Universidade: egoísmo e 'inalteridade'.



(Joel Carlos Santana Santos 07/10/2002)

Maternal: momento de conflito; o novo é muito novo, o outro é estranho. Novos amiguinhos, convívio com alteridade inocente e um pouco controlada pelo egoísmo infantil de achar: "Mamãe deu prá mim, então é só meu.". É nessa fase que se começa a construir a bondade ou ruindade. É aqui que se diz: "Esse menino é tão gentil, tão dadivoso"; ou o oposto. Tacha-se aqui o egoísmo ou altruísmo. Logo vem a segunda fase: a juventude primária e colegial. Onde o bom vai arraigar-se à bondade e o ruim, à ruindade. "Aquela roupa velha não uso, mas guardo." – outros pensam – "Vou levar isso aos pobres...".

Inter-relação pessoal: inexistente. É o que está registado no disco rígido da grande maioria dos estudantes secundários. À informação desse tipo se soma a irrespeitabilidade pelos bens alheios. Pois 'se minha relação com ele não presta, que me importa se ele tem ou não, se morre ou vive, se sai ou chega ou se passa ou perde.'

Passam-se os anos e, bem suavemente, percebe-se uma mudança. Pequena! Mas se percebe.

Chega então a fase pré-universitária. Muito estudo; bate-papo em classe. "Hum, o professor detesta, mas..." – pensam. Uma vida de alteridade inconsciente porém existente. "Somos eu e o outro, juntos. Quem sabe até na lista de aprovados para a universidade, hein?" Daí o indivíduo entra na universidade. Surge então a independência: "Independência ou morte!", gritam. O egoísmo agora toma conta, e o grito muda como se muda uma peça íntima: "Quem tiver a unha maior que suba na parede." ou "Você já é bem grandinho..." – frases essas que ressoam de egos narcisistas independentes e, às vezes, preconceituosos. Percebe-se que muito da imagem associada à universidade é estruturada encima de muito egoísmo e prepotência. Ninguém é tão forte que não precise de uma mãozinha, ninguém é tão sábio que não possa parar para ouvir o leigo nem, tampouco, tão independente que não precise de ajuda. Contudo, na universidade todos parecem (com raras exceções) tão em-si-mesmados que não dão lugar à alteridade.

Como construir conhecimento a partir do egoísmo? O conhecimento é teu? Dele? Daqueles ali? Afinal, a quem pertence o conhecimento?

Até hoje o eu tem imperado no meio acadêmico. Não se tem nele um senso de partilha, de união. Àqueles que moram numa redoma de espelhos e que não vêem outro senão a si próprios vai um recado: o homem é social. Uma mão que se estende ao outro não arranca pedaço.

Há solução para a inalteridade? Há sim! Um exercício de bondade de vez em quando ajuda a conhecê-la, a saber que existe e que é ela que dá sentido à vida em sociedade. Um gesto de amor, de companheirismo, até um 'bom-dia' que se dá ao outro exercita essa tal de 'alteridade'. Veja: ALTERIDADE s.f. virtude daquele que se interessa ou se preocupa com o outro; ALTER = outro. Suponha que sua felicidade não dependa, em hipótese alguma, de quem está ao seu redor. Você conseguiria viver? Talvez. Suponha – também – que esteja sozinho em Saturno, você e seus anéis, que maravilha seria, não? Inter-relação "eu-e-os-anéis-de-saturno.", "os-anéis-de-saturno-e-eu.". Se você se agrada de uma situação como essa, nem mesmo sabe o que é alteridade. Então, boa viagem a Saturno!


Autor: Joel Carlos Santana Santos


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