais são seus contrapesos? A amizade, o companheirismo, a complacência, a condescendência, o respeito, a consideração e, principalmente, a supervalorização, e um "algo-mais" ponho em excesso no outro prato da balança, com nenhum senso de equilíbrio, que pende e diz o quanto valem as pessoas. Onde erro? Não sei! Mas descobrirei algum dia, nem que seja no leito de morte, mas descobrirei [...]

Assentado à mesa, com as mãos na testa e sobre os olhos, pensando nas coisas que fiz, realizei que a sabedoria dos mais velhos se baseia nas vivências e que mamãe, por certo, descobriu que não sabia pesar as coisas, assim como eu, na juventude; mas soube me ajudar a repensar os pesos que uso. SÁBIA MÃE. Agora todos os meus contrapesos estão no lado da balança que se te opõe.

Talvez jamais entenda o porquê de as coisas sucederem assim. O que parece mínimo à grande maioria, toma proporções imensas na minha cabeça. Parece até que a minha balança não sabe nem me ensina a medir a essência das coisas. É como se, leigo, tentasse em vão compreender o inalcançável (...). Não sou assim tão ignaro nem me perco em meu orgulho. Então, por quê? Qual a medida? Qual o senso? Tudo que fiz jogarei pela janela, menos os contrapesos que, por minha mãe, aprendi a usar antes que a morte chegasse [...].


Autor: Joel Carlos Santana Santos


Artigos Relacionados


Labirinto

O Chão

Se Agarrando Ao Tranco Da Esperança.

O Doutor E O Caboclo

Pasma Imaginação

A Viagem

Livre ArbÍtrio.