O Conceito de Justiça em Platão



Objetivo:

- Pretendo explicar o conceito de justiça – um dos conceitos chave para entender a extensão da influência grega no pensamento ocidental.

- Espero apreender conceitos, demarcar o tema e desenvolver o trabalho escrito tendo em vista a exposição escrita e oral que deverei apresentar publicamente no final do curso .

Metodologia:

- Pesquisa e fichamento da obra A república, focando no livro I a discussão sobre a justiça; utilizamos fontes complementares – Teoria do Conhecimento, Compreender Platão, dicionários digitais: da língua portuguesa e filosófica – apontadas na bibliografia.

Resultados:

- A compreensão do conceito estimulou o desenvolvimento e a elaboração do seminário. Fazer a demarcação do tema para apresentação e a redação finalforam gratificantes. Estudamos os quatro primeiros livros de A república com o professor Angelo Aparecido Zanoni Ramos quando ministrou a disciplina História da Filosofia Antiga. Trabalhei com Lenice Falcão, nos reunimos na faculdade, quanto às dúvidas recorremos à obra, ao dicionário filosófico, às nossas anotações e ao professor Roberto de Barros Freire. Os escritos de Platão são em forma de diálogos, a linguagem erudita poderia se tornar cansativa, mas o contexto a torna instigante. Optamos fazê-la na seqüência do desenrolar das hipóteses levantadas sobre o conceito sempre pensando em fazer o possível. Revisamos, relemos, reescrevemos, retificamos, o fichamento facilitou a produto final. O texto último expressa o novo jeito de pensar. O tema me estimulou a buscar a distinção e os dois significados principais para o conceito de justiça. Distinções estas que se espalhou e se efetivou na cultura ocidental. As apresentações em seminários nos permitem confirmar e favorecer a escolha profissional.

Conclusão:

- Importância filosófica – de modo geral o conceito de justiça foi adequada à questão das relações humanas como regra de conduta e daquele que se ajusta a esse código. Desta se distingue duas significações: [a] justiça, acordo de uma conduta a uma norma (sentido de natureza); [b] justiça, aquela coisa que expressa a eficiência, a capacidade de possibilitar as relações humanas. A primeira tem seu sentido fundamentado em Aristóteles, e Platão foi o primeiro a insistir na justiça como instrumento. Entendamos aquela como norma que rege o direito natural, e esta como código moral ou de direito positivo, a justiça é sempre considerada concordância da conduta à norma; de outro a justiça reassume cada vez mais a função que sempre teve: a de instrumento de reivindicação e de libertação (ABBAGNANO, 2003, p.593-596). Tornou-se efetiva em longo prazo e é a base para desencadear a instauração de conceitos, e que poderia levar a contemporaneidade pensar as resignificações.

- Quanto às problemáticas relacionadas a modelos comportamentais, sobre a natureza, a estrutura e o valor do pensamento e das ciências humanas – questões refletidas e comentadas, muitas já respondidas; assim como considerações e resignificações – todavia podem ser retificadas porque para o homem são temas inesgotáveis e inacabados.

INTRODUÇÃO

É regalia da Filosofia a discussão acerca da Natureza, da conquista e de edificar a ciência. Aliás, de modo amplo e cíclico, em distintos períodos históricos, vários pensadores do curso que cultivamos em sala de aula inclinaram-se sobre vários temas examinando-os, deixaram-nos esse legado. Por isso apresentamos aqui, a maior obra filosófica de Platão, A república. Nela oferece sua teoria do conhecimento em sua discussão sobre a imagem da linha divisível e do mito da caverna; e a discussão sobre a natureza da justiça. Os escritos de Platão é em forma de diálogo, ele expõe suas idéias filosóficas, onde se discutiam e criticavam o contexto de uma conversação ou um debate em que participavam duas ou mais pessoas. A leitura do texto leva o leitor ao contato com a tradição, as questões filosóficas são instigantes.

Platão fundou a Academia em Atenas no ano 387 a.C., considerada a primeira universidade européia. Começou a escrever aos 40 anos, perto de 421 a.C., eSócrates tinha quase 50 anos. A escravidão era comum na época. Platão conjugou sua filosofia à prática política, as idéias da obras são atribuídas a ele, embora Sócrates seja a personalidade principal em muitos diálogos. As virtudes que deveriam ser cultivadas e que eram conhecidas são a sabedoria, a força ou temperança e a justiça.

No pano de fundo da filosofia platônica se identifica sua idéia de conhecimento, sua teoria ética, sua psicologia, seu conceito de Estado; sua perspectiva da arte deve ser entendida a partir deste ponto de vista. Alguns intérpretes o consideram precursor das artes abstratas. No entanto, o ponto mais alto do saber é o conhecimento pela razão porque a razão usada corretamente conduz as idéias que são certas; e os objetos dessas idéias racionais são universais e verdadeiras, as formas ou substâncias que constituem o mundo real. Platão estendeu sua teoria mais para o campo das matemáticas. Precisamente, na realidade estava mais interessado em sua aplicação na esfera da ética social, propagando-se no tempo e no espaço até a contemporaneidade.

Após a instauração do paradigma da Modernidade, encontramos no pensamento ocidental asinfluências dos conceitos [a] aristotélico que foram mais intensos até a Idade Média; [b] também do pensamento platônico, que influenciou o processo inicial da Modernidade. Podemos concluir que, ainda que os conceitos por eles elaborados foram resignificados, devido a erros de traduções, nosso pensamento atual é resultado da influência de que trataram cada um deles.

COMPREENDER, INTERPRETAR E APLICAR [1]

 

Em modo geral a definição de justiça se adequou à ordem das relações humanas ou conduta de quem se ajusta a essa ordem. Distinguimos dois significados principais: [a] a justiça como conformidade da conduta a uma norma: julga o comportamento humano ou a pessoa humana com base em seu comportamento; [b] a justiça como eficiência de uma norma (ou sistema de normas) que tem por finalidade possibilitar as relações entre os homens, onde é empregada para julgar as normas que regulam o próprio comportamento. Neste caso a justiça se refere à norma e expressa a eficiência da mesma, sua capacidade de possibilitar as relações humanas. O objeto do juízo é a própria norma. Segue deste ponto de vista os diferentes conceitos do fim em relação ao qual se pretende medir a eficáciada lei como regra para a conduta entre sujeitos. Platão é o primeiro a insistir na justiça como ferramenta. Sócrates questiona Trasímaco:

Acreditas por acaso que uma cidade, um exército, um grupo de bandidos ou de ladrões, ou qualquer outro amontoado de pessoas que se ponha de acordo para fazer algo de injusto, poderia chegar a fazer alguma coisa se seus integrantes cometessem injustiça uns com os outros? – Não. De certo respondeu Trasímaco. – e se não cometessem injustiça, não seria melhor? – Seguramente. – A razão disto, Trasímaco, é que a injustiça da origem a ódios e lutas entre os homens, enquanto a justiça produzacordo e amizade (Rep.,351 c-d)[2].

Neste trecho a justiça é desvinculadade qualquer objetivo que tenha valor elevado: ela não passa de condição para permitir o convívio e a ação conjunta dos homens; condição que vale para qualquer grupo humano, mesmo para uma confraria de bandidos. Da mesma forma, no mito exposto a Protágoras no diálogo homônimo, Platão diz que arte política consiste no respeito mútuo e na justiça, e que enquanto os homens não a tiverem instituído, não pôde reunir-se em cidades para se defenderem; enfraquecidos eram destruídos pelas feras e salteadores. "Apesar de ajudá-los a obter alimentos, a arte mecânica não lhes era suficiente para combater as feras porque eles não possuíam a arte política de que faz parte a arte da guerra (Prot., 322 b-c) ".

Propondo a exigência universal de que, para ser justa, uma lei deve ajustar-se a um sistema de valores qualquer, filósofos e juristas repetiram e aplicaram a referência e eficiência para garantir este ou aquele fim considerado como valor absoluto. Para esse fim se recorreram com mais freqüência à felicidade, a utilidade, a liberdade e a paz[3].

[a] Os filósofos que mais recorreram à felicidade. Aristóteles diz:

As leis promulgadas sobre qualquer coisa visam à utilidade comum a todos ou à utilidade de quem se destaca pela virtude ou por outra forma; desse modo, com uma só expressão definimos como justas as coisas que propiciam ou mantêm a felicidade ou parte dela na comunidade política (Et. nic., 1, 1129 b 4).

[b] a justiça foi identificada como utilidade na Antiguidade pelos sofistas e por Carnéades. Na Modernidade David Hume também impôs esse ponto de vista: "a utilidade e o fim da justiça é propiciar a felicidade e a segurança, mantendo a ordem na sociedade (Inq. Com. Morals,III,1)".

[c] Kant foi quem identificou a justiçae a liberdade:

A tarefa suprema da liberdade em relação à espécie humana é uma sociedade em que a liberdade sob leis externas esteja unida, no mais alto grau possível, a um poder irresistível, o que é uma constituição civil perfeitamente justa. (Idee zu einer allgemeinem Geschichte in weltbürgerlicher Absicht, 1784, Tese V).

[d] Por fim a paz tomada como medida ou critério da justiça é uma ordenação normativa introduzida por Hobbes: para ele a primeira lei da natureza, a primeira das normas que permite afastar o homem do estado de guerra é a que prescreve perseguir a paz.

Para a igualdade de forças e de todas as outras faculdades humanas, os homens que vivem no estado natural, isto é,no estado de guerra, não podem pretender que sua conservação seja duradoura. Por isso tender para a pazenquanto brilhar alguma esperança de obtê-la, e só recorrer quando isso não for possível, é o primeiro ditame da boa razão, a primeira lei da natureza (De cive, I, § 15).

Kelsen, no século XX contrapôs a justiça como "ideal irracional" a paz como medida empírica da eficiência das leis:

Uma teoria pode fazer uma afirmação com base na experiência: só uma

ordenação jurídica que não satisfaça aos interesses de uns em detrimento de outros, mas que chegue a uma conciliação entre os interesses opostos, que não reduza ao mínimo seus possíveis atritos, pode contar com umaexistência relativa e duradoura. Só um a ordenação dessa espécie estará em condições de assegurar a paz social em bases relativamente permanentes a todos os que se lhe submetem. Embora o ideal de justiça em seu significado originário seja totalmente diferente do ideal de paz, existe nítida tendência a identificarmos dois ideais ou ao menos a substituir o ideal de justiça pelo de paz (General Theory, cit., I, I, A, c, 4; trad. It., p. 14). (op.cit.).

PLATÃO E A TEORIA [DO CONHECIMENTO] CRÍTICA [4]

A revolução na linguagem se dá com os sofistas e Sócrates. Dentre os sofistas encontramos Protágoras, Antifón, Crítias, Calides e Trasímaco. A filosofia desenvolvida por Sócrates é uma resposta ao relativismo por meio de um método que busca o universal através do diálogo com perguntas e onde se reconhece a ignorância como passo decisivo para gestar o conceito. Tal método supõe uma educação por meio da virtude da justiça cujo fundamento é a racionalidade que conduz ao conhecimento do bem como princípio da ética. Esta se desenvolve e é seguida pelas escolas socráticas dos Cirenaicos, dos Cínicos e dos Megáricos . A filosofia socrática e o Pitagorismo são confluídas por Platão que pretende sua Epistemologia. Este formula um mundo das idéias narrado em Ménon, Fédon e A república. Nos diálogos de Platão é difícil distinguir o que é autenticamente socrático ou não, pois faz Sócrates portador das suas idéias.

De modo específico ao formular A república, Platão analisa os regimes políticos, que são a aristocracia, a timocracia, a oligarquia, a democracia e a tirania. Reflexiona a questão relacionada às classes sociais e as distribui em um tripé, a saber: dos governantes, dos guardiões e dos trabalhadores. Estas em seu conjunto são formadoras da cidade e estão vinculadas através das funções e pelas virtudes atribuídas aos seus habitantes, e pela justiça pretende a harmonia e a relação da sociedade.

Sócrates considerava a alma uma combinação da inteligência e do caráter do indivíduo. As virtudes estão relacionadas às funções e a alma de acordo com a classe social. O governante deve usar a razão (alma racional), destinada ao conhecimento das idéias. Ela é superior, parece que quis dizer, embora não ficou claro, que ela é imortal. E fez uma localização física para ela, a cabeça; associada a uma virtude, a prudência para bem administrar a cidade. Aos guardiões o dever de cultivar a vontade, a fortaleza (alma irascível), e o ânimo; por elas o homem pode superar os problemas e alcançar os objetivos. Para Platão está situada no peito e quem possuía a virtude da fortaleza tinha as condições necessárias para defender a cidade. Para controlar todos os tipos de paixões, considerada a mais baixa do homem, constituída pelos desejos e necessidades básicas, os trabalhadores devem controlar o apetite (alma concupiscente) através da moderação. Esta a situou no ventre e tem a virtude da temperança. Graças a estas três virtudes controla-se o corpo, e por sua vez a alma racional controla as outras duas. Estas virtudes são entrelaçadas e fundamentadas na justiça, que é o fundamento da República[5].

Taisvalores estéticos e morais firmam a relação entre os homens cujo objetivo é torná-los livres pelo amor (Eros), e pela dialética revelando a base do existente que apreendeu o grau superior do conhecimento, cuja finalidade superior é o Bem fundamento da República. Esse ideal só pode ser alcançado quando os homens se libertam das cadeias da ignorância e das opiniões que revelam o grau inferior do conhecimento. O Sumo Bem é o fundamento do existente que apreendeu o grau superior do conhecimento.

Platão testemunhou a morte de Sócrates durante o regime democrático ateniense em 399 a. C. Julgava seu mestre o homem mais justo de seu tempo, razão de nos seus diálogos não se distinguir um e outro, já que fez de Sócrates seu mensageiro de idéias. Depropósito Sócrates procurava desmascarar o ceticismo e o relativismo dos sofistas, assim como a pretensão destes de serem sábios. Os sofistas ensinavam a argumentar com convicção sobre qualquer tema. Enquanto que Sócrates destrói as certezas construídas com bons argumentos. Pergunta pelas coisas: o que é a virtude? Questiona não apenas pela essência das coisas, mas pela essência do homem que pergunta: "O que é a natureza ou realidade última do homem?".

A essa questão Sócrates entende que é a alma a essência do homem, entende que ela e a nossa razão são sede de nossa atividade pensante e eticamente operante. A alma é o eu consciente, ou seja, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Assim criou o fundamento do qual nutre a tradição moral e intelectual da qual o continente ocidental vive até hoje.Sendo a alma a essência do homem, cuidar de si quer dizer cuidar da própria alma. A maior tarefa do educador é, então, ensinar os homens a cuidar da própria alma. Aponta o corpo como instrumento e o sujeito que usa o instrumento, portanto, o homem se serve do corpo, e o faz pela psique. Na mitologia grega, psiqueera a personificação da alma. Daí a advertência: Conhece-te a ti mesmo.

Sócrates nos apresenta um novo quadro de valores sob dois critérios: [a] a virtude é ciência e o vício é ignorância; [b] ninguém peca voluntariamente. Quem pratica o mal, o faz por ignorância do bem. O "intelectualismo moral" de Sócrates visa reduzir o bem moral a um dado de conhecimento; desenvolve o método e a dialética para despojar a alma da ilusão do saber e torná-la capaz de receber a verdade, ou seja, levava a uma reflexão e, conseqüentemente, a uma prestação de contas da própria vida. É o processo pelo qual tenta submeter a vida humana e os seus valores ao domínio da razão, que podem ser aperfeiçoadas através da ciência e do conhecimento. Para Sócrates o conhecimento é condição necessária para fazer o bem, em detrimento da vontade. Este é o objetivo de seu método, a maiêutica [ maieutiké (téchne)], ou seja, a obstetrícia; e a dialética [dialektiké (téchne)].

Enquanto os sofistas assumem uma atitude soberba de quem sabe tudo, Sócrates se posiciona diante dos seus interlocutores com a atitude de quem nada sabe. A ironia [eironeía] socrática é ponto de vista negativo da refutação. Tal modo para Sócrates, a consciência da ignorância, denota uma verdadeira sabedoria. Mas no Sofista de Platão, afirma que a ignorância mais perigosa é a que não sabe e crê saber, originando todos os erros que cometemos com a nossa inteligência. É necessário despertar nos outros a consciência da sua ignorância e encaminhá-los ao conhecimento através de um processo investigativo mais sério.Para isso parte do saber do seu interlocutor para refutá-la, porém não responde nunca os questionamentos, antes provoca a dúvida metódica conduzindo seus interlocutores a uma nova investigação – análise crítica que visa provocar a autenticidade dos valores mais altos. Por ela combate a auto-suficiência de um saber aparente.

A refutação [elenchos], é parte destrutiva do método, por ela força o interlocutor a reconhecer sua ignorância e a definir o assunto a investigar. Em seguida desenvolve a análise crítica a partir da definição dada, explicitando falhas e incoerências implícitas. Em seguida o induz a uma nova definição que é submetida ao mesmo procedimento crítico, seqüencialmente, até se declarar ignorante. A destruição das respostas dos seus interlocutores implica dois elementos fundamentais: a indução e a definição universal. Esta introduzida ordenadamente na filosofia tende a definir as diversidades de coisas, de entes e de idéias éticas. Visa dar um conceito universale necessário que indique o que faz com que tal realidade seja essa coisa e não outra. Por exemplo: o que faz com que a justiça seja a justiça e não a bondade?

A proposta socrática, segundo Platão, é formular questionamentos adequados direcionando o pensamento para a essência das coisas. Tal método supõe e afirma a existência de uma potência espiritual intrínseca no inquirido, e convertida de potência ao ato; deve-se considerar a existência em seu espírito de uma certa capacidade cognitiva. E que tende a realizar-se, cujo verdadeiro significado é fundamentalmente ativista, de faculdade e esforço de conquista do que de uma mera passividade e uma inerte contemplação interior. Na busca da ciência Sócrates desloca a pesquisa do mundo natural para o humano, refere-se ao mundo interior humano-moral. A busca em nossa própria consciência da existência de princípios (conceitos, leis), descobertos pelo exame, pela reflexão e pela discussão.

O método tenta investigar o imutável, o universal, a essência, o objeto da ciência através do diálogo mediante o exercício da pesquisa em comum. Ao distinguir opinião e verdade Sócrates concorda com os sofistas. Diz-nos que o conhecimento sensível por si só não pode fazer-nos conhecer a verdade, mas apenas nos proporciona opiniões mais ou menos isoladas, e que varia de indivíduo para indivíduo. Existe também o conhecimento intelectual, por ele extrai das coisas a sua essência elaborada e forma na mente o mesmo para todos. O conceito universal resulta das definições de valor limitado e que passa das definições menos imprecisas para atingir à definição adequada. A preocupação de Sócrates é definir os conceitos éticos de justiça, de bem, de felicidade ede virtude. A moralidade, para ele, se identifica com o conhecimento, pois a sabedoria é virtude e a virtude se identifica com a sabedoria. O vício, por sua vez, é a ignorância. Através do seu método Sócrates usou o conceito, a indução e a técnica do raciocínio, instaurando as bases que levarão, mais tarde, à descoberta da lógica.

Platão(428-347 a.C.), um dos pensadores mais influentes da filosofia ocidental, considerado o mais importante continuador da filosofia socrática, tinha quase todos os temas da filosofia definidos, dando à filosofia a sua primeira grande sistematização. Em sua Academia, fundada em Atenas em 387 a.C., oferecia um amplo plano de estudosque incluía matérias como astronomia, biologia, matemáticas, teoria política e filosofia. Aristóteles foi seu aluno mais destacado. Nos escritos de Platão e Aristóteles as tendências dominantes de idealismo e materialismo na filosofia grega alcançaram, em um e outro caso, sua mais alta expressão, dando lugar a um corpo de pensamento que seguiu exercendo uma forte influência sobre a investigação filosófica.

Platão rejeita a solução dada pelos sofistas que tentaram definir a justiça resumindo-a apenas a convenções, relacionando-a com a aparências e aquilo que constitui o mundo dos sentidos, que é instável e sofre mudanças. Todavia, o objetivo de Sócrates era ir além, ele buscou a essência das coisas. Assim também cada um se apega ao aparente e o transforma em sua verdade, bem como percebe o mundo de modos diferentes: igualmente acontece com a opinião (doxá), resultado de variação, jamais poderá proporcionar o verdadeiro conhecimento das essências, que é próprio da ciência (epistéme).

Platão atribui a possibilidade de que a filosofia é saldo da libertação do Logos em relação ao "mito" e a fantasia. O logos que a última filosofia de Platão se esforça por atingir deve, pois, ser incluída como complementar do tema de um exame das relações que permitem conter o irracional para alcançar uma harmonia (ROGUE, 2002, p. 202).

Por isso Platão atribui um novo valor ao mito. Ele acreditava que o logos capta o ser, mas não a vida. Deste modo o mito complementa o logos para explicar a vida. Ou seja, o mito também quer se expressar e se dá pelas manifestações de fé e de crença. A relação entre um e outro se dá na busca de clarificação no logos e o logos procura sua complementação no mito. Através da força do mito Platão busca pela intuição superar os limites da razão – a transcendência, elevação do espírito. O mito também atua, funciona como estímulo, participa fecundando-o.

Libertando-se dos sentidos em busca do ser inteligível, o mito se move para o plano do raciocínio puro, é captado pelo intelecto e pela mente na pureza da sua função específica, e que Platão a chamou realidades inteligíveis, por meio de termos como idéias e eidos que quer dizer forma. As idéias platônicas são aquilo que faz com que cada coisa seja aquilo que é, a essência das coisas. Também faz uso do termo paradigma para dizer que as idéiasrepresentam o modelo permanente de cada coisa. As expressões "em si" e "por si" são utilizadas para indicar o seu caráter absoluto, e como tal não podem sofrer mudanças. Enquanto aquilo de natureza relativa está sujeita às mudanças em contraposição ao absoluto que seriam as razões últimas e supremas.

Platão concebe a existência do mundo das essências porque a ciência trabalha com figuras perfeitas (triângulo, círculo, etc.), verdades absolutas que não se encontram no mundo sensível das nossas percepções, por exemplo, as matemáticas, a geometria e a astronomia. Estas apresentam verdades imutáveis e universais como "dois mais dois são quatro", verdade válida necessariamente para todos, em todos os tempos e lugares. Tais essências são única e imutável sendo, efetivamente, o mundo inteligível o verdadeiro mundo real onde cada essência forma uma única idéia (eidos), por exemplo, a idéia de cavalo; diferente do mundo sensível aonde as coisas muda porque tem uma variedade dessa única idéia da coisa existente no mundo supra sensível Mas no mundo sensível vemos vários cavalos diferentes porque há uma dependência entre o sensível e o inteligível para que se efetive a existência de um e de outro. Ou seja, o sensível é cópia do inteligível.

Platão se tornou herdeiro da filosofia socrática, também adotou a aporia de Parmênides, a conservação e permanência do ser, uno e imóvel, que garante a verdade incontestável ao lado da multiplicidade de coisas, incerta e casual. Para Platão há dois mundos, o mundo das idéiasexternas (da alma pré-existente e imortal), onde reina o ser de Parmênides;e o reino da multiplicidade e movimento de Heráclito, o mundo sublunar (do material e sensível). O mundo das idéias é objeto do conhecimento verdadeiro, universal e necessário, portanto sede da verdade. É um lugar que absolutamente não é um lugar. O mundo sublunar é uma simples sombra do mundo das idéias, não tem ser, e seu objeto do conhecimento são meramente opiniões (doxá).

Com a teoria das idéias Platão sustenta e justifica que o sensível só se explica mediante o recurso do inteligível, o relativo mediante o absoluto. O sensível nada mais é do que imitação (mímesis) das coisas inteligíveis, elas se relacionam entre si. Como imitação as coisas sensíveis são sempre imperfeitas, e como tal mutáveis, por exemplo, o pintor que reproduz em seu quadro a natureza. Por isso ele confere a mimesis o caráter metafísico diferente dos Pitagóricos que afirmavam a imanência, cujo modelo e cópia se encontravam no mesmo plano, o concreto, como tal classificado em interno, apreensão racional; e externo, apreendido pelos sentidos. Para Platão há um afastamento lógico entre o plano sensível e o supra-sensível. Para explicá-lo usa a relação cópia-modelo metafisicamente para satisfazer à relação sensível-inteligível "a arte divina criou não só as obras naturais, porém as imagens dessa obra, como o reflexo do fogo em um muro. O objeto natural imita a idéia que lhe é correlato e a arte imita, por sua vez, aquela cópia" (ZILLES, 2004, p. 73).

Em A república opõe-se aos poetas, como Homero, como inventando "simulacros com simulacros, afastados da verdade". A arte imitativa deveria resguardar a natureza de cópia de seus produtos, sem desejar misturá-los com os objetos verdadeiros. Alguns intérpretes conferem a Platão ser o antecipador das artes abstratas porque as artes plásticas seriam tentar reproduzir a verdadeira realidade das formas incorpóreas. A relação de imitação confere aos homens conhecer as idéias do mesmo modo que lembra do modelo quando diante da cópia que foi tirada daquela. Sua intenção é demonstrar que o conhecimento é lembrança (anámnesis), raiz do conhecimento, porque a alma, antes do nascimento, contemplou as idéias. Ao encarnar perdeu a possibilidade de contato direto com as formas incorpóreas, mas diante de suas cópias recupera, aos poucos, o conhecimento das idéias, forma de "recordação" daquilo que já existe desde sempre no interior de nossa alma.

Ao expor sua doutrina da reminiscência, despertar do conhecimento intelectivo das idéias, Platão inclui um a priori e uma espécie de idéias inatas da verdade. Seu objetivo ao explicá-la é dizer que aprender é recordar ou reconhecer. Porque sendo a alma pré-existente do mundo das idéias já as contemplou. Porém foi castigada e destinada ao mundo sublunar, unida ao corpo padece as implicações dessa união: não se recorda, embora traga em si as idéias que contemplara no outro mundo. A alma relembra destas idéias ao entrar em contato com as coisas deste mundo, que já são sombras das idéias. Diferente da lembrança, a memória conserva as sensações como a impressão sobre um bloco de cera e que pode ser mais ou menos confusas. O aprendizado se dá no encontro com as coisas deste mundo, que são cópias das idéias.

Ao organizar o sistema da doutrina da reminiscência, Platão visa três funções distintas: [a] fornecer uma prova da pré-existência, da espiritualidade e da imortalidade da alma; [b] estabelecer uma ponte entre a vida anterior e a presente; [c] dar valor à noção sensitiva, reconhecendo-lhe o mérito de despertar a recordação das idéias, pois recordar é apreender. A alma acorda para o mundo inteligível movida pelo sentimento denominado amor. No início este é sensual almeja a graça do corpo; descontente, aos poucos é movida a desejar a própria beleza e o conhecimento de sua idéia.

Em A república, através do mito da caverna, Platão ilustra o processo do amor que deseja conhecer (livro VII). Na narrativa nos quer mostrar que o mundo sensível é uma caverna, nela os homens se encontram acorrentados; suas visões são direcionadas forçosamente para paredes densas onde são projetadas sombras. Caso alguém escape da caverna, lá fora a luz intensa lhe cegará brevemente os olhos. Mas aos poucos se habituará e verá o mundo supra-sensível, e descobrirá a verdadeira luz tornando-se filósofo (philósophos). Como tal tem a missão de retornar a caverna e ensinar o conhecimento da verdade.

Por meio da Alegoria da Caverna Platão quer explicar a elevação transitória do mundo da opinião à ciência do inteligível conhecimento e do Bem. Simbolizado pelo mito representa o conhecimento platônico em diversos graus, e ontologicamente divide os gêneros do ser sensível e inteligível, desdobramento da realidade. Exemplo, as sombras representam a aparência sensível das coisas; as estátuas representam a coisa em si; a idéia do Bem é representada pelo sol; aos homens acorrentados que só vêem sombras compara à condição do homem no mundo; assim como a visão das sombras são representações da imaginação (eikasia), e a visão das esculturas representa a crença, dados da opinião. A passagem da visão destas para os objetos verdadeiros representa a ciência intermediária (dianóia), e a intelecção (noésis), dados do campo da ciência (epistéme)[6].

Enquanto a vida na caverna é a vida dos sentidos, que se explica por meio de imagens; a vida do espírito se explica pela racionalidade, busca e tende para a pureza e para a plenitude da luz. O processo do conhecimento representa a passagem das sombras e imagens para o iluminado universo das idéias; e que possui etapas intermediárias distintas no espaço sensível, objeto de conjecturas e crenças, ou se tornam percepções nítidas e sensíveis. A certeza só é possível quando surge uma demonstração racional, o avanço para o plano do conhecimento supra-sensível. Só há conhecimento quando o intelecto (alma) reconhece diretamente as formas (eidos), a perfeição dada no nível superior do conhecimento que está totalmente desvinculado da sensibilidade; e por isso expressa a essência somente por aproximação porque incapaz para ser expresso por palavras. As idéias só podem ser conhecidas por uma intuição silenciosa conhecidas pela intuição intelectual (noésis). É o instante em que a dialética silencia o discurso (dianóia) e se torna muda. É a situação no mito da caverna em que a idéia do Bem Supremo surge sob simbologia do sol.

A busca platônica pela verdade do ser, do valor, da alma, do homem e de Deus são conceitos formulados que se encontram impostos ao pensamento ocidental até a contemporaneidade. A construção do conhecimento é função associativa entre o intelecto e emoção, de racionalidade e vontade (desejo). A ciência (epistéme) é resultado da inteligênciae do amor.

DA DEFINIÇÃO DE JUSTIÇA DISCUTIDA NO LIVRO I

A intenção de Platão é comunicar a filosofia e o estilo dialético de Sócrates. Alguns desses diálogos têm o mesmo argumento. Sócrates encontra com alguém que diz saber muito, manifesta ser ignorante e pede ajuda a quem afirma saber. No entanto, conforme Sócrates começa a perguntar, fica claro que quem se diz sábio realmente não sabe daquilo que afirma saber, e que Sócrates surge como o mais sábio dos personagens porque, por menos, é que sabe que nada sabe. Esse conhecimento, por suposição, é o começo da sabedoria. Platão acreditava que as virtudes deveriam ser cultivadas, as que eram mais conhecidas, a sabedoria, a força ou temperança e a justiça. Em contraposição Aristóteles afirmara que deveriam ser cultivadas as virtudes da prudência e da temperança. No livro I de A república podemos acompanhar esse processo na discussão sobre a justiça.

O fato contado aconteceu antes do seu registro[7], mais ou menos em 420 a.C., O diálogo se dá na casa de Polemarco, participaram do episódio os irmãos de Polemarco, Lísias e Eutidemo, e também o sofista Trasímaco de Calcedônia, Carmantides de Penéia e Clitofonte, filho de Aristónimo. Havia também o pai de Polemarco, Céfalo. Este último acolhe Sócrates e seus amigos, Glauco, Adimanto, Nicerato e outros mais, que retornavam da procissão, porém foram interpelados por um escravo do filho de Céfalo, cujo intuito era conversar; para isso o persuade com a idéia da festividade noturna (PLATÃO, 2004, p. 5-6).

A definição de justiça não se dá integralmente no livro I. Os temas nele contidos são da utilidade das riquezas; sobre a justiça, a refutação se o homem justo é feliz e o injusto é infeliz. Portanto o colóquio entre Sócrates, seus amigos e Trasímaco são hipóteses e visavam à essência da justiça. É a justiça "vício e ignorância ou sabedoria e virtude"; se a "injustiça é mais vantajosa do que a justiça", e ainda, "se aquele que a possui é feliz ou infeliz (op.cit., p.40)".

O objeto inicial que nos leva a primeira definição de justiça é o elogio à velhice.Sócrates

estimula Céfalo a falar sobre a mesma, das apreensões e temores da velhice, suas conseqüências; daí surge a primeira definição de justiça, trata-se de uma opinião (op.cit., p. 7-9):

Céfalo –[...] Jamais enganar alguémou mentir, aindaque inadvertidamente, nem ser devedor, quer de sacrifícios aos deuses, quer de dinheiro a uma pessoa, e depois falecer sem nada recear. [...]Sócrates – [...] essa virtude de justiça resume-se em proferir a verdade e em restituir o que se tomou de alguém [...].? [Dize-me:] se alguém, em perfeito juízo, entregasse armas a um amigo, e depois, havendo se tornado insano, as exigisse de volta, todos julgariam que o amigo não lhe as deveria restituir, nem mesmo concordariam em dizer toda a verdade a um homem enlouquecido. [...] Como vês, justiça não significa ser sincero e devolver o que se tomou. (op.cit., p.9).

A segunda definição de justiça é continuidade da primeira e procede do diálogo entre Polemarco e Sócrates.

Polemarco – [...] deve-se fazer sempre o bem aos amigos, nunca o mal. [...]Sócrates – [...] Aparentemente [...], é justo restituir a cada um o que lhe convém. Considerando isso restituir o que é devido [Sentido de dever algo a alguém.] [Sócrates muda de habilidade, usa da tchené, a medicina: dá remédios; a culinária: temperos aos alimentos; a justiça: dá benefícios aos amigos e prejuízo aos inimigos]. Sócrates – [...] Em que circunstância o homem justo pode ajudar os amigos e prejudicar os inimigos? Polemarco – Penso que seja na guerra, lutando contra uns e aliando-se aos outros (op.cit., p.11). [a justiça se dá no combate].

Ao desenvolver sua tese induz seu interlocutor a elaborar as respostas aos seus questionamentos com convicção, porque fala daquilo que conhece e sabe. Mais uma vezSócrates utiliza a tchené, associa as artes relacionando-as à sua função: o médico é inútil para os são; o piloto para os que são navegantes. Concluem, portanto, que "a justiça é útil em tempo de paz" (op.cit.p. 12). Sócrates continua sua tese agregando exemplos: "[...] com qual objetivo de uso ou posse de que objeto a justiça é útil em tempo de paz? [...] Por contratos comerciais queres dizer as associações [irônico], ou outro tipo de contrato". Usa da ironia quando percebe que a definição não procede, evitando responder, antes instiga novos questionamentos até aparecer outra definição assim arrematada:

Sócrates [...], Portanto, se quisermos guardar um escudo e uma lira, sem usá-los, a justiça é útil; porém, se desejarmos nos servir deles, é mais útil a arte do soldado e do músico.[...], a respeito de todas as outras coisas, a justiça é inútil quando nos servimos dela e útilquando não nos servimos?[...] Logo, meu amigo, a justiça é muito pouco importante, se ela se aplica somente a coisas inúteis (op. cit. p. 12-13).

Seguindo adiante Sócrates pergunta "em um combate [...], o homem mais capaz de deferir golpes é também o mais capaz de defender?" (op.cit.p. 13). Elabora mais exemplos simples e chegam à outra definição: "Sócratesparece que a justiça [...] corresponde [...] a arte de furtar, porém a favor dos amigos e prejuízo dos inimigos. [aponta a falha do argumento], mas os homens não podem se enganar, julgando honestas pessoas que não o são?" (op.cit.p. 13). Sócrates reelabora a questão: "é justo prejudicar os maus e ajudar os bons?" (op.cit.p. 13). Solicita uma definição precisa para amigo e inimigo a fim de não caírem em erros. Feito isso,]Sócrates pode então refutar: "acrescentamos [...], a respeito da justiça que é justo ajudar o amigo e prejudicar o inimigo.[...], devemos também afirmar que é justo ajudar o amigo bom e prejudicar o inimigo mau?[...] Logo, é peculiar ao justo prejudicar a quem quer que seja." [Concluindo quea justiça é nociva]. (op.cit.p. 14-15).

A determinação socrática o leva a retomar novos exemplos, habilmente faz comparações destas com a virtude, a saber: cães, cavalos, o homem em questão. Investiga a possibilidade de o profissional, por meio da sua função, conduzir o outro para pior: "é possível a um músico, por intermédio de sua arte, tornar outras pessoas ignorantes em música? [...], de forma geral, os bons transformar os outros em maus?" (op.cit.p.16). Desde então Polemarco concorda com Sócrates até concluírem que "não é licito fazer o mal a ninguém e em nenhuma ocasião" (op.cit.p.17).

Sócrates – [a narrativa revela Platão se identificando com seu mestre] Repetidas vezes, enquanto falávamos, Trasímaco procurava tomar parte na conversa, mas fora impedido pelos amigos, que queriam ouvir-nos até o fim. Durante a nossa pausa, após minhas últimas palavras, não pode mais se conter; [...] elevando a voz no meio do auditório, gritou:

[Trasímaco] – [...] Se queres mesmo saber o que é justo, não te limites a indagar e não teimes em refutar aquele que te responde, mas tendo reconhecido que é mais fácil indagar do que responder, responde tu mesmo e diz como defines a justiça. E abstém-te de pretender ensinar o que se deve fazer, o que é útil, proveitoso, lucrativo ou vantajoso; exprime-te com clareza e precisão, pois eu não admitirei tais banalidades. (op.cit.p.17)

Sócrates admite tê-lo deixado irritado, porém, ironicamente manifesta condescendência e o induz a falar também sobre a questão proposta. Trasímaco desafia Sócrates "[...], se eu provo que existe, a respeito da justiça, uma resposta diferente de todas essas e melhor, a que te condenas?" (op.cit.p.17). Seus amigos pedem-lhe que não se esquive à provocação, pois "percebia-se claramente que Trasímaco desejava falar para se distinguir, julgando ter uma excelente resposta a dar; mas aparentava insistir para que fosse eu a responder".(op.cit. p.17).Por fim Trasímaco cede revelando sua acepção: "justiça é simplesmente o interesse do mais forte", bem como acentuando as vantagens daquele que a detém (op.cit. 18-20). [Percebaimplícito que os homens se reúnem em coletividade e elegem um governante, ou este se fez governante por necessidade de impor regra que regulem a convivência e os interesses do grupo e ou da cidade;surgindo a cidade como nação, só será reconhecido Estado quando instituídas leis que a regulem]. Cita os tipos de Estados e governo existentes, a saber:

Trasímaco – [...], cidades tirânicas, leis tirânicas; cidades democráticas, leis democráticas e aristocráticas, visam à mesma coisa, ou seja, cada governo faz as leis para seu próprio proveito. estabelecidas estas leis, declaram justo, para os governados, o seu próprio interesse, e castigam quem o transgride como violador da lei, culpando-o de injustiça (op.cit.p.20).

Polemarco dissera que a justiçavisa "aquilo que é vantajoso e justo", no que Trasímacoreformulou acrescentando ser "o interesse 'do mais forte'"; e que identificamos como a justiça do Estado. Sócrates concordara com ele e Polemarco, todavia acaba refutando o acréscimo de Trasímaco; uestionando-o exige que o faça com objetividade [a] caso julga justo obedecer aos governantes; [b] e se estes são passíveis de erros; [c] se as boas leis são aquelas que instituem o que lhes é vantajoso e as más o que lhes é desvantajoso? [d], e ainda, o que os governantes instituíram dever ser obedecido pelos governados; é nisto que consiste a justiça? (op.cit.p. 20-21). Das suas respostas Sócrates concluiu "logo, na tua opinião, não apenas é justo fazer o que é vantajoso para o mais forte, mas também o contrário, o que é desvantajoso". Trasímaco contesta, mas seu inquiridor propõe que "examinemos melhor" (op.cit.p.21). Recorre às conclusões concordantes entre eles dos exemplos anteriores, como seja:

Sócrates – [...], às vezes, os governantes se enganam quanto ao que é melhor, impondo determinadas leis aos governados [...], por outro lado, é justo que os governados obedeçam ao que lhes ordenam os governantes [...] , porquanto tu afirmas ser justo que os governados façam o que ordenam os governantes. Portanto, sábio amigo Trasímaco, não decorre necessariamente que é justo fazer o contrário daquilo que dizes? Com efeito, ordena-se ao mais fraco que faça o que é prejudicial ao mais forte (op.cit.21-22).

Ao que todos concordam com o raciocínio socrático, a contragosto Trasímaco concordara nas questões anteriores, porém se encontra contrariado, indignado e acusa Sócrates de ser um difamador; e por questioná-lo, premeditando meios de prejudicá-lo. Por um instante leva vantagem ao argumentar que ninguém se engana no exercício das suas funções, reafirmando que "a justiça consiste em fazer o que é vantajoso para o mais forte", a saber:

Trasímaco – [...],julgo que nenhum deles na medida em que é o que o denominamos, jamais se engana; de modo que, para falar com precisão, visto que queres ser preciso, nenhum artesão se engana. Aquele que se engana o faz quando a ciência o abandona, no instante em que não é mais artesão; assim, artesão, sábio ou governante, ninguém se engana no exercício das suas funções, apesar de todos dizerem que o médico se enganou, que o governante se enganou. [...], para me expressar de forma mais exata, o governante, enquanto governante, não se engana, não comete um erro ao fazer passar por lei o seu maior interesse, que deve ser realizado pelo governado. (op.cit.p.22-23).

Como sofista, Trasímaco não foge a regra, estes não só discursavam como usavam da força para convencer, enquanto Sócrates utiliza a dialética e a sua metodologia (tchené); através da racionalidade induz seu interlocutor a encontrar as respostas precisas, apresenta exemplos da vida cotidiana daquele, persuadindo-o pelo razão, até atingir o conhecimento. Sempre retoma o mesmo procedimento, cujo rigor facilita o entendimento preciso do conceito que se quer alcançar.

Mais uma vez Sócrates exemplifica induzindo Trasímaco, que se vê concordando com ele, enquanto desenvolve sua tese, e mais uma vez frisa a importância da objetividade.

Quanto[a] ao médico, de que falavas ainda há pouco, tem por objetivo ganhar dinheiro ou tratar doentes? mas fala-me do verdadeiro médico. [b] [...], e o piloto? O verdadeiro piloto é chefe dos marinheiros ou marinheiro? [c] [...], considerando marinheiro, de fato, devido a sua arte e ao comando que exerce sobre os marinheiros. [...], portanto, para o doente e o marinheiro , existe alguma vantagem. [d] e a arte objetiva procurar e proporcionar a cada um o que é vantajoso para ele. [objetivo da arte:], mas, para cada arte, existe outra vantagem além, de ser tão perfeita quanto possível [a saber:] [...], uma arte exige certa virtude [...], que examine e lhes proporcione a vantagem [que lhe é própria]. [...] Cada arte exige outra arte que examine o que lhe é vantajoso, e esta, por sua vez, outra semelhante, e assim ao infinito? [...], pois nenhuma arte representa defeito ou imperfeição e não deve procurar outra vantagem exceto a do indivíduo a que se aplica; [...], portanto, a medicina não objetiva a sua própria vantagem, mas a do corpo. [...], as artes governam e dominam o objeto sobre o qual se exercem. [...], nenhuma ciência procura nem prescreve a vantagem do mais forte, mas a do mais fraco, que lhe é sujeito. Nisto Trasímaco ainda tenta rebater, enfim cede. Sócrates completa: "Portanto, o médico, na medida em que é médico, não objetiva nem prescreve a sua própria vantagem, mas a do doente? Com efeito, reconhecemos que o médico, no sentido exato da palavra, governa o corpo e não é homem de negócios" (op. Cit. p.24-25).

Acedeu por pouco tempo a seguir replica mordaz desvirtuando a diferença entre o pastor e as ovelhas, e por analogia enumera as vantagens do governante sobre o governado; como também justifica a injustiça através do seu ponto mais alto, a tirania. Enfatiza a bondade do tirano quando poupa a vida do outro em troca da servidão voluntária (op.cit.p.26-27); condição esta que se torna justa, mas, finaliza antes de tentar se evadir do local:

Trasímaco –[...], com efeito, não receiam cometer a injustiça os que a reprovam: receiam ser vítimas dela. Por isso Sócrates, a injustiça levada a um alto grau é mais forte, mais livre , mais digna de um senhor do que a justiça e, como eu dizia a princípio, a justiça significa o interesse do mais forte e a injustiça é em si mesma vantagem e lucro1 . [8] (op.cit.p.27)

Impedido pelos outros de se retirar Sócrates o instiga para se justificar:

[...], Crês que é tarefa fácil definir a regra de vida que cada um de nós deve seguir para viver da maneira mais proveitosa?" (op.cit.p. 27). Ressaltando o argumento antes visa explicitar a função do pastor, ponto fraco do exemplo, pois é contraditório e não tem rigor: "[...], Pensas que, como pastor, ele engorda os seus carneiros não objetivando seu maior bem, mas, como um glutão que pretende dar um festim, objetivando a boa carne ou, como um comerciante, objetivando a venda, e não como um pastor. Mas a arte do pastor objetiva unicamente o maior bem do indivíduo a que se aplica – já que ele próprio está suficientemente provido de qualidades que assegurem a sua excelência, enquanto se mantém de acordo com a sua natureza de arte pastoril [...], reconhecemos que todo governo, enquanto governo, objetiva unicamente o maior bem dos indivíduos que governa e dos quais é responsável, quer se trate da população de uma cidade, quer de um particular. Mas tu crês que os governantes das cidades, os que governam realmente, o fazem com prazer? [Trasímaco aprova] (op.cit. p. 28).

Sócrates radicaliza sua tese explicando as diferenciações entre as artes, e que por meio delas provém o lucro, Trasímaco concorda. Aliás isto todas as artes a tem em comum, porque

[a] cada um de nós procura conseguir um certo benefício particular, não comum a todos, como a medicina a saúde, a pilotagem a segurança ... [b] e a arte do mercenário, o salário, dado que reside aí o seu próprio poder? [c] se todos os artesãos se beneficiam em comum de um certo lucro, é evidente que acrescentam a sua arte um elemento comum de que auferem lucro? [...]examinando com rigor, a medicina cria a saúde e a arte do mercenário proporciona o salário, a arquitetura edifica a moradia e a arte do mercenário, que a acompanha, proporciona o salário, e assim todas as outras artes: cada um trabalha na obra que lhe é própriae aproveita ao indivíduo a que se aplica. Porém, se não recebesse salário, tiraria o artesão proveito da sua arte? [...], sua arte deixa de ser útil quando ele trabalha gratuitamente? [...], é evidente que nenhuma arte e nenhum comando provê ao seu próprio beneficio, mas, [...] assegura e objetiva o do governado, objetivando o interesse do mais fraco, e não do mais forte. [...], ninguém concorda de bom grado em governar e curar os males dos outros, mas exige salário, porque aquele que quer exercer convenientemente a sua arte não faz e não objetiva, na medida em que objetiva segundo essa arte, senão o bem do governado; por estas razões, é necessário pagar um salário aos que concordam em governar, seja em dinheiro, honra ou castigo, se porventura o recusarem. [...], os homens de bem não querem governar nem pelas riquezas nem pela honra; porque não querem ser considerados mercenários, exigindo abertamente o salário correspondente a sua função, nem ladrões, tirando dessa função lucros secretos; também não trabalham pela honra, porque não são ambiciosos. Portanto, é preciso que haja obrigação e castigo para que aceitem governar – é por isso que tomar o poder de livre vontade, sem que a necessidade a isso obrigue, pode ser considerado vergonha – e o maior castigo consiste em ser governado por alguém ainda pior do que nós, quando não queremos ser nós a governar (op.cit.p.28-30).

Castigo por falta autogoverno levam pessoas honradas "por [...] receio [governar]; [assumindo] o poder não como um bem a ser usufruído, mas como uma tarefa necessária, que não podem confiar a outras melhores que elas nem a iguais" (op.cit.p.30).

Demonstrando que o governante justo pratica a justiça por questão de princípios, Sócrates evidencia que o outro quer com seus argumentos justificar e promover o finalismo. Reavendo a questão Sócrates pergunta: "acreditas que a injustiça total é mais proveitosa do que a justiça total?" (op.cit.p.31). Trasímaco denomina que

a justiça é virtude e a injustiça, vício; sendo esta proveitosa e aquela não, ou seja, as identifica com o seu contrário. Ressaltando que a justiça é uma nobre simplicidade de caráter, e que a prudência está ligada à injustiça; que os injustos lhe são sábios e bons, porque são capazes de cometer a injustiça com perfeição e submeter cidades e povos. Aos gatunos tais práticas são rendosas, enquanto não são descobertas com a virtude e a sabedoria, e a justiça com seus opostos (op.cit.p.31).

Sócrates se vale da chance e o alerta da gravidade de tal jeito de pensar. Faz seu exame por meio de frases curtas, e objetivas envolvendo-o com argumentação direta e pesada; através dos exemplos das artes culminando em um argumento implacável, o exemplo do músico e oignorante:

Sócrates – [...], o homem justo prevalece sobre outro justo? [...], Prevaleceria sobre o injusto? [...], E o injusto prevaleceria sobre todos? [...], O injusto é sábio e bom? [...], O justo não é? [...], , resumindo: o justo não prevalece sobre o seu semelhante, mas sobre o seu contrário; o injusto prevalece sobre o seu semelhante e o seu contrário. [...], conseqüentemente, oinjusto assemelha-se ao sábio e bom [construindo sua tese] [...], e o justo não se lhes assemelha? [...], portanto, cada um é tal como aqueles a que se assemelha? –Trasímaco – quem o pode duvidar? – Sócrates – [...], afirmas que um homem é músico e o outro não o é? [argumento implacável].[...], qual dos dois é conhecedor e qual não é? [...], e um não é bom nas coisas de que é conhecedor e o outro não o é? [...], crês, [...], que um músico que afina sua lira, [...] pretende prevalecer sobre um músico ou ter vantagem sobre ele? – Trasímaco – não, não creio. – Sócrates –[...], quererá prevalecer sobre um homem ignorante na música? – Trasímaco –com certeza. – Sócrates –[...], e o médico? Ao prescrever alimento e bebida, quererá prevalecer sobre um médico ou sobre a prática médica. – Trasímaco –certamente que não. – Sócrates – [...], percebes, a respeito da ciência e da ignorância em geral, se um conhecedor qualquer parece querer prevalecer, com atos e palavras, sobre outro conhecedor e não agir como o seu semelhante no mesmo caso. – Trasímaco – [percebe que perde]: Talvez seja necessário que seja assim. – Sócrates –[...], da mesma forma, não quererá o ignorante prevalecer sobre o conhecedor e o ignorante? [...] – Sócrates – Ora, o conhecedor é sábio? [...], e o sábio é bom? – Trasímaco – É (op.cit.p.32-34).

Por momento Trasímaco anuiu, ao passo que ainda tenta resistir aos argumentos socráticos que o faz refazer as questões e as conclusões obtidas no diálogo, e Sócrates pode completar naquilo que aquele já não o pode descordar: "o homem justo é bom e sábio e o injusto, ignorante e mau. [...], que a justiça é virtude e sabedoria e a injustiça vício e ignorância" (op.cit.p.35). Percebe o rubor na face de Trasímaco e antes de ultimar observa que "afirmamos que a injustiça também tem força, não te lembras, Trasímaco?" (op.cit.p.35). Desde então, mesmo assumindo a posição de cordata, afirma que ainda pode refutá-lo, mas para não ser acusado de usar da oratória, propõe que o deixe falar ou que o interrogue respondendo a todas as questõeslhes encaminhadas.

Acordados nisto Sócrates pretende abordar o assunto de certo ponto de vista,reconhecendo que parte precisamente da tese do seu interlocutor, e que responda considerando o seguinte: "umacidadeque se torna senhora de outra cidade poderá fazê-lo sem intermédio da justiça ou será obrigada a recorrer a ela?" (op.cit.p.35-36).Trasímaco responde prontamente "se [..], a justiça for sabedoria, recorrerá a ela; mas se for como eu dizia, utilizará a injustiça.".

Sócrates – Acreditas por acaso que uma cidade, um exército, um grupo de bandidos ou de ladrões, ou qualquer outro amontoado de pessoas que se ponha de acordo para fazer algo de injusto, poderia chegar a fazer alguma coisa se seus integrantes cometessem injustiça uns com os outros? – Não. De certo respondeu Trasímaco. – e se não cometessem injustiça, não seria melhor? – Seguramente. – A razão disto, Trasímaco, é que a injustiça da origem a ódios e lutas entre os homens, enquanto a justiça produzacordo e amizade. Trasímaco –regozija-te sem receio com teus argumentos: não te contradirei, para nãoprovocar o ressentimento da assembléia [mostrando-se criterioso]. (op.cit.p.36).

Ajustados que os "homens justos são mais sábios, melhores e mais poderosos do que os homens injustos, e que estes são incapazes de agir harmonicamente [...], precisamos analisar se a vida do justo é melhor e mais feliz do que a do injusto" (op.cit.p.37).Sócrates trata do tema como devemos reger a nossa vida,e conforme o que fora dito até então, "parece evidente, conformando com o que disseram até então" (op.cit.p.37).Retoma o método e exemplos relacionando-os quanto à função desenvolvendo sua tese. Segundo a função de cada órgão ou coisa naquilo que ela faz de melhor, assim também

Sócrates – não existe uma virtude em cada coisa a que a que é atribuída uma função? [...], as orelhas, dissemos nós, possuem uma função? [...], por conseguinte, também uma virtude [...], não acontece o mesmo com todas as coisas? – Acontece, concorda Trasímaco. (op.cit.p.38-39)

O intuito é provar a Trasímaco que cada um erra na sua função particular, pois foi feita para esta função, a noção de experiência mostra o conhecimento. A relação se ajusta à alma e a função que esta exerce, a saber "vigiar, comandar, deliberar [...], a alma executará bem essas funções se for privada da sua virtude? [...], em decorrência é obrigatório que uma alma má comande e vigie mal e que uma alma boa faça bem tudo isso. – É obrigatório, anui Trasímaco" (op.cit.p.39).Perfaz o curso da reflexão anterior, então Sócrates finaliza

concluímos que a justiça é uma virtude e a injustiça, um vício da alma? [...],[que] aquele que vive bem é feliz e afortunado e o que vive mal, o contrário. [...], portanto, o justo é feliz e o injusto infeliz [...], e não é vantajoso ser infeliz, mas ser feliz (op.cit.p.40).

A expressão afortunado significa, em filosofia, boa sorte; ao contrário de fortuna que quer dizer acaso. Sócrates a utiliza para definir com precisão porque é necessário dizer o que ela é. Para chegar até esse ponto foi destruindo as falsas opiniões (doxá), dizer daquilo que é do campo das virtudes, todavia não é definição, pois há outras qualidades que são virtudes. Em sua conclusão definitiva do livro I admite a sua natureza, como filósofo, que anseia por ensinar; mas também de outra, comparando-se aos glutões ávidos, se atirando ao debate dialético, ao método e a ironia pela qual revela falsa contradição afirmando "de modo que o resultado da nossa conversa é que não sei nada" (op.cit.p.40).

Tal declaração introduz ao tema que deverá se seguir nos livros seguintes, cujo intuito é considerar a definição e a essência da justiça e as suas características. Sendo, portanto os livros I, II e III considerados ininterruptos, formam um bloco único. Ao fazer o uso objetivo da política e da educação visa instruir os adultos a ser virtuosos no futuro; utilizando os deuses como modelos quer ensinar a honrar os pais; não ouvir palavras e ensinamentos que produz o medo, não temerão amorte (Hades); como também não caluniar genericamente o lugar (Hades); muito menos ridicularizar e difamar os deuses. Pela aplicação da censura Platão objetiva a política e a educação. O ápice desta discussão chega ao livro IV, respectivamente por meio da investigação do indivíduo em relação aos vícios e virtudes, e que tem por objetivo a alma (dimensão micro). Estabelecida e identificada faz a análise simultaneamente à cidade (dimensão macro), ponto máximo quando forma o tipo de governo ideal. Conclui que o micro reflete o macro.

A questão da unidade da polis revela que o Estado é e deve ser unidade, enquanto a cidade é resultado da pluralidade dos indivíduos. O indivíduo participava do Estado por força de subdivisões locais às quais pertencia. A pequena extensão territorial também fazia o indivíduo sentir-se ligado tanto ao Estado quanto à sociedade, sempre e de forma marcante, a associação feita pelo grego entre polis e ideal de vida boa (eu zen, kalòs zen). Ele quer viver bem e esse viver bem faz da polis o ponto axial da existência: Delfos é o umbigo (ômphalos) do mundo, a polis é o (ômphalos) da vida espiritual e material do grego. Fora dela, simplesmente, não há vida. Na atitude que pensa a esfera política como um campo ontológico privilegiado que, por isso mesmo, pode e deve abarcar toda a esfera do humano; estaria nele implícito o propósito de gerar o ser do homem a partir dessa esfera política e em função dela (BARROS, 1995, p.11).

REFERÊNCIAS:

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução: Benedetti, I.C. : Martins Fontes, 2000

BARROS, G. N. M. Platão, Rousseau e O Estado Total, São Paulo: T.A.Queiroz, 1995

MIORANZA, C.[9]

PLATÃO. A república tradução: Enrico Corvisieri. São Paulo : Nova Cultural, 2004

ROGUE, C. Compreender Platão. Tradução: Clasen, J.A. Petrópolis, RJ :Vozes, 2005

ZILLES, U. Teoria do conhecimento. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2006

TEXTO da disciplina Filosofia Antiga – 2007/1, ministrada pelo Prof. Dr. Ângelo Aparecido Zanoni Ramos, do curso de Licenciatura e Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso.

TEXTO da disciplina Filosofia Geral – 2006/1, ministrada pela Prof. Maurilia Valderez do Amaral, do curso de Licenciatura e Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso.

Em CD-ROM:

HISTORIA DE LA FILOSOFIA Y OTROS: breve historia de filosofia griega. (p.5-16).

HISTORIA DE LA FILOSOFIA – MAPAS CONCEPTUALES: la revolución em el linguaje, los sofistas y Sócrates.

HISTORIA DE LA FILOSOFIA – MAPAS CONCEPTUALES: Platón

[Cópia em CD-ROM cedida pelo prof. Joelton do curso de Direito e aluno da Filosofia/UFMT, em Set/2006].

FERREIRA, A.B.H. Dicionário digital. Windows-Versão-5.0. :Positivo, 2004

[Cópia em CD-ROM cedida pelo prof. Dr. José Jivaldo de Lima, do curso de Filosofia/UFMT, em Abr. 2008].



[1] Exposição em consonância a Abbagnano, em Dicionário Filosófico referenciado na bibliografia.

[2] Na dúvida reproduzi a fonte, contudo encontra-se em Abbagnano, Dicionário de Filosofia. Esse procedimento se repete somente quando nos referimos ao conceito e ao filósofo citado.

[3] A intenção não é desenvolver um comentário sobre as várias tendências, mas citar as identificações e relacioná-las ao seu respectivo idealizador, observamos que a justiça está atrelada a outros conceitos já citados. No livro I em A república a justiça esta desvinculada de qualquer outro, mas condicionada à possibilidade de promover a convivênciae a ação em comunidade humana.

[4] Dissertação baseada, principalmente em (ZILLES, U., 2006, p. 63-78), contudo relaciono no desenvolvimento da mesma outras citações.

[5] A fonte deste parágrafo se fundamenta nos textos virtuais em espanhol relacionadas na fonte bibliográfica. Infelizmente não consegui acessar detalhes mais precisos.

[6]Este parágrafo está fundamentado nos textos em espanhol referidos na bibliografia.

[7] Citado pelo professor Ângelo Aparecido Zanoni Ramos enquanto ministrava a disciplina História da Filosofia Antiga em 19/01/2007.

[8] A referência [1], assinalada na obra explica que todo esse discurso de Trasímaco é uma paródia da linguagem dos sofistas.

[9] Coordenador editorial que fez a apresentação da obra A república, publicada pela Editora Escala, São Paulo. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal. Infelizmente as primeiras publicações não constam de fonte bibliográfica completa. Esta informação foi obtida no site: www.escala.com.br


Autor: ALMIRA FERREIRA BARROS


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