A comercialização do Natal: O ciclo vicioso do consumo



A COMERCIALIZAÇÃO DO NATAL:

O CICLO VICIOSO DO CONSUMO

BRENA CAMILA PONTES¹

CAROLINE MESQUITA ²

Introdução

O objetivo deste artigo é fazer uma analise das razões que norteiam o crescente consumismo, exacerbado, no mês de dezembro, ocasionado pelo festejo do natal, além de provocar uma reflexão acerca da deturpação da denotação da festividade em questão. Considero a reflexão, sem dúvida alguma, o objetivo central de minha obra, baseada nas diretrizes do documentário "What Would Jesus Buy?" ³. O texto nos levará a constatação dessa realidade na cidade de Belém, Pará, e ressaltará a presença das dimensões culturais e simbólicas no universo do consumo.

Vivenciando o consumo: uma breve analise em Belém

Creio que, nesses últimos anos, fui movida por algumas interrogações, entre as quais avultava a relação entre consumismo e o mês dezembro.

Es que vem se aproximando o natal, e o que observo é uma intensa movimentação no comércio da cidade. Não cito o fato baseada apenas em observações recentes, e sim em analises que subsistem há certo tempo, o que comprova que esta é uma realidade anterior a meu entendimento, mas que sem duvida, a cada ano, vem amplificando sua proporção.

Há algumas semanas o movimento nos shoppings da cidade está copioso. Se um mês atrás meu noivo e eu poderíamos passear no shopping, sentar à praça de alimentação, tranquilamente, o que fazemos de praxe, às vésperas do mês de dezembro, nossa rotina não fica mais assim tão calma.

¹Acadêmica no curso de Licenciatura Plena em Geografia do CEFET - PA.

² Acadêmica no curso de Licenciatura Plena em Geografia do CEFET - PA.

³ "O que Jesus compraria?". Documentário de Rob VanAlkemade, 2007. O filme retrata um coral Gospel que arma uma guerrilha contra o consumo, e avisa que o 'apocalipse de compras' se aproxima.

As promoções da época já estampam as vitrines, e com isso, as lojas ficam lotadas, os corredores parecem pequenos para tantas pessoas, as lanchonetes com imensas filas que parecem não ter fim. A verdade é que não precisa nem entrar no shopping para perceber a movimentação, basta avistar a entrada do estacionamento, com enormes filas de carros esperando do lado de fora, para esperar um pouco mais por uma vaga do lado de dentro.

O Ciclo do Consumo: um simbolismo sócio-cultural

Se os antropólogos defendem que toda sociedade é um sistema de símbolos e significados (Brandão, 1985), então a prática do consumo natalino e o ato de presentear são, sem dúvida, um simbolismo social.

O consumo natalino ocorre por força social, e não por questões estritamente econômicas ou individuais. O consumismo faz com que muitos comprem o que não podem pagar, ou que, no mínimo, vão levar até o próximo Natal para quitar.

É como se fosse um ato intrínseco. As pessoas são levadas a consumir no natal. Por quê? Por que o consumismo aparece enquanto ação perpetua. Por que, os que não foram impedidos por fronteiras religiosas, ou capitalistas, cresceram assistindo a prática simbólica de presentear e receber presentes no dia 25 de dezembro. E, hoje, fazem parte de um verdadeiro ciclo vicioso do consumo.

É o "sistema codificado de regras" regras que de um modo são impostas. Imposições essas com as quais todos lidam, por que crêem em seus fundamentos, associados aos costumes, sem os quais as pessoas de qualquer comunidade acreditam ser muito difícil viver (Brandão, 1985).

O consumismo é, partindo deste pressuposto, um fenômeno cultural. Simplesmente porque todos os fenômenos sociais são culturalmente determinados, já que emergem do interior da sociedade (Slater, 2002). Cabe, por tanto, a Antropologia Cultural fundamentar suas raízes e exemplificar suas causas.

Compro, Logo Existo

Consumir no natal é aliar o capitalismo ao prazer e não apenas satisfazer as necessidades, o que deveria ser pressuposto básico para o ato de consumir.

Nas épocas normais a demanda gera a produção. Em dezembro a produção gera a demanda, e o que vemos são milhares de pessoas lotando os shoppings da cidade, levados por uma "onda" gigantesca de consumo. É a lógica do "compro, logo existo", impulsionada pela figura emblemática do Papai Noel, transformado pela Coca-Cola¹ no maior representante do natal, deixando para trás a verdadeira natureza cristã que o natal deveria possuir.

Dizer que consumir é necessário, por que a economia precisa ser impulsionada, e utilizar o nascimento de Cristo como pretexto para a ativação da economia capitalista, e é, sem duvida, demasiadamente pretensioso. Até mesmo para uma prática econômica que tem como própria doutrina não possuir barreiras.

Prosseguiremos com o consumo, lembraremos do velinho de barba branca e roupa vermelha a meia noite e, por que não, mudaremos o nome da comemoração para "Culto do Lucro"! Afinal, o que significa natal mesmo?

¹ Papai Noel, inspirado em São Nicolau, era representado com roupas de inverno, porém na cor verde. Em 1931 a Coca-Cola teria realizado uma grande campanha publicitária vestindo Papai Noel ao mesmo modo de Nast, cartunista americano, com as cores vermelha e branca o que foi bastante conveniente já que estas são as cores de seu rótulo. Tal campanha fez um enorme sucesso e a nova imagem de Papai Noel espalhou-se rapidamente pelo mundo. Portanto a Coca-Cola foi responsável por ajudar a difundir o mito tal qual ele é, mas, de forma alguma por criar a figura tão conhecida de Papai-Noel.

BIBLIOGRAFIA

SLATER, D. "Cultura, consumo e modernidade". São Paulo: Nobel 2002.

BRANDÃO, Carlos R. "Identidade e etnia". São Paulo: Brasiliense, 1985.

MARCELINO, Nelson. "Introdução ás Ciências Socias". Campinas, Sp: Papirus, 1987.

AUTOR, desconhecido. "Papai Noel". Disponível em: wikipedia.com/papai_noel.


Autor: Camila Lobato


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